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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

cotidianas #489 - O Provocador


Apanhava feito um cão.
Logo apareceu a turma-do-deixa-disso e interrompeu aquela covardia. Levantaram o pobre coitado  do chão e, por trás, com uma chave de braço, imobilizaram o agressor.
Esperneando, tentando se desvencilhar a fim de continuar a barbárie, o bruto argumentava aos berros, "Foi ele quem começou! Foi ele! O que ele me disse... O que ele me disse, cara, não se diz pra ninguém. ele me provocou".
Mesmo diante dos motivos expostos aos gritos o covarde foi rendido por três homens e entregue a uma viatura que, diante de tamanho alvoroço na rua, estacionou por ali para ver o que se passava.
O outro, surrado, ferido, depois de um rápido e breve socorro por parte de um dos transeuntes, em sinal de gratidão, dependurou-se àquele benfeitor num comovente abraço.
Contudo, antes de soltar-se, de desvencilhar o abraço, aproximou a boca da orelha do bom homem que o ajudara.
Pareceu sussurrar algo.
O bom samaritano, abandonando a calma, repeliu então a vítima com um empurrão e seus olhos, até ali serenos e bondosos, ficaram em chamas.



Cly Reis

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