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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Agosto, mês de aniversário do ClyBlog

E entramos no mês de mês de aniversário do ClyBlog! O agosto, tão temido e demonizado por tantos, para nós do blog significa, todo ano, um momento de alegria, e mais ainda neste 2018 por estarmos completando 10 anos. 
Desde janeiro já viemos apresentando postagens especiais em diversas de nossas seções, com convidados trazendo suas grandes contribuições e abrilhantando nosso blog, e em agosto, mês da nossa data especial, não poderia ser diferente: continuaremos tendo uma série de publicações comemorativas ao nosso decênio com amigos que colocarão sua qualidade, experiência, observação a serviço do ClyBlog em diferentes assuntos e áreas. Então, fique ligado. Se os seus agostos costumam ser ruins, pode estar certo que este será diferente.






Cly Reis e Daniel Rodrigues

segunda-feira, 9 de julho de 2018

CLAQUETE ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - "O Sacrifício", de Andrei Tarkovsky (1986)



Todo presente é um sacrifício
por Cleiton Echeveste


“Estou interessado no homem que contém o universo dentro de si mesmo. E a fim de encontrar a expressão para a ideia, para o significado da vida humana, não há necessidade de um pano de fundo repleto de acontecimentos”. 
Andrei Tarkovsky


Quando recebi o convite para escrever um texto que refletisse sobre a forma como o filme “O Sacrifício” (1986), de Andrei Tarkovsky, inspirou/influenciou a criação do meu espetáculo teatral para todos os públicos “Cabeça de Vento” (2012), pensei que essa “viagem no tempo” – afinal lá se vão praticamente sete anos desde que escrevi o texto e dirigi a montagem da Pandorga Cia. de Teatro – me custaria muito tempo e muita (re)elaboração. Para minha sorte e felicidade, o convite do meu querido amigo Daniel Rodrigues se mostrou mais do que pertinente nesse momento, quando reensaio o espetáculo – em repertório desde a estreia, com a mesma concepção e algumas trocas no elenco – em sua versão em espanhol, para uma temporada da Pandorga em Lima, no Peru. Revê-lo agora – filme, texto, espetáculo, bem como motivações, desejos, inspirações – é um exercício prazeroso de mergulho no meu próprio processo de criação.

Não consigo – até esse momento – lembrar como foi que cheguei ao filme de Tarkovsky. Provavelmente o encontro se deu por indicação de um amigo. Ou por pura sincronicidade, já que, em 2010, vivia um dos períodos mais intensos e marcantes da minha vida, que foi a morte do meu pai. Aquela perda me fez parar e dar alguns passos atrás para recuperar o fôlego. A criação do texto veio meses após a morte dele, e foi acolhida pela equipe de criação e produção com uma confiança e uma entrega comoventes. Do início da escrita do texto à estreia da montagem passou-se não mais que um ano, entre março de 2011 e março de 2012. Outras referências me serviram de inspiração nesse período, mas nenhuma delas teve ou tem a força poética e simbólica que tem o derradeiro filme do grande cineasta russo.

Relação pai e filho: a árvore como
símbolo da continuidade da vida
Apontar um único sentido nessa fonte de inspiração é impossível. Ela se deu de forma pulverizada, em aspectos que vão do andamento à edição, do perfil do personagem central (Alexander) ao estado contemplativo que o filme provoca. Revê-lo agora para escrever estas linhas é um exercício de resgate e de redescoberta do encantamento exercido por essa obra magistral. Se com “O Sacrifício” Tarkovsky queria se contrapor ao cinema comercial, em “Cabeça de Vento”, por meu turno, busquei fugir do padrão atribuído aos espetáculos para infância e juventude (que no caso do meu trabalho prefiro chamar de teatro para todos os públicos): excesso de movimentação, geralmente esvaziada; música feita para grudar no ouvido do espectador; humor óbvio e de fácil apelo; personagens tipificados; overdose de cores na concepção visual como um todo; entre outras características ainda menos abonadoras. Remar contra a corrente e oferecer ao público algo um pouco mais aprofundado e conectado a um sentido espiritual da existência humana foram nortes importantes apreendidos/assimilados dessa inspiração em Tarkovsky.

Esperança e confiança

A frase que escolhi como título este texto, vem de uma fala do carteiro-filósofo Otto, personagem do filme, dita ao presentear Alexander com uma réplica do quadro “A Adoração dos Magos”, de Leonardo da Vinci. Ela me faz pensar no sentido possível da palavra presente como um dom (no inglês, a palavra gift possui estas duas acepções), um dom mágico, como aquele dom transmitido pela fada-madrinha/benfeitora à criança nos contos de fada tradicionais – como a boneca dada a Vasalisa pela mãe, que a protegerá em futuras situações que representarão perigo à menina.

A impressionante cena do incêndio: morte simbólica e renovação
Qual seria, então, o dom concedido por Alexander ao seu pequeno filho? É apenas ao final do filme que ele diz duas frases, as quais ecoam a primeira fala do pai no filme. Seria o dom da fala, da palavra, da capacidade de reflexão? Será esse também o maior dom que nós, animais racionais, herdamos dos nossos ancestrais? Qual é o dom, afinal, concedido pelo pai ao personagem Leo, de “Cabeça de Vento”? O presente, objeto físico, é representado por um livro de história, em que são brevemente narradas as biografias de grandes personalidades históricas (Leonardo da Vinci, Mahatma Gandhi, Ricardo Coração de Leão, Benjamin Franklin, entre outros). E também por uma pipa, objeto ícone (ou até objeto transicional, neste caso), que o menino ganhou do pai, pouco antes deste falecer. Ambos conectam o Léo, simbólica, mas também concretamente, com um sentido menos materialista da vida, sinalizando a ele uma perspectiva de “esperança e confiança”, fundamentais, a meu ver, em toda obra artística voltada para crianças e jovens. “Esperança e confiança” são, aliás, as duas palavras com as quais Tarkovsky conclui a dedicatória do seu filme ao filho.

Por outro lado, vejo a cena de abertura do filme como um ato de fé na força da vida e também um desafio às novas gerações. Enquanto narra uma parábola oriental para o filho, Alexander planta uma árvore aparentemente morta. De acordo com a parábola, após regar durante três anos uma árvore também aparentemente morta na encosta de uma colina, por orientação do seu mestre, um discípulo consegue reavivá-la. Da mesma forma, ao final do filme, o filho de Alexander rega a árvore plantada pelo pai. Enquanto o pai cala-se, após refletir e discutir sobre o esvaziamento da vida humana contemporânea durante praticamente todo o filme, o menino, nesta cena final, ganha voz e fala: “No principio era o verbo. Por que, papai?”


cena final de "O Sacrifício"

Esse questionamento ganha ainda mais impacto por ter sido precedido, na cena imediatamente anterior, pela impressionante cena do incêndio da casa de Alexander, causado pelo próprio. O que é esse incêndio senão a destruição simbólica de todas as estruturas existentes para que o novo possa surgir? O final de um ciclo e início de um tempo novo, que necessariamente há de surgir. Paralelamente, “Cabeça de Vento” significa a construção de uma nova forma de estar no mundo, um novo olhar para a vida e para as relações. A partir de um questionamento do porquê da partida tão súbita do pai, Léo reconstrói um novo mundo, a partir do legado deixado por ele.

“O Sacrifício” é também um filme-legado, é o filme-síntese de toda a obra de Tarkovsky e uma afirmação veemente da confiança de que é somente a perspectiva espiritual que pode ajudar o homem a construir um sentido positivo para sua existência.

Rio de Janeiro, 08/7/18


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Cleiton Echeveste é ator, dramaturgo e diretor de teatro, graduado em Artes Cênicas (UFRGS), onde também estudou Letras. É um dos criadores da Pandorga Cia. de Teatro, na qual é autor e diretor de O Menino que Brincava de Ser (indicação ao 2º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças) e Cabeça de Vento (ganhador de prêmios de melhor texto nos festivais de Ponta Grossa/PR e Duque de Caxias/RJ). Com a Pandorga, criou Juvenal, Pita e o Velocípede (ganhador do 10º Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil, categoria texto). Único dramaturgo latino-americano no festival de dramaturgia New Visions/New Voices 2014 (Washington, D.C./EUA). Em 2016, na Casa de la Literatura Peruana, em Lima, participou do VI Congreso de Literatura Infantil y Juvenil e do 1er. Festival del Libro y las Ideas, com mesas-redondas, conferências e oficina de processo colaborativo. Atualmente é o presidente do Conselho de Administração do Centro Brasileiro de Teatro de Teatro para Infância e a Juventude – CBTIJ/ASSITEJ Brasil. Site: https://pandorgaciadeteatro.wordpress.com/   

quinta-feira, 17 de maio de 2018

CLICK ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Imagens para melhor imaginar



Imagens para melhor imaginar
Imagens para imaginação.
Para imaginar.
Imagens imaginando.
Imaginando imagens.
Imaginação.


Imagens para melhor imaginar

Este é um espaço reducionista. Escrevemos a partir de muitos pressupostos. São muitas as variáveis na conceituação do que seriam fotos pornográficas ou, simplesmente, eróticas. Conceitos determinados por cada contexto histórico e por cada cultura. Uma obviedade muitas vezes esquecida. Fotógrafos estão olhando, sempre, o trabalho de outros fotógrafos. Mesmo quando, por absoluto egocentrismo, digam que não, Faço questão de "copiar". De me deixar influenciar por outros fotógrafos. Busco o despojamento do surrealista Man Ray. A "pornografia" do japonês Araki. Os cenários surpreendentes de Jan Saudek. Pode parecer muita pretensão. Não canso de olhar livros dos fotógrafos que, por razões muitas vezes nada precisas, tocam o meu "olhar". Fotografei estas modelos inspirado pela ideia de Vilém Flusser que diz: "produzimos imagens para melhor imaginar".

por Wladymir Ungaretti














segunda-feira, 16 de abril de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Nei Lisboa - "Hein?!" (1988)




Causou espanto e surpresa quando, em meados dos anos 80, Nei Lisboa se declarou fã dos Engenheiros do Hawaii! “Carecas da Jamaica”, o disco, tinha até uma parceria dele com Humberto Gessinger (ainda que Nei ressalve hoje: “Peraí! Só metade do refrão de ‘Deixa o Bicho’ é dele!”). Além disso, dividia com o Gessinger os vocais da faixa-título. E havia ainda uma versão cool de “Toda Forma de Poder”, hit do primeiro LP dos Engenheiros.

Mas não seria só isso que teriam em comum. Logo Humberto e Carlos Maltz, com a saída do baixista Marcelo Pitz da banda, convidam Augustinho Licks pra vaga. Surpreendentemente, Augusto topa. E Nei se sente bastante traído – fato agravado por alguns incidentes desagradáveis em shows dos Engenheiros para os quais fora convidado a dar uma canja. 

Nei se via sem seu maior parceiro, num momento bem importante de sua carreira, de definições.

É quando, em julho de 1988, ainda contratado da EMI, Nei começa a gravar disco novo. O LP se chamaria “Hein?!” e, acreditavam todos, finalmente o projetaria nacionalmente. Ao menos era a aposta de quem acompanhava seu repertório daquele momento e o cruzava com o cenário de entressafra da MPB e do rock. No ano anterior, Vitor Ramil e Bebeto Alves haviam lançado seus discos mais populares até então,” Tango” e “Pegadas”, respectivamente. Mas faltava ainda um cara que transcendesse esse sucesso local pra pegar o Brasil pelo rabo.

As fichas locais estavam todas nele.

Só que, num intervalo das sessões, Nei volta ao Rio Grande do Sul e resolve passear na serra gaúcha com a namorada e uns amigos. E o imponderável age: um acidente de carro, perto da cidade de Nova Petrópolis. Leila, a namorada, morre.

Nada mais fez sentido. Termina o disco, é verdade. Que é, segundo muitos, seu melhor trabalho. Mas o astral era radicalmente oposto ao que tinha sido pensado. Era pra ser um LP debochado e irônico. Saiu amargo e doído.

Até a banda era das melhores e mais enxutas que ele já reuniu, com Pedro Tagliani – da banda instrumental Raiz de Pedra - no posto que fora de Augustinho, mais a cozinha de Renato Mujeiko e Fernando Paiva. Paiva logo depois se radicaria em Viena, onde se firmaria como grande instrumentista, e Pedro iria pra Munique com seu grupo. Os três juntos dão uma dinâmica e um senso de equilíbrio que resulta num disco com um raro colorido de vazios e espaços recortados por frases instrumentais inesperadas.

Alem dos três, gravados ao vivo no estúdio, pouco mais: Glauco Sagebin tocando piano e órgão numas poucas faixas, o violão de Nei em outras. Tudo mínimo, tudo cru e tudo muito sofisticado. Bem diferente dos trabalhos anteriores. Tanto que, ao contrário deles, é absolutamente atemporal. Você ouvia em 1988 e era atual. Você ouve hoje e segue contemporâneo.

Parte dos méritos disso são do produtor Mayrton Bahia, famoso pelos discos da Legião Urbana – outros que também resistem bem ao tempo (ao contrário de Reinaldo Barriga, o preferido pelo rock gaúcho de então, cujos trabalhos soam hoje retratos de época).

Além disso, estava ali a faixa-título, uma espécie de continuação de “Verão em Calcutá”, glosando o mesmo mote em versos ainda mais cínicos com relação ao circo do showbizz. E cutucando diretamente Titãs, Raul Seixas, e, também, os Engenheiros:

"Comprei uma guitarra usada, alguma namorada me passou batom.
Durou um tempo, até foi bom.
Mas quando eu disse que era o Rei, tirou o copo da minha mão e disse:
Hey! Hein?!?! Meu amigo, não se desfaça nessa fama, todo esse mundo do rock´n´roll é ruim de cama! Eles querem diversão e bolo, eles querem tudo e mais um pouco, eles querem krig-há-bandolo e champanhe. Eles querem frases nos jornais, eles querem parecer sinceros demais. (...) Eles querem te fazer de tolo, e eu também!"

 Mas o disco não é só isso. Era também um trabalho de amor. Só que, quando aconteceu o acidente, nem todas as letras estavam terminadas. Era preciso, por exemplo, escrever a última estrofe de “Baladas”. Que saiu assim: 


"Só, muito além do jardim, viajo atrás de sombras.
Não sei a quem chamar.
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem. Você me arrasou, meu bem, e qualquer dia desses eu como as tuas bolas. Mas agora esqueça o drama na sacola... Não puxe o cobertor! Não tape o sol que resta nessa dor! Foi bom: não durou.
Oh, mama! Não vale a pena pagar um centavo, um retalho de prazer...
Oh, mama! Eu quero morrer... bem velhinho, assim, sozinho, ali, bebendo vinho  e olhando a bunda de alguém."  

Evidentemente não houve nem alma nem ânimo pra trabalhar a divulgação. Uma terrível entrevista no programa de Jô Soares é a pá de cal nas suas relações já estremecidas com a gravadora: “No momento em que aconteceu o acidente, perdeu completamente o sentido aquele jogo que ao natural já se pode considerar medíocre: dono de gravadora, rádios FMs, essa rede que compõe o mercado, a indústria cultural. E que tu és obrigado a participar, te interessar, te preocupar e agir dentro disso se tu queres ‘tar no páreo da Música Popular Brasileira. Tudo isso, ao natural, já pode parecer medíocre. E naquele instante pra mim não valia um ovo. Eu queria era chutar o balde. E foi o que eu fiz em muitos instantes. No Jô foi um.”, disse Nei posteriormente.

A lápide foi sua recusa em gravar a versão de “Hey Jude”, dos Beatles, a tábua de salvação oferecida pela gravadora. Nei disse que até topava*, desde que ele escrevesse a sua versão da letra, em português. Bateram pé na versão dos anos 60, de Rossini Pinto. Não houve acordo.

Comprovando a tese dos caras, a canção virou um big hit na voz da segunda opção de artista pra gravá-la, Kiko Zambianchi. Durante muito tempo, o pessoal romantizou o lance. Mas atualmente Nei fala disso com crua sinceridade: “Meu público básico era todo daqui. Dez, 20 mil pessoas. Universitários, classe média. Que não aceitariam de jeito nenhum me ouvir cantar uma bosta daquelas. Ia jogar minha carreira pelo ralo. Não foi um gesto de ‘Isso é ruim, eu não quero cantar’, mas sim um gesto de ‘Isso é ruim e vai fuder com a minha carreira’. Cantar, em si, não ia me doer tanto.” 

Nei também estava certo. Assim como virou um sucesso, “Hey Jude” parou ali a carreira de Kiko, que só voltou a ser comentado 15 anos depois, tocando com o Capital Inicial.

trecho do livro inédito de Arthur de Faria

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FAIXAS:

1. Zen - 00:30
2. No Fundo - 3:30
3. Nem Por Força - 4:12
4. A Fábula (Dos Três Poréns) - 3:50
5. Faxineira - 2:30
6. Baladas - 4:28
7. Rima Rica / Frase Feita - 4:07
9. Fim Do Dia - 3:40
9. Telhados De Paris - 5:20
10. Teletransporte Nº 4 - 3:03

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OUÇA O DISCO:
Nei Lisboa - Hein?!




Arthur de Faria é músico, compositor e arranjador. Produziu 27 discos, escreveu 35 trilhas para cinema e teatro, integra o Duo Deno, a Surdomundo Imposible Orchestra, o espetáculo Música de Cena e Música Menor – duo com o argentino Omar Giammarco. Por 20 anos liderou o Arthur de Faria & Seu Conjunto, com quem lançou cinco de seus oito discos e tocou em meia dúzia de países. Jornalista e mestre em Literatura Brasileira, ministra cursos sobre música popular brasileira no Brasil, Argentina e Uruguay, trabalha há 20 anos em rádio, publicou dezenas de ensaios, artigos, livros e fascículos sobre música popular e dedica-se há três décadas a pesquisa sobre a história da música de Porto Alegre.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

COTIDIANAS nº561 ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Histórias milenares para crianças do século XXI

 
Histórias milenares para crianças do século XXI
por Rodrigo Lemos



Chico Science tava levando seus amigos para Canaã. Atravessaram o Rio Vermelho mas na saída do mangue Chico bateu o seu carro e precisou ficar pelo caminho. Passou o bastão para Josué que a partir dali foi levando a turma.
   Chegaram numa boate onde tava rolando uma festa. A boate se chamava Jericó. Era uma casa grande com muros altos e seguranças enormes que não deixaram a turma do Josué entrar. "Não adianta insistir, não adianta pagar, voltem para o mangue, seus caranguejos. "
   Mas eles não voltaram. Ficaram do lado de fora, olhando quem entrava e quem saía e descansando da jornada que haviam enfrentado até ali.
   Volta e meia os seguranças voltavam a insultar e a enxotar até que Josué se aborreceu, virou para Rogê e disse: "pega uma ficha aí, bota lá na radiola e escolhe uma faixa do "Bitches' brew."
Foi até o seu carro e tirou do porta-malas um trompete e começou a improvisar. O ritmo era contagiante e o povo dançou de uma forma tão alucinada que as paredes da casa começaram a desmoronar. Da grande boate Jericó só sobraram as ruínas e o eco do trompete do Josué. 










Rodrigo Lemos é músico nascido em Porto Alegre e residindo atualmente em Londres, na Inglaterra, onde é professor de música.

terça-feira, 27 de março de 2018

ClyBola 2018



Vai ter Copa! Sim! Sei que tem coisas mais importantes, o Brasil tá pegando fogo, ninguém tá muuuuito animado com futebol a essas alturas mas é bom a gente dar uma arejada na cabeça com coisas menos importantes de vez em quando também, se bem que dizem que futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo. E 2018, além de ser ano de aniversário de um década do ClyBlog, é ano de Copa do Mundo e, como aconteceu em 2014, o nosso blog entra no clima do maior evento de futebol do planeta e introduz em suas publicações e atrações elementos, quadros, seções, postagens relativas a futebol, a países participantes do torneio mundial e ao país sede, que no caso, desta vez, é a Rússia. Assim, nesse 2018, trazemos de volta o quadro O Jogo da Sua Vida, sempre com convidados falando sobre uma partida de futebol de seu time do coração que não sai da sua memória; reeditamos as Copas do Mundo Rock com "partidas" eliminatórias entre as músicas para sabermos qual a melhor obra do seu cantor, cantora ou banda preferido; teremos contos relacionados a futebol nas Cotidianas e discos que e alguma forma tenham a ver com o esporte bretão nos Álbuns Fundamentais; além de charges e cartoons sobre o assunto nas tirinhas com qualquer um dos nossos personagens. A novidade, este ano, fica por conta do Clássico é Clássico (e vice-versa), quadro dentro da seção Claquete que trará embates memoráveis de um filme com seu remake analisado como se fosse uma partida por nossos especialistas no futebol da sétima arte. E no mais, o futebol, a Copa do Mundo, a Rússia, estarão presentes em todo o blog por todas suas seções até julho quando o evento na Rússia chegará ao fim. Mas pode ficar tranquilo e curtir porque até lá, tem muita coisa pra rolar.
Então, vamos lá. Está dada a largada para a Rússia 2018 e para as novas atrações do ClyBlog. Foi dado o pontapé inicial para o ClyBola 2018.



C.R.

segunda-feira, 26 de março de 2018

CLICK ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Os Invisíveis



Os Invisíveis
por Wladmir Ungaretti


"O mesmo se deve partilhar essa geografia monstruosa com os cães errantes, 
os ratos esfomeados e as dejeções animais ou latas de lixo virada,
 o maldito (Invisíveis) mostra uma excepcional vitalidade,
uma coragem inominável e uma força que me é difícil imaginar
 naqueles a quem devem tal condição: 
os guardas das galé do capitalismo arrebatado". 
Michel Onfray, filósofo francês 







Largo Glênio Peres,  Porto Alegre, 2015


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Foto: Matheus Piccini

Wladymir Ungaretti assina suas fotos com a marca Wu. Foi durante os últimos 25 professor de Jornalismo da Fabico/UFRGS. Exerceu a profissão por 40 anos em diversas redações. Estas fotos são de uma série por ele denominada de "invisíveis", produzidas em suas derivas pelas ruas centrais de Porto Alegre. Assina e edita o blog  Pontodevista: www.pontodevista.jor.br 
Outros links: wladyunga.tumblr.com/ e br.pinterest.com/ungareti3499/




segunda-feira, 19 de março de 2018

CLAQUETE ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - David Cronenberg: 75 Anos


David Cronenberg: 75 Anos
por Fernanda Calegaro

Ao acompanhar as entrevistas no festival South by Southwest (SXSW), deparo-me com uma conversa do Olivier Assayas, mediada pelo Richard Linklater, sobre a obra de David Cronenberg, sobretudo em “Demonlover” (2002). Para Assayas, “'Videodrome' é uma explosão mental, a maior e mais ousada influência”. A genialidade do inextricável explorador do corpo humano poderia apenas proporcionar alguns hematomas ou meras cicatrizes, no entanto, provoca reações que interferem intimamente na transformação humana.

O universo cronenberguiano pode ser caracterizado por um pout-pourri subversivo, orquestrado com muito cinema e inspirações literárias, como de Philip K. Dick (“Dead Ringers”, 1988), William S. Burroughs (ver “Mistérios e Paixões”, 1991, e a incrível produção de Jeremy Thomas) e Henry Miller (ver “Crash - Estranhos Prazeres”, 1996). O outsider canadense teve seu “despertar” para o cinema em uma sessão de "Winter Kept Us Warm" (1965) na magnífica Universidade de Toronto. Com uma abordagem peculiar, que transita entre o elegantemente escrachado e a assombrosa anormalidade, o inquieto apreciador de western transforma a desordem que domina corpos e mentes em uma perturbadora obra de insanidade e fantasia, tendo o caos como leitmotiv na forma mais genuína possível.

A emblemática cena da explosão da cabeça de "Scanners"
Quando o underground é tingido de sangue, não possibilita que alguém saia ileso após uma sessão do escatológico “Crimes do Futuro” (“Crimes of the Future”, 1970), onde a extinção do sexo feminino é provocada por cosméticos envenenados e tem a pedofilia como salvação para a revitalização da espécie humana, uma verdadeira tortura a la snuff films. E como esquecer a antológica obra cinematográfica sobre fracasso, pertubação e a emblemática cena de “Scanners - Sua Mente Pode Destruir” (“Scanners”, 1981), em que uma cabeça já explode no início do filme e o domínio mental é escancarado nos poderes telepáticos dos irmãos scanners (ver Heinrich von Kleist).
     
Em “Os Filhos do Medo” (“The Brood”, 1979) ganhamos a ilustríssima cena em que a excelente Nola (Samantha Eggar) mostra seu segundo útero, isto é, com ele fora do corpo, dá luz a uma criatura, lambe a placenta e, ainda, pergunta para o marido se está bonita. Grosseiramente marcante, pavorosamente repugnante. (ver “O Retorno do Oprimido”, Freud, 1976). Cronenberg também possibilita prazerosos constrangimentos, como ao assistir o remake do filme B dos anos 1950, “A Mosca” (“The Fly”, 1986). A obsessão compulsiva de um homem esquizofrênico, o fantástico cientista Seth (Jeff Goldblum), dominado por um inseto e sua transformação desencadeia em uma das maiores experiências viscerais de desequilíbrio, amor e morte. Eterna salva de palmas para Stephan Dupuis que, segundo ele, bebeu da fonte de “The Creature from Black Lagoon” (1954) para realizar este trabalho.
   
Retomando a influência que originou esse texto, nos aproximamos do sempre atual “Videodrome - A Síndrome do Vídeo” (“Videodrome”, 1983). Crítica louvável ao controle da televisão e o poder na mídia, ou na relação do homem com o uso de máquinas. Cenas como a de uma arma que se reintegra ao corpo do diretor de televisão, Max (James Woods) ou a inesquecível aproximação dele na imagem da deslumbrante Nick (Debbie Harry), quando Max entra de cabeça na televisão e desencadeia um autêntico exercício de sexo oral com o espectador. Em “Videodrome”, o teórico das comunicações, Marshall McLuhan, foi base para a construção do filósofo, Dr. Brian O'Blivion. Os elementos de protesto como extensões do corpo geram desconforto e trazem a inquietação com o sistema, o consentimento e a alienação. Definitivamente, uma ousada obra-prima, como aponta Olivier Assayas.

cena da cabeça engolida pela tevê de "Videodrome"

A magnificência da obra de David Cronenberg permite usufruir de sessões de esquizoanálise, de aulas filosofia e medicina, possibilita castigos seguido de perfurações, mas basta uma amistosa aproximação e já fica decretado como um catártico felizardo que vislumbrou a obra de um gênio supremo.

Segue a lista dos favoritos em ordem de sentimentalismo.


1. "A Mosca" ("The Fly") - 1986\



2. "Videodrome - A Síndrome do Vídeo" ("Videodrome") - 1983
3. "Scanners - Sua Mente Pode Destruir" ("Scanners") - 1981
4. "Crash - Estranhos Prazeres" ("Crash") - 1996
5. "Filhos do Medo" ("The Brood") - 1979



6. "Mistério e Paixões" ("Naked Lunch") - 1991
7. "Gêmeos - Mórbida Semelhança" ("Dead Ringers") - 1988
8. "Na Hora da Zona Morta" ("The Dead Zone") - 1983
9. "Crimes do Futuro" ("Crimes of the Future") - 1970
10. "EXistenZ" - 1999



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Fernanda Calegaro é jornalista, tenente Ripley com Amélie, atua há mais de dez anos na Comunicação. Trabalhou em veículos como TV Guaíba e TVE/RS e, em assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Trabalha no segmento cultural e ambiental. Nota: Jeanne Moreau está para Liv Ullmann assim como Tura Satana está para Barbara Steele.


terça-feira, 13 de março de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Savatage - "Gutter Ballet" (1989)




"Acho que o trio,
Jon, Criss e eu,
permitiu a nós mesmos
que abríssemos portas
que não seriam abertas regularmente."
Paul O'Neill, produtor




    Lisonjeado em participar das comemorações dos 10 anos da página, confesso que senti certa carência de heavy metal entre os Álbuns Fundamentais do blog, então decidi falar de um dos grupos mais únicos do estilo: o Savatage.
   Pensem numa banda de baixíssima rejeição dentro dos mais variados âmbitos da cena heavy, do melódico ao extremo, mas ainda assim pouquíssimo lembrada quando falamos de seus grandes e mais criativos nomes. Outra curiosidade: não se fez justiça com ela dentro de seu próprio estilo, mas conseguiram ser gigantes no mainstream, repetindo sua exata proposta sonora para as grandes massas sob uma nova roupagem, a da Trans-Siberian Orchestra. Por fim, pensem em como o Savatage conseguiu manter sua essência ao longo de duas décadas (afora tantos trabalhos paralelos de seus integrantes, incluindo a TSO), mesmo tendo percorrido diversos caminhos, flertado com diversos elementos e sonoridades e, ainda, sofrido com tantas mudanças de formação - incluindo aí o trágico falecimento de um guitarrista e compositor fenomenal, irmão do líder da banda.
    As formas de se encarar o Savatage são tantas, que fica difícil até mesmo escolher um álbum sem cometer injustiças com o restante da discografia, pois todos os discos são capazes de mudar a mente do ouvinte com relação às possibilidades e alcance da música pesada. Afinal, o início já foi bombástico com "Sirens" e "Dungeons Are Calling", discos mais crus, diretos, que poderiam ser só "mais um" na cena oitentista, já não fosse uma fina dose de sofisticação que seria a marca do grupo dali em diante. O flerte óbvio com o hard/AOR viria no contido "Fighting For The Rock" (e qual grupo heavy não fez ao menos um disco tipicamente hard?). E o marco, o divisor de águas, seria a chegada do mágico produtor Paul O'Neill (que nos deixou precocemente em 2017) no clássico "Hall Of The Mountain King". A partir de 90, a banda ainda investiria em cada vez mais alucinantes e pomposas rock operas, ganhando na intensidade das composições e na complexidade e diversificação de sua música.
   Ao se colocar tantos elementos na balança, talvez resida em "Gutter Ballet" (1989) o meio-termo que buscamos. O disco é posterior ao ingresso de O'Neill, anterior à morte de Criss, já traz aquela deliciosa aura teatral que abrilhanta os álbuns da banda (embora discutível se o álbum pode ser considerado conceitual ou não), mas, ao mesmo tempo, escancara o mais autêntico hard/heavy, além de um marcante - e pouco reconhecido - toque progressivo (o que é bom ressaltar para quem esquece do Savatage ao falar apenas de Dream Theater, Queensrÿche ou Fates Warning na vanguarda do Prog Metal).
   "Gutter Ballet", pois sim, é um resumo do que é todo o Savatage. É o tapa na cara logo na abertura com "Of Rage And War" (de letra crítica que facilmente se volta, ainda hoje, ao próprio EUA). São os intensos temas emocionais de "When The Crowds Are Gone", "Summer's Rain" e da faixa-título, nas quais o indefectível Jon Oliva deposita garganta, coração e alma em sua interpretação. Mas também é a beleza dos interlúdios, indo da apoteótica "Temptation Revelation" à tranquilidade de "Silk And Steel". É o hard descompromissado e pegajoso de uma sexy "She's In Love", que encontrará em seguida o heavy visceral de uma "Hounds", "Unholy" ou "Thorazine Shuffle", de climas absolutamente sombrios e introspectivos, também marcas dessa banda de inúmeras facetas, sem jamais perder em peso e originalidade.
   Um disco que te faz rever conceitos. Eu, ao menos, descobri e redescobri o heavy metal com ele. E pautou tudo o que eu devia procurar em qualquer banda que eu ouvisse dali para frente.


por Samir Alhazred


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FAIXAS:

1. "Of Rage and War" 4:47
2. "Gutter Ballet" 6:20
3. "Temptation Revelation" (instrumental) 2:56
4. "When the Crowds Are Gone" 5:45
5. "Silk and Steel" (instrumental) 2:56
6. "She's in Love" 3:51
7. "Hounds" 6:27
8. "The Unholy" 4:37
9. "Mentally Yours" 5:19
10. "Summer's Rain" 4:33
11. "Thorazine Shuffle" 4:43

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Ouça:
Savatage - Gutter Ballet





Samir Alhazred é, como ele mesmo se define, um "colecionador paulista".

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

CLICK ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Fotos de Marcello Campos













São imagens feitas de forma amadora com câmeras analógicas e digitais desde 1991, quando passei a cursar aulas de fotografia nas faculdades de Publicidade, Artes Plásticas e Jornalismo.

Em geral, feitos em Porto Alegre, a maioria dos cliques tenta reproduzir em forma e conteúdo um olhar focado no detalhe, no pitoresco, no inusitado, no personagem e no diálogo entre figuras e planos.



Marcello Campos
































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Bacharel em Comunicação Social pela PUCRS e Licenciado em Artes Plásticas pela UFRGS, Marcello Campos é publicitário e jornalista com passagens pela TVE, Correio do Povo, O Sul, rádio Guaíba e agências de propaganda, além de pesquisador com ênfase em aspectos culturais e históricos de sua cidade-natal, Porto Alegre. É autor das biografias musicais "O Almanaque do Lupi" (2015), "Johnson - O Boxeur-Cantor" (2013), "Minha Serenata: Vida e Obra de Alcides Gonçalves" (2011), "Week-End no Rio: Cinco Décadas e Meia do Conjunto Melódico Norberto Baudauf" (2006).