Fico impressionado com jogadores que vão bater uma falta, que seja, e jogam a bola lá na arquibancada.
Que horror!
Fico pensando "eles só fazem isso da vida", "eles só tem que treinar pra chutar bem". É inadmissível!
Lembro que quando garoto, eu e mais alguns amigos, ficávamos chutando em gol a tarde inteira. Horas. Como se estivéssemos batendo falta num jogo mesmo. Às vezes imitando o posicionamento, o modo de partir pra bola de determinados batedores. O Éder, o Zico, o Dinamite. Chegamos a um ponto tal de precisão que só valia gol se fosse lá na forquilha, no ângulo, mais precisamente, onde a coruja dorme. Só se batesse no travessão em cima e dentro do gol embaixo, atrás da linha, como o gol do Valdomiro contra o Corinthinas em 76. Gol de "dois-de-blum" como se chama às vezes, ou de "paulistão" como também é conhecido.
Como todo moleque, no início da "carreira de peladas" alimentava aquela fantasia de ser jogador de futebol. O primeiro avante que vi jogar tinha sido o Geraldão que fez 5 gols em dois GreNais seguidos e eu fiquei fã do cara. Mas logo, logo, por conta da minha comprovada deficiência técnica, acabei me desestimulando da idéia de ser um craque dos gramados e tive que me conformar em jogar apenas no time que eu mesmo fundei no meu bairro. Nunca joguei grande coisa, é verdade, mas a precisão conseguida em horas e horas de "treino" me garantiu a possibilidade de durante um bom tempo jogar de centroavante no meu time com algum êxito até, e não apenas por ser o dono dele. Por mais que fosse um jogador limitado, se caísse pra mim, em condições de chutar, era "caixa" e acabei sendo goleador do time por várias temporadas. Aí que, hoje, vendo por exemplo, um jogador como o Washington, do São Paulo, ex-Flu, ex-Inter, ex-Grêmio, que só jogou em times grandes e não sabe dominar uma bola, eu vejo que até dava pra insistir.
E agora eu vejo os jogadores, numa Copa do Mundo, em gramados que são verdadeiros tapetes, em condições ideias de temperatura e pressão me reclamar da tal da Jabulani, a bola oficial da competição. Tão de brincadeira, né! Nem parece que a vida inteira jogaram com verdadeiros "caroços" num saibro duro, ou com uma bola de borracha nos paralelepípedos da rua, ou com a bola furada mesmo só pro jogo não acabar.
A gente usava a bola até o fim. Até o último gomo soltar. E nem por isso deixava de guardar lá na gaveta, lá onde a coruja dorme. De dois-de-blum.
O que tão fazendo já é armar a desculpa pr'aquele chute que vai lááá no placar eletrônico. Aquele tipo de jogada que dá a deixa pro narrador dar a pausa pros comercias sem nem se dar ao trabalho de narrar a jogada bisonha que acaba de ver, dizendo apenas "Globo e você, tudo a ver" ou "Bandeirantes, o canal do esporte".
Bem essa, né, Clayton. Pra quem já jogou com as bolas compradas no balaio do Carrefour e no campinho do Gramadense (que não era nem de Gramado, nem seu campo de areião tinha um tufo sequer de grama) ou, pior, nas condições de "gol ou morte" no Cambolão, em meio à mata atlântica fechada da Lomba do Pinheiro rodeado de traficantes por todos os lados (para deixar em dois exemplos, porque nosso "estádio" oficial, a saudosa Lixa, não recebia esse nome por outro motivo que não por sua aspereza tão característica), só pode ficar indignado com essa reclamação toda da qualidade da bola.
ResponderExcluirDã.