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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fausto Fawcett e Os Robôs Efêmeros - Clube Manouche - Rio de Janeiro/RJ (30/11/2018)




Fausto Fawcett e seu universo distópico
suburbano-armamentista-capitalista-sincrético-sensual-

renascentista-globalizado-cibernético-virtual.
Um underground chique localizado no subsolo de um restaurante onde desfila a nata da grã-finagem carioca em pleno pátio do Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Por si só esta descrição de local já parece com aqueles ambientes das músicas de um certo Fausto Fawcett, como a butique jornalística no fundo de uma loja eletrônica Sony, na Rua Constante Ramos, de "Rap d'Anne Stark", ou o edifício abandonado de frente pra avenida Atlãntica onde funciona a boate pornô da Chinesa Videomaker. E nada mais justo que local em questão fosse o cenário da apresentação dele mesmo, Fausto Fawcett, que havia algum tempo não dava as caras e até por isso mesmo me despertou o interesse em ver o que andaria aprontando. Fui meio sem saber o que esperar ao show de Fausto Fawcert e Os Robôs Efêmeros no clube Manouche, ainda que os títulos dos 'atos' anunciados, partes na qual se dividiria o espetáculo, dessem algumas pistas remetendo a personagens ou a canções e seu repertório, mas admirador do trabalho do "Sargentelli das Louras", o que quer que fosse a proposta, confiava que viria algo interessante pela frente.
Não me decepcionei!
Fausto acompanhado apenas de uma tecladista, um guitarrista e no terceiro ato, do parceiro de longa data Carlos Lauffer, na percussão, apresentou produções novas que só reafirmam sua altíssima capacidade de leitura de atualidades e de criatividade crítica ao transpor estes elementos para o seu universo distópico fantástico com sua mordaz inteligência e ironia peculiar.
O espetáculo performático-visual-musical composto de três atos, inicia com o "
Pequeno Concerto para Cinco Personagens Gnósticas", capítulo que transita entre personagens como o mais famoso gamer do mundo, mortos vivos no ramal de Japeri, um pedagogo fantasma, uma terrorista fundamentalista suburbana e uma catadora de latinhas encarregada de reescrever o apocalipse de São João, tudo conduzido pelo som hipnótico, lisérgico dos teclados e programações de Gabriela Camilo e emoldurado pela guitarra pontual e performática de Fábio Caldeira.
A banda em ação em outro momento da apresentação.
Finda a parte santa do show, o intervalo até o 3°ato, foi uma projeção, uma espécie de curta-metragem do diretor de TV e de videoclipes Jodele Larcher, "Catacumbas de Vitrais", que devo admitir, não ter me despertado maior interesse nem admiração, provavelmente, diga-se de passagem, para ser bem justo, muito menos por uma eventual falta de qualidades do material, do que pela excitação causada pela primeira parte e a expectativa pelo final.
Com seu tradicional estilo musical narrativo retratando personagens atípicos, situações  aparentemente absurdas ou no mínimo  improváveis, num mundo caótico abandonado às suas próprias fragilidades, Fausto e seu grupo de músicos, levaram ao público presente no Marouche, novas luzes sobre seu trabalho dando um bom indicativo de algum material  novo chegando por aí. Sempre inspirado pela disco music, pela dance, pelo funk e pelo samba, o Fauno de Copacabana nos brindou no terceiro ato, "Cachorrada Doentia: Pentagrama Musical", com tiradas cheias de sagacidade e sarcasmo como "nada se perde, tudo se Transformer" e "Pobretes Reutmann"; com refrões contagiantes como o já "popular" entre os espectadores, "Dança da garota fugitiva" mesclando momentos de "Stayin' Alive", dos Bee Gees; bem como o divertido refrão "Nuvens de James Brown" entoado por todos com a espontaneidade da aprovação; e com provocações como no caso dos versos "Patricinhas vorazes/ dondocas da escuridão/ Mulheres de cuspe caríssimo/As novas Marias Antonietas/ Inalando crack Vuitton" para os quais um bocado das presentes ali, naquele lugar encravado num dos pontos mais tradicionais e chiques da Zona Sul, devem ter aplaudido meio sem graça com um sorriso amarelo no rosto.
Fui meio sem saber o que esperar e o que vi foi algo muito promissor. O material precisa de alguns ajustes, um pouco mais de musicalidade em alguns momentos, melhor acabamento, uma lapidação final nas letras, mas acho que, de certa forma foi essa a intenção do artista. Tirar um febre do público, sentir a aceitação, a receptividade antes de, talvez, buscar investimento, iniciar gravações ou seja lá  em que estágio esteja o projeto. Pelo que pude notar, a impressão foi das melhores, não somente minha como das pessoas à minha volta. Fausto Fawcett está  ligado em tudo, ligado no mundo, criativo, louco, visionário e em plena forma. Torcemos para que o que vimos e ouvimos lá se transforme, quem sabe, em um novo CD. Fausto Fawcett ainda tem muito o que dizer e o que mostrar. Aguardemos.



Fausto Fawcett e Os Robôs Efêmeros - "Patricinhas Vorazes (Crack Vuitton)"




 Cly Reis

domingo, 2 de dezembro de 2018

"Sem Fôlego", de Todd Haynes (2017)


Uma estrutura narrativa não muito convencional mostrando duas histórias em paralelo. O que num primeiro momento pode parecer um pouco confuso se transforma, na verdade, no charme do longa. Um filme com um roteiro doce, bem desenvolvido, inventivo e criativo mas com um final que não sai do casual.
Ben e Rose são crianças de duas eras distintas que, secretamente, desejam vidas diferentes. Ben anseia pelo pai desconhecido, enquanto Rose sonha com uma atriz misteriosa. Quando Ben descobre uma pista e Rose lê uma manchete atraente no jornal, ambas as crianças partem em jornadas que se desenrolam com uma simetria fascinante.
As mudanças ambientação que acontecem no longa podem parecer confusas para alguns, pois de início não parecem se relacionar, mas conforme o filme avança, você consegue entendê-las melhor. Essas duas linha do tempo que marcam a história ligam-se em algum momento e esse é o ponto que o filme meio que "perde o encanto”, pois até então vinha sendo bem inventivo, explorando bem a narrativa mas, então, vai para um terceiro ato bem clichê e comum. Tenho certeza que a primeira coisa que você vai pensar que ligam as duas crianças da história é exatamente o que o filme vai revelar no final, foi o que aconteceu comigo. É bem obvio ser levado a este pensamento.
Mesmo num clima bem "meloso", 
esta cena é linda.
Porém, como falei sua narrativa é bem criativa trabalhando bem as duas histórias, misturando-as sem, no entanto, misturar muito. As cenas da menina da década de 20 são em preto em branco e, pelo fato da personagem ser surda, nós espectadores também não temos som. Com ela, ficamos apenas com a trilha sonora e com as expressões faciais, enquanto que, quando viajamos para o garoto da década de70, a trilha é bem alta e as cores explodem na sua cara de forma muito vibrante e intensa, parecendo até dois filmes diferentes. Fantástico!!!
Falando das atuações, fica aqui meu elogio para a jovem Millicent Simmonds no papel de Rose criança, que mais uma vez esta fabulosa.
Tecnicamente o filme é muito bom. Ótima fotografia, trilha sonora espetacular e a narrativa até seu último ato é envolvente quando, infelizmente, cai no mais do mesmo. Talvez pelo fato de não ter sido tão comentado, "Sem Fôlego" tenha elementos para agradar o grande público, mas o fato é que tem uma bela história muito bem bem contada e que traz uma ótima lição de superação de perdas, algo que vamos tanto ao longo da nossa vida. Algo bem forte e pesado mas com um olhar de criança que o torna, no fim das contas, doce.
Que menina fantástica essa Millicent Sidmmons



por Vagner Rodrigues

sábado, 1 de dezembro de 2018

cotidianas #601 - poemas para falar deles, nº2



Como um porre de tequila que derruba e desce quente. Lá vem você contente rasgando minha lógica com suas falas óbvias de quem sabe me ganhar. Esses seus dois olhos diferentes, Me encaram eloquentes Sendo céu ou sendo mar. Mas daí eu percebo, que não sou eu que você procura quando me encara sem frescura. Nas minhas pupilas cor de terra você sequer me enxerga. Elas são apenas um espelho pra você se admirar. Cuidado, boy Quem muito olha um reflexo Esquece que o universo É mais do que a imagem Que você quer projetar.

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"poemas para falar deles, nº2"
Luan Nascimento