Eram umas onze e meia da noite e eu já ia dormir. E por certo àquela hora tinha muita gente já dormindo.
Lá embaixo, na rua, ouviam-se uns gritos de vez em quando. A princípio meio ininteligíveis. E não dei importância para o que poderia ser. (Sempre tem barulhos na rua, música alta, buzinas de carro, sirenes, alarmes e gritos também). Podia ser qualquer coisa: um torcedor gritando pelo seu time, mais um assalto na cidade, um bêbado. Quem liga! Quem dá bola para gritos à noite nas cidades hoje em dia?
Mas a coisa foi ficando insistente e chamou atenção. Aí tentei ouvir o que dizia o grito...
"Alexaaaandre. Ô, Alexaandre."
E continuava, continuava...
Começou a incomodar.
E aquela voz meio que de velha bêbada continuava: "Alexaaandre. Ô, Alexandre."
Até que silenciou por alguns minutos. Presumo que repreendida por um porteiro, morador de um prédio ou o que fosse, resolvera-se por ir-se embora e deixar o Alexandre dormir.
Acertei: resolvera ir embora. Mas o problema era que o Alexandre que ia ter que pagar o táxi. E então ela recomeçou:
"Alexaaaandre. Ô, Alexandre. Vem pagar o táááxi!"
"Alexaaaandre!"
A essas alturas imagino que não houvesse alguém na vizinhança imediata que não estivesse incomodado.
"Alexaaaandre", fazia a voz ébria feminina esganiçada.
"Alexaaandre, vem pagar o táxi!"
"Alexandre..."
Lá pelas tantas "Alexandre, meu amor!"E seguia "Alexaaaandre".
Até que alguém perdeu a paciência de vez, foi pra janela e ajudou na reivindicação da chata:
"Alexandre, atende essa mulher de uma vez!", gritou um lá de uma janela.
Eu estava com tanto sono que nem sei se a namorado do Alexandre parou de gritar.
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