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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

COTIDIANAS nº264 - Especial 5 anos do ClyBlog - A Profissionalização da Demanda


Vivemos um problema dos mais fodas, muita gente falando bastante coisa com pouco conhecimento de causa e isso bagunça tudo. Acho que é preciso mais confiança no editor, porque um bom editor meu amigo, fala do que vive todo dia e não de suposições e fantasias promulgadas em grupos de FB e etc. Um editor que não fala coisas baseadas na verdade, e sim na conveniência, num primeiro momento, agrada ao autor, mas depois o desagrada, porque não conseguirá comandar uma publicação de bom resultado, e mais dia ou menos dia, pagará um preço por isso.
Eu entendo quando escuto que pagar é foda, o que muda é que muita gente não entende quando falo, que de graça, nem ponteiro de relógio se mexe. O autor não pode pagar, mas a editora e o editor podem trabalhar de graça, é isso? Se a grana tranca a publicação do autor, também veta o trabalho da editora. Uma coisa não está distante da outra.
Penso que grande parte dos equívocos acontece porque ainda não se sabe o que é uma editora independente e qual é o seu papel. Editoras independentes surgiram para publicar/dar uma força, para quem ainda não conseguiu dizer, eu sou autor da minha sonhada editora x, qual é a parte que ninguém entende?
Eu sei qual é. É que agora, como a demanda está em alta e tem revelado bons autores e bons livros, tal modalidade deixou de ficar em segundo plano e passou a estar em primeiro plano para muita gente, e isso borbulha um grande número de editoras no mercado, que muitas vezes oferecem um preço muito abaixo do mínimo necessário para que a publicação tenha qualidade editorial e relevância. Isso fode as coisas e queima o mercado! Porque surge o editor-meia-boca e o autor-especulador.
É preciso filtrar. Não há como fazer um bom livro sem um bom editor, sem um bom revisor, sem um bom design gráfico, sem uma boa estratégia de venda, sem um bom plano de divulgação, sem um bom autor etc. Um exemplo, por que existem tantas resenhas críticas no mercado sentando o pau sobre a ortografia de alguns livros feitos na demanda?
Por que um bom revisor tem o seu valor, e isso acresce custo no livro. E para cada bom profissional envolvido na confecção do folhoso, se ganha um novo custo. Eu não abro mão de qualidade em nenhuma etapa, e se é assim, entendo que tenho um preço compatível com o resultado final. Não existe milagre. E em minha mente, o que não tem qualidade não vende.
Eu também acho complicado ouvir certas coisas totalmente fora de contexto, como por exemplo, queremos livros mais baratos. Deveríamos enquanto profissionais, pedir por um melhor custo/benefício. É bem diferente. Ninguém consegue bons resultados nivelando uma produção editorial por baixo. Quanto mais barato o preço, mais barato é o resultado.
Quando profissional, a demanda não é uma vilã, é uma oportunidade para não mofar esperando um ‘sim’ que talvez nunca, ou quase nunca chega, porque viver num país que ferra com a arte é dose. Além do mais, eu acho que a demanda significa liberdade. Sempre publiquei assim e acho que consegui bons frutos com tal modalidade de publicação. É o que endossa um fato que se tornou a saída para muitos autores que fazem dela o seu repasto porque deu certo.
Sei que cada um entende essa coisa ‘de colher bons frutos’ de uma maneira pessoal. Quem sabe para você, eu pense muito baixo. Contudo, eu vislumbro um degrau de cada vez. Prefiro passos seguros para nunca retroceder. Não há nada mais importante para mim do que os meus livros, eu deixaria de fazer qualquer coisa para poder investir neles com o máximo de qualidade. Não vejo como simplesmente ‘pagar’, mas como uma oportunidade para aplicar a minha grana e lucrar com a venda deles.
Publicar pela demanda é tornar-se empresário de si mesmo. A premissa é, pague pela primeira publicação e com o seu lucro em mãos, gerencie as próximas. Eu acho que vale a pena. Mas não dá para usar o capital de publicação para tomar cerveja. É uma premissa empresarial. As adversidades são tudo o que vai mover o seu comportamento profissional. Elas existem para que você transforme cada uma delas em um desafio que precisa ser superado. É para frente que se anda, e quem não está disposto a dar um passo em frente, permanece no mesmo lugar e se desgasta um monte, sem qualquer necessidade.
Em minha mente, a demanda é uma escolha que funciona, mas que exige a profissionalização do autor enquanto escritor e também enquanto seu próprio investidor. Vejo o mercado da demanda atual, como sendo o mais promissor de todos os tempos. A publicação independente é o maior movimento literário já desencadeado em nosso país. Gera concorrência e aperfeiçoamento.
O autor publica, o mercado filtra, a qualidade se sobressai, é como em qualquer área profissional. Enquanto autor e editor entendo que profissionalizar o mercado é antes de tudo, ser coerente com as nossas palavras e com as nossas atitudes.
Penso que a demanda só pode ser estabelecida como um grande problema, a partir do momento em que não existem duas coisas, qualidade na obra e público leitor, porque a partir do momento em que você possui um bom produto enquanto livro e um público interessado em sua literatura, a demanda é a modalidade de publicação mais rentável para qualquer pessoa que escreve bem.
Outro detalhe, a demanda e o seu autor ainda enfrentam problemas de distribuição, porque existe preconceito com o profissional do meio, pois há uma questão que eu classifico como absurda, a exigência das livrarias em distribuir livros somente diante de um desconto de 40% ou 50% sobre o preço de capa. É uma proposta do tipo, a gente lucra se vender e vocês que se lasquem. Uma atitude assim, mina qualquer possibilidade e algo precisa ser avaliado aqui, porque tal postura é imposta primeiramente para a editora, só que normalmente, uma situação tensa como a que mencionei, acaba se tornando um atrito entre o autor e a editora, quando na verdade, a livraria que impõe o desconto como condição para a distribuição passa batida na discussão e isso não é justo com o editor, que aguenta uma reclamação totalmente passional.
Mas eu também tenho um argumento para dizer que a demanda é viável mesmo com restrições de distribuição, foi o que funcionou comigo e é o que eu e alguns editores e autores defendem como alternativa para a distribuição de nossos livros publicados pela demanda, o trabalho de campo. Se o autor desenvolver um bom projeto para o seu folhoso e conseguir transformar o enredo da sua obra em algo palpável e relevante para o leitor, é possível furar o bloqueio, discorrer sobre sua obra e tudo que a circunda, convertendo suas ações profissionais em venda direta ao público interessado, através de instituições e escolas. Falar sobre a sua obra é o trampo do autor, ou não? A rapadura é doce, mas não é mole. Temos de mudar o nosso jeito de pensar. Precisamos de alternativas ‘porque chorar não vale mais a pena’, cantou um dia o grande Celso Blues Boy.
Enfim, em um único texto é impossível falar sobre tudo e eu já escrevi demais, mesmo assim, espero que tal post sirva como uma injeção de ânimo em sua vida. A cultura do ‘faça você mesmo com uma editora legal’ é a única postura com capacidade para transformar uma porta fechada em uma porta aberta.
Aquele abraço! Sorte, luz e demanda, sempre!


por Afobório


Afobório é o pseudônimo do gaúcho Alexandre Durigon, escritor, editor e revisor de texto, organizador e autor em várias antologias, entre elas, "Contos Medonhos", "The King", "Mistério das Sombras", "A Morte do Outro Lado da Luneta", "Os Matadores Mais Crueis Que Conheci", sua sequência, recentemente lançada, "Os Matadores Mais Cruéis Que Conheci' vol. II, além dos romances "Livre para Ser Preso" e "Contos de Amor e Crime - Um Romance Violento". Afobório é idealizador e coordenador do projeto social, PROJETO BALACLAVA, que leva a literatura as escolas públicas e municipais e atualmente, dedica-se a seu novo projeto, a editora Os Dez Melhores, que abre espaço para publicações de novos autores.
Informações e trabalhos do autor você encontra em (www.medoemorte.blogspot.com.br)


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