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sábado, 20 de fevereiro de 2016

cotidianas #419 - O Vampiro da Main Street



arte: ClyReis
A moça no banco traseiro da limusine parecia ansiosa. Nervosa não, ansiosa. Não seria sua primeira vez mas nunca havia sido assim com um alguém tão grande. Era um velho, é verdade, se fosse por ela preferia um Chris Martin, um Brandon Flowers, um John Bon Jovi até, mas o cara era roqueiro e famoso e isso era o que importava. E além do mais poderia dar a sorte de, numa dessas, conseguir uma daquelas pensões milionárias que nem a Luciana Gimenez, isso se é que o velho ainda conseguia fazer alguma coisa. Devia conseguir, senão não a teria convidado para ir a seu quarto de hotel depois do show.
Suas divagações a respeito das qualidades de roqueiros e possibilidades financeiras futuras foram interrompidas pelo motorista que abriu o vidro automático intermediário entre ele e a passageira para informar que iriam pelos fundos para não chamar atenção da imprensa, ao que ela assentiu apenas com um sorriso que ele pôde observar pelo retrovisor, antes de fechar o vidro novamente.
Saíram do carro no estacionamento dos fundos, contornaram um pequeno pátio e entraram por uma porta de serviço que dava na lavanderia. Subiram ainda um lance de escadas antes de pegar um elevador de carga, desembarcarem na sala de máquinas do elevador e descerem a pé até o último andar, que era o destino final. Lá, no andar presidencial, percorreram apenas um pequeno trecho do corredor e chegaram a uma porta na qual o motorista bateu. A porta se abriu.
- Boa noite, sr. Richards. A moça que o senhor pediu que trouxesse... - disse o motorista fazendo um gesto com a mão mostrando a garota postada um pouco mais atrás dele.
- Ah, sim. Obrigado Lucius. Se precisar, eu chamo. Pode ir. - e agora dirigindo-se à garota, acrescentou - Pode entrar, baby.
A moça deu alguns passos adiante e já estava dentro do quarto. Estava fascinada. Já tinha ido a outros quartos de hotel com outros músicos, rockeiros, caras famosos, mas nunca numa dessas. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz embriagada daquele homem de roupão.
- Uma bebida?
- Ãhn?
- Uma bebida? Toma algo, baby?
- Ah, sim. Claro.
E aquele foi só o primeiro dos muitos drinks que tomaram e que provavelmente ajudaram para que a tudo chegasse rapidamente àquela situação: ela sem blusa, ajoelhada no sofá, sentada no colo do velhote com a língua enfiada em sua orelha. O velho instrumentista, por sua vez, percorria o corpo da garota com os dedos, dedilhando suas lisas costas como se manejasse sua guitarra levando-a à loucura como costumeiramente fazia com o público quando estava no palco. Como podia? Aquele velho murcho e enrugado estava deixando-a em êxtase. Qual o segredo para aquele fogo todo?
Lambeu os seios seios, beijou o ombro e foi subindo delicadamente fazendo a garota fechar os olhos e jogar a cabeça para trás deixando totalmente à mostra o alvo e sedutor pescoço. Voltou a afundar a cabeça em seu colo e então, novamente, de trás do ombro da garota, sua cabeça emergiu lentamente mostrando seus olhos crispados como se fossem duas bolas em chamas. Pela boca levemente entreaberta podia-se notar os ver caninos bastante proeminentes.
Já com a feição normalizada mas com a boca ainda suja de sangue, fechando o roupão, dirigiu-se ao telefone.
- Pode subir. - foi só o que disse.
Não demorou quase nada para que batessem à porta. Nem precisou olhar no olho mágico.
- Sou eu.
Era o motorista Lucius.
O roqueiro abriu a porta e mostrando com um gesto rápido o estado em que se encontrava o quarto, foi dizendo:
- Dê um jeito nas coisas - e já virando as costas completou - Do mesmo jeito de sempre.
- Pode deixar, senhor - disse o empregado enquanto já recolhia as roupas da garota do chão. Completou perguntando - E, então, como foi?
- É, o sangue dessas groupies não é dos mais puros e isso é uma merda. Nem sempre se pode ter o que se quer, não é mesmo? Mas está bom... vai me garantir mais uns dois ou três anos. Vamos precisar de mais na próxima parada - completou sorrindo maliciosamente.
- Com certeza, senhor Richards. - confirmou o empregado retribuindo o sorriso cúmplice.
O homem de rosto enrugado, cabelos quase totalmente brancos, desgrenhados, presos por uma faixa na altura da testa, apertou a faixa do roupão, limpou a boca suja de sangue com a manga, deu um gole no copo de uísque, uma tragada no cigarro e dirigiu-se a passos lentos para em direção à cama. Logo amanheceria.



Cly Reis

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