- E então, o que é que você faz?
- O que? Não consigo ouvir. Tá muito barulho.
- O que é que você faz? Tipo, da vida? – pergunta ela praticamente gritando perto do ouvido do rapaz.
- Ah! Eu sou estátua.
- Como é que é?
- Estátua – confirma num tom meio constrangido quase como se se desculpasse por ser o que era.- Tu nunca viu na rua? Dessas que se mexem quando alguém põe uma moeda e tal, sabe?
- Hmmm. - fez ela com um ar que pareceu a ele algo entre o indiferente e o decepcionado.
Ele na verdade nem ouviu aquele “hmmm”, mas nem se deu ao trabalho de confirmar o que ela dissera porque praticamente adivinhou ou supôs que ela tivesse respondido algo desinteressado daquele tipo.
-Olha, só ,– chamou a garota, despertando-o da distração da visão dos corpos em movimento sob o som retumbante das batidas repetidas e mecânicas– vou ali no banheiro e já volto, tá? Tu me espera?
- Espero. Claro.
Pegou a bolsa, levantou num ímpeto e saiu rápido esgueirando-se por entre a massa dançante até sumir na multidão.
Tomou um gole da bebida. Que voltar que nada! No mínimo esperava um engenheiro, um médico. Não, não, um advogado. Elas adoram advogados. Pode ser uma besta, mas se o cara diz que é advogado, hmf!, é garantido. Mas estátua? Estátua?
“Tu me espera?, tu me espera?”. Ahan! Vou ficar esperando a noite toda. A vida toda. Bebeu o resto.
De repente:
- Demorei?
- Não, não. Foi rapidinho – respondeu indisfarçadamente pasmo. Será que ela notara que ele estava, assim, com cara de bobo, descrente desse seu retorno?
- E então, - agora encostando no ouvido dele para não precisar gritar – me fala mais desse lance de estátua.
Cly Reis
Clayton, que maravilha de texto é esse?
ResponderExcluirDâ.
Obrigado! Que bom que gostaste.
ResponderExcluirA tua apreciação só qualifica mais o texto.