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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Carlos Dafé - “Pra que Vou Recordar” (1977)



“A refavela/ Revela o passo/ 
Com que caminha a geração/ 
Do black jovem/ Do Black Rio/ 
Da nova dança no salão”. 
Gilberto Gil, da letra de "Refavela", de 1977

O ano de 1977 foi cheio para a Banda Black Rio. Formada a não muito da fusão de músicos de diferentes origens – os conjuntos Impacto 8, Grupo Senzala e Don Salvador & Grupo Abolição –, eles eram os reis dos bailes black da Zona Norte carioca, que eclodiram nos anos 70. Além das festas,  começaram a ser bastante requisitados para outros projetos. Só entre janeiro e março, gravaram todo o primeiro disco e foram até tema de novela da Globo, Locomotivas. Era o momento deles. Junto com nomes como Tim Maia, Cassiano, Gerson King Combo, Hyldon, Toni Tornado, Dom Mita e outros, a Black Rio não só representava como levava o nome da onda sociocultural que mobilizava milhares de negros excluídos pela sociedade. Eram jovens oriundos das "refavelas" em recente processo de ascensão social num Brasil de Ditadura Militar, que passavam agora a demonstrar seu orgulho pela raça, pelo cabelo crespo, pela dança, pela cor da pele, pelo sotaque, pela linguagem. E pelo seu som: brasileiro, mas universal.

Todos da Black Rio eram músicos excepcionais, mas nenhum sabia (pelo menos, ainda) cantar. E para incendiar a galera dos passinhos durante os bailes tinha que ter alguém chamando nos microfones e com presença de palco. Mais do que um crooner. A voz feminina a banda de Oberdan Magalhães achara: uma jovem cantora de voz rouca e potente digna das melhores da black music norte-americana chamada Sandra Sá. Porém, precisava de um gogó masculino também, o que coube perfeitamente a Carlos Dafé.

Cantor de elegância e gingado, Dafé é compositor e multi-instrumentista, capaz de mandar ver no violão, guitarra, baixo, piano, acordeão e vibrafone. Nascido no subúrbio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, teve no pai (José de Sousa, um funcionário público tocador de chorinho) e na mãe (Conceição Gonçalves, poetisa) o incentivo à musicalidade. Tanto que, aos 11 anos, já estudava no Conservatório de Música e, na fase do serviço militar, fez turnê com o grupo Fuzi 9, do Corpo de Fuzileiros Naval. Toda essa bagagem deixava evidente que Dafé era a figura perfeita para acompanhar a Black Rio. Tanto que não ficou apenas restrito aos bailes. Assim como ocorrera com a própria banda naquele início de 1977, eles correram para o estúdio, quando se concebeu o brilhante “Pra que Vou Recordar”. Igualmente a “Maria Fumaça”, a também estreia da Black Rio, o disco de Dafé completa 40 anos de lançamento em 2017, formando o mais célebre duo de discos da soul music brasileira de todos os tempos.

A lendária Banda Black Rio: grupo de apoio de Dafé em sua estreia
Dançante mas altamente sofisticado, o álbum abre com uma das maiores canções pop já escritas no Brasil: a irrepreensível “De Alegria Raiou o Dia”. Parceria dele com outro craque da soul, Dom Mita, é um arraso em execução, timbres, sonoridade, ritmo. Que tabelinha de Luis Carlos na bateria e Jamil Joanes no baixo! Adicionado a isso, o Fender Rhodes de Cristóvão Bastos, a levada de guitarra de Claudio Stevenson, os sopros: tudo perfeito, encaixado, sonoro, musical. Mesmo sendo seu primeiro registro fonográfico, o já experiente Dafé mostra de largada toda a habilidade como compositor e cantor. A voz rasgada e de pronúncia aberta é, sobretudo, símbolo da afirmação daquela negritude adormecida e, agora, autovalorizada. O fraseado malandro, que opera propositais supressões de fonemas e adiciona ginga noutros, é de visível inspiração a nomes consagrados da música brasileira, como Seu Jorge e Criolo. Como se não bastasse o funk irresistível, na segunda parte, a “cozinha” entra com um samba-rock que, convenhamos, não tem ninguém que saiba, faça ou entenda como um músico brasileiro – quanto mais se tratando de Black Rio. Também nisso o disco de Dafé guarda semelhança com o debut do conjunto carioca, haja vista que as duas faixas de abertura trazem essa fusão dos ritmos típicos norte-americano e brasileiro como proposta conceitual.

“Tudo Era Lindo” (“Era lindo vagar, me perder de amor/ Correndo a enfrentar um mundo de loucos”) e “A Cruz” (“Se existe uma barreira/ Entre os nossos corações/ Não ligue pra essas coisas/ O importante somos nós”) dão a devida diminuída no ritmo em duas balada cheia de suingue e romantismo. Afinal, todo baile funk pede também aquela hora de dançar de rosto colado! A empolgação volta para homenagear o genial autor de “Superstition” com “Hello Mr. Wonder”, mas a um modo bem brasileiro: soul com muita carga de samba, assim como já haviam apresentado em “De Alegria...”.

Voltando para a pista, “Bem Querer” une a elegância do jazz soul com pitadas de samba, ou seja, tudo o que a turma domina. O coro feminino faz uma tabela perfeita com a voz de Dafé, enquanto Oberdan “apavora” num solo de sax. Merece ainda realce o baixo sempre incrível de Jamil, que não se restringe a simplesmente manter uma base, e, sim, desenhar linhas harmônicas sobre a escala.

A faixa-título (adicionada do complemento “o que chorei”), outro clássico do disco e da black music brasileira, faz jus ao mito. Além de trazer aquele clima das baladas dos mestres “gringos”, como Marvin Gaye e Bobby Womack, ainda adiciona-lhe a “cadência bonita do samba”. E mais uma interpretação impecável de Dafé, cheia de sentimento. Destaque para a levada de Luis Carlos e a guitarra solada de Claudio Stevenson.

“Zé Marmita” começa somente com Cristóvão ao piano elétrico e Dafé introduzindo os primeiros versos para, logo em seguida, cair num novo samba, agora bem suingado. A letra fala de um brasileiro pobre e trabalhador que se deixa levar pela alegria do Carnaval sem pensar que tem que pegar no batente no dia seguinte: “Cantando na avenida, você nem vê que amanheceu/ Esquece até da vida/ Pensa que o mundo agora é seu/ Quero só ver quando a festa acabar/ Coragem pra trabalhar”.

Ainda mais especial é “Bichos e Crianças”, que intercala uma doce melodia (“Dia de domingo/ Quem vai passear?/ Bichos e crianças vão”) com uma disco animada e lúdica cujo ritmo a Black Rio repetiria a dose na trilha do filme “Sábado Alucinante”, de 1979. Já “O Metrô”, última faixa, é o característico funk temperado com pitadas de brasilidade. A timbrística da Black Rio é algo realmente impressionante e improvável: une a sonoridade da Motown, com o padrão Steely Dan, recupera o samba telecoteco de Miltinho e o samba-rock da turma da Tijuca para chegar àquilo que eles mesmos se autodenominam: Black Rio. Ainda, é claro, a qualidade do band leader nos microfones. Um final com o que havia de melhor na cena. Em "Pra que...", Dafé e o time de Oberdan atingem um nível de musicalidade poucas vezes visto no mundo, haja vista que passa pelo funk, pela soul e pelos ritmos brasileiros em constante namoro com o jazz fusion, mas sem ser pedante nem difícil. Pelo contrário: é pop e sofisticado ao mesmo tempo.

Se 1977 ainda era tempo de Ditadura, é de se imaginar que, se a repressão recaía fortemente sobre adolescentes universitários de classe média, imagina se não iria exercer a mesma força a jovens negros da periferia? Bastou os bailes começarem a mobilizar muito mais gente que o esperado e, ainda por cima, ganhar espaço também na “branca” Zona Sul do Rio, que se resolveu dar um basta. Essa coisa de “movimento Black Rio” ou “Black o que fosse” estava começando a ficar perigosa para o governo. Então, para que os donos de equipes de som e artistas começassem a ir para o DOPS foi um passo.“Quando viram aqueles caras dançando junto, com aquelas roupas e cabelos, os militares perceberam que se nasce um líder ali no meio ia dar uma grande merda para o governo”, conta DJ Marlboro, que presenciou a cena. O movimento se tornava, da noite para o dia, subversivo.

A onda Black, pelo menos naquele momento, se esvaziara. Seguiram-se, nos anos seguintes, a última década de Governo Militar, a redemocratização, a era Collor, a ascensão do PT. Paralelamente, entretanto, o grito da periferia não se calara. Vieram o hip-hop, o break, o melô, o funk carioca, o charme, o punkadão. Se a qualidade das manifestações culturais da negritude não acompanhou aquele embrião animador e altamente musical, paciência. A bandeira pela liberdade dos negros havia sido hasteada. Dafé, Black Rio e Cia. cumpriram o papel daquilo que Gilberto Gil captara naquele sociologicamente fatídico 1977 para o Brasil negro: conceber um “samba paradoxal. Algo que só nossa “escola” é capaz. Ou seja: “Brasileirinho pelo sotaque, mas de língua internacional”.

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FAIXAS:
1. “De Alegria Raiou o Dia” (Carlos Dafé/Dom Mita) - 3:40
2. “Tudo Era Lindo” (Dafé/Jomari) - 3:34
3. “A Cruz” (Dafé/Tânia Maria Reis) - 5:52
4. “Hello Mr. Wonder” (Dafé/Claudio Stevenson/Luiz Carlos dos Santos) - 3:44
5. “Bem Querer” (Dafé/Lucio Flavio/Tião da Vila) - 3:11
6. “Pra Que Vou Recordar o que Chorei” (Dafé) - 3:46
7. “Zé Marmita” (Dafé/Vandenberg) - 3:34
8. “Bichos e Crianças” – (Dafé/Marilda Barcelos) - 2:45
9. “O Metrô” (Dafé/Lucio Flavio/Oberdan) - 2:58

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OUÇA

por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Rock In Rio - Bon Jovi, Tears For Fears, Ney Matogrosso com Nação Zumbi, Jota Quest, Alterbridge (22/09/2017)



Minha primeira experiência em um Rock In Rio, embora totalmente normal, sem nenhum contratempo ou incidente, não posso dizer que tenha sido das mais positivas. Não sei se eu tô ficando velho, se não tenho mais paciência pra algumas coisas, se é porque a gente vai adquirindo mais critérios com o passar do tempo, mas aquela coisa toda, todo aquele complexo de entretenimento não me desce. É muito grande, tudo é muito difícil, pra se chegar num outro palco, numa praça de alimentação, num banheiro, tem que se percorrer quilômetros e pra piorar desviando de milhares de pessoas e tropeçando em outras que estão estendidas pelo chão. um festival desse é um incentivo pra quem quer deixar de beber porque conseguir uma cerveja, em determinado momento, foi um ato de perseverança e heroísmo. E é tanta roda-gigante, montanha-russa, tirolesa, joguinhos, brindezinhos que no fim das contas o público que está ali, está mais interessado em todas essas bobagens do que no que está rolando nos palcos, disperso e alheio aos shows. Aliado a escalações de artistas muito heterogêneos e atrações pouco interessantes, esta atitude neutra do público acabou se refletindo nas apresentações, até mesmo nos principais nomes que se esforçaram, fizeram seu melhor mas tiveram que lidar com um público frio e indiferente.
Não é a toa que volta e meia o palco Sunset, com um público mais interessado e atrações com propostas mais mais interessantes, rouba a atenção, e de certa forma, não foi diferente no dia em que fui.
Mas vamos então a uma breve impressão das atrações que vi no festival:



Palco Rock District

  • Evandro Mesquita and The Faboulous Tab

O palco Rock District foi uma 
atração interessante.
Ainda quando estava adentrando no complexo, uma banda tocava um rock do bom nu trecho de passagem, perto de um corredor de área de alimentação. Para minha surpresa era Evandro Mesquita comandando um bom time de músicos que incluía Arnaldo Brandão, ex-Hanoi-Hanoi, no projeto denominado The Fabulous Tab, mandando ver em versões de clássicos do rock. Evandro, que nunca foi lá essas coisas como cantor, assim, num show mais restrito, escancarou suas deficiências vocais, mas o lance tava tão espontâneo, tão gostoso, que mesmo o parco potencial vocal do ex-Blitz não prejudicou a jam session. Destaques para as execuções de "Honk Tonk Woman" e "Let It Bleed" dos Rolling Stones, "Walk of Life" do Dire Straits, "Going to California" do Led Zeppelin  numa versão mais embalada e a já clássica mix, pela não casual semelhança, de "Knockin' on Heaven's Door" de Bob Dylan com "Dois Passos do Paraíso" da Blitz.


Palco Sunset

  • Ney Matogrosso e Nação Zumbi

Nação Zumbi com a lenda
Ney Matogrosso no palco.
Quando cheguei, o show de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo já havia terminado, mas se perdi este que deve ter sido bastante interessante, tive a felicidade de assistir a o encontro de Ney Matogrossoo com a Nação Zumbi que, apesar de potencialmente ter sido mais do que foi, ainda assim, valeu muito a pena. A proposta rítmica da Nação dialoga bem com a artística de Ney e isso fez com que as intervenções da banda nos clássicos, especialmente dos Secos e Molhados, funcionassem bem, de um modo geral. Senti falta de mais músicas da Nação, algumas que fariam muito sentido no atual contexto sócio-político e ainda levantariam a galera como "Maracatu do Tiro Certeiro" e "Banditismo, Uma Questão de Classe" mas imagino que fugisse da concepção de show pensada que, pelo jeito, privilegiava o repertório da banda original de Ney Matogrosso. "Mulher Barriguda" teve um ganho de peso com a guitarra de Lúcio Maia; "Sangue Latino" ficou grandiosa; "Fala" foi linda" e "Maracatu Atômico" de Jorge Mautner, um dos poucos hits do grupo pernambucano que rolaram no show, foi simplesmente... atômica. Bom show!



Palco Mundo

  • Jota Quest

Vi pouco. Ouvi mais de longe enquanto me deslocava por algum motivo (cerveja, banheiro, comida...) mas é mais ou menos aquilo, né... Nada demais. Uma bandinha pop sem maiores pretensões e sem grande ascendência. Alguns hits, pra ser bem justo; um coro com a galera aqui, um discursinho pela paz ali e era isso. Não acrescentou nada.


  • Alterbridge

Não tinha nenhuma expectativa com essas figuras, aí o show começa e a minha impressão se confirma. Uma coisa indefinida: não sabiam se eram pop, hard rock, glam, metal farofa ou sei lá o que. Lá pelas tantas explodem num trash metal furioso que parecia um Megadeth quase me fezendo bater cabeça e ter uma esperança em algo melhor dali pra frente. Alarme falso! Voltaram à mesma lenga-lenga. Terrível!


  • Tears For Fears

Show competente. Bom repertório mas a impressão que dava é que eram a banda errada no lugar errado. Tem bandas que são pra 10.000 pessoas e outras que são pra 100.000. Eles estão no primeiro caso e por mais que tenham desfilado sucessos e hinos pop, não conseguiram dar conta daquilo tudo.


  • Bon Jovi

Apesar dos pesares, Bon Jovi agradou aos fãs.
Olha, eu não gosto muito de Bon Jovi. Tenho que admitir que fui para acompanhar minha esposa, mas também tenho que admitir que é uma banda ainda que totalmente previsível musicalmente, extremamente competente, com uma baita duma estrada, um balaio de fãs e uma pilha de hits. Só que, independente do meu gosto, por constatação do que vi no local, tenho também que dizer que John Bon Jovi e sua banda não conseguiram empolgar a Cidade do Rock. Em parte por culpa da banda, na minha opinião com uma distribuição equivocada de repertório; em parte pelo público que, como eu disse, anteriormente, pela heterogeneidade e por interesses paralelos parecia não estar nem aí para o que estava acontecendo no palco. Sim, havia os fãs, lá na frente, no gargarejo que não paravam, que sabiam cantar todas, que topavam o que viesse, mas grande parte das pessoas estava mais interessada em transitar, mexer nos celulares e comprar cerveja. Aí, lá de vez em quando, na hora do mega-hit, levantavam as mãos e cantavam junto o refrão e era isso o que quem não estava lá via pela TV quando parecia que a Cidade do Rock inteira estava cantando. A impressão que deu era que a maioria estava lá só para ouvir e cantar as músicas dos álbuns "Slipery When Wet" e do "New Jersey" só que, além de Bon Jovi ser um artista bem resolvido que a essas alturas não precisa mais ficar se esforçando para ganhar o público, a banda tinha que vender seu peixe e quis apresentar coisas novas de seu último trabalho "This House Is Not For Sale" e aí, acho que reside a outra parte da "falha", por assim dizer, do entrosamento banda-público. Acho que tem, sim, que apresentar as coisas novas, tem que manter uma linha de repertório próxima da turnê convencional, mas entendo também que em festival deve-se fazer algumas concessões e uma delas seria ter uma ordem de músicas mais conveniente a um evento assim onde nem todo mundo é fã de carteirinha. Por exemplo: não começa com uma nova, vai numa pra incendiar a galera logo de cara. Só para que se tenha uma ideia, a massa só foi à loucura mesmo, na quarta música, em "You Give Love a Bad Name". Tá bom, não precisava gastar sua melhor arma no início, mas uma banda com tantos sucessos poderia tranquilamente arrastar algum deles lá pro início e pôr tudo abaixo já de cara.
Outra reclamação que ouvi de muitas fãs foi a ausência de alguns clássicos indispensáveis. E aí os caras privilegiam músicas novas ou a balada acústica "Someday I'll Be Saturday Night" que ninguém ia dar falta em detrimento de "Never Say Goodbye", "These Days", "Blaze of Glory" ou da reclamadíssima "Always". Bom, se tem alguém que pode cometer estes pecados e mesmo assim sair com saldo positivo é o Bon Jovi uma vez que, de um modo geral, mesmo com algumas ressalvas de repertório e um quase consenso sobre a qualidade da voz do cantor que estaria bem inferior às últimas turnês, as fãs gostaram, compreenderam e perdoaram as ausências. Eu sou suspeito, não sou muito do som deles mesmo, mas posso garantir que a patroa curtiu.
No fim das contas, para mim, que achava que seria o show do Bon Jovi seria uma espécie de tortura apache, o que posso comparar é com aquela criança que a mãe fica avisando por meses que ela vai tomar vacina e  aí quando chega no dia, o pirralho tá se borrando, tipo, "Vai doer, vai doer...", e chega na hora da injeção o guri percebe que foi só uma picadinha de nada. Pois é... Doeu menos do que eu imaginava.


Bon Jovi - "You Give Love a Bad Name"
do meio do público do Rock In Rio



Cly Reis

sábado, 23 de setembro de 2017

"É Apenas o Fim do Mundo", de Xavier Dolan (2016)



Você retorna para um lugar que há muito tempo atrás era importante para você e quando está de volta é um mix de emoções. Boas ou ruins todas as lembranças voltam. Xavier Dolan consegue passar essas emoções através de sua câmera, ele é intimo, fechado e genial.
Longe de casa há doze anos, o escritor Louis vai ao encontro da mãe, da irmã, do irmão e da cunhada para informá-los que irá morrer em breve. No entanto, o roteiro da curta reunião, idealizado por Louis, sairá de seu controle assim que as mágoas, as memórias, as brigas e as lágrimas do passado começarem a ressurgir entre a família.
"É Apenas o Fim do Mundo" é baseado em um peça de teatro, então, já vou avisando que não tem muitos cenários e sua ação não é frenética baseando-se muito nos diálogos dos personagens e suas interações. O tom melancólico e seu desenvolvimento repleto de metáforas pode incomodar alguns, pois o ritmo de “É Apenas o Fim do Mundo” não muda do inicio ao fim e pode soar arrastado.
O belo olhar de Louis (Gaspar Ulliel)
 No entanto, esse clima mais íntimo é ótimo se o espectador estiver disposto a embarcar na proposta do filme. Dolan  fez uma excelente escolha em fazer sempre planos muito fechados e abusar de closes para captar bem as expressões dos personagens que estão sempre exalando emoções. O peso da obra está nisso, no olhar, na fala, nos gestos dos atores. Até mesmo a ambientação favorece esse intimismo uma vez que a história toda se passa, na maior parte do tempo, dentro da casa da família. De um modo geral não há exploração de outros ambientes e mesmo quando isso acontece, dentro da casa, quanto temos um plano um pouco mais aberto,o cenário fica levemente desfocado de modo que a tenção se concentre nos personagens.
Um dos poucos momentos de sorrisos e luz. 
Reparem nos olhos brilhantes dos personagens.
Não tenho muito que falar do elenco, apenas apreciar. Embora o ator principal, Gaspard Ulliel (Louis) seja o que menos conheço, gostei muito da sua atuação. Seu olhar, sua angústia preenchem o personagem, que tem algo para revelar mas não consegue colocar para fora, pois é bombardeado de coisas externas e problemas familiares, tendo que ouvir mais do que falar. Léa Seydoux (Suzanne), consegue transmitir muito bem sua admiração pelo irmão e suas frustrações; Marion Cotillard  (Catherine), num papel bem coadjuvante mas com olhar doce nos passa a inocência e bondade; Natalie Baye como a mãe, está muito bem fazendo-nos incorrer no engano de duvidar de sua lucidez; e Vincent Cassel (Antoine) com sua fúria, frustração, sempre ríspido, chega a fazer com que sintamos raiva dele em alguns momentos.
Seria impossível falar (escrever) sobre “É Apenas o Fim do Mundo ”, sem falar na sua seqüência quase final: família na mesa, jantar alegre, Louis pronto para contar o motivo de seu retorno, dizer que nunca mais irá voltar, quando começa toda a “tempestade” na mesa. Gritos, a meia luz da fotografia, os closes nos olhos, o suor, todos alterados, exceto Louis, é claro, terminando com a mãe se despedindo do seu filho, “Na próxima vez nós vamos melhorar”. Que pancada! Fiquem atentos ao simbolismo do pássaro, preso na última cena.
Léa Seydoux, casa comigo? Nunca te pedi nada.
Uma obra que se sustenta muito nas atuações, que diga-se de passagem, estão espetaculares. Uma obra muito sentimental e extremamente tocante. Toda a relação familiar, o ambiente fechado da casa, a forma como o filme desconstrói a instituição família do modo como é retratada na maioria dos filmes como lugar seguro e confortável são méritos de Xavier Dolan. Em "Apenas o Fim do Mundo" o lar não é confortante e acolhedor. É sufocante. Sentimos todos reprimidos, brigando, discutindo, parece que a casa vai explodir, mas ao mesmo tempo bate aquela vontade de abraçar todos, e confortá-los de suas angústias. Mas família não é bem isso? Apesar da brigas, das diferenças, das imperfeições de cada um (que dá muito raiva), não deixamos de nos amar e de querer cuidar um do outro.




Vagner Rodrigues

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Coluna dEle #45


Não, não... peraí. 'Cês devem tá de pilha. 'Tão de brincadeira. As coisas que tem chegado pra Mim aí de baixo, seja por TV, rádio, jornal, internet, Faithbook ou orações são de enlouquecer qualquer cristão. Olha, Eu fico sabendo de umas assim que até dá vontade de Me jogar daqui de cima. Bom, não ia adiantar muito mas, simbolicamente ia ter um efeito tal, tipo assim , saca... Mas hoje em dia acho que nada mais tem efeito moral em vocês.


***

Mas gente, vocês Me deixam com a cara aí embaixo no chão de tanta vergonha! Nazismo? É sério? Onde foi que Eu errei na criação de vocês? Às vezes vocês fazem Eu Me arrepender de ter criado o tal livre arbítrio. E essa de nazismo ser de esquerda? Gente! Da onde vocês tiraram isso? De que que adiantou todo esse tempo de história que Eu dei pra vocês até  hoje aí embaixo e vocês não aprenderam ou assimilaram nada do que aconteceu até hoje?


***


Eu sei o que que é isso. é que vocês 'tão dando ouvidos pra falsos "mitos'.
Olha...
Cuidado.
Depois não venham reclamar.
Choraram tanto nos Meuzovido pra acabar com a ditadura, que queriam liberdade, diretas já e o escambau e agora ficam idolatrando um cara desses...
Bem já disse o Filhão quando tava aí na cruz: "Perdoe-os , Pai, eles não sabem o que fazem."
***

E esse outro retardado aí no Brasil dizendo que não  teve ditadura militar! Diz isso pra esse monte de gente que "desapareceu" naquela época mas que na verdade subiu pra cá, diz. Não é a toa que canta essas musiquinha pra cagar no mato. Cara, na boa, vocês  querem me enlouquecer. Me segurem se não  eu vou me jogar.


***

E outra pra me enlouquecer: não andaram dizendo que o eclipse que teve era sinal do fim do mundo? (Santa ignorância, Batman!) Na verdade era só Eu brincando com essas bolinhas que vocês chamam de planetas, astros, estrelas, e colocando na frente da luz pra fazer uns efeitos de sombra, mas sabe que tenho pensado que não seria uma má ideia pegar uma dessas pedrinhas que ficam aqui vagando no espaço, jogar contra essa bolota em que vocês vivem e começar tudo do zero. 

***

A propósito, Eu fiquei sabendo, tá rolando um boato aí que vai rolar uma colisão dessas aí, tipo, um apocalipse e tal no sábado. Mas não é coisa Minha. Pelo menos não tá na Minha programação. 


***

Mas pelo jeito, se não for um meteoro vão ser esses dois babacas brincando de foquetinho. E pensar que o Cara (Eu, no caso) trabalha duro por seis dias pra fazer tudo isso pra vir um yankee topetudo ridículo e um bebezão retardado coreano e de repente destruir tudo num aperto de botão.


***

Mas ainda sobre planetas, astros e tal, vocês não param de Me surpreender, mesmo (negativamente, é claro): e não é que tem uns idiotas que tão dizendo que a Terra é plana? Não, não... Parem o mundo que Eu quero descer. Quero dizer, Eu mesmo vou parar pra Eu descer. 
Quando Eu contei isso pro Copérnico, pro Galilei e pr'aquela galerinha que encarou foi pra fogueira e eles quase tiveram um  troço. Ficaram se perguntando se tinha valido a penas quase terem virado churrasco na inquisição pra agora vir uns idiotas agora quererem jogar tudo aquilo fora.


***

E por falar em fogueiras, Eu tô achando que é só o que tá  faltando agora. É que eu soube que estão  proibindo exposições  de arte por aí. Sério?  Não, não... Me segura, me segura que eu vou me jogar! Daqui a pouco vão começar a queimar livros, depois queimar bruxas...


***
E essa de cura gay, agora! Gente, que parte vocês não entenderam sobre amarem-se uns aos outros?
Agora Eu me jogo, Eu juro que me jogo!
Com tanta coisa pra se preocupar, pra resolver aí no Brasil e 'tão preocupdos com a rosca dos outros. Ora, vão achar um lote pra capinar!
Tanto crime, tanta roubalheira e daqui a pouco vão querer condenar gente à prisão perpétua por ser bicha.
O Wilde que tá aqui perto de mim que o diga.


***

Será que eu sentei no controle remoto do mundo e apertei o botão Rewind sem querer? Só pode.

***

Pelo menos Eu tenho dado boas risadas com o Silvino e com o Jerry que subiram pra cá por esses dias. Cara, Eu não perdia uma Sessão da Tarde com o Jerry. E aquela cara de tarado do Silvino? Divino!
Morro de rir com esses dois. Quero dizer, não morro porque, afinal de contas Eu... não morro. Mas...tipo... Ah, vocês entenderam.

Fiquem Comigo e que Eu os abençoe.
Juízo, hein! Porque se não tiverem juízo afinal, vai rolar um Juízo final.


***

Pedidos, orações, promessas, solicitações de milagre, aulas de História , calendários astrológicos, pacotes de viagem pra outros planetas, tudo para o e-mail 



Ele

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Música da Cabeça - Programa #25



Feriado pra gauchada? Aqui a gente não faz feriado, pois nossas músicas não tiram folga. No Música da Cabeça de hoje, às 21h, na Rádio Elétrica, tem um montão delas e com a variedade de estilos e referências de sempre. Vamos ter Chico BuarqueBanda Black RioJorge BenjorLenny Kravitz e Fernanda Abreu por exemplo. Ainda, o 'Música de Fato', o 'Palavra, Lê' e um 'Sete-List' especial Rock in Rio. Não te micha pro feriado e escuta o programa de hoje, tchê! Produção, apresentação e pilcha: Daniel Rodrigues.


Ouça: Programa #25