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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

"Perfume de Mulher", de Dino Risi (1974) vs. "Perfume de Mulher", de Martin Brest (1992)


Tem alguns filmes que a gente não esquece. Cenas que ficam na mente, atuações marcantes que ficam para a história. "Perfume de Mulher", de 1992, com atuação impressionante de Al Pacino, é um desses filmes. Quem não lembra da cena do tango, no salão do restaurante? Mas uma coisa que pouca gente sabe é que o filme é um remake e que seu original não fica devendo muito à consagrada produção hollywoodiana. "Perfume de Mulher", produção italiana de 1974 dirigida por Dino Risi, foi largamente premiado em festivais internacionais e indicado, inclusive, ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E, se Al Pacino levou o Oscar de melhor ator por sua interpretação do arrogante cego que leva um adolescente como guia, Vittorio Gasmann, por sua vez, não deixa por menos e mostra sua Palma de Ouro de melhor ator pelo mesmo papel.

Os filmes tem algumas diferenças: enquanto no antigo o cego, ex-militar, Fausto Consolo, contrata pessoalmente um jovem com o exato objetivo de acompanhá-lo em uma viagem que pretende fazer saindo de Turim, passando por Bologna, Roma, com destino final em Nápoles onde, entre reencontros e lembranças, pretende acabar com sua infeliz existência; na refilmagem, a sobrinha do Tenente-Coronel Frank Slade contrata um estudante, precisando de dinheiro, para tomar conta do tio, ex-combatente, durante o final de semana de Ação de Graças, mas não imagina que o cego tenha planos de uma viagem a Nova York para ter seus últimos dias de prazeres antes de tirar a própria vida.

Outra diferença bastante considerável é a trama paralela do segundo filme, relacionada a uma situação vivida pelo garoto (Chris O'Donnel) que, testemunha de uma pegadinha dos riquinhos da escola, pode estar vendo seu futuro de ingresso em uma grande universidade ir por água abaixo, a não ser que denuncie os "colegas" na volta do recesso. No primeiro filme, ainda que, inegavelmente o militar desenvolva também um laço afetivo com seu acompanhante, o recruta Ciccio (Alessandro Mommo), não se iguala à importância dada à intervenção do norte-americano no desfecho do caso do jovem aluno em seu colégio.

Mas diferenças à parte o que ambos têm em comum, tanto o Capitão Fausto quanto o Tenete-Coronel Slade, é que ambos, praticamente, se desmancham por uma bela mulher e, privados do sentido da visão, percebem e se fascinam com as beldades pelo seu perfume e são capazes de identificar o aroma, imaginar aquelas damas, senti-las, descrevê-las fisicamente só pela sugestão que seu olor lhes proporciona.

Mas com dois times tão qualificados assim, eu só quero ver no que vai dar!

Então vamos pro jogo:

No que diz respeito ao roteiro, o antigo, que por sinal recebeu também indicação ao Oscar por esse quesito, é mais pontual e enxuto e, sem muita firula, se faz mais objetivo, conseguindo demonstrar toda a infelicidade da vida limitada do protagonista de modo crescente, saindo quase que de uma comédia jocosa para um drama de molhar o lencinho. O remake se utiliza muito de americanismos e carrega na trama paralela à situação do cego para manter a comoção do espectador. No entanto, parece-me que os elementos que em torno, e até mesmo alguns artificialismos tipicamente hollywodianas favorecem a caracterização do personagem de Slade, inclusive no que diz respeito ao  "dom" do olfato feminino. Ninguém leva uma clara vantagem. Aqui ficam elas por elas e ninguém tira o zero do placar.


"Perfume de Mulher" (1974) - cena final


"Perfume de Mulher" (1992) - cena do tango


Com a parte técnica e tática tão equilibrada, o jogo, pelo jeito será decidido nos detalhes. E é numa ousadia do Cel. Slade que o placar se movimenta pela primeira vez. O atacante chama a marcação pra dançar e, pela cena do tango, ao som da belíssima "Por una cabeza", de Carlos Gardel, garante o primeiro gol do jogo. 1x0 para o time de 1992. Mas se o negócio é cena marcante, a cena final do original, em que Fausto dispensa Ciccio e a apaixonada Sara, para ficar só para sempre e, possivelmente, cumprir seu plano de morte, mas logo se arrepende, sai do casebre, cai, chama pela moça e é acolhido por ela, é algo assim de arrepiar. Empate para o time de 1974. 1x1 no marcador.

A partida tá com cheirinho de empate mas, na hora da decisão o craque desequilibra: Al Pacino tem o faro do gol e desempata para o remake. Embora Vitorio Gasmann também tenha sido premiado por sua atuação no papel, a interpretação de Al Pacino é daquelas únicas e memoráveis. É como se Gasmann tivesse ganho a Bola de Ouro da France Football e Pacino, o prêmio de Melhor do Mundo da FIFA e essa diferença garante o gol da vitória para o filme de 1992.

Aqui os dois protagonistas do jogo, Gasmann à esquerda e Pacino, à direita, ambos com seus fiéis escudeiros.
Dois craques. Só não vê quem não quer.

O jogo acaba tenso, os dois líderes dos seus times são irritadiços, trocam ameaças, insultos, Gasmann reclama dos acréscimos que o filme de 1992 teve, quase _ minutos a mais, que o juiz é cego e não viu que as indicações ao Oscar do original mereciam um gol, mas o jogo fica nisso mesmo. Um grande confronto, senhoras e senhores! Se fosse no turfe, poderíamos dizer que foi uma vitória por uma cabeça. 



 Cly Reis

3 comentários:

  1. Texto muito bom e bem humorado. Parabéns

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  2. Nossa, seu texto é bom, mas pra mim o original é muito superior. É adulto. O Gassman é muito melhor ator. O personagem é mais dolorido. A cena em que ele tenta tocar as moças seminuas e para diante daquela que ele ama, embora ela permita, é de doer o coração.

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    Respostas
    1. Você vê que o resultado foi apertado. É sinal que poderia dar qualquer um. Obrigado pela discordância e obrigado pela participação no blog.

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