Ah, se tem um assunto que nos fascina aqui no clyblog é cinema. Tenho certeza que não falo só por mim.Daniel Rodrigues, Leocádia Costa, José Júnior, Luan Pires, parceiros-colaboradores do blog, todos, assim como eu, são fanáticos pela arte dos Lumière.
No embalo das listas comemorativas dos nosso 5anos, é a vez então de 5 amigos qualificadíssimos escolherem seus 5 grandes representantes da 7ª Arte.
(Ih, no número da arte não deu pra ficar no CINCO. Mas isso é o de menos...)
Enfim, com vocês, clyblog5+filmes preferidos.
1Ana Nicolino estudante de filosofia professora de inglês (Niterói/RJ)
"Meus cinco melhores. (Não estão em ordem) Vai assim mesmo!"
1. "Solaris" - Andrei Tarkovski 2. "Rashomon - Akira Kurosawa 3. "Morangos Silvestres" - Ingmar Bergman 4. "Fahrenheit 451" - François Truffaut 5. "8 e 1/2" - Federico Fellini
***************************************** 2Roberta de Azevedo Miranda professora (Niterói)
"Depois de muto pensar em qual seria o tema da minha lista,
achei que este combinaria mais comigo.
Sou amante dos filmes de terror psicológico, por assim dizer."
1. "Psicose" - Alfred Hitchcock 2. "O Bebê de Rosemary" - Roman Polanski 3. "O Exorcista" - William Friedkin 4. "O Iluminado" - Stanley Kubrick 5. "O Exorcismo de Emily Rose" - Scott Derricson
************************************************ 3Álvaro Bertani empresário proprietário da locadora "E o Vídeo Levou" (Porto Alegre/RS)
"Decidi nortear a escolha pela quantidade de vezes que assisti a cada um deles, e se houvesse a possibilidade de passar o resto da minha vida dentro de um filme, não restaria qualquer dúvida que seria um dos cinco escolhidos."
1. "8 e 1/2" - Federico Fellini 2. "Cidadão Kane" - Orson Welles 3. "Cópia Fiel" - Abbas Kiarostami 4. "Ponto de Mutação" - Bernt Capra 5. "Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos" - Marcelo Masagão ********************************************** 4Daniel Rodrigues jornalista editor do blog O Estado das Coisas Cine colaborador do ClyBlog (Porto Alegre/RS)
" O fato de eu amar “Bagdad Café” é quase que uma tradução de mim mesmo. Zelo por aquilo que gosto, e, se gosto, acabo naturalmente mantendo este laço intacto anos a fio. Assisti pela primeira vez em 1998 e desde lá, a paixão nunca se dissipou.. "O Chefão" tem a maior interpretação/personificação do cinema; "Fahrenheit 451" é poesia pura; "Laranja Mecânica" considero a obra-prima do gênio Kubrick. Jamais imaginaria Beethoven ser tão transgressor; e 'Stalker", com suafotografia pictórica e esverdeada, a forte poesia visual, o andamento contemplativo, o namoro com a literatura russa, a água como elemento sonoro e simbólico é para mim, a mais completa e bela obra de Tarkowski."
1. "Bagdad Café" - Percy Adlon 2. "O Poderoso Chefão I" - Francis Ford Copolla 3. "Fahrenheit 451" - François Truffaut 4. "Laranja Mecânica" - Stanley Kubrick 5. "Stalker" - Andrei Tarkovski
********************************************** 5José Júnior bancário colaborador do ClyBlog
(Niterói/RJ)
"É a pergunta mais difícil que você poderia me fazer!
Se eu parar pra pensar tem muitos de muitos estilos variados.
Ih, ferrou!
Não consigo para de pensar em filmes."
O texto de William Burrougs se presta perfeitamente
para as geniais bizarrices de Cronenberg,
em "Mistérios e Paixões"
1. "Mistérios e Paixões" - David Cronenberg 2. "O Exorcista" - William Friedkin 3. "O Império Contra-Ataca" - Irvin Kershner 4. "Matrix" - Andy e Larry Wachowski 5. "O Bebê de Rosemary" - Roman Polanski
Ele está de volta! Hoje, novamente, aquela participação especialíssima daquele colunista que vocês tanto adoram. Com vocês.... Ah, ‘cês sabem quem é.
Salve, salve! Como vai todo mundo? Bom Eu que deveria saber, né. É o Meu trabalho. Mas deixa isso pra lá e vamos ao que interessa. Os assuntos do momento pra vocês que tão aí embaixo:
E esse negócio do mercado americano, hein! Crédito, bolsas e tal. Que pica! Agora..., também tem uma coisinha: tudo pros caras é investir nisso, naquilo e blábláblá, liquidez, bolsa em alta, bolsa em baixa. Cara, podem Me chamar de velho mas pra mim grana bem guardada é embaixo do meu colchão.
E quer saber mais, pro dinheiro render, o máximo que eu faço é colocar umas moedinhas embaixo do meu Buda na estante. Há muito tempo deixei de Me preocupar com mercado imobilliário. Comprei Meu lotezinho no céu faz um tempão e Me chamaram de louco na época.
_________________________________ Mudando de assunto: estive vendo aquela lista de melhores filmes de todos os tempos da revista inglesa Empire que apareceu aqui neste mui ilustre blog. O "Poderoso Chefão" tá na primeira posição, com "Indiana" em segundo, seguidos pelo "Império Contra-Ataca" na terceira, 'Um grito de Liberdade" em 4° e por aí vai.
Vi umas trocentas vezes "O Chefão" e acho um filmaço. Talvez até possa ser considerado, sim, o melhor. Até compreendo. Mas 'Indiana"? "Grito de Liberdade"? Tão de sacanagem! Sabe que que foi? Botaram leitores pra votar. E o povo, principalmente essa galerinha mais nova, a meninada de Internet, não viu nenhum filme com mais de 15 anos. Aí dá nisso. Dizem que a voz do povo é a Minha voz mas não é bem assim. Na minha opinião devia estar me primeiro aí o "Je vous Salue, Marie", do Godard. Filmão!
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Comi mosca de novo e perdi de comprar ingresso pra Madonna na segunda noite no Rio. Já tinha deixado de comprar o primeiro lote e agora, sabe como é que é, muito trabalho e coisa e tal, perdi a segunda venda também. Esse Eu queria ver ao vivo. Lá da pista. Ah, mas foda-se! Vou ver aqui de cima numa nuvem bem fofa com uma gelada na mão. __________________________________
E essa coisa do caso da moça lá em Santo André? Que criaturas despreparadas aqueles polícia, meu! Nesses casos, principalmente, de tanta maldade, crueldade, frieza de alguns de vocês aí de baixo, que Eu fico pensando onde foi que Eu errei. _______________________________________
Sobre o Brasileirão, o Nélson, aqui em cima, o Rodrigues, tá preocupado com o Tricolor dele. Já disse pra ele “Não posso fazer nada. Dêem seu jeito”. Não vou mexer com nada mais disso! (Mas, sinceramente, cá entre nós, acho que escapa)
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Bom, por hoje vou ficando por aqui. A gente se fala! Fiquem Comigo e que Eu os abençoe.
Em 2014 tivemos alguns trabalhos interessantes na comunicação visual do blog brincando com publicidade, parodiando filmes, homenageando grandes álbuns, ou mesmo apenas deixando a criatividade fluir. Fosse m chamadas nas redes sociais, em novos logos para as seções ou nas Copas do Mundo das bandas, as novidades visuais foram aparecendo ao longo do ano. Neste finalzinho de 2014, deixamos aqui com vocês algumas das imagens, gravuras, adaptações, zoeiras, memes mais legais que pintaram no clyblog este ano. E um Feliz Ano Novo a todos. Em 2015 tem mais.
para pessoas de visão
caça-palavras.
Você achou.
O meme que virpu clássico na internet também serviu ao Clyblog.
"É óbvio, sua besta."
Aprecie sem moderação
Keep Following
Você está com sorte
Curta o Clyblog e não se preocupe com mais nada
É só um blog mas nós adoramos
Logo da Copa Rock do Clyblog
que teve edições das bandas The Cure, Legião Urbana e Beatles
O Fuleco Rock'n Roll
Chamada da Copa The Cure
Final da Copa The Cure na qual "A Forest" sagrou-se a grande Campeã
Uma das chamadas da Copa Legião Urbana
Chamada da Copa L.U.
Renato Russo chamando no gol.
A finalíssima entre dois grandes sucessos da Legião Urbana.
No final, deu "Tempo Perdido"
Chamada da Copa Beatles
Mais uma chamada, desta vez com os rapazes da Abbey Roa
atravessando o gramado do estádio de Anfield Road, do Liverpool
Um chuta, outro sobe, outro defende outro cabeceia.
Outra da Copa Beatles
Chamada da Copa inspirada no "Hard Day's Night"
E o título nas mãos de "A Day in the Life",
a maior música do Beatles, segundo a nossa Copa
Cartazes de filmes. Aqui "O Poderoso Chefão"
Nosso grito será ouvido no cyberespaço
Um mudo diferente de tudo que você conhece
Tempo de Violência?
Talvez, tempo de inteligência.
Ultraviolento
E pensar que você hesitou
Pop Art
As capas de discos.
Homenagem ao clássico "Physical Graffiti do Led Zeppelin
Nesta época de final de ano, o cinema, essa representação encenada e
diegética da realidade, reforça sua função, seja ela de ajudar a refletir ou
simplesmente entreter (ou os dois juntos, por que não?). Como n’"O Poderoso Chefão - Parte 2", em que os acontecimentos da máfia e da política estão fervilhando
em plena virada de 1959 para 1960 em Cuba, ou em “Boogie Nights”, quando todos
interrompem a chegada da década de 80 por causa de um suicídio em plena festa
de Réveillon, o dia de Natal também (ou a passagem de 24 para 25) aparece em
alguns filmes não necessariamente como tema central, mas como um pano de fundo
essencial àquilo que se quer contar. Às vezes é um detalhe, mas extremamente
simbólico para determinada obra de cinema. Um nexo narrativo que contribui para
a história de forma a lhe trazer os ícones que a data representa (o nascimento
e o significado simbólico de Cristo, a figura pop do Papai Noel, a valorização
dos sentimentos de fraternidade e compaixão, a representação do consumismo, o
pertencimento à sociedade capitalista ocidental, etc.).
Por isso, o Clyblog registra aqui algo nessa linha: não aquelas
comédias natalinas típicas que, embora divertidas, são óbvias. Aqui, fugimos da
obviedade. Listamos, sim, filmes que se nutrem dos elementos natalinos mais
profundos por assim dizer, ainda que apenas como instrumento para dar um toque
à trama, para gerar contraste entre a aparência e real ou apenas para contar
melhor uma história. Se você está cansado de assistir as franquias “Esqueceram
de Mim” ou “Meu Papai é Noel”, aqui vão alguns títulos que não esquecem da
data, mas vão além da mesmice – e que, justo por isso, merecem ser vistos mesmo
em outras épocas do ano. Mesmo que, porventura, apenas passem pelo tema, o
Natal, com seus significados, está lá.
“Duro de Matar” (“Die Hard”, John
McTiernan, EUA, 1988)
Provavelmente o melhor filme de ação dos anos 80 junto com “Um Tira da
Pesada”, “48 Horas” e alguns outros poucos, tem o Natal como pano de fundo para
uma trama inteligente que mescla policial, comédia e realismo (sim, realismo)
na medida certa. O policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) vai
visitar a esposa em Los Angeles, que está numa festa de Natal da empresa onde
trabalha, no edifício Nakatomi Plaza. Durante a festa, terroristas alemães,
liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) invadem o prédio e sequestram todos os
convidados com a intenção de roubar milhões em ações da companhia. McClane
escapa de ser aprisionado pelo grupo de Gruber e, com grande dificuldade, mas
com perícia e astúcia, passa a combatê-los.
A fórmula é muito parecida com o que Hollywood fazia de muito tempo no
gênero ação/policial – as sequências com o gancho da tensão e as explosivas
cenas de ação, entremeadas por tiradas engraçadas que aliviam a seriedade e a periculosidade
– mas adiciona-lhe algo que passaria a servir de exemplo para trocentas
produções posteriores: a pegada realista. McClane derrota os terroristas neste
dia de Natal atípico, mas o consegue a custas de muito esfolamento. O conceito
de anti-herói, humano e mortal, é uma quebra de paradigma no cinema norte-americano
do gênero. Se há estilhaços de vidro no chão e McClane está descalço, ele vai
cortar o pé, ora essa! É exatamente isso que acontece, numa ressignificação do
tipo James Bond, perfeito e inatingível. Tanto é que, por tudo que passa, McClane
sai um trapo no final do filme, o qual finaliza emblematicamente com o jazz
natalino “Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!” na voz de Vaughn Monroe.
Igualmente, o contraste dos elementos visuais e alegóricos da data com a
violência (o vermelho da roupa do Papai Noel com o sangue dos ferimentos)
funciona muito bem. Daqueles que sempre que estão passando na TV se assiste,
inevitável.
"Duro de Matar" - "Ho-Ho-Ho!"
“Morte e Vida Severina” (Walter
Avancini, BRA, 1981)
Uma obra-prima da teledramaturgia mundial (vencedora do Emmy daquele
ano), é a encenação do poema de João Cabral de Melo Neto, o qual se chama
também “Auto de Natal Pernambucano”. Com músicas primorosas de Chico Buarque e
aproveitando parte do elenco que Zelito Viana usara na filmagem da história quatro
anos antes para o cinema, esta é, sem dúvida, a mais bela versão do texto
clássico do poeta pernambucano.
De forte cunho social e denunciador, narra a trajetória do retirante
nordestino Severino (José Dumond, impecável) do sertão árido à capital Recife
através de versos musicados ou recitados em busca de respostas à vida miserável
que leva. O que encontra em muitas das etapas dessa cruzada é apenas morte
através do descaso e da desassistência do povo, de “Severinos iguais em tudo na
vida”, o que o faz pensar em “saltar fora da ponte e da vida”. Mas o nascimento
de mais um “Severino”, filho de um carpinteiro pobre mas sábio, vem trazer
cores à desesperança. É a “boa nova” que o Natal ensina, o Cristo incutido
naquela pequena e franzina vida que se rebenta. “E não há melhor resposta/ que o espetáculo da vida?”.
“A Felicidade não se Compra”
(“It's a Wonderful Life”, Frank Capra, EUA, 1946)
Capra é um dos mestres do primeiro cinemão norte-americano. Era capaz
de criar filmes de marcantes conceitos estético e narrativo a um espírito
fortemente nacionalista, seja na valorização dos símbolos de seu país, seja no
recorrente tom moral típico daquele povo, o qual vai da puerilidade à
arrogância. No caso, mais para onírico, “A Felicidade...” conta a história de
um espírito candidato a anjo que, para ganhar suas asas, recebeu a missão de
ajudar um empresário (James Stewart) que, em virtude de grave problema
financeiro, tinha a intenção de se suicidar. O aspirante a anjo aparece-lhe na
véspera do Natal quando este está prestes a saltar de uma ponte. Ele fala de
sua missão e comentou que seria um desperdício matar-se, pois ele era
importante para muita gente. Ante o ceticismo de seu protegido, que se sentia
um fracassado, o amigo espiritual mostrou-lhe várias situações que teriam
acontecido se não fosse sua interferência: a morte do irmão, o desespero da II
Guerra (recém terminada quando o filme foi rodado), a tristeza da esposa, a
situação lastimável de sua cidade, entre outras.
Com fotografia P&B impecável – bastante forjada no cinema soviético
de Eisenstein e Vertov –, Capra amarra uma história cheia de acontecimentos com
um domínio narrativo espantoso sem deixá-la confusa ou chata. Trata-se de um
típico clássico natalino, eu sei, mas com tamanha qualidade não daria para
deixá-lo de fora – até por que, atualmente, está em desuso assistir a filmes
antigos ainda mais nessa ditatoriamente colorida época natalina. No final, a
mensagem é evidente, o que não lhe tira a emoção – até por que muito bem
escrito e realizado.
“Cortina de Fumaça” (“Smoke”,
Wayne Wang e Paul Auster, EUA/Alemanha, 1995)
Uma ode à solidariedade e ao respeito às diferenças, sejam elas
raciais, de gênero ou qualidades pessoais. Tem coisa mais a ver com Natal isso?
Pois esta pequena obra-prima com cara de Jim Jarmusch traz isso e mais um
pouco. O “isso” é a história envolvente e coral: Auggie Wren (Harvey Keitel)
tem uma tabacaria onde circulam tipos bem peculiares (olha aí as diferenças
subtextualizadas). Ele também tem um hábito próprio: o de fotografar, às oito
da manhã, a fachada de sua loja. É assim que ele conhece o escritor em crise
criativa e emocional Paul Benjamin (William Hurt), que, por um momento
fortuito, acaba conhecendo um jovem negro morador de rua a quem ajuda a
encontrar seu pai. A história é, na verdade, um reencontro das raízes pessoais
e dos laços afetivos mal resolvidos no passado.
O “um pouco mais” a que me referi é, além desse instigante subtexto, há
a célebre cena em que Auggie vai parar na casa de uma senhora cega cujo neto
furtara-lhe a loja. Ela, amorosa e sem os pré-conceitos de quem enxerga apenas
com os olhos, o recebe e o convida para cear com ela naquela véspera de Natal.
Tudo ao som da belíssima canção “Innocent When You Dream”, de Tom Waits. Cena emocionante. Uma história tão linda que, renovadas as emoções de todos na
trama, motiva o até então travado escritor Paul em seu novo romance, chamado: “Auggie
When’s a Christmas Story”.
"Cortina de Fumaça" - História de Natal de Auggie Wren
“O Natal do Charlie Brown” ou “Feliz
Natal, Charlie Brown” (“A Charlie Brown Christmas”, Bill Melendez, EUA, 1965)
Já havia me referido ao filme indiretamente aqui no blog no Natal de
2013 quando escrevi sobre a magnífica trilha sonora de Vince Guaraldi nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Pois além da preciosidade que musica o episódio, a própria
animação merece destaque. Com os elementos característicos da série de Charles
Schulz, o curta “O Natal do Charlie Brown” é o primeiro desenho animado da
turma dos Peanuts. Quando o questionador Charlie Brown reclama sobre o sentido
materialista que as pessoas dão à data, Lucy sugere que ele se torne o diretor
de uma peça teatral no colégio. Charlie Brown aceita, mas, claro, sua
insegurança e os ingovernáveis fatores externos fazem com que ele perca o
controle, frustrando-se. “Que puxa!” O
amigo de todas as horas Linus, entretanto, lhe consola relembrando o verdadeiro
sentido natalino.
Tem um Charlie Brown e Snoopy novo por estrear no Brasil que aproveita
o Natal (comercialmente, inclusive) como pano de fundo, mas este aqui é
insuperável, não só pela trilha original de Guaraldi mas pela precisão de
Melendez na direção, que sempre imprimiu à série de TV a dose certa de doçura,
comédia, entretenimento e ludicidade. Atração – e ensinamento – para crianças e
adultos.
Sou um tanto suspeito em falar desse filme, pois trata-se de meu
preferido da longa, profícua e expressiva filmografia do gênio Bergman.
Entretanto, como deixar de fora essa obra-prima que, além de alinhar-se
bastante com o recorte que proponho, é o amadurecimento total de um artista que
já nascera maduro para o cinema. Superprodução que encerra a carreira do
cineasta na grande tela, transcorre-se em dois anos da primeira década do
século XX na família Ekdahl. Após um alegre Natal, o pai de um casal de
crianças morre. Deste momento em diante Alexander (Bertil Guve), o menino, passa
a ver o fantasma do pai frequentemente. Tempos depois, sua mãe casa-se com um
extremamente rígido religioso e as crianças são obrigadas a deixar a casa da
avó paterna para viverem com a família do padrasto de hábitos severos, onde são
tratados como prisioneiros. Na casa do padrasto o sensível e inventivo
Alexander passa a ver o fantasma da primeira esposa dele e suas filhas, que
haviam morrido tentando escapar dele. Decorrido algum tempo, a mãe se
conscientiza da real personalidade do marido e de quanto seus filhos sofrem
naquela casa e planeja um modo de tirá-los daquele lugar e levá-los de volta para
casa.
O proposital clima espiritualista de toda a história faz cama para a
impactante sequência da fuga, em que as forças divinas operam um milagre de
Natal e os três conseguem escapar da prisão domiciliar. Haveria muito a se
falar sobre “Fanny e Alexander” (a relação entre pais e filhos, a
espiritualidade imanente, a percepção afinada da criança, a metáfora da vida
como palco – e vice-versa –, os limites entre vida e morte, etc.) mas destaco
aqui um fator primordial: o fato de o Natal estar presente no início e no final
do filme. A data do nascimento de Jesus demarca dois momentos psicológicos e
emocionais dos personagens, numa significação das possibilidades de mudança e
desenvolvimento da vida e das pessoas. Cada um com suas qualidades e
dificuldades, com suas personalidades e jeitos, mas passíveis de enxergarem o
mundo para além de si mesmos. Afinal, é Natal.
Villar vivendo seu maior personagem: Zé do Burro, de "O Pagador de Promessas"
Sempre quando falo de grandes atuações do cinema, lembro-me de Leonardo Villar. Assim como Giulieta, Brando, Marília, Toshiro, De Niro, Pacino, Emil ou Lorre, o ator brasileiro é dos que foram além do convencional. Aqueles atores cujas atuações são dignas de entrar para o registro dos exemplos mais altos da arte de atuar. Sabe quando se quer referenciar a alguma atuação histórica? Brando em “O Poderoso Chefão”, Michel Simon em “Boudu Salvo das Águas”, Giulieta em “A Estrada da Vida”? Pois Leonardo Villar fez isso não uma, mas duas vezes – e numa diferença de 5 anos entre uma realização e outra.
Primeiro, em 1960, ao encarnar Zé do Burro, o tocante personagem de Dias Gomes de “O Pagador de Promessas”, o filme premiado em Cannes de Anselmo Duarte (na opinião deste que vos escreve, o melhor filme brasileiro de todos os tempos). Na mesma década, em 1965, quando vestiu a pele a perigo de Augusto Matraga, do igualmente célebre “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de certamente o melhor filme do craque Roberto Santos rodado sobre a obra de Guimarães Rosa. Dois filmes que, soberbamente bem realizados (“O Pagador...” é daqueles que considero perfeitos em todos os aspectos), não o seriam tanto não fosse a presença de Villar na concepção e realização dos personagens centrais das duas histórias. Ainda, personagens literários que, embora a riqueza atribuída por seus brilhantes autores, são - até por conta desta riqueza, o que resulta-lhes em complexos de construir em audiovisual - desafios para o ator. Desafios enfrentados com louvor por Villar.
Augusto Matraga: 5 anos depois, o ator realizava outra atuação história no filme de Roberto Santos
Talvez por não ser ator, mas amar cinema, sou arrebatado pela arte do ator. Por óbvio, mais do que outros elementos como a fotografia, a trilha sonora ou a edição, a atuação é o que geralmente me mais faz associar a ideia de um filme, a que mais me faz lembrá-lo como obra. A concepção de um personagem, algo tão técnico quanto sensível e, por vezes mágico, é-me o grande mistério do cinema o qual perscruto o utópico entendimento sabendo, pois utópico, nunca chegar. Por isso, quanto mais vejo, mais me fascino.
Existem vários atores de grande capacidade e inúmeras atuações bem realizadas. Mas daquelas que simbolizam a arte cênica, são poucos. Poucos capazes de gerar tamanha empatia (seja amor, raiva, dó, asco, tesão, piedade ou o que for cabível despertar nessa relação imagético-real provocada pelo cinema) numa obra artística de pouco menos de duas horas de duração. Quando ator e personagem homogeneízam-se. A pessoa e a ideia, o real e a ficção. Tão raro quando isso ocorre, que não é errado pensarmos que estamos diante de um milagre. Por isso, perdas como essa devem ser, se não lamentadas, registradas. O momento em que perdemos Zé do Burro e Augusto Matraga. Aliás, Leonardo Villar e Leonardo Villar.
Leonardo Villar
(1923-2020)
*************
"O Pagador de Promessas"(1960)
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga"- parte 1 e 2 (1966)