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Apesar disso, há entre os dois filmes, de fato, uma conversa
involuntária, uma certa linha de continuidades, um fluxo de recorrências e
informações compartilhadas. Resulta daí – se os assistíssemos numa só sequência
– um panorama útil de uma vertente criativa bastante operativa, rica e
importante, tanto no underground
quanto no mainstream da música
popular massiva.
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Cena do documentário sobre a Synth Britannia |
“Industrial
Soundtrack for the Urban Decay” não se destaca pela
estrutura narrativa que adota – afinal, explora a mesma alternância
"imagens de arquivo-entrevistas-imagens de arquivo" que vemos em
muitos documentários. Pode também ter cometido alguns esquecimentos graves e
alguns exageros no modo como cerca seu tema principal, encontrando ramificações
e causas discutíveis, correlações forçadas, influências muito determinantes
entre a música industrial e as vanguardas do começo do século passado – a
influência situacionista, o Dadaísmo, o Futurismo, a devoção aos escritores
William Burroughs e J.G. Ballard, o paralelo com o movimento punk.
De todo modo, há um vistoso trabalho de arquivo, há um ótimo
resgate arqueológico: surgem registros de shows obscuros e mesmo de bandas
pouco conhecidas. São imagens raras, de uma juventude inquieta numa Inglaterra
em crise – eram os difíceis e convulsivos anos do governo Thatcher, nos inícios
de 1980. Forjava-se ali, à saída e à semelhança das fábricas, mimetizando-se a
sonoridade e o ambiente pesados da indústria siderúrgica, uma nova orientação à
música e à cultura pop contemporâneas. Uma marca indelével, escrita,
literalmente, a ferro e fogo.
trailer de "Industrial Soundtrack for The Urban Decay"
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