Curta no Facebook

quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulheres, às armas

O rock morreu. O que temos hoje é um uma sombra daquele gigante capaz de abalar sociedades e apavorar conservadores. Um eco apenas daquele rompante capaz de nos fascinar, nos fazer levantar e nos estimular a desafiar o mundo. Se tanto, um sopro daquele furacão capaz de combater as injustiças e a desigualdade do planeta. O que vemos hoje vagando entre nós é uma entidade fraca e impotente que vive da reputação do que já fora mas que infelizmente parece sem forças para ressurgir da forma grandiosa que tivera outrora. Não se vê mais nos últimos tempos artistas no mundo pop-rock com o ímpeto e a gana que a prática de sua atividade naturalmente exigiria. Pode parecer papo de velho mas não se sente mais a energia que se sentia ao descobrir uma música ou uma banda nova. E não pensem que eu tenho a cabeça fechada porque eu dou chance, até demais. Até tem, é verdade, uma meia dúzia bandas e artistas que nos fazem sentir aquele brilho que o rock sempre nos proporcionou mas, de um modo geral, é tudo muito repetitivo e/ou inexpressivo.
Em grande parte essa estagnação se dá pela superficialidade que tomou a música de um modo geral. Não há uma motivação. O rock sempre bateu de frente com as imposições da sociedade e representou lutas diferentes para momentos distintos da nossa história nos últimos 60 anos. Incitou a que se lutasse pela liberdade de se ouvir o que se quisesse, depois para que se usasse o cabelos do comprimento que achassem melhor, para que se usasse a roupa que bem entendesse, a fazer amor com quem tivesse vontade, exigiu que se parasse com guerras estúpidas, reclamou da pobreza, do desemprego, do perigo nuclear, e hoje o que ele faz? Ele simplesmente diz sim para o primeiro contrato com uma grande gravadora ou para o primeiro milhão de visualizações na internet.
A impressão que dá é que falta uma causa por que lutar. Não que não elas não existam, a intolerância, a violência, a desigualdade e outros tantos motivos estão aí, mas parece que a juventude, que sempre foi a força motriz de movimentos ou agitações desistiu de fazer da música sua arma e simplesmente se conformou.
Talvez um segmento que canalizasse os anseios e as inconformidades de filões sistematicamente prejudicados dentro da sociedade tivesse capacidade e o poder para redimir o rock de sua presente passividade. E aí que penso que as mulheres, na condição de grupo mais efetivamente engajado e atuante nos últimos tempos, seria o que melhor teria condições de, com sua luta e reivindicações, trazer nova vida ao meio musical. Sei que existem outros filões igualmente desatendidos e discriminados mas creio que nenhum seria tão poderoso e legítimo quanto o feminino. Negros, por mais que tenham desempenhado papel fundamental em todas os períodos e estilos da música ocidental do último século, nunca tiveram uma representatividade marcante dentro do mundo do rock. Digo como um todo. Pode-se pinçar um nome aqui, outro ali mas a verdade é que na maioria das vezes a música negra não direcionou sua arte para o protesto. Há a música de periferia, é verdade, mas ela acaba sendo subvalorizada e quase ignorada enquanto clamor, na medida em que fica muito segmentada e muitas vezes desvinculada da realidade do consumidor final. Homossexuais penso que não seriam levados a sério como deveriam. Muito em função dos atuais ídolos e representantes deste grupo que quando não são inexpressivos são caricatos, e do público, que talvez carente de uma figura realmente representativa, abrace tais figuras de maneira quase messiânica. Sem falar que nas outras vezes em que o segmento LGBT teve alguma projeção maior na mídia, como na disco-music, por exemplo, não tirou o melhor proveito que poderia de um momento em que os olhos e ouvidos de grande parte da sociedade estavam voltados para eles. Creio que no caso de gays, essa tomada de assalto só funcionaria com um aglutinador, com um nome muito forte e com ascendência o bastante, como foi Bowie no início dos anos 70, quando fez com que, quem era, se assumisse, quem não era, quisesse ser e quem não era, simplesmente curtisse e respeitasse porque era muito bom.
Não! Nenhum outro grupo não teria a universalidade da mulher. Este engloba todos essas classes e todas suas causas: a da pessoa discriminada por sua cor, da pessoa que só quer ter o direito de amar quem ela quiser, da pessoa cujo povo é dizimada por guerras ou outros interesses, da pessoa que sofre violência doméstica, da pessoa que é abusada sexualmente, da pessoa que ganha menos no trabalho e todas as outras pessoas que se sintam de alguma forma violentadas em sua integridade enquanto ser humano.
No que tange especificamente à matéria musical, seria este o momento das mulheres finalmente assumirem um protagonismo no cenário rock uma vez que, embora sempre tivessem, em qualquer momento, grandes representantes e pioneiras, pelo contexto sócio-cultural que sempre as cercou, com exceção de uma ou outra que meteu o pé na porta e não quis nem saber, nunca puderam efetivamente serem as "donas do pedaço", fosse por limitações impostas, padrões comportamentais exigidos ou por uma idealização do feminino dentro do universo musical, o que, na maior parte das vezes levava a uma perda de identidade e de qualidade, fazendo do produto final algo totalmente fútil e descartável. Às vezes aparece uma Madonna, que nem é efetivamente ROCK mas que tem atitude de tal, e que se impõe um pouco acima disso tudo usando a indústria quando esta pensa que a está usando. Mas de resto, as demais parecem ser todas o mesmo "produto", posando de empoderadas enquanto apenas fazem o jogo que a mídia espera delas.
Não tenho nenhum indício de que algo nesse sentido esteja acontecendo ou por acontecer. Trata-se muito mais de um desejo do que de uma constatação. Mas imagino o quanto seria interessante essa troca: as mulheres com sua luta e inconformidade utilizando-se de um dos mais potentes e poderosos canais que o mundo já viu, ao mesmo tempo que, com seu grito e sua indignação, dão nova vida a esse colosso preguiçoso, pois no fim das contas esse fogo é tudo o que ele precisa uma vez que foi do que ele sempre se alimentou.
Alguns fãs de rock, especialmente os mais novos, podem não concordar com a minha afirmação julgando-me meramente um tiozão saudosista e desatualizado. Mulheres, frequentemente incomodadas quando homens opinam sobre assuntos que lhes dizem respeito julgando inaptos para tal por não estarem na pele delas, podem não aprovar minha proposição por partir ela de alguém do gênero oposto ou por considerá-la, no fundo, mais interesseira e preocupada com os rumos do rock'n roll enquanto instituição do que com as causas feministas. Que seja! Então reclamem de mim! Reclamem do que quiserem. Mas o façam com uma guitarra na mão.
Vamos lá. Sempre que se sentirem incomodadas por alguma coisa, saquem suas guitarras, liguem os amplificadores e soltem a voz. Vocês estarão salvando o rock! Ele precisa de vocês. Precisa de sua fúria, de sua raiva, de suas causas. E ele lhes promete em troca nada mais nada menos do que o mundo.
E então, o que vocês estão esperando? Garotas, balzacas, ninfetas, putas, pretas, fofas, nanicas..., às armas, senhoritas, às armas. Ou melhor, às guitarras.


Cly Reis



Estudo de Rosto de Mulher


estudod e rosto de mulher - REIS, Cly
grafite em papel reciclado (2018)



REIS, Cly

quarta-feira, 7 de março de 2018

Música da Cabeça - Programa #49


Que tal um pouco de música para espantar os males? É o que temos no Música da Cabeça todas as quartas, o que não será diferente hoje, às 21h, pela Rádio Elétrica. Saca só o que te espera pra fazer a alegria dos diletantes: Stevie Wonder, Engenheiros do Hawaii, David Bowie e Carla Bley, isso, só para ficar em alguns. Pronto, então, para cantar e jogar tudo que é ruim pra lá? Vem que o antídoto é com a gente. Produção, apresentação e sorrisos: Daniel Rodrigues.



segunda-feira, 5 de março de 2018

Oscar 2018 - Os Vencedores



Frances McDormand, uma das atrações da noite,
conclamou suas colegas a erguerem-se
em nome da igualdade de oportunidades.
E viva México! Parece que nos últimos tempos a festa do Oscar passou a ser uma grande celebração mexicana. Nos últimos cinco anos, nada mais nada menos do que em quatro oportunidades diretores daquele país receberam prêmio de melhor direção, sendo que em duas delas fizeram dobradinha filme/diretor. Não é pouca coisa! Desta vez foi a poesia visual fantástica de Guillermo del Toro, "a Forma da Água" quem conquistou a academia e levou os principais prêmios da noite para casa. Para completar a festa mexicana, "Viva - A vida é uma festa" bateu o favorito "Com amor, Van Gogh" e faturou o prêmio de animação e levou de quebra ainda o de melhor canção original.
De um modo geral não houve grandes surpresas e os prêmios ficaram bem distribuídos. "Dunkirk", de Christopher Nolan, dominou nos prêmios técnicos levando em três categorias, "Três Anúncios para um Crime" teve premiadas suas atuações individuais com prêmios de ator coadjuvante e atriz principal e "O Destino de Uma Nação", além do Oscar de maquiagem garantiu o primeiro e merecidíssimo troféu para Gary Oldman. "Blade Runner 2049 também ficou com dois, o de efeitos especiais e fotografia e nas categorias de roteiro, o elogiadíssimo "Me chame pelo seu nome" ficou com o de adaptado e o inusitado "Corra!" o de roteiro original, premiando o primeiro roteirista negro no Oscar. Destaque também para a categoria de filme estrangeiro, vencida pela produção chilena "Uma mulher fantástica", que trouxe a primeira protagonista transexual da história no Oscar.
Ao contrário do que eu imaginava, considerando a cerimônia do Globo de Ouro, as manifestações feministas e as questões de assédio não roubaram a cena. Frances McDormand, no entanto, vencedora do prêmio de melhor atriz, não deixou passar a oportunidade e o assunto, e numa manifestação oportuna e na medida certa, lembrou a desigualdade de oportunidades nos estúdios e pediu o apoio de todas as mulheres presentes, ao que foi atendida prontamente com uma salva de palmas em pé.
Numa cerimônia sem percalços ou imprevistos conduzida de maneira bastante competente por Jimmy Kimmel, os mesmos protagonistas do episódio da troca de envelopes do ano passado, Warren Beatty e Faye Dananway, foram chamados novamente, para desta vez anunciarem, sem susto, "A Forma da Água" como grande vencedor de 2018.
Olha, tô achando que a Academia tenha que começar a tomar medidas tipo as do Trump pra barrar esses chicanos porque eles não sabem brincar: se deixar participar, os caras levam.

Confiram abaixo todos os premiados da noite.


Guillermo del Toro o grande vencedor por seu
"A Forma da Água"
MELHOR FILME
A Forma da Água

MELHOR DIREÇÃO
Guillermo del Toro (A Forma da Água)


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A Forma da Água



MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água

MELHOR ATOR
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

MELHOR ATRIZ
Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Alison Janney (Eu, Tonya)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Corra!

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Me Chame pelo Seu Nome

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Viva - A Vida é uma Festa

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Uma Mulher Fantástica (Chile)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Ìcaro

MELHOR FOTOGRAFIA
Blade Runner 2049

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Remember Me" (Viva - A Vida é uma Festa)

MELHOR FIGURINO
Trama Fantasma

MELHOR MAQUIAGEM
O Destino de uma Nação

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
Blade Runner 2049

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Dunkirk

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Dunkirk

MELHOR EDIÇÃO
Dunkirk

MELHOR CURTA-METRAGEM
The Silent Child

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Dear Basketball

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Heaven is a Traffic Jam on the 405




C.R.