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terça-feira, 11 de maio de 2010

cotidianas #24 - Vai pular

Ia atravessar a rua mas o sinal fechou e ficou distraído olhando pra cima, meio que pro nada, só enquanto não dava o verde de novo. Nisso, uma senhora parou ao lado também esperando abrir, e vendo o rapaz com o olhar perdido pro alto, deu um aolhada pra cima também. Aí que uma outra se aproximou e, tomada por uma curiosidade misturada ao natural espírito alarmista humano, perguntou pra senhora “vai pular?”. A dona esta meio surpresa repetiu o “pular?”, o que saltou aos ouvidos de um outro transeunte qualquer.
-Quem vai pular?
-Essa senhora aqui disse que um homem lá em cima do prédio vai pular.
O rapaz que olhara até então distraidamente pro alto do prédio por ter visto talvez um reflexo no vidro, um pássaro ou por estar pensando na namorada, notando o pequeno burburinho, tirou o fone de ouvidos pra se inteirar do que estava se passando.
-Foi esse rapaz que viu primeiro.
-Viu o que? – perguntou confuso o rapaz.
-Chama os bombeiro.
-Graças a Deus alguém viu a tempo. Deus te abençoe meu filho.
-Viu o que? Me abençoar? Por que? Que que houve?
-Ele já tinha tentado antes. Foi na semana passada. – afirmou convicto o dono da banca de revistas.
-Que horror! Será que foi por causa de mulher?
-Se fosse eu não me matava – gritou um lá de trás - matava a desgraçada!
-Acho que é dinheiro. Essas coisas de bolsa, pregão, taxa Selic. As pessoas ficam loucas com isso.
-Não tem ninguém lá em cima – argumentava o rapaz já irritado - Ninguém vai pular. Eu só tava olhando pra cima porque...
Mas a gritaria e a histeria coletiva o interromperam. A calçada já estava tomada, parte da rua parada e carros buzinando.
Àquelas alturas ninguém mais o ouvia o rapaz que tentava dizer que não tinha ninguém lá em cima.
Chamaram bombeiros, abriram cama elástica, subiram escada magirus, veio polícia, isolaram a rua. Não tinha ninguém em cima de prédio nenhum.
A polícia levou o rapaz pra delegacia por causar perturbação da ordem pública e, por mais que o inspetor insistisse, ele não soube responder exatamente o que tanto olhava pra cima naquela esquina.
Passou a noite na cadeia pra aprender a não causar tumulto.


Cly Reis

Um comentário:

  1. Ótimo, Clayton. Minha colega Paula, que recebe tuas atualizações e leu também, me pegou rindo aqui no escriório e, no que lhe disse o porquê, concordou comugo de como é esquizofrênica esta nossa vida moderna.
    Abç,
    Daniel.

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