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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Exposição “Códigos Primordiais” – De Paul Brown, Harold Cohen, Ernest Edmonds e Frieder Nake – Oi Futuro Flamengo – Rio de Janeiro/RJ










Computador, monitor e webcam compõe 
a obra interativa de Ernest Edmonds
“Computadores fazem arte,
artistas fazem dinheiro.”





Uma vez li numa entrevista de Ralf Hütter, um dos cabeças da Kraftwerk, banda alemã da krautrock que ajudou a inventar as sonoridades das máquinas e computadores que hoje nos são antropologicamente tão naturais, o seguinte depoimento: “Os instrumentos eletrônicos programáveis são espelhos nos quais podemos projetar nossos pensamentos. Não são mais do que um instrumento freudiano, um instrumento psicanalítico”.
Polígonos desenhados pelo computador
Eis que uma das exposições que visitei no Rio de Janeiro em agosto abordou como tema justamente isso: a linha que une tecnologia das máquinas aos estímulos neuroemocionais humanos. Trata-se de “Códigos Primordiais”, que vi em seus últimos dias no Oi Futuro Flamengo. Com obras de quatro artistas europeus referência na chamada “arte computacional”, os britânicos Paul Brown e Harold Cohen e os alemães Ernest Edmonds e Frieder Nake, a mostra vai ao encontro de uma série de percepções que já de muito nutro no que se refere a essa simbiose entre ciência e intelecto/motricidade humana, abrindo um campo paradigmático que atinge diversas áreas do conhecimento, desde a Informática e a Computação até a Matemática, a Engenharia passando, claro, pela Neurociência e pelo “filtro psicanalítico” das Humanas (Filosofia, Semiótica, Artes Plásticas, Comunicação).
Com curadoria de Caroline Menezes e Fabrizio Poltronieri, esta pequena mas reveladora mostra trouxe trabalhos de mais de 40 anos com ferramentas baseadas em códigos gerados através do computador. E por “computador” entenda-se não um avançado Mac ou Ipad, mas complexas engenhocas programáveis de linguagem binária. Um destes é AARON, programa de computador criado por Cohen projetado para produzir arte autônoma e que está em contínuo desenvolvimento desde 1973. Outro destes, o inteligente ER56, inventado por Nake, foi, em 1965, capaz de desenhar criativos polígonos (de “Eixo Paralelo” e “Ao Acaso”) impressos a plotter. Há obras de Brown que, inclusive, são coassinados pelo aparelho que o “ajudou” a criar a peça.
Detalhe de "Nineteen"
A diversidade de texturas produzidas me impressionou bastante. A origem é computacional através do manejo técnico dos artistas. Porém, as plataformas nas quais as obras se materializam (ou seja: saem do espectro digital/virtual para o real) são muitas possíveis. Vão desde gravuras, desenhos, pinturas, instalações interativas e até documentos – estes (fitas, papéis impressos, matriciais, etc.) cuja “finalidade artística” também lhe predispõe a tal, estabelecendo um limiar interessante entre a utilidade fria do cotidiano e a inutilidade lúdica da arte.
Igualmente interessante e pioneira é a série “Nineteen”, de Edmonds (1968/69), pintura em madeira a partir de geração algorítmica. Outro destaque é “Copse#18’” (2006), impactante tela de Cohen cuja liberdade de “traço” impressiona, assim como “Works on Canvas” (Brown, 1974/79) e o acrílico sobre tela “Quatro a partir de Construindo o Espaço” (2012), integrante de uma série de Edmonds que inclui vídeos (composto de computador, monitor e webcam) com semelhantes formas, os quais dialogam entre si nos suportes em que estão.
"Reworkdvale" de Brown
Dos vídeos, ainda a surpreendente mandala hi-tech (1979) e as formas encadeadas de Brown, como “Reworkdvale” (1975), e os criados para a própria mostra, como o coletivo “Cidades Tangos”, projeto de Edmonds que conecta diferentes cidades em tempo real. Artistas de duas cidades foram convidados a participar, gerando imagens sobre cada uma delas, que alimentam o sistema interativo em tempo (quase) real. Ou mesmo a instalação que respondia ao estímulo de quem o tivesse à frente observando, compondo, conforme o movimento, novas combinações geométricas. Quer dizer: redesenhando o “vídeo-quadro” de maneira participativa, formando infinitas possibilidades de coautoria com o espectador.
Enfim, daquelas exposições que se tem bastante para falar devido à sua riqueza de elementos. Termos como cyberespaço, modernidade, estímulos sensoriais, motricidade e virtualidade passam a ser questionados depois de uma ocasião destas, uma vez que seus significados se ampliam. Se a letra da música de Fred Zero Quatro diz que “cientistas criam louvor, artistas levam a fama”, aqui, os papéis se misturam.


Grafismos de Nake

O magnífico quadro de Cohen

Interagindo com a obra de Brown

Acrílico sobre tela de Edmonds

Pintura em madeira, "Nineteen", de Edmonds

Admirando os desenhos de Nake



Exposição "Códigos Primordiais"



fotos e vídeo: Leocádia Costa