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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

63ª Feira do Livro de Porto Alegre



“Tempo pra ler, todo mundo tem”, será?


O slogan da 63ª FLPOA (como sempre abrevio a cada edição) é no mínimo provocativo. Criado pela CRL em parceria com a agência Bonaparte a campanha permite ao público em geral refletir sobre questões muito contemporâneas como o tempo destinado a leitura. Num mundo cada vez mais virtual onde grande parte dos temas circula em celulares portáteis para todos os fins, do cinema à leitura, será que reservamos tempo para ler no nosso dia a dia? Fica então o desafio para a reflexão de quais conteúdos optamos por agregar a nossa rotina e ocupar de certa forma a nossa cabeça.

Em meio a tantos dissabores que temos enfrentado em relação ao meio cultural no Estado do RS hoje começa um evento que traz leveza, alegria e a literatura como foco: a 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre.

Numa Praça que se modifica desde 1955 para receber a Feira do Livro da cidade, nesta edição tudo cabe dentro dela. O ambiente em que se encontrarão as barracas dos editores, as áreas de programação adulta e infanto-juvenil, os países homenageados e também as áreas de convivência para lanches rápidos e cafés estão dentro da Praça da Alfândega. Os braços desse ambiente atingem dois centros culturais que estendem a Feira pela Rua dos Andradas, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo e a Casa de Cultura Mario Quintana.

Essa proximidade traz um ambiente acolhedor e colorido já que nesta época do ano primaveril as árvores estão mais floridas. A leveza está no acesso que a população gaúcha e os turistas ganham com a Feira no coração do Centro Histórico. Em meio a prédios históricos como a ex-sede dos Correios (hoje Memorial do RS), o Museu de Arte do estado do RS (MARGS), o Santander Cultural (infelizmente numa fase institucional péssima em função de toda a polêmica sobre a exposição Queer Museu) e o próprio ambiente da praça que recebeu faz poucos anos a reformulação do projeto Monumenta, desvenda-se barracas, pipoqueiros, palcos, stands promocionais, exposições, ciclos de cinema e muito burburinho durante os 19 dias de Feira.

A Praça se transforma num local legal para encontros, leituras e está aberta a muita circulação de conhecimento. Neste ano a Feira pretende atender aos consumidores ávidos por novos títulos, com preços promocionais com descontos mínimos de 20%, variando de acordo com cada livreiro descontos maiores que esse.

A patrona da Feira deste ano,
Valesca de Assis
Nesta edição a Patrona é a escritora de Santa Cruz, Valesca de Assis*, que recebeu das mãos da Patrona da 62ª Cintia Moscovich, a notícia que a sororidade estava mantida! Na realidade nestes 62 anos de Feira poucas vezes as mulheres foram Patronas, entretanto a representatividade sempre foi de alto nível: Lya Luft (1996), Patrícia Bins (1998), Jane Tutikian (2011) e Cintia Moscovich (2016).  As primeiras palavras de Valesca foram relacionadas a uma postura política e humana: "A nossa Feira, como tem sido, como foi no ano passado, vai ser a Feira da resistência. Eu sou uma resistente há muito tempo, já passei por uma ditadura, já apanhei na Praça da Alfândega, e vou continuar resistindo em nome dos livros e com o intelecto que me resta, porque as pernas já estão meio danificadas. "A resistência é permanente. Só o livro,  a leitura, vai salvar o nosso país".

A programação concebida por Jussara Rodrigues (adulta) e Sônia Zanchetta (infanto-juvenil) contempla autores dos países homenageados nórdicos, David Lagercrantz, Kim W. Andersson e Carl Jóhan Jensen entre outros oriundos da Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia e também a autores negros que trarão suas produções, questões de lusofonia, abrangendo gaúchos e estrangeiros (o ganhador do Prêmio Nobel, o nigeriano Wole Soyinka, a homenagem em forma de Sarau ao poeta Oliveira Silveira, Oscar Henrique Cardoso, Lilian Rocha, Ana dos Santos, Eliane Marques, Deivison Moacir Cezar de Campos e Luís Maurício Azevedo) entre outros.

Haverá homenagens para os escritores Luis Fernando Veríssimo, Luiz Antonio de Assis Brasil, Armindo Trevisan, Maria Carpi e o músico Belchior, falecido no início do ano.

Jussara Rodrigues e Sônia Zanchetta,
responsáveis pela programação
Sônia destaca: “Assim como o Seminário 'A arte de contar histórias', a 12ª edição da Mutação na Feira, que traz quadrinhos e cultura pop, e “já tem um público certo” terão novas edições esse ano." Acontecerá também o Colóquio de Literatura e Infância – Diálogos com as Matrizes Africanas, com participação dos escritores Júlio Emílio Braz e Otávio Jr, etc. Alguns eventos também regulares participantes da FLPOA estarão renovando suas edições: a 10ª Mostra de Ilustração de Literatura Infantil e Juvenil Traçando História, o III Encontro de Escritores Negros do Rio Grande do Sul, o VII Seminário Internacional da Biblioteca e da Leitura no Desenvolvimento da Sociedade.

Neste ano estarei na minha 15ª edição da FLPOA. Nos últimos anos estou trabalhando na equipe de fotografia junto aos colegas, Luis Ventura, Otávio Fortes e Iris Borges. Nossa turma está dentro da Imprensa da Feira. Daí que teremos no Clyblog cenas das atividades e quem sabe mais resenhas comentando algumas atividades dessa edição.

Destaco quatro atividades que são diversas entre si e que valem a pena se agendar para participar: a palestra com a Monja Coen que abordará sob a luz budista o tema “O Sofrimento é Opcional” (11 nov), o Encontro dos autores Mia Couto e Ondjaki com a Patrona Valesca de Assis (13 nov), abordando a questão lusófona, o 2º Encontro de Influenciadores Literários e Seguidores (18 nov), que vai englobar booktubers, blogueiros, instagramers, mas também os inscritos e seguidores e o espetáculo “O Urso com Música na Barriga” (19 nov) com texto de Erico Verissimo, direção de Arlete Cunha e atuação do grupo Atimonautas que trabalha com bonecos de manipulação direta. Dicas imperdíveis!

Conheça a programação atualizada e monte a sua agenda  De 1º a 19 de novembro  a Praça estará em festa, mas ela só ficará completa com a sua presença. Participe!

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SERVIÇO
Área Infantil
Bancas: 10h às 20h30
Programação: 9h às 20h30

Área Geral e Internacional

Dias úteis e domingo: 12h30 às 20h30
Sábado: 10h às 20h30


Confira algumas imagens:


Atividades para os pequenos na programação infantil da Feira (foto: Miguel Sisto)

Marco Sena, presidente da Câmara do Livro, organizadora do evento

A equipe de foto: Luis Ventura, eu, Otávio Fortes e Iris Borges

* Valesca estreou como escritora em 1990, com a publicação de "A Valsa da Medusa". O trabalho "Harmonia das Esferas" foi vencedor do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes e Prêmio Especial do Júri da União Brasileira de Escritores, em 2000. Hoje ela é professora de História especializada em Ciências da Educação e ministrante de oficinas de escrita criativa.  Valesca é casada com o Patrono a 20 anos atrás, Luiz Antonio de Assis Brasil também  escritor.


texto: Leocádia Costa
fotos: Luis Ventura

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Joseph Beuys: Res-pública: Conclamação para uma Alternativa Global” – Museu de Arte Contemporânea – Niterói/RJ









foto: Leocádia Costa
“Não tenho nada a ver com a política: conheço somente a arte”
Joseph Beuys



texto e fotos Leocádia Costa

Joseph Beuys apareceu na minha biografia por quatro vezes num período de 20 anos, e somente agora posso dizer que começo a compreender esse notável cidadão contemporâneo.

Em 1993, o artista plástico Cláudio Ely, nosso Professor de Cerâmica no Atelier Livre da Prefeitura, apareceu animado comentando sobre um ativista cultural alemão numa das nossas discussões sobre política e Arte. Perguntei curiosa qual forma de expressão ele utilizava em sua Arte que tanto lhe impressionava e a resposta foi: “vassouras”. Ele se referia às perfomances realizadas nas ruas por Beuys, aos cartazes fotográficos dessas ações e a própria vassoura que servia de objeto-arte em instalações.  

Em 2009, numa das aulas de História da Arte Contemporânea com a Profª Dra. Glaucis de Moraes, na Feevale, me deparo com o Joseph Beuys novamente, conhecendo aí o registro crítico e totalmente provocativo: “I Like America and a America Likes Me”, onde por três dias ele convive com um coiote selvagem, chegando e saindo de Nova York sem tocar o solo americano com os pés.

Já em 2010, reencontro com Beuys no Santander Cultural Porto Alegre, quando seus trabalhos estão junto a de outros artistas da Mostra Horizonte Expandido, com curadoria dos artistas e pesquisadores André Severo e Maria Helena Bernardes. Esta mostra reuniu 72 obras de 16 artistas que influenciaram radicalmente o nascimento da cena artística contemporânea, e trouxe Beuys para meu círculo de artistas prediletos.

"Capri-Betterie"
foto: Leocádia Costa
Agora em 2013, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC tive a oportunidade de visitar por algumas horas a exposição “Res-Pública: conclamação para uma alternativa global” com mais de 100 obras coletadas de todas as fases de sua vida. Durante essa mostra individual, que realmente atingiu seu objetivo de perpassar todos os suportes, pude acessar uma impressão mais pessoal sobre sua produção que é, sem dúvida, um legado para às Artes e futuras gerações.

Da mostra destaco os trabalhos: o objeto: “Capri-Batterie”, de 1985; os cartazes “Não conseguiremos sem a rosa”, de 1972, e “Superem finalmente a ditadura dos partidos”, de 1971; o objeto “Encosto para uma pessoa bem esguia do século 20”, de 1972, parte da exposição Arte multiplicada 1965-1980, coleção Ulbricht; o múltiplo “Levantamento das Nádegas”, da exposição “Múltiplos, livros e catálogos da Coleção Sr. Speck”, de 1974, além de uma infinidade de materiais expostos em vitrines que respeitaram a estética alemã original de Beuys. Dentro de cada obra e à medida em que me deslocava pelo ambiente expositivo, avistava frestas do cidadão consciente da sua responsabilidade com o outro.
"Encosto para uma pessoa
bem eguia do século XX"
foto: Leocádia Costa

Beuys é um pensador-artista que deixou mensagens extremamente atuais depois de 27 anos de sua morte sobre meio-ambiente, utilizando com excelência os meios disponíveis da comunicação (cartazes, jornais, rádios e televisões), da política (manifestos, partidos, protestos, grupos de discussão) e das Artes (esculturas, instalações, desenhos, objetos, aquarelas e fotografia) como forma direta de expressão. Sua percepção político-social-sustentável de uma sociedade mais comprometida com o indivíduo e seu lugar dentro desse organismo vivo é um legado a futuras gerações. Envolvido com a democracia direta Beuys consegue interligar política e Arte ressaltando, assim, a importância do Artista no contexto social de qualquer comunidade organizada, fazendo o indivíduo tomar para si o compromisso social através da Arte. 
"Levantamento de Nádegas"

foto:Leocádia Costa


A Escultura Social de Beuys explicada por ele muitas vezes em canais de comunicação inicia-se na ideia de que o ato artístico está baseado na capacidade humana de pensar, refletir e na condição criativa nata do indivíduo. Para ele, a sociedade pode e deve se transformar, através da Arte, porque, segundo ele, “todo o ser humano é artista”. Seguindo o seu pensamento (que encontra eco/resposta em outros movimentos artístico-filosóficos, tais como na Arte-educação), de que todo o indivíduo é artista, não deveriam existir privilégios e, sim, democracia, igualdade e responsabilidade pessoal. 


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fotos Leocádia Costa 


Sempre notei nos filmes de Luís Buñuel, principalmente os da segunda fase francesa (“A Via Láctea”, “O Fantasma da Liberdade”, “O Discreto Charme da Burguesia”) um aspecto imanente que só é possível devido à sua força conceitual. Seus filmes pareciam, estranhamente, filmes de filmes. Dão-lhe a estranha sensação de que, aquilo que está na tela, não é exatamente aquilo, embora o olho insista em enxergar o que não deve ser. Este resultado, produto de uma ação tão profunda quanto interna do filme-obra, aparentemente, não é motivado por nada em específico que aja tão diretamente para que isso ocorra. Mas a sensação está ali. Na verdade, Buñuel conseguia extrair isso da câmera por conta de toda uma atmosfera linguística e linha filosófica que, principalmente nesta fase (sua última), já burilada em linguagem e estética, se evidencia misteriosamente mesmo para um olhar treinado em Cult movies europeus.

Garrafas e pote funcionando como
objetos de arte
foto: Leocádia Costa
Pois que, ao visitar o MAC-Niterói, deparei-me com a obra de um artista plástico moderno (não coincidentemente, contemporâneo de Buñuel) cuja sensação em alguns aspectos é exatamente a mesma. Falo do alemão Joseph Beuys (1921-1986). Considerado o artista plástico alemão mais importante depois da Segunda Guerra Mundial, Beuys parte das oposições razão-intuição e frio-calor, trabalhando de modo a restabelecer a unidade entre cultura, civilização e vida natural, o que revolucionou as ideias tradicionais sobre a escultura, pintura, fotografia, instalação, arte performática, videoarte, entre tantas outras frentes que explorou. Extremamente rica em simbologias, mensagens e discurso, sua obra, na linha evolutiva de Duchamp, é de uma coesão/diluição absurdas conceitualmente falando. Sua obra consegue, de forma íntegra, extrair o que há de arte em, por exemplo, uma vassoura, em uma garrafa, em uma vasilha de leite, em uma fita VHS. O impressionante é que a aura artística nos é facilmente percebida, embora “nada” diga-nos que esses objetos não passam simplesmente de uma vassoura, uma garrafa, uma vasilha ou uma fita magnética.

"Terno de feltro",
matéria-prima não nobre
na tradição da Arte
foto: Leocádia Costa
Ativista social e político, em seu entendimento, todo mundo é inatamente artista e ele servia apenas como uma ferramenta desse ímpeto natural. Assim, sua importante atuação acadêmica na Düsseldorf pós-Guerra, bem como a luta que travava quanto às questões ambientais (pouco valorizadas como hoje, era da tal “sustentabilidade”), fazem com que sua Arte ganhe ares absolutamente modernos – e pioneiros à época. Inovador em técnicas e formatos, valia-se em seu discurso do deboche e da crítica à sociedade de consumo, cuja dominação já se sentia a pessoas perceptivas como ele. Impressionam muito, neste sentido, a simplicidade/complexidade do uso do feltro nas obras (é, isso mesmo: o “feio” tecido que serve comumente como isolante térmico), como o terno talhado neste material nada nobre em termos de tradição da Arte.

Outra ligação direta que é percebida é com a obra de outro contemporâneo seu, mas este bastante próximo: o cineasta e também alemão  Reiner Werner Fassbinder. A transgressão, a crítica e a estética dos dois dialogam muito, principalmente nos elementos gráficos (letras em cores primárias, sem serifa e de corpo denso e agressivo) e nas fotos impressas em off-set de Beuys, cuja coloração, enquadramento e luz lembram muito a fotografia de filmes de Fassbinder como ”Roleta Chinesa”, “Whity” e “O Medo Devora a Alma”.
À esquerda, quadro de Beuys com tipografia característica de diretor Reiner Fassbinder,
e À direita, frame de abertura do filme "Whity", do mesmo cineasta alemão
foto da exposição: Leocádia Costa


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SERVIÇO:
exposição: "Joseph Beuys – Res-Pública: conclamação para uma alternativa global"
onde: Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC (Mirante da Boa Viagem, s/nº. Niterói, RJ)
até 1º de dezembro de 2013
horário:  terça a domingo, de 10 às 18h
Equipe Curatorial: Silke Thomas; Rafael Raddi e Luiz Guilherme Vergara



terça-feira, 17 de novembro de 2015

10ª Bienal do Mercosul - Porto Alegre/RS







Primeiras Impressões
por Daniel Rodrigues


Sem Título - Dudi Maia Rosa
Impus-me uma obrigação este ano: não perder mais uma Bienal do Mercosul. O evento acontece em minha cidade, Porto Alegre, de dois em dois anos e, mesmo com o declínio qualitativo de algumas edições, traz sempre coisas interessantes de serem vistas. Ou seja: trata-se de um acontecimento imperdível para qualquer apreciador de arte. Porém, não para um desleixado como eu – ou, ao menos, como fui de anos para cá. Após presenciar ativamente as duas primeiras bienais, marcos na minha formação ideológica, em 1997 e 1999, respectivamente, um pouco por falta de tempo, de cabeça, de planejamento e certo descaso, perdi todas as edições seguintes. Fora a terceira, que vi em parte, a quarta, quinta, sexta, sétima, oitava e a nona: sete ao todo, todas não visitadas! E pior: nesse meio tempo, em 2010, vi até a Bienal de São Paulo, mas a da minha cidade, vergonhosamente, não. Uma falta de respeito comigo mesmo.
Pois tomei vergonha na cara e decidi não deixar passar em branco mais uma Bienal do Mercosul, que vai até 6 de dezembro. Também, porque esta, ao contrário de outras que me pareceram bem desinteressantes, com o título “Mensagens de Uma Nova América”, parece estar muito legal. Valorizando a produção artística da América Latina, tenta retomar o espírito que motivou a criação do evento - as duas primeiras edições seguiam com afinco essa linha -, quando o Mercosul em si fazia-se uma promessa política maior do que se concretizou.
Quatro grandes campos conceituais compõem a Bienal: A Jornada da Adversidade, A Insurgência dos Sentidos, O Desapagamento dos Trópicos e A Jornada Continua. As mostras, assim, estão divididas por temas e seus respectivos espaços, sete no total: Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli – MARGS (“Modernismo em Paralaxe”), Memorial do Rio Grande do Sul (“Biografia da Vida Urbana”), Santander Cultural (“Antropofagia Neobarroca”), Usina do Gasômetro (“Marginália da Forma” / “Olfatória: O Cheiro na Arte” / “A Poeira e o Mundo dos Objetos” / “Aparatos do Corpo”), Instituto Ling (“Plataforma Síntese”), Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Programa Educativo e a obra “A Logo for America”!, de Alfredo Jaar) e Acervo Independente (Projeto Colaborativo “Confesión - Cenário olfativo-acústico”, de Oswaldo Maciá). Ou seja: bastante coisa pra ver.
No entanto, ainda terei que me organizar para achar tempo hábil para tal. Por isso, à medida em que for conseguindo ir aos locais de exposição, vou também relatando aqui no blog. A conta-gotas, mas com o prazer de quem aprendeu a não desdenhar mais a arte com tamanha irresponsabilidade.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

14 Video Portraits by Robert Wilson








“Vídeo, cinema e fotografia são oferecidos como documentos de desempenho, mas raramente se aproximam da experiência tridimensional, o soa como eles irradiam através do teatro, iluminação, uma vez que envolve um lado, a antecipação da audiência, o gesto sutil do ator individual”

 Noah Khoshbin & Matthew Shattuck. 





“Se ele se move, eles vão vê-lo” 
Andy Warhol. 





“A carreira de Robert Wilson tem a assinatura de uma grande criação artística”
Susan Sontag.


O Santander Cultural realizou em 2010 a Mostra Robert Wilson – Video Portraits numa parceria antenada com as redes sociais e novas tecnologias durante a 17º edição do Porto Alegre em Cena na cidade de Porto Alegre. Em todo o espaço expositivo via-se os 14 vídeo-retratos produzidos pelo artista norte-americano em alta definição no suporte de telas de 1,5m de altura. Wilson está entre o teatro e as artes visuais de vanguarda, sendo um multiartista conhecido também por suas técnicas de iluminação e cenários no teatro americano.

Os vídeo-retratos apresentados nessa Mostra reuniam atores, artistas, dançarinos, escritores, atletas, pessoas de todas as origens, e animais que refletem a amplitude da carreira de Wilson. Entre eles figuravam: o chinês Zhang Huan, o escritor Gao Xingjian, os atores Brad Pitt e Steve Buscemi, Alan Cumming e Winona Ryder, Ditta von Teese, Jeanne Moreau e Johnny Depp entre outros. Produzidos a partir de uma parceria entre Robert Wilson e as câmeras Voom HD Networks uma empresa de TV onde Robert foi artista residente a partir de 2004. Os Vídeo-Portraits são retratos de celebridades e anônimos caracterizados por um formato que vai além da fotografia, inclui cinema e teatro, literatura e música de múltiplas dinâmicas reveladas no retrato do vídeo. As criações de Wilson apresentam uma linguagem de movimentos mínimos, gestos sutis e coreografados, somados a arranjos cenográficos sofisticados, aqui as trilhas musicais e as palavras também tem força. Aliás a ligação de Wilson partindo inspiradamente do ambiente cenográfico com a música vem desde 1976 quando apresenta o trabalho com seu parceiro Philip Glass "Einstein on the Beach".

Para estes vídeo-retratos a música torna-se parte integrante da peça, em vez de apenas uma ilustração auditivo de um tema visual. Executando a gama de gravações de campo às pontuações do jogo de vídeo, desde o clássico ao blues, ao rock ao punk dos retratos de vídeo contêm uma lição na abordagem contemporânea de apropriar-se de toda a história das gravações sonoras. Alguns críticos que abordaram as obras chegaram a questionar se Wilson está sinalizando com essas gravações sonoras um caminho da música do futuro. Será?
A impressão que temos é que o artista transporta para a tela em HD o seu velho conhecido – o palco. Nele faz todas as intervenções e correlações possíveis. A fotografia se dá pela quase imobilidade dos personagens que se congelam e se movimentam num tempo nem sempre real, brincando assim com a observação do espectador e com a sua própria noção de tempos.

Um das obras que mais gostei é a que apresenta o escritor Gao Xingjian (Prêmio Nobel da Literatura 2000 vive na França e em 1997 tornou-se cidadão francês - é também tradutor da obra de Samuel Beckett e Eugène Ionesco, além disso é roteirista, diretor de teatro e pintor). O vídeo-retrato com seu nome está datado no ano de 2005 e tem música de Peter Cerone “Never Doubt I Love, Desert”. A música pontua o tempo que a escrita percorre pelo rosto de Gao. E sugere as relações estabelecidas entre um lugar onde a solidão é uma situação permanente e um estado emocional onde o deserto pode confirmar ou negar de maneira provocativa uma afirmação duvidosa. Nesta obra o que se move quase todo o tempo é a escrita e o personagem serve de meio para recebê-la. A face do escritor recebe a frase “La solitude est une condition nécessaire de la liberte” escrita em letra manuscrita no idioma francês. Aos poucos ela se forma cruzando o rosto do escritor e tão logo está escrita começa a desaparecer culminando com a abertura dos olhos dele ainda sob a pontuação da música. 

Um texto tão carregado de emoção precisa de tempo para ser absorvido. A frase evoca reflexões. O tempo da escrita coincide com o tempo real de leitura da frase, mas não com o que a frase diz. Qual tempo de solidão é necessário para que se escreva tal reflexão? Ainda – esta frase faz parte de algum livro do escritor ou é uma frase universalmente conhecida? Será que a intenção de Wilson é fazer com que o espectador perceba que escrever é um trabalho interno profundo? E que esse mergulho na construção do texto, faz parte do processo de criação sobre o que se coloca de fato no papel?

Outro aspecto que me chamou atenção é que essa mesma obra foi exposta em Museus com diferentes suportes o que legitima o diálogo entre o meio digital e os espaços expositivos sejam eles de vanguarda ou tradicionais, sendo esse um fator que se relaciona a proposta de trabalho de Wilson que interliga novamente áreas aparentemente incompatíveis. 

Os vídeos-retratos foram exibidos em Los Angeles, Berlim, Áustria, Itália, Espanha, Rússia, EUA, Singapura, Alemanha e em New York em plena Times Square. Fico imaginando o impacto destes retratos numa avenida que é conhecida por um fluxo de imagens, cores e agitação constantes. As obras de Wilson são coloridas, contrastadas e com uma definição incrível, totalmente conectadas ao universo pixelado e frenético da Times Square que guarda para si uma profusão de anúncios publicitários, divulgação de espetáculos e reúne os mais refinados investidores mundiais. O que diria Warhol , um dos pais e Mestre destas relações entre comunicação e Arte sobre, por exemplo, a imobilidade da pantera negra que Robert expõe nesta Mostra? “Se ele se move, eles vão vê-lo", diz Andy. E quando ele se moverá? Se isso acontecer a que momento poderemos capturar esse gesto? Eis que o desafio está lançado: perceba e questione seu corpo em reação a estas obras, teste sua paciência em esperar por um movimento e transporte-se a figura do leitor de Arte, em frente a contemporaneidade explícita de Wilson independente de qual personagem ou cidadão esteja retratado na sua frente. Participe desse espetáculo e perceba o quanto você faz parte disso tudo.
Gao Xingjian: assista ao vídeo-retrato





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

10ª Bienal do Mercosul – Usina do Gasômetro (1ª parte)









A, inacessível ao público, "Tropicália", de Oiticica
Consegui visitar um dos espaços que mais tinha curiosidade da Bienal: a Usina do Gasômetro. Os compromissos me empurraram para o último final de semana desta curta Bienal do Mercosul. Motivado pelos recortes temáticos que se encontravam lá, principalmente “Marginália da Forma” – conceito de entendimento do Brasil com o qual me identifico ideologicamente –, e talvez até motivado pela memória emocional que tenho para com o lugar no que se refere ao evento (é-me marcante a exposição que lá vi do uruguaio Julio Le Parc, na 2ª Bienal), fui com boa expectativa. No entanto, frustrei-me, principal e justamente com esta mostra, a qual dividia o espaço com outros três subtemas: ”Olfatória: O Cheiro na Arte”, “A Poeira e o Mundo dos Objetos” e “Aparatos do Corpo”. Quiçá pela maior intercomunicabilidade entre três últimos, “Marginália”, que a mim deveria trazer com fervor o tropicalismo e a diversidade de questões culturais, sociais e antropológicas que dele suscitam-se, ficou não apenas deslocado quanto não se justificou na sua capacidade.

A frustração, igualmente, se deve a outro fator, somente mais perceptível ao se visitar mais espaços da Bienal, que não apenas dois como tinha ido até então, que são algumas inconsistências. Sabe-se que a realização do evento teve problemas financeiros e estruturais, o que dificilmente seria diferente em tempos de crise em que empresariado e governos tendem a achar arte ainda mais boba e supérflua. Isso certamente ocasionou à curadoria uma dificuldade de agregar mais nomes representativos, bem como trazer mais obras significativas de artistas referenciais. Até aí, entende-se. O que se critica é, por exemplo, as repetições não apenas de artistas (MUITAS obras de Dudi Maia Rosa, por exemplo, tanto no Memorial, ali e no Santander Cultural, que comentarei noutro post) como, principalmente, de conceitos. Uma coisa é haver uma sincronia entre os espaços expositivos em que haja obras que dialoguem aqui e lá. Outra é, como no claro caso de Shirley Paes Leme (não vai aqui nenhuma crítica ao trabalho dela), em que se veem obras da mesma série e em grande número em mais de um lugar. Aí, é assumir uma pobreza que se podia resolver selecionando-se ou variando-se mais.

Porém, ressaltando o que teve de legal no Gasômetro, começo, agora terminada a Bienal, uma retrospectiva. Em “Marginália da Forma”, obviamente, interessava-me a instalação “Tropicália”, de Hélio Oiticica (1969), ícone da arte pop brasileira. Fora o fato de conhecê-la, agrega-se a ela outra frustração: por causa dessa mentalidade expositiva de total não-interação do público com as obras (o que não é exclusividade de Porto Alegre nem da Bienal), não é possível se embrenhar na instalação como originalmente pensou o artista. Como numa cena de crime, fica-se atrás de um cordão de isolamento admirando e comentando-se de longe aquilo que não se sabe por inteiro. Lembrei-me de uma grande mostra em que estive no Rio de Janeiro em 2014, a ArteVida (que, a rigor, valia por esta Bienal, em diversidade e tamanho), em que vi um dos famosos trapos dos “Parangolés” de Oiticica. Uma criança, corretíssima em sua mentalidade lúdica, vestiu-a e saiu “usando” a arte. Claro que foi repreendida. Pena.

Dali também ressalto poucas outras coisas realmente boas. Uma delas, “O Impossível”, a expressiva escultura em bronze de Maria Martins (1940); “O Dragão”, da porto-alegrense Karin Lambrecht, cuja técnica vale-se sempre de materiais orgânicos (neste caso, têmpera e ovo); “Plegabes”, do uruguaio Osvaldo Salerno (impressão sobre papel dobrado, 1982), inteligente em sua simplicidade; e a mesmo que evidente série “Fotomódulos” do paranaense Tony Camargo referenciando à (óbvia) interação corpo-arte dos “Parangolés” de Oiticica.
Nada espetacular, nada de cair o queixo. Do Gasômetro, as outras três mostras, que comentarei adiante, apresentaram, ao menos, mais ousadia. Quem sabe, até mais marginalia.

Detalhe de "Topicália".
Recado dado.

O bronze de "O Impossível".

"O Dragão" de Karen Lambrecht.

"Plegables", impreessão sobre papel dobrado.

Série de Tony Camargo inspirada nos icônicos Parangolés.






quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

10ª Bienal do Mercosul – Usina do Gasômetro (2ª parte)








Gershman, um dos meus preferidos.
Como mencionei no último post sobre a Bienal, as três exposições que dividiam espaço na Usina do Gasômetro com a fraca "Marginália da forma", eram ”Olfatória: O Cheiro na Arte”, “A Poeira e o Mundo dos Objetos” e “Aparatos do Corpo”. Além de trazerem mais diversidade e obras realmente impactantes. Tiveram maior intercomunicabilidade, inclusive com aspectos observados no Memorial do Rio Grande do Sul e Santander Cultural. A conexão se dá em grande parte ao substrato da obra enquanto técnica, fazendo da poeira o barro que acessa o olfato e com o qual o corpo interage para construir esse mundo artificial. Nesse aspecto, “Marginália da forma” pelo menos se liga a estas por conta da (pouco expressiva) variabilidade de técnica, como visto na originalidade de Karin Lambrecht, Brigida Baltar e outros.

Padecendo igualmente das mesmas inconsistências as quais mencionei anteriormente (muita repetição de um mesmo artista e/ou de séries), somando-se ainda a de haver muitos artistas gaúchos, as três mostras, entretanto, reuniram mais diversidade e aquilo que todo visitante de coletivas espera: boas surpresas. Foi o que tivemos Leocádia e eu ao nos depararmos, na ”Olfatória: O Cheiro na Arte”, com as bolas iluminadas pendulares, que até cheiro exalavam. Muito plástico e leve.

Instalação da 10ª Bienal do Mercosul

Ao lado, um Rubens Gerchman, dos artistas visuais que mais admiro: “Ar”, em metal fundido. Sempre criativo Gerchman. Crítica, a instalação do colombiano Oswaldo Maciá “Quien limpa a quien” traz, dentro de um suporte de acrílico transparente um sabonete feito de óleo concentrado de alho disposto em uma saboneteira Votoriana de cerâmica original. Dá pra imaginar o cheiro que exala pelo tubo com folículos, né?

Outra de chamar atenção é a tela (1,22 por 1,83 metros) é “Tierra y Libertad”, de 2013, do mexicano Rúben Ortiz-Torres, o qual fez um link bastante interessante com o crítico tema do Memorial da América Latina, “Biografia da Vida Urbana”.. O carioca Waltércio Caldas apresenta a interessante e sintética “Circunferência com Espelho a 30°” (ferro pintado e espelho), dos anos 70, década que, pela observação geral, demarcou fundamentalmente toda a Bienal, uma vez que o mote central (“Mensagens de Uma Nova América”) passa diretamente por esse período no que se refere à construção de uma consciência artística e política das artes na América Latina. Ainda, uma bela tela do gaúcho de Britto Velho (“Sem título”, 1946).

Mas Oticica é Oiticica, não adianta. Com a simplicidade até grosseira – e, por isso, altamente cáustica – da arte moderna, ele referencia numa só vez a arte transgressora do alemão Joseph Beuys e a poesia concreto-barroca de Haroldo de Campos com seu “Bólide Saco 2 Olf ático”, de 1967, feito em plástico, tubo de borracha e café. Por que digo que Oticica é Oiticica? Com uma peça, aparentemente banal e quase “não-artística” é capaz de sintetizar ideologicamente toda a comunicabilidade potencial do recorte em que está inserido. E olha que estamos falando apenas DESTA mostra.  No momento em que se interpõe, com propriedade e significância semiótica, no limite entre o sublime e o vulgar, eis a verdadeira arte contemporânea.

Terra e Liberdade, conexão como tema do Memorial.

Circunferência com Espelho, de 1976

A interessante instalação de Maciá.

Oiticica genial.




segunda-feira, 12 de maio de 2014

“Mário Röhnelt: Uma Retrospectiva” – Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) - Porto Alegre /RS

Mário Röhnelt: imagem, material e transformação






Acrílico e traços em planos ampliados da folha quadriculada,
que ganha outra dimensão, e à direita, a tela em detalhe.
Na semana passada, estive na retrospectiva expográfica da obra de Mário Röhnelt e fiquei de escrever um pouco sobre o que vi reunido pela curadoria de José Francisco Alves. O próprio curador apresenta em seu texto informações sobre a produção do pelotense Röhnelt situando o visitante conhecedor ou não da sua obra produzida nos últimos 30 anos integrando acervos de museus e colecionadores. Mário que tem formação em arquitetura nos oferece uma produção diferenciada e, a meu ver, em alguns períodos ligada ao imenso intercâmbio e diálogo com a obra do santa-mariense, Milton Kurtz com quem dividiu atelier e compartilhou parte da produção, um interferindo no trabalho do outro, intercambiando traços, cores e imagens.
Antes mesmo de comentar alguns dos espaços gostaria de comentar com os amigos virtuais aonde começa minha admiração e interesse por estes dois artistas gaúchos. Em 1997, recebi um catálogo com textos críticos de Ana Albani de Carvalho e Fernando Cocchiarale relativo à uma exposição em homenagem a Milton Kurtz realizada paralelamente ao VIII Salão de Pintura Cidade de Porto Alegre intitulada “ Milton Kurtz, Trabalhos 1970-1996” das mãos do meu sempre Prof. de Cerâmica, Cláudio Ely. Nesta época eu levava pessoalmente os convites aos palestrantes de um seminário que envolvia artistas da cidade de Porto Alegre e convidando também músicos, jornalistas, filósofos, poetas e etc. a palestrar sobre como é ser um artista da vida.
Painéis geométricos em lona e tela
Assim, depois de estudar a participação de Mário Röhnelt no grupo KVHR integrado juntamente por Kurtz, Paulo Haeser e Julio Viegas, descobri que este grupo era responsável por um folheto impresso em off-set, feito por eles mesmos, contendo imagens elaboradas também por eles. O “KVRH de Arte” era distribuído mensalmente, com tiragem de 1 mil exemplares com abrangência ampla, inclusive em outros estados e países. O projeto durou doze meses, entre 1979 e 1980 paralelo a atuação do Centro Alternativo de Cultura Espaço N.O (neste caso formado por Mário Röhnelt e um outro grupo de artistas jovens: Ana Torrano, Cris Vigiano, Carlos Wladimirsky, Heloisa Scnheiders da Silva, Karin Lambrecht, Regina Coeli, Rogério Nazari, Simone Basso, Telmo Lanes e Vera Chaves Barcellos) com objetivo de criar em Porto Alegre um local destinado à veiculação de manifestações artísticas contemporâneas, como performances, instalações, arte-postal, arte-xerox, organizando cursos, encontros e exposições.
Pretos e brancos em dimensões arquitetônicas
Olhando este catálogo e vendo agora a obra reunida de Röhnelt posso perceber os pontos apontados por Ana Albani em seu texto e reforçados por José Francisco relativo ao que há de comum entre as produções dos artistas: em primeiro a arquitetura (ambos cursaram a faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS), depois à dedicação às artes visuais de forma muito “autodidata”, talvez muito em função do trânsito entre os alunos das Artes e da Arquitetura nessa década, e por fim no caráter estético ou meramente pela abordagem humanística de seus trabalhos.
Selfs, desenhos a partir de fotografias
Aliás, a forma humana está presente em praticamente toda a produção de Röhnelt (desenho, fotografia ou pintura) que nos anos 2000 transformada em linha e sobreposta à cores e cenários sobrevoa, mais livre e ora mais mergulhada no plano acrílico colorido. A retrospectiva está dividida em cinco salas do 2º andar do MARGS, e impressiona o visitante a cada ambiente. Como informa José Francisco em seu texto curatorial, a obra está apresentada em segmentos. No primeiro vemos sua fase como desenhista, ali estão seus selfs ou imagens de amigos e pessoas próximas com base em fotografias. Depois vemos as pinturas muito coloridas que ocupam a década de 80, em acrílica sem tela e pinturas em papel. Nos anos 90 a fotografia, traz o branco e preto, em conjuntos de pinturas sobre tela e lona. Em meio a tudo isso, estão matrizes digitais, maquetes de ambientes, cenários, livros de artista, que invadem a produção nos anos 2000 e nos deixam imersos em linhas, agora digitais, a partir de releituras de obras do renascentista Giotto.
Fotografia, uma das técnicas usadas por Röhnelt
No dia seguinte em que estive no MARGS assisti um episódio da série “Arte Brasileira” veiculada no canal fechado GNT, apresentando o artista contemporâneo Vik Muniz (que em breve estará com exposição no Santander Cultural de Porto Alegre). Em meio a tantas falas e registros em vídeo dos trabalhos de Muniz, um comentário me reportou para a exposição de Röhnelt. Vik comenta sobre o que as pessoas fazem quando elas estão se aproximando e se afastando de quadros em exposições com sua obra. Vik diz: “Elas estão criando uma relação entre a imagem e o material. Quando você se afasta, você vê a imagem, quando você se aproxima, você vê o material que aquela imagem é feita. O sublime na representação não está na imagem ou no material e, sim, no momento em que uma coisa se transforma na outra.” Na exposição de Röhnelt eu senti muito esses momentos durante todo o tempo de visitação, por isso não perca de presenciar na sua frente, desenhos transformando-se em fotografias, fotografias em pinturas, planos bidimensionais em planos e figuras em traços.




texto e fotos Leocádia Costa

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Reproduções digitais


exposição Mário Röhnelt : Uma Retrospectiva"
Museu de Arte do RS / MARGS
até 1º de junho de 2014.
horário de visitação: Terças a domingo, das 10 às 19 horas.
Entrada franca.

www.margs.rs.gov.br






Detalhe de Selfs do artista e da fotógrafa visitante