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sábado, 13 de novembro de 2010

cotidianas #56 - Menina Jesus



Valei-me, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, valei-me.
Só volto lá a passeio
no gozo do meu recreio,
só volto lá quando puder
comprar uns óculos escuros.

Com um relógio de pulso
que marque hora e segundo,
um rádio de pilha novo
cantando coisas do mundo --
pra tocar.
Lá no jardim da cidade,
zombando dos acanhados.
dando inveja nos barbados
e suspiros nas mocinhas...
Porque pra plantar feijão
eu não volto mais pra lá
eu quero é ser Cinderela,
cantar na televisão...
Botar filho no colégio,
dar picolé na merenda.
viver bem civilizado,
pagar imposto de renda.
Ser eleitor registrado,
ter geladeira e tv,
carteira do ministério,
ter cic, ter rg.
Bença, mãe.
Deus te faça feliz
minha menina Jesus
e te leve pra casa em paz.
Eu fico aqui carregando
o peso da minha cruz
no meio dos automóveis,
mas
Vai, viaja, foge daqui
que a felicidade vai
atacar pela televisão
E vai felicitar, felicitar
felicitar, felicitar
felicitar até ninguém mais
respirar.
Acode, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, acode.


**********
Menina Jesus

(Tom Zé)

Ouça:
Menina Jesus Tom Zé

Um comentário:

  1. Grande música. Das melhores do Tom Zé, e com esta letra super bem construída, que troca de 1ª voz sem aviso, mas sem prjudicar em nada a narrativa. Acho o máximo o uso na letra das figuras do rádio de pilha, óculos escuros e o relógio, esses símbolos de modernidade para o sertanejo que mistifica a cidade grande. E o final extremamente profundo, dizendo que a felicidade irá sufocar as pessoas. Lembra uma outra do Tom Zé, do disco de 71, "Menina, amanhã de manhã", que dizia: "a felidade vai desabar sobre os homens".
    Dã.

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