A bola, rebatida no zagueiro, sobra limpa para ele. Ali, na frente do gol, só ele e o goleiro. Prepara o chute. Naquele átimo, naquela fração de segundo; o goleiro ali, esperando por ele; um tropel de pensamentos inundou sua mente – Andréia, a casa, o filho, Andréia, a separação, aquele cara, Andréia, aquele cara . E antes de soltar a perna no chute fatal ainda pensou “esse é pra ti, desgraçada”.
Enquadrou o corpo pra tirar do goleiro e deu na bola. Só teve tempo de ver a branqunha se perder no horizonte acima do travessão antes de ouvir o muxoxo e a lamentação geral. Levou as mãos à cabeça e ficou ali parado, perto da marca do pênalti, como se esperasse que a bola pingasse novamente para ele tão fácil como aquela. Ou que o diretor de TV da emissora que transmitia o jogo desse um “retroceder”, a jogada voltasse e ele tivesse a chance novamente. Ou que acordasse na manhã do jogo e aquele sonho tivesse servido de aviso para bater rasteiro. Ou... Não! Nada disso. Errara na cara do gol. Em outros tempos nunca que erraria um gol daqueles.
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-Vamos falar, aqui, com o Maicon. E aí, Maicon, e aquele lance, hein? Podia ter sido o gol do título. Quando a fase não tá boa a bola não entra, mesmo...
- É, a bola caiu ali pra mim, mas eu tive a infelicidade de pegar um pouco embaixo demais e a bola subiu. Fazer o quê? Agora é continuar trabalhando com a mesma seriedade, com muita garra pra buscar o título no ano que vem. Eu queria pedir desculpas pra torcida. Eu sei que eu podia ter decidido o jogo, eles podia tá comemorando o título agora, mas aconteceu; eu também tô muito chateado; mas eles tem que compreender que todo mundo é humano e quem tá ali dentro tá sujeito a errar.
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Acabou saindo do clube. Rodou alguns times grandes sem muito sucesso e hoje joga num time da segunda divisão do estado. Também já não exibe a mesma forma física e já não faz tantos gols quanto antes.
A Andréia casou de novo.
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