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domingo, 28 de maio de 2023

76º Festival de Cannes - Os Premiados

 


Justine Triet com seu prêmio
Pela terceira vez uma mulher leva a Palma de Ouro em Cannes. A francesa Justine Triet foi a vencedora desta vez com seu "Anatomia de uma Queda" ("Anatomy d'Une Chute"). O longa narra o drama de uma mulher acusada pelo assassinato do marido, morto em circunstâncias suspeitas, e sua luta para provar sua inocência.

Na cerimônia, realizada no último sábado, dia 27/05, e conduzida pelo presidente do júri, o sueco Ruben Östlund, "bicampeão" de Cannes com "The Square" e "Triângulo da Tristeza", também houve destaque para o Brasil com o prêmio d'Esamble, para o filme "A Flor de Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora, na Mostra Um Certo Olhar; e com o prêmio de melhor filme de estreia, na Mostra paralela, por "Levante", de Lilah Halah. Brasileiros também apareceram em produções: Karim Aïnouz teve seu "Firebrand", estrelado por Alicia Wikander, disputando o prêmio principal, e Kléber Mendonça Filho teve exibido, fora de competição, seu "Retratos Fantasmas".


Confira, abaixo, a lista completa com todos os premiados nesta edição do festival:


O julgamento em
"Anatomia de uma queda"
Palma de Ouro: Anatomy of a Fall, de Justine Triet

Grand Prix: The Zone of Interest, de Jonathan Glazer

Prêmio do júri: Fallen Leaves, de Aki Kaurismäki

Melhor diretor: Tran Anh Hùng, de The Pot au Feu

Melhor ator: Koji Yakusho, de Perfect Days

Melhor atriz: Merve Dizdar, de About Dry Glasses

Melhor roteiro: Sakamoto Yuji, de Monster

Palma de Ouro (Curta-metragem): 27, de Flóra Anna Buda

Menção Especial (Curta-metragem): Fár, de Gunnur Martinsdóttir Schlüte

Câmera de Ouro: Inside the Yellow Cocoon Shell, de Thien An Pham



C.R.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

74º Festival de Cinema de Cannes - Os Premiados



O bizarro "Titane" ficou com o prêmio principal.
As Olimpíadas estavam começando, a gente meio que se perdeu, deixou passar mas, no último dia 17 de julho, se deu a divulgação dos vencedores do Festival de Cannes, uma dos mais respeitados e tradicionais mostras competitivas de cinema do planeta. Mesmo com algum atraso, mesmo tendo dado mole, marcado bobeira, pela importância do evento e porque a gente adora cinema, não dava pra deixar passar.
A vencedora foi uma mulher, a francesa Julia Ducournau, pelo intenso "Titane", filme em que uma menina que sofrera um acidente automobilístico na infância e tem implantada uma placa de titânio na cabeça, anos mais tarde passa a sentir atração sexual por carros e a cometer assassinatos de maneira compulsiva. A francesa de 37 anos já havia se notabilizado pelo excelente "Raw", um terror canibalístico incomum e impactante, que já causara alvoroço no Festival em 2016. Agora Julia se junta a Jane Campion, diretora de "O Piano", como, apenas, a segunda mulher a vencer o badalado prêmio francês, 28 anos depois do, até então, inédito feito, e decreta, definitivamente, que 2021 é o das mulheres nos cinema mundial!


Pra quem se perdeu, como nós, e não conhece ainda todos os premiados, segue abaixo, a lista com os vencedores em todas as categorias:

  • Palma de Ouro: "Titane", da francesa Julia Ducournau
  • Grande Prêmio: "A Hero", do iraniano Asghar Farhadi e "Compartment N. 6", do finlandês Juho Kuosmanen
  • Prêmio do Júri: "Ahed's knee", do israelense Nadav Lapid e "Memoria", do tailandês Apichatpong Weerasethakul
  • Melhor Direção: o francês Leos Carax por "Annette"
  • Melhor Roteiro: os japoneses Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe por "Drive my car"
  • Melhor Atriz: a norueguesa Renate Reinsve por "The worst person in the world"
  • Melhor Ator: o americano Caleb Landry Jones por "Nitran"
  • Palma de Ouro de Honra: a atriz e diretora americana Jodie Foster e o diretor italiano Marco Bellochio
  • Câmera de Ouro: "Murina", da croata Antoneta Alamat Kusijanovic
  • Palma de Ouro de curta-metragem: "All the crows in the world", da honconguesa Tang Yi
  • Menção Especial de curta-metragem: "Céu de Agosto", da brasileira Jasmin Tenucci


C.R.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Festival de Cannes 2011 - Vencedores



Depois de muita exibição de glamour, estreias, flashes e polêmicas chega ao fim a edição 2011 de um dos mais importantes festivais de cinema do mundo, o Festival Internacional de cinema de Cannes.
O júri, presidido por Robert De Niro, depois de decretar a indesejabilidade da presença do suposto nazista Lars Von Trier, acabou premiando com o prêmio principal, a cobiçada Palma de Ouro, a produção norte-americana "A Árvore da Vida" de Terrence Melick ("Além da Linha Vermelha"); já o prêmio do Júri foi para o francês "Polisse" de Maiween Le Besc e a direção para Nicolas Winding Refn, pela produção americana "Drive". A Palma de ator foi para Jean Dujardin e a de atriz para Kirsten Dunst pelo polêmico "Melancolia", que aliás deveu grande parte do alvoroço ao seu redor às declarações infelizes de seu diretor, mais do que o brilho do próprio filme, pelo visto. Veja abaixo todos os vencedores da premiação francesa:

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  • Palma de Ouro: "A árvore da vida", de Terrence Malick (EUA)
  • Atriz: Kirsten Dunst, por "Melancolia
  • (Dinamarca/Suécia/França/Alemanha)
  • Ator: Jean Dujardin, por "The artist" (França)
  • Diretor: Nicolas Winding Refn, por "Drive" (EUA)
  • Roteiro: "Footnote", de Joseph Cedar (Israel)
  • Grande prêmio: empate entre "O garoto de bicicleta" (Bélgica/França), de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, e "Once upon a time in anatolia" (Turquia), de Nuri Bilge Ceylan
  • Curta-metragem: "Cross country" (Inglaterra), de Marina Vroda
  • Prêmio Câmera de Ouro (para diretor estreante): "Las acacias" (Argentina/Espanha), de Pablo Giorgelli
  • Prêmio de Júri: "Polisse", de Maiwenn Le Besc (França)


C.R.

domingo, 29 de maio de 2022

75º Festival de Cinema de Cannes - Os Vencedores

 


Foram anunciados, ontem, os premiados na 75º edição do Festival de Cinema de Cannes e o vencedor da cobiçada Palma de Ouro foi o filme "Triangle of Sadness", do diretor sueco Ruben Östlund. O diretor já havia sido premiado no festival, em 2017, por 'The Square: A Arte da Discórdia" e dessa vez apresenta uma espécie de comédia bizarra que se passa em um cruzeiro de magnatas, no qual os acontecimentos vão tomando rumos inusitados. 

Destaque também para o prêmio de melhor direção, dado a Park Chan-wook, do lendário "Oldboy" e para o fato de, no ano seguinte à Palma de Ouro ter sido entregue a uma mulher, Julia Ducournau, o Grand Prix, outro dos principais prêmios do festival, ter ido para as mãos de outra, Claire Denis, por "Stars at Neon", mesmo dividindo a honra com Lukas Dhont, do filme "Close".

Confira abaixo, todos os vencedores nas demais categorias:


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  • Palma de Ouro: 'Triangle of Sadness', de Ruben Ostlund
  • Grand Prix: 'Stars at Noon', de Claire Denis e 'Close', de Lukas Dhont
  • A tripulação, com seus percalços,
    no filme vencedor do prêmio principal.
    Prêmio do júri: 'The Eight Mountains', dirigido por Felix van Groeningen, Charlotte Vandermeersch e EO, de Jerzy Skolimowski
  • Melhor atriz: Zar Amir Ebrahimi, Holy Spider
  • Melhor ator: Song Kang-ho, por 'Broker'
  • Melhor diretor: Park Chan-wook, por 'Decision to Leave'
  • Melhor roteiro: 'Boy From Heaven', de Tarik Saleh.
  • Melhor Curta-metragem:  'The Water Murmurs'
  • Prêmio especial do 75º ano de festival: 'Tori And Lokita', de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne




C.R.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Oscar 2020 - Os Vencedores



Bong Joon-Ho, diretor de "Parasita",
o grande vencedor do Oscar 2020.
E ao contrário do que ia se desenhando, de que teríamos uma conciliatória partilha de prêmios entre os principais concorrentes, para que todo mundo saísse bem, sem nenhum destaque acima dos outros, eis que no último prêmio tudo mudou... Esse era bom naquilo, outro era bom em outra coisa, aquele outro era melhor em outra, e as estatuetas foram se pulverizando entre os indicados premiando os principais méritos de cada um, sem maiores contestações: "1917" levando fotografia; "Coringa", levando ator; "Ford vs. Ferrari" faturando os prêmios técnicos de impacto visual e sonoro, tudo no seu devido lugar a não ser, talvez, pela frustração do tricampeonato de roteiro original para Tarantino que era bem cotado na categoria, mas mesmo assim, nenhum absurdo. Mesmo se "1917" ganhasse, ao final a estatueta de melhor filme e se isolasse numericamente à frente, se "Coringa" ou "Era Uma Vez Em... Hollywood" tivessem levado seu terceiro prêmio e causado um tríplice empate, as hierarquias dos prêmios até então distribuídos, não teriam feito de nenhum deles o vencedor absoluto, mesmo com o carimbo de MELHOR FILME. Mas a decisão da categoria principal em favor de "Parasita" deu um significado diferente a tudo isso. Não é a questão de ter ganho quatro e o outro ganho três... Vencendo o Oscar de melhor filme, "Parasita" não deixou margem de dúvidas de que era, dentre aqueles, o melhor em tudo. Se a sua direção é a melhor, se o seu roteiro é o melhor, se já é reconhecido como melhor filme internacional, a aclamação na categoria principal faz do filme um dos vencedores mais incontestáveis dos últimos tempos no Oscar. Ganhar Palma de Ouro e Oscar de filme estrangeiro alguns já conseguiram, ganhar Palma de Ouro e Oscar de melhor filme, só um havia conseguido até hoje, "Marty", de 1955, mas ganhar o prêmio principal de Cannes, o Oscar de filme estrangeiro e a categoria principal da Academia, sem falar em direção e roteiro, é absolutamente inédito e só demonstra o quanto "Parasita" tem méritos que nem a habitual politicagem de Hollywood foi capaz de ignorar.
No mais, a cerimônia teve dois belíssimos números musicais, um com Janelle Monàe, na abertura e outro com Sir. Elton John executando a canção pela qual ganhou o Oscar pelo sua própria cinebiografia, "Rocketman", um discurso forte e inspirado de Joaquin Phoenix ao receber seu prêmio pela atuação em "Coringa", e o belíssimo e humilde reconhecimento do vencedor da categoria de direção, o sul-coreano Bong Joon-Ho, a Martin Scorsese, que pelo menos serviu como consolo pelo fato de  seu filme candidato  em dez categorias "O Irlandês" ter saído de mãos vazias.
Se houve um certa chiadeira pelo fato de mulheres e negros não terem merecido a devida atenção nas indicações, a Academia, ao que parece tentou compensar em premiações como as de "Hair Love", sobre cabelos afro, como curta de animação, e "Learning to sobreviver in a warzone (If you're a girl)", sobre garotas superando barreiras e preconceitos para praticar seu esporte, na categoria documentário em curta-metragem, e, a propósito de documentário, como era esperado, não foi dessa vez que o Brasil, levou um Oscar com o importante porém fraco "Democracia em Vertigem"
"Parasita" fez história! Se em vários anos anteriores a Academia via filmes estrangeiros superiores aos hollywoodianos e não tinha a coragem de dar os dois prêmios para o convidado de fora da festa, fazendo aquela mediazinha, dividindo irmanamente os louros da glória entre "nós" e "vocês", desta vez parece que foi impossível não se render ao que veio de fora. 
Parece que finalmente um corpo estranho que vinha se desenvolvendo invadiu definitivamente o sistema imunológico de Hollywood. Os estrangeiros chagaram e se alojaram por lá. Mas ao contrário de um parasita, não estão ali para tirar. Pelo contrário, tem muito a dar ao cinema americano.


Confira abaixo a lista dos vencedores em todas as categorias:



  • Melhor roteiro original: Parasita
  • Melhor roteiro adaptado: Jojo Rabbit
  • Melhor longa de animação: Toy Story 4
  • Melhor curta-metragem de animação: Hair Love
  • Melhor curta-metragem: The Neighbor's Window
  • Melhor direção de arte: Era Uma Vez em... Hollywood
  • Melhor figurino: Adoráveis Mulheres
  • Melhor documentário: American Factory
  • Melhor documentário em curta-metragem: Learning to sobreviver in a warzone (If you're a girl)
  • Melhor edição de som: Ford vs. Ferrari
  • Melhor mixagem de som: 1917
  • Melhor fotografia: 1917
  • Melhor montagem: Ford vs. Ferrari
  • Melhores efeitos visuais: 1917
  • Melhor maquiagem e penteado: O Escândalo
  • Melhor filme estrangeiro: Parasita
  • Melhor trilha sonora original: Coringa
  • Melhor canção original: (I'm gonne) Leave me again - Rocketman
  • Melhor direção: Bong Joon Ho - Parasita
  • Melhor ator caodjuvante: Brad Pitt (Era Uma Vez em... Hollywood)
  • Melhor ator: Joaquin Phoenix (Coringa)
  • Melhor atriz coadjuvante: Laura Dern (História de um Casamento)
  • Melhor atriz: Renée Zellwegger (Judy)
  • Melhor filme: Parasita

C.R.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 60



Outro dia, logo após postar no Facebook que havia revisto um dos meus filmes favoritos da cinematografia nacional, “Bye Bye Brasil” (sobre o qual comentarei melhor em um próximo post), surtiram, como geralmente ocorre, alguns comentários. Na ocasião, entretanto, um dos que comentou foi meu primo e colaborador do ClyBlog (especialmente para da seção ClaqueteVagner Rodrigues. Amante de cinema, ele revelou não apenas querer conhecer o filme em questão quanto se aprofundar mais no cinema brasileiro das décadas de 60, 70 e 80.

Dispus-me, então, a elencar para ele títulos que dessem um panorama da produção de cada década no combalido e combativo cinema no Brasil. Até aí, nada incomum, considerando que gosto de compartilhar conhecimento sempre que posso e o considero suficiente para tal. O que eu mesmo não esperava era que, ao comentar brevemente cada filme somente de forma a justificar ao Vágner o porquê de sua presença numa classificação tão seleta, fui me empolgando não apenas com cada anotação, como, principalmente, com a seleção em si. Tanto que, somando-se os três períodos, cheguei a 55 títulos!

Afora a trabalheira prazerosa que sei que dei ao meu primo, acabaram surgindo três listas bem interessantes que dão a dimensão da qualidade, importância, versatilidade e profundidade artística, estilística, sociológica e política do cinema brasileiro em cada uma destas décadas, sem dúvida as melhores em nível qualitativo em toda a história dessa arte no Brasil (e olha que tem como concorrentes os fortes anos 50 e a primeira década do séc. XXI). Ao mesmo tempo, juntos, dão uma mostra bem real do quanto já foi muito mais difícil fazer cinema no Brasil, tanto pela questão técnica (produções quase sem recurso, tecnologia defasada e falta de mão de obra) quanto, principalmente nos 60 e 70, pelo cenário político, tendo em vista que muitos desses filmes – mesmo os corajosamente denunciadores – sofreram com a censura do governo militar antes, durante ou depois de lançados.

Comecemos, então, com a melhor de todas: a década de 60, marcada pelo boom do Cinema Novo – que revelou os gênios Glauber Rocha e Julio Bressane, mestres como Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade e Cacá Diegues e técnicos de primeira linha como Dib Lufti e Eduardo Escorel – mas que presenciou, tanto quanto, obras memoráveis não necessariamente ligadas ao movimento. Enfim, uma seleção de 20 títulos com seus respectivos diretores e em ordem cronológica de ano que me deram muito trabalho para escolher, mas que dão uma ideia legal da produção da época pelo filtro daquilo que gosto e acredito como arte – a sétima, neste caso.



1 - "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte (60) – Com absoluta convicção, o melhor de todos os tempos no Brasil. Perfeito do início a fim: fotografia, atuações, roteiro, trilha, edição, cenografia. E tem um dos papeis mais memoráveis do cinema: Leonardo Villar como Zé do Burro. E ainda é um Palma de Ouro em Cannes que venceu AntonioniPasolini e Buñuel. Tá bom pra ti? Irretocável.






2 – “Barravento”, Glauber Rocha (62) – Primeiro filme do Glauber, coloca-se num ponto entre o Neo-Realismo e o Cinema Novo. Extremamente poético, é o filme que melhor retrata o universo místico do candomblé e da vida dos pescadores do interior, aqueles que raramente temos acesso no mundo urbano. Venceu prêmio na República Checa e tem montagem do Nelson Pereira, quer mais?










3 - “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (62) – Outro daqueles filmes essenciais. O Roberto Faria sempre fez filmes com arte e apelo popular. Esse é bem assim: com uma cara ainda de Atlântida dos anos 40/50, mas com um pé no Neo-Realismo. Atuações fantásticas do irmão Reginaldo Faria, do Grande Otelo e do ator principal, Eliezer Gomes, como o inesquecível Tião Medonho.










4 - “Os Cafajestes”, Ruy Guerra (62) – Clássico do Cinema Novo, tem toda a questão da câmera na mão, do enquadramento intuitivo, do aspecto documental, da inspiração estética e temática na nouvelle vague. Fala sobre a decadência da burguesia, pondo em evidência seu vazio e a falta de sentido. Daniel Filho e Jece Valadão ótimos. E ainda tem o primeiro nu frontal da história do cinema, e quando a Norma Bengell era tri gata!







5 - “Cinco Vezes Favela”, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges, Leon Hirzsman e Marcos Farias (62) – Filme de episódios (5, obviamente), todos retratando algum aspecto das então pouquíssimo retratadas favelas, papel de denúncia que o Cinema Novo foi hiperimportante. O do Cacá, embora ainda cru em termos de estilo, é bem interessante, pois fala sobre uma escola de samba e os problemas da comunidade num dia de carnaval. “Couro de Gato”, do Joaquim Pedro, chegou a ganhar Cannes. O de Leon também é incrível, “Pedreira de São Diogo”, sobre trabalhadores da pedreira que são obrigados a fazer implosões perto de uma comunidade que iria para os ares. O do Miguel Borges, sobre um lixão, é claramente uma das inspirações do “Lixo Extraordinário” e com o recente britânico-brasileiro “Trash”.







6 – “Vidas Secas”, Nelson Pereira dos Santos (63) - Genial. Precursor em muitas coisas: fotografia seca, roteiro, cenografia, atuações. Daquelas adaptações literárias tão boas quanto o livro, ouso dizer. Tem uma das cenas mais tristes que já vi, a o sacrifício da cachorra Baleia. Limite também entre Neo-Realismo e Cinema Novo. Indicado a Palma de Ouro. Aula de cinema.










7 - “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha (63) - A obra-prima do Cinema Novo, um dos maiores filmes do século XX. De tirar o fôlego. Sobre este, me reservo o direito de indicar um post inteiro que escrevi sobre ele em meu blog de cinema: http://oestadodascoisascine.wordpress.com/2010/11/09/a-terra-do-homem-e-o-mito-da-morte/









8 - “Os Fuzis”, Ruy Guerra (64) – Um soco no estômago. Sobre um cerco militar que se forma numa cidade do sertão nordestino, pondo à mostra toda a miséria social e moral gerada pelo Estado, quase um presságio do derramamento de sangue que ocorreria com os que combateriam a ditadura militar, então recém-iniciada. Dos filmes preferidos de gente como Gustavo Spolidoro e Eduardo Valente, foi Urso de Prata em Berlim em Direção.








9“Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (64) – O Khouri sempre teve o seu jeito de fazer cinema, abordando temas como a depressão das altas classes, o vazio existencial, a anestesia da vida moderna, e bastante inspirado em Antonioni. “Noite Vazia”, no entanto, não é uma cópia brasileira de “A Noite”: é um filme com personalidade e referencial. Trilha do Duprat, tá louco! E concorreu a Palma de Ouro. Depois, o Khouri só se repetiu, mas esse é demais.










10 - “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, Roberto Santos (65) – Uma joia meio esquecida. Leonardo Villar, de novo ele, faz o papel principal, que ele literalmente encarna. Baseado no conto-novela do Guimarães Rosa, é daquelas adaptações ao mesmo tempo fiéis mas que souberam transportar a história pra outro suporte. Obra-prima pouco lembrada.








11 – “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (65) – Outro clássico. Walmor Chagas tá ótimo. Na linha d’”Os Cafajestes”, mas sob outra ótica, mostra a asfixia da classe média (paulistana, no caso), imersa na impessoaliadade da vida industrial e maquinal da grande cidade. Recebeu prêmios na Itália, México e São Paulo. Muito atual.








12 – “O Desafio”, Paulo César Saraceni (65) – Parece loucura, mas o diretor fez um filme sobre a ditadura em plena ditadura. Haja peito! E mostra em detalhes a vida daqueles que não se enquadram naquilo, a tristeza de ver seu país tomado sem lado para correr. É um filme revoltado, corajoso e triste com todos os elementos de Cinema Novo: câmera na mão, fotografia natural, improvisação, tom documental, trilha sonora da MPB combativa da época.








13 - “O Padre e a Moça”, Joaquim Pedro de Andrade (66) - Lindo. Primeira ficção do Joaquim Pedro, que foi um contista de mão cheia. Sobre um padre (o maravilhoso Paulo José) que se apaixona por uma moça de família no interior. Claro que dá merda, né? Fotografia PB rigorosa e pouco diálogo, que dá um clima sufocante à história. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim.







14 – “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (67) – Filme de tribunal sobre uma história real de um julgamento injusto ocorrido no interior de Minas na Era Vargas envolvendo os tais irmãos da família Naves. Super bem narrado e fotografado. Alto nível. Interpretações, idem. Interessante que, por se passar em uma época antiga, o filme passou pela censura, é os militares burros não perceberam ser uma baita crítica ao governo. Até torturas mostra... Venceu Brasília (Roteiro e Atriz Coadjuvante) e foi indicado em Moscou.







15 - "Terra em Transe", Glauber Rocha (67) - Pra muitos, o melhor do Glauber. Também altamente referencial do que foi o Cinema Novo e a visão dos artistas daquela época no Brasil. Algumas das cenas – captadas pela câmera-personagem de Dib Lufti – e ícones do movimento estão diretamente ligadas a essa filme. Premiado em Cannes, Locarno e Havana. Não menos que genial.








16 - “O Dragão da Maldade Conta o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (68) - Espécie de continuação do “Deus e o Diabo...”, porém num outro conceito e contexto. Altamente Teatro de Arena e Teatro Oficina, considero-o uma “ópera do Sertão” em cores, uma tragédia shakesperiana nordestina. Texto incomparável. Filme amado por Scorsese. Metafórico e forte. Melhor Direção em Cannes.






17 - “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, José Mojica Marins (68) – O genial Mojica traz indiretamente seu célebre personagem, que não aparece mas “representa” os 3 episódios que compõem o longa. Sua melhor produção, que mostra o quanto ele, um dos maiores mestres do terror trash mundial, ao lado de ArgentoCarpenter e Bava, é capaz de fazer miséria com um pouquinho mais de recurso.








18 - “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (68) – Se existe cinema marginal, é “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir. Grande vencedor do Festival de Brasília daquele ano. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.










19 – “O Anjo Nasceu”, Julio Bressane (69) – Gênio do cinema autoral da atualidade (haja vista que é vivo e segue produzindo), junto com Sganzerla originou o chamado cinema “udigrudi”, o underground brasileiro, que subvertia ainda mais a estética e narrativa do que o Cinema Novo. Segundo filme dele, que, embora tenha um pouco mais de história (o que o diretor praticamente abandonou a partir do final dos 70), é tomado de simbologias e metáforas, que, por sinal, embaralharam a cabeça dos militares, que o proibiram sem saber porquê.






20 – “Brasil Ano 2000”, Walter Lima Jr. (69) – Fala-se muito do “Macunaíma” (referencial certamente, mas um filme confuso), mas esse do Walter Lima é exemplar no que seria um cinema “tropicalista” e “antropofágico”. É um musical com trilha original do Gilberto Gil cujos temas são muito bem integrados à história, pois se trata de uma ficção surrealista inteligente e engraçada. Muita criatividade com pouco.






quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

“Parasita”, de Bong Joon-Ho (2019)



O filósofo polonês Zygmunt Bauman, grande leitor dos nossos tempos, bem descreve que a modernidade “líquida” em que vivemos gera, por conta e culpa da globalização descontrolada, o que ele chama de “mixofobia urbana”, a tensão permanentemente desagradável e perturbadora da estranheza ao outro. Essa presença irritante entre estranhos da mesma cidade, vizinhos separados pelas diferenças sociais por meio de espaços “interditados”, é, segundo ele, “uma fonte inesgotável de ansiedade e de uma agressão geralmente adormecida, mas que explode continuamente”. O longa sul-coreano “Parasita”, escrito e dirigido por Bong Joon-Ho, é um dos filmes mais perspicazes na leitura destes tempos líquidos. Mordaz e crítico à sociedade capitalista, a obra expõe uma alegoria da vida real, em que, recorrendo aos mais animalescos recursos de sobrevivência nesta selva chamada cidade, todos os caminhos dessa violência sistêmica levam a uma coisa: a morte.

Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor de três Globo de Ouro – Filme, Diretor e Roteiro –, “Parasita” retrata as ações de uma família pobre, os Kim, que manipula outra família, os abastados Park, para arrumar trabalho. Através de uma série de mentiras e planos mirabolantes, os vigaristas conseguem se "infiltrar" na mansão luxuosa, como um parasita que habita um corpo sem que ele perceba. A casa, no entanto, também está cheia de mistérios, que os Kim vão desvendando ao longo do desenrolar dos fatos, o que vai tornando a narrativa de um humor ácido para um terror psicológico. Muito bem fotografado e montado, alia ainda com precisão trilha sonora e edição de som para adensar essa atmosfera sinistra.

Os Kim: pobreza e miséria social que os assemelha a defuntos 
A densidade psicológica do filme, entretanto, é evidenciada logo de princípio com a fotografia suja da casa onde os Kim moram. Ou melhor: se entocam, haja vista as condições subumanas daquele porão escondido e da indignidade social a que são sujeitados. Para piorar, na era digital não são apenas as condições de moradia, trabalho e ensino que compõem a situação de miserabilidade: a tecnologia se torna mais um elemento de segregação. Se tem internet, está-se vivo; ao contrário, não. As pessoas da família Kim, esteticamente parte essencial deste cenário, são tão emporcalhadas daquela subvida que parecem defuntos. Eis um dos elementos narrativos principais do longa: a morbidez, expressa tanto nas peles e corpos quanto, mais simbolicamente, nas relações sociais e interpessoais. Cenas como o casal Kim deitado sobre o chão e enfileirados, o momento em que se arrastam para fugir da mansão sem serem percebidos ou o sono profundo do qual a senhora Park é acordada pela governanta denotam esse aspecto mórbido.

O designo irrefreável da morte que “Parasita” suscita, assim como em Kafka, é uma metáfora a vários níveis da sociedade, seja a da oriental sul-coreana, seja a nossa, do Ocidente. A exclusão das classes desfavorecidas, a displicência cruel do estado liberal, a americanização desmedida – que leva à descaracterização/morte cultural – e as feridas não curadas da guerra se embolam, formando um suco de insegurança e medo de todos os lados: os miseráveis, já muito próximos da morte caso não melhorem sua condição; e os ricos, permanentemente inseguros quanto à invasão do “estranho” às suas vidas estabelecidas. Assim, num sistema desequilibrado em que se privilegia o que está na superfície, aquilo que é feio e não quisto vai para baixo, é disfarçado, tapado, soterrado. Como defuntos sepultados – ou, pior, pessoas enterradas vivas. A casa dos Kim e o bunker da mansão dos Park – cujos portais simbólicos, a porta rodeada de objetos e a que dá acesso ao porão, fazem a ligação entre os espaços “interditados” – são cânceres que inevitavelmente coexistem com o mundo ideal do capitalismo. Mas mesmo que se finja não existirem, o lado escuro é retroalimentado pelo próprio sistema e suas desigualdades. Seus habitantes, proibidos à convivência “civilizada”, são como ratos e insetos que vivem de parasitar. Mas essa interdição, claro, tem seus limites, e é aí que se abre espaço para a explosão de toda a agressividade silenciada.

O portal simbólico que separa sonho de realidade
Tal tensão mixofóbica, vista também em filmes como “O Som ao Redor” (Kleber Mendonça, 2013) ou “Amores Brutos” (Iñárritu, 2000), inibe tanto a empatia quanto a razão. A tal ponto que resta apenas recorrer aos instintos. Não há planos para o futuro: apenas deixa-se os acontecimentos virem, como diz o personagem a certa altura. A esperteza murídea dos Kim de ascenderem do seu subterrâneo a qualquer custo, bem como a superficialidade nada inocente dos Park para com estes e entre eles próprios, são dois lados da mesma miséria. O sexo, a comida e o consumo para a satisfação física são, digamos, o lado “legal” desta instintividade. Mas as coisas complicam, obviamente, haja vista que ninguém recorre à consciência humana e, assim, a luta pela sobrevivência se impõe. É quanto o individualismo, a perversidade e a violência se juntam a este rol de comportamentos, que remetem ao mais animalesco dos seres. Brilhante a analogia com a figura mítica do índio – originária da criticada sociedade norte-americana –, elemento semiótico fundamental para a cena da festa. O roteiro merece aplausos também pela sequência da chuvarada, em que a natureza se mostra alertadora, visto que mais implacável do que qualquer disfarce social. Igualmente, a pedra, presenteada aos Kim como um amuleto, e que serviu, como nas cavernas, para abater o inimigo.

Song: atuação que merecia
indicação ao Oscar
Fazia certo tempo que não via um recente Palma de Ouro e, como sempre, ao contrário do que proporciona às vezes o Oscar – ao qual “Parasita” concorre como Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, simultaneamente, além de Diretor, Roteiro Original, Montagem e Direção de Arte –, não decepciona. A aceitação à crítica e a diversidade ideológica sempre tiveram bastante espaço na premiação francesa, enquanto que, na norte-americana, não raro falte. Até por isso, é evidente que o filme, já ostentador do feito inédito de levar um título sul-coreano ao Oscar, não leve a principal estatueta da noite, mas provavelmente seja devidamente compensado – como ocorrera com o mexicano “Roma”, no ano passado –, com o de Melhor Estrangeiro. Talvez até pinte o de Roteiro, por exemplo, pois merece. Mas senti falta de ver o ator Kang-Ho Song, que faz o pai da família Kim, concorrendo, talvez até no lugar do meu admirado Leonardo DiCaprio, bem em “Era Uma Vez em... Hollywood”, mas abaixo do que já foi desafiado em ocasiões anteriores – inclusive, as várias em que não ganhou.

“Parasita” pode ser considerado daqueles divisores-de-águas no cinema. Em certo sentido, países capitalistas em emergência como a Coreia do Sul, o México e o Brasil estão enfrentando momentos de tensão sociopolítica semelhantes em alguns aspectos e diferente noutro, mas certamente transformadores de suas sociedades e, haja vista a polarização reinante a que somos acometidos atualmente, de alta carga de mixofobia. Talvez por isso não seja coincidência que o Brasil também viva um momento especial em seu cinema com filmes como “A Vida Invisível” e “Bacurau”, principalmente, que, igualmente a “Parasita”, demarcam um “pré” e um “pós” em termos de produção dos países em que se originam. “Bacurau”, aliás, assim como o filme de Joon Hoo, também toca na questão da invasão norte-americana e a tentativa de apagamento do outro, do “estranho”. Metáforas denunciadoras da “mixofobia líquida” que Bauman nos alertou. Espero, no entanto, que obras como “Parasita” não signifiquem apenas denúncia e resistência, mas um princípio de consciência e de mudança a quem as assista com olhos de alerta. Sinceramente, espero.

Trailer "Parasita"

Daniel Rodrigues