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segunda-feira, 15 de maio de 2023

COTIDIANAS nº800 - Especial 15 anos do ClyBlog - Disco bom é igual livro!



 

Sou muito conhecido nas minhas redes sociais por ser um colecionador contumaz do (dizem...) ultrapassado compact disc. Já fui muito resistente às plataformas digitais por não entender como elas funcionavam, mas o tempo e a necessidade durante o isolamento pandêmico me fizeram entendê-las e constatar que são até práticas na utilização. Só que tem o porém: a música contida lá não é táctil. A gente a ouve bem e de forma fácil, mas não a toca, não a manuseia, não faz carinho, rs. O que está lá não nos pertence!

Há alguns anos, já no declínio do formato físico em prol do formato mp3 adquirido de graça (e de forma sempre escusa), ouvi de uma vendedora em uma loja em que eu estava a seguinte fala: "disco bom é igual livro". Sim! Um trabalho sonoro de qualidade ou para quem o vê assim tem que ser real e tem que estar na estante da sala ou do quarto para tirar onda com as visitas. E ainda me vem a seguinte percepção: a música na plataforma é uma paquera e pode até chegar a um namoro. Adquirir o CD ou o vinil contendo aquela gravação é o casamento, é o "e viveram felizes para sempre" do ouvinte com a canção querida. Sim, é uma relação romântica em ambos os sentidos do termo! E como é gostoso tirar o lacre de um disco novo, cheirar o encarte, colocar o bichinho pra rodar...  Inclusive, já me aconteceu de entender melhor as intenções de um álbum quando o ouvi nesse ritual tradicional. 

E a diversão que é o garimpo? As plataformas te indicam artistas similares ao que você estiver ouvindo, e isso é bom. Mas você meio que não se mexeu pra isso acontecer. Já encontrar em formato físico um álbum que você queria muito é de um prazer...  Eu, por exemplo, frequento sebos e lojas de discos usados que foram abandonados nesse tipo de comércio por seus antigos donos para nova adoção e eles se encontram disponíveis, muitas vezes, a preços baixíssimos! Muitos da minha geração, numa tentativa de acompanhar a "mudernidade", desfazem-se de seus discos porque, dizem eles, "tá tudo lá na nuvem". Daí, esses mesmos proporcionam a posse de um álbum que você ama a um preço módico, quase que de graça! 

O ritual de higienização do material adquirido é outra situação para mim deliciosa. Troco a caixinha antiga por uma comprada nova, lavo a mídia com detergente neutro, enxugo bem, passo um paninho com álcool 180 graus de leve no encarte para tirar manchas do tempo e impressões digitais antigas e, voilá! Temos um disco novinho como que recém saído da fábrica! E os amigos tão acumuladores quanto eu vão na minha casa, vêm o título exposto em minha coleção e salivam com conteúdos musicais bem acomodados em suportes charmosos e que permitem a posse. Agora me diz: não parece a relação com um livro?  


A N D R É   B U D A


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André Buda é carioca, produz e apresenta o programa "O Método Buda do Controle Mental", às quintas, às 19 horas, na Internova Radio Web, e ama a música como se ela fosse uma pessoa!