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sexta-feira, 11 de maio de 2018

cotidianas #566 - Max e Suas Mulheres




Que o Max nunca tinha sido lá flor que se cheirasse e que fora um tremendo mulherengo, nunca foi segredo pra ninguém, mas aquela quantidade toda de mulheres desconhecidas chorando no enterro dele era mais do que a esposa, Joana, poderia aceitar. Tá certo que, certa vez, uma fora à sua casa fazendo um escândalo reivindicando o que ela dizia ser seu homem; que um garoto, uma vez, na rua, se apresentou a ela como sendo filho do Max; que uma outra maluca telefonava insistentemente revelando detalhes sórdidos de uma suposta relação com seu marido; mas ter a verdadeira dimensão das estrepolias do Max fora de casa a deixava um tanto desnorteada.
Havia altas, baixas, gordas, magras, loias, morenas, jovens, maduras, uma tinha uma criança no colo, outra consolava um garoto crescido a seu lado, cada uma se despedindo daquele homem que fora de todas elas, à sua maneira. Uma chorava discretamente contendo a lágrima com um lencinho, outra simplesmente fitava o caixão com um olhar perdido, outra rezava baixinho; outra fazia uma cena chorando alto e abraçando o caixão, e outra chorava de soluçar, sozinha afastada das demais. 
Joana teve raiva. Aquele bando de rameiras que não se davam o respeito. Todas, com certeza sabiam que o Max era casado e mesmo assim não tiveram a dignidade de respeitar um lar, uma mulher, uma família. Ao mesmo tempo, olhando todas elas, em tão diferentes situações e todas compartilhando da mesma dor, deu nela um sentimento de ligação, uma espécie de elo que fez com que sua vontade de enxotar todas dali, do enterro do seu marido, se dissipasse e se transformasse numa espécie de solidariedade. Joana caminhou até aquela que chorava copiosamente num canto, a que parecia mais abalada, mais inconsolável, mais sofrida e, surpreendendo a todos, passou o braço por trás das costas da provável amante do marido e trouxe a cabeça daquela mulher para junto de seu ombro.



Cly Reis


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