“A música é uma das formas de expressão
mais fantásticas e antigas que a humanidade já criou.
Talvez tenha nascido da observação dos sons da natureza, não se sabe ao certo,
mas desde a pré-história o homem foi despertado para a necessidade de
organizar uma sequência de sons e silêncios que
pudesse ser apreciada, entendida e praticada.
Desde então ela vem sendo criada e executada
por todos os povos e culturas da Terra.
O segundo volume da antologia ‘Conte uma Canção’
(traz) histórias tristes, histórias com finais felizes,
histórias que assustam, histórias que excitam, histórias reais,
histórias nascidas da imaginação dos nossos autores,
aqui não importa o gênero ou tipo de narrativa.
O que importa é que são histórias que,
as músicas que as inspiraram, emocionam.”
texto de apresentação do livro
na contracapa
Já está nos pontos de venda a antologia
“Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora
Multifoco, da qual meu
irmão e editor deste blog,
Cly Reis,
e
eu, subedidor, fazemos parte com
um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a
24ª Bienal do Livro de São
Paulo, no Anhembi.
O conto de Cly, intitulado
"O Filho do Diabo", é certamente um dos
melhores de sua profícua produção contística. Por conta do recorte temático, a
ligação da narrativa com uma música, seu conto tenha se beneficiado com isso,
haja vista ser ele um grande admirador e conhecedor da arte musical. No caso, o
blues, que sei que é um dos estilos de sua predileção. Sobre uma canção do
guitarrista norte-americano
Robert Johnson, um dos precursores do blues, dos
anos 20, Cly cria uma história bastante envolvente e até assustadora em que um
homem misterioso bate à porta do protagonista cobrando-lhe uma “dívida” que este
nem imaginava ter. A associação da história com a canção, “Me and the Devil
Blues”, é não só muito pertinente e sacada como, no contexto, bastante
literária, uma vez que se aproveita de toda a atmosfera mística e mítica que
envolve o músico, o qual se diz ter pactuado com o Tinhoso e, por conta disso,
tivera tamanho talento mas, em contrapartida, morrido cedo e de forma
misteriosa. A vida imita a arte.
Já o de
minha autoria,
"'Heart Fog' vazando", se vale de uma música de
uma banda de
indie rock inglesa dos
anos 90, a
Th' Faith Healers. Desconhecida fora do meio alternativo, cultuada por
este público (dentro do qual me incluo), vali-me, assim como Cly o fez, deste
elemento mítico em torno do grupo, porém de uma forma diferente. Misto de fábula
urbana e história romântica, “Heart...”, assim como “O Filho...”, já havia sido
publicado no
blog, porém, advirto que, tanto um quanto o outro valem a pena ser
lidos a versão do livro, mais aperfeiçoadas para a editoração.
Organizado por Frodo Oliveira e Marla Figueiredo, além de nós dois,
claro, há outros autores, tão merecedores de menção quanto, somando 21 textos
no total. São eles: Jojo Corrêa, L.P.S. Mesquita, Manoella Treis, Micael Pinto
de Almeida, Misa Ferreira, Nair Palhano, Nonato Costa, Rogério Rodrigues, Tatiana
Aline Santana, Valdileia Coelho, Alice Ferreira, Antonio Oliveira, Antonio
Sodré, Claudio Lopes de Araujo, Cris Caetano, Di Onísia, Emilene Salles e
Fernando Aires, além do próprio Frodo.
Ficamos devendo uma análise mais completa da obra toda, mas por ora vai
esse quase teaser para despertar o
interesse dos leitores. Abaixo um trecho de cada um dos nossos contos presentes
na antologia “Conte uma Canção – vol. 2”:
“Quem seria àquela hora?
As batidas insistentes à porta interrompiam sua habitual sesta, da qual não
abria mão, principalmente naquela época do ano em que fazia muito calor. Lidara
a manhã inteira no campo em seu pequeno pedaço de terra defendido pela mãe com
tanta luta naquelas terras hostis do Sul e que conseguia manter a tanto, e
agora que conseguia descansar o corpo exausto um inconveniente vinha
incomodá-lo. Quem seria?”
Trecho de “O Filho do Diabo”, de Cly Reis
“Horário de pico, entrou no metrô quase arrastado pela multidão na
estação já pelo meio do trajeto do trem. Seu objetivo de vida ficava uma
estação antes do final da linha e chamava-se ‘casa’ (...) Como faltava um bom
tempo ainda para chegar ao destino, procurou naquele aperto um espaço para se
acomodar, equilibrando-se minimamente entre tantos que faziam o mesmo. Parou de
frente a uma moça e um rapaz que, sentados, conversavam animadamente. ‘Bem
bonita’, pensou. Tipo executiva, cabelo aloirado preso no coco sem soltar
nenhum fio sequer, maquiagem em dia mesmo no fim de tarde, tailleurzinho risca-de-giz
cinza. Muito elegante, ou seja: ‘não é pro meu bico’, arrematou para si em cima
imediatamente. ‘Seriam namorados?’, ocorreu-lhe.”