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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

cotidianas #55 - A Brutal


- Olha lá, olha lá!
- Lá vem ela.
- Brutal.
- Brutal...
- Brutal!!! - Concordavam os três.
Viviam babando por ela no pátio do colégio. Devia ser do terceiro ano, tinha já jeito de mulher, de mulherão. Não sabiam sequer o nome da garota. Achavam-na tão fantástica, tão fora do comum, de uma lindeza tal que poderia aniquilar todas as outras a um mero desejo, que a batizaram simplesmente de "Brutal". Era um apelido, uma alcunha e ao mesmo tempo um adjetivo, uma definição para qualquer ato que ela tivesse.
Observavam cada movimento dela nos corredores da escola, no bar, no ponto do ônibus, como se fossem praticados de uma maneira diferente de qualquer outro ser humano, ou pelo menos muito mais sensualmente do que qualquer mulher os faria. Tipo:
- Olha aquilo: ela tá tomando refrigerante... Mmn! Brutal, cara!
- Brutal...
- Brutaaal!!!!
Outra hora era:
- Olha o jeito que ela anda... Nooossa!
- Brutal , hein!
E os outros concordavam: Brutal! Brutal!
Depois:
- Cara tu perdeu ela bocejando.
- Puta merda! Como é que foi?
- Brutal, cara! Brutal.
- Puta que pariu, - lamentou - perdi isso!
Podia ser subir a escada, comer um sanduíche, pentear o cabelo, embarcar no ônibus; tudo se resumia a uma palavra para aquela musa: Brutal!
Certa vez, já babando e tendo pronunciado a palavra 'brutal' umas 30 vezes e atribuindo-a a cada pequena ação da moça tal como piscar, respirar, etc., tiveram a impressão que ela se encaminhava na direção deles no pátio. "Impressão nossa", disse um. Só quando ela estava a uns três metros, estupefatos, tiveram certeza, sim, ela ia falar alguma coisa com eles. "O que que ela poderia querer com a gente?".
Foi então que ela perguntou:
- Algum de vocês sabe se a secretaria abre hoje?
- Pô, não sei dizer, não - respondeu o primeiro meio embaraçado.
- Também não - disse o outro.
- Aí, ... tipo... Não sei, mesmo - confirmou também o último.
- Ah...Tá bom. 'Brigadinho. Tchau!
- Tchau - em uníssono.
Assim que ela se afastou um pouco, sem sair completamente do transe, um deles conseguiu falar:
- Vocês viram isso?
- Se vi... - exclamação que saiu entre uma espécie de suspiro.
- Brutal!!!
- Brutal...
- Brutal.


Cly Reis

Um comentário:

  1. O que dizer, hein? Só uma definição: brutal! hehehe
    Cara, me lembrou de relance aquela do Chico Buarque, baseada no poema do Drummond, "Flor da Idade", principalmente aqui: "Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua/
    A gente sua"
    Muito legal, parabéns!
    Dã.

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