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sábado, 6 de agosto de 2011

cotidianas #96 - TRAGO A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS


TRAGO A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS, dizia o anúncio. Quando viu aquele cartaz colado num poste, não teve dúvidas do que deveria fazer. Deseperada como estava, visitaria o místico do anúncio e traria de volta seu amado que algum mal entendido do destino tratara de lhe tirar. Seguiu até o endereço, entrou, foi atendida por uma velha magra e baixa com uma voz esganiçada que lhe ouviu, fez orações, jogou cartas e búzios, e por fim anunciou que seria um trabalho difícil pois alguém também teria feito uma amarração forte para tirá-lo dela. Seria necessário pipoca, cachaça, champagne, galinha e até um bode para sacrifício a fim de garantir o resultado. A moça não dispunha de grandes recursos mas faria um esforço para cumprir o objetivo. A mãe-de-santo prometera: 3 dias. Era garantido. Foi para casa esperançosa de que nos dias seguintes o amado voltaria. Não voltou. Nem em três, nem em 5, nem em um mês, mesmo com um despacho caprichado, com novas visitas e reforços nos trabalhos. Mas o tempo, que é dos unguentos o melhor, tratou de fazê-la superar, ir esquecendo e por fim conhecer um outro rapaz também interessante com quem vem saindo ultimamente. Eu soube que o ex andou ligando. Demonstrava algum arrependimento, tentava uma reconciliação, uma nova chance. Ela tratou de convencê-lo que no fim das contas a separação havia sido boa para ambos.
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TRAGO A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS, dizia o anúncio. Quando viu aquele cartaz colado num muro, hesitou um pouco afinal este tipo de recurso ia contra seus princípios religiosos e de mais a mais, nem acreditava muito nessas coisas. Mas deseperada como estava, tentaria até aquilo. Visitaria o mago do anúncio e traria de volta seu amado que algum mal entendido do destino tratara de lhe tirar. Seguiu até o endereço, entrou, foi atendida por uma velha gorda e baixa com uma voz maviosa que lhe ouviu, fez orações, jogou búzios e cartas, e por fim sentenciou que seria um trabalho difícil pois alguém também teria feito uma amarração braba para tirá-lo dela. Seria necessário cachaça, champagne, pipoca, galinha e até um bode para sacrifício a fim de garantir o resultado. A moça, determinada, disse que dinheiro não era problema e que a feiticeira poderia dispor do que precisasse desde que o rapaz voltasse para seus braços. A pitonisa prometera: 3 dias. Era garantido. Foi para casa cheia de dúvidas se aquele teria sido um recurso correto mas o que importava àquelas alturas era cumprir seu objetivo: que ele voltasse. E voltou. Certo, exato, em três dias. Disse que pensara melhor, que sempre a amara e que nunca poderia viver sem ela e coisa e tal. Ela, no seu interior ria-se de satisfação: o trabalho dera certo, o trabalho dera certo! Mas o trabalho nunca fora feito. A charlatã usava agora o dinheiro que seria destinado para a compra de um bode, em provisões para sua casa. Comprara farinha, um frango congelado, pipoca para o netinho e até uma espumante, por quê não?
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TRAGO A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS, dizia o anúncio. Quando viu aquele cartaz nos classificados do jornal pensou que aquilo era o que precisava. Seria sua chance de ter aquele ser tão desejado. Visitaria a feiticeira do anúncio e roubaria daquelazinha o homem que, afinal de contas, deveria ser seu mas que o destino por algum motivo lhe negava. Seguiu até o endereço, entrou, foi atendida por uma velha alta e magra de voz rouca que ouviu-lhe, fez orações, jogou cartas e búzios, e por fim anunciou que seria um trabalho difícil pois ele já estava amarrado a uma pessoa. Seria necessário pipoca, cachaça, champagne, galinha e até um bode para sacrifício a fim de garantir o resultado. A moça, determinada, mesmo não sendo abastada estava disposta a bancar o que fosse e garantiu que iria às últimas consequências para ter o rapaz em seus braços. A mística prometera: 3 dias. Era garantido. Foi para casa confiante que nos dias seguintes finalmente ele bateria à sua porta e praticamente imploraria pelo seu amor. Não deu certo. Mesmo com o empenho da mãe-de-santo e frequentes reforços nos trabalhos, seu querido continuava feliz da vida com aquela desqualificada. Ai, que ódio! Mas o tempo, que é dos remédios o melhor, tratou de fazê-la esquecer, deixar pra lá, reconhecer que aquilo tudo não havia sido mais que um capricho e por fim, no tocar da vida, conhecer outros rapazes interessantes. No fundo, lamentava mais o dinheiro investido do que o fracasso do intento. Como havia sido boba, essas coisas de magias não funcionam.
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TRAGO A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS, dizia o anúncio...



Cly Reis

2 comentários:

  1. Mas é bem assim mesmo.É inacreditável como existe,ainda, nos dias de hoje gente tão simplória,que acredita que uma pessoa, que está longe de ser santa, possa fazer o milagre de trazer a pessoa amada em 3 dias. Muito bom! Iara

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  2. Bala. Adoro esses teus textos inspirados.
    Dã.

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