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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Exposição “Naturezas Mortas”, de Leopoldo Gotuzzo – MALG – Pelotas/RS (Novembro/2014)









Uma das 28 telas da exposição
Ir a Pelotas é sempre um prazer. Além das ligações emocionais e familiares, a cidade é dona de belezas próprias por suas ruas, gentes e fachadas. Parece Porto Alegre, parece Rio de Janeiro, arranha a França e Portugal, e é interior gaúcho. Satolep, como o compositor e escritor Vitor Ramil apelidou sua terra-mãe em anagrama, tem cartões postais e museus sempre com algo interessante a se ver. Um destes espaços de visitação certa é o MALG – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, administrado Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas. E um facilitador: sempre que vamos até lá, nos instalamos num hotel no Centro da cidade, que fica a menos de uma quadra do museu. Aí, é inevitável dar pelo menos uma passadinha para conferir o que está rolando.

Pois numa dessas escapadas pude presenciar uma bela exposição justamente do artista que dá nome ao espaço chamada “Naturezas Mortas”. Certamente o maior pintor pelotense (e olha que não são poucos), Gotuzzo é realmente diferenciado. Dono de uma pincelada solta e forjada no impressionismo de Degas, Cèzanne e Renoir, estudou em Roma, Paris e Madri, notabilizando-se, ao longo da extensa vida (morreu aos 96 anos) pelo domínio do desenho e pelo tratamento da cor e da luz.

A exposição em si é parte do acervo permanente do MALG e traz 28 quadros a óleo de Gotuzzo com o tema que lhe dá título. Com curadoria de Carmen Regina Diniz e Lauer Santos, essa singela mas significativa seleção concentra telas dos anos 20 a 60 retratando flores, bonecos, frutas, legumes e objetos. Tudo muito lindo, em especial “Boneca”, de 1925, a mais antiga entre as obras, óleo sobre tela de pura sensibilidade onde o artista propositalmente infunde a figura dentro de um cenário em que esta, parecendo num primeiro momento uma menina de verdade, revela-se em miniatura, identificando-se, assim, a sua verdadeira natureza inanimada.

Outras, como as duas alusivas a mandarins chineses (de 1962, criadas quando este já se encontrava radicado no Rio de Janeiro), também são de rara beleza e detalhismo. Ainda, “Dálias”, “Resma de cebolas” e “Uvas” impressionam pela luz que o traço de Gotuzzo consegue extrair. Uma exposição pequena, mas que vale a pena conferir quem estiver ou for a Pelotas.


'A Bailarina', a mais antiga e das mais belas telas

Cebolas em rico detalhe

Cores retratam uvas maduras que parecem vivas

Detalhe de 'O Mandarim'

Flores vivas no óleo sobre eucatex de Gotuzzo

Natureza morta retrata flores suaves

Obra da série 'O Mandarim'

Ramalhete multicolorido pintado em grande proporção






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Naturezas Mortas”, de Leopoldo Gotuzzo
Visitação: até 30 de novembro, de terça a domingo, das 10h às 19h
Local: MALG – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (General Osório, 725, Centro, Pelotas/RS)
Ingresso: Gratuito


quinta-feira, 6 de março de 2014

cotidianas #277 - Satolep



Satolep*

Sinto hoje em Satolep
O que há muito não sentia
O limiar da verdade
Roçando na face nua
Detalhe de fachada de casario da Rua Quinze de Novembro,
em Satolep (foto: Leocádia Costa)
As coisas não têm segredo
No corredor dessa nossa casa
Onde eu fico só com minha voz
A Dalva e o Kleber na sala
Tomando o mate das sete
A Vó vem vindo da copa
Trazendo queijo em pedaços
Eu liberto nas palavras
Transmuto a minha vida em versos
Da maneira que eu bem quiser
Depois de tanto tempo de estudo
Venho pra cá em busca de mim.

E o céu se rirá d'amore
No olho azul de Zenaide
Outrora... lembras flam(ingos)
Jê ne se pá, singulare
Yê na barra uruguaia
E letchussas no Arroito
Marfisas gemerão de paz
No The Lion!
La Jana torpor vadio
Cigarra sem horizonte
Lia, Alice e a lua
Num charque sem preconceito
O CISNE NEGRO APRISIONA
O bélICo AmoR perdidO
E a Esma num bissaje só
Cativa alguém
Nessa implosão de signos e princípios
Eu guardo o Joca e ele a mim.

O teu nome, Ana, escrito
No braço da minha alma
Persiste como uma estrela
Nas horas intermináveis
Chuva, vapor, velocidade
É como o quadro do Turner
Sobre a parede gris da solidão.
So-to-me-lo te verás-me
Como-lho-me verte-ás-nos
Solo te quiero dizer-te
Que me sinto mui contento
Porque vou na tua casa
E lemos cousas bonitas juntos
No silêncio eu pego em tua mão
Tu do meu lado e eu no teu quarto quieto
Teu ser se confunde no meu.

Vitorino de La Mancha
Minha luta se resume
No compasso de um tango
Na minha triste figura
Meu piano Rocinante
A YOGA e o chá no fim da tarde
E depois a noite e meu temor.
Eu converso com o Kleiton
Na mesa da casa nova
Sobre a vida após a morte
Sobre a morte após a vida
Vencedor é o que se vence
E a falta do Kleber é dura
O que a gente quer é ser feliz
A paz do indivíduo é a paz do mundo
E viva o Rio Grande do Sul!

Só, caminho pelas ruas
Como quem repete um mantra
O vento encharca os olhos
O frio me traz alegria
Faço um filme da cidade
Sob a lente do meu olho verde
Nada escapa da minha visão.
Muito antes das charqueadas
Da invasão de Zeca Netto
Eu existo em Satolep
E nela serei pra sempre
O nome de cada pedra
E as luzes perdidas na neblina

Quem viver verá que estou ali.

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Satolep
(Vitor Ramil)

* Satolep, para os não familiarizados, é o apelido dado pelo cantor, compositor e escritor Vitor Ramil à sua terra-natal, a antiga e tradicional cidade gaúcha de Pelotas, situada na região Sul do Rio Grande do Sul, cuja fundação data de 1758. Trata-se de um anagrama da palavra original, ou seja, invertendo-lhe as letras de trás para diante.