Mostrando postagens classificadas por data para a consulta George Harrison. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta George Harrison. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Música da Cabeça - Programa #44
Prontos para a sua dose maciça de música de toda quarta-feira? Nós estamos. Vai ter hoje no Música da Cabeça a diversidade de sempre, o ecletismo de sempre, a qualidade de sempre. Quer saber por quê? Ryuichi Sakamoto, The Fall - Music, The Glove, Chico Buarque e George Harrison serve? É, tem tudo isso e ainda mais. Não dá pra perder, né? Recomendamos. É hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e prescrição: Daniel Rodrigues.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Música da Cabeça - Programa #35
Em semana em que sir. George Harrison é pauta por mais de um motivo, fica impossível não se elevar o espírito. Assim estará nosso programa hoje: elevado. Isso porque teremos ainda no nosso quadro de entrevistas ‘Uma Palavra’ um papo-cabeça-astrológico-musical com o carioca Waldemar Falcão. O “som dos anjos” dos Cocteau Twins também vão dar o ar da graça, assim como Caetano Veloso e Jorge Mautner, Cartola e Nelson Cavaquinho e outras maravilhas igualmente elevadas. Afinal, estamos falando do Música da Cabeça, que vai ao ar às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e mapa astral, Daniel Rodrigues.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Fleetwood Mac - "Tusk" (1979)
"Para mim, sou uma espécie
de culpado por trás desse álbum singular, que foi feito de forma a minar uma
espécie de fórmula de fazer apenas uma continuidade de ‘Rumors’.
Nós realmente estávamos
prontos para fazer isso, o que poderia ter sido o início de uma autoimagem em
termos de viver de acordo com os rótulos que nos estavam sendo colocados como
banda.
Você sabe, tem havido vários momentos durante a trajetória da Fleetwood
Mac ao longo dos anos em que tivemos que minar quaisquer que fossem as máximas que
nos imputassem de maneira a nos mantermos com o espírito de artistas
iniciantes,
e o álbum Tusk foi um desses momentos."
Lindsey Buckingham
Essa história começa em 1974. O grupo inglês Fleetwood Mac tava numa pior. O baterista Mick Fleetwood – e a
metade do nome da banda, pois a outra é de John McVie, o baixista – foi visitar
um estúdio e descobriu um casal de cantores e compositores e os convidou pra
integrar o grupo. Eles eram Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. Sem querer, tropeçou
numa mina de ouro. O primeiro disco com os caras, “Fleetwood Mac”, de 1975,
vendeu muito: cinco milhões de cópias. Mas ninguém esperava que o trabalho
seguinte, “Rumours” se transformasse num fenômeno: 40 milhões de cópias
vendidas e o terceiro disco mais comprado da história da música.
Pra começar na manha e não assustar ninguém, Buckingham colocou uma
balada romântica de McVie como primeira canção, “Over and Over”, daquelas que a
gente ouvia na rádio nos anos 80. Mesmo num clima meloso desses, se ouve o
toque LB: os vocais inspirados nos Beach Boys, grandes ídolos do guitarrista,
especialmente o líder Brian Wilson. O vocal de Christine é bem característico
das canções que ela interpretou no grupo até sua saída, em 1998.
“Save me a Place” é um pedido de ajuda de Lindsey. Os violões e
mandolins dão a medida da canção, na qual o guitarrista diz: “Guarde um lugar pra mim/ Eu virei correndo/
se você me amar hoje”. A confusão é uma tônica da música. “Não sei porque devo ir embora/ não sei
porque devo ficar/ talvez eu queira ficar sozinho/ eu acho que preciso ser
conquistado”.
“That's Enough for Me” é mais um trabalho solo do disco que Buckingham
gravou com o Fleetwood Mac. “Toda vez que
você me faz sorrir/ é do mesmo jeito que sempre foi/ E isso é o suficiente pra
mim/ Toda a vez que eu não consigo dormir/ é a mesma dor que sempre foi/ E isso
é o suficiente pra mim”. Para Lindsey Buckingham, amor rima com dor.
“Never Make Me Cry” traz Christine num clima “mulherzinha da antiga”. “Vá e faça o que quiser/ Sei que tu tens
tuas vontades/ Você sabe que eu vou esperar, quanto tempo for necessário/ então
vá e faça o que quiser/ você nunca vai me fazer chorar... Eu não posso aceitar
tudo/ mas fico feliz de ter o seu amor/ Então não se preocupe, eu estarei bem/
e eu nunca vou te fazer chorar”. Misoginia feminina. As feministas devem
ter ficado furiosas com Christine.
Pra fechar, mais uma balada de Christine McVie, "Never
Forget", que dá o tom final desta grande viagem sonora proposta pelo
grupo. “Tusk” começa e termina com canções de Christine McVie para aliviar a
pressão imposta por Buckingham. Ao invés de lançar três discos individuais, os
compositores da banda, Lindsey Buckingham, Stevie Nicks e Christine McVie
resolveram juntar esforços (mais ou menos, né?) para conseguir alguma tipo de
coerência musical nesta tentativa de dar prosseguimento à carreira depois do
sucesso estrondoso de "Rumours". E receberam a ajuda de John McVIe e
de Mick Flçeetwood, uma das cozinhas mais criativas do rock. Musicalmente,
estes esforços deram certo. Em termos de vendagens para um álbum duplo até que
“Tusk” foi bem: 4 milhões de cópias. Mas o disco custou 1 milhão de dólares e
foi considerado, na época, um fracasso de vendas. A recuperação aconteceria só
em 1982, com o disco "Mirage", e depois de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham
lançarem seus primeiros discos solo. Mas isso é outra história.
FAIXAS:
1. Over & Over (Christine
McVie) - 4:34
2. The Ledge (Lindsey
Buckingham) - 2:07
3. Think About Me (McVie)
- 2:44
4. Save Me a Place (Buckingham)-
2:42
5. Sara (Stevie Nicks)
- 6:30
6. What Makes You
Think You're the One (Buckingham) - 3:30
7. Storms (Nicks) - 5:31
8. That's All for
Everyone (Buckingham) - 3:02
9. Not That Funny (Buckingham)
- 3:14
10. Sisters of the
Moon (Nicks) - 4:44
11. Angel (Nicks) - 4:54
12. That's Enough for
Me (Buckingham) - 1:50
13. Brown Eyes (McVie)
- 4:27
14. Never Make Me Cry
(McVie) - 2:18
15. I Know I'm Not
Wrong (Buckingham) - 3:01
16. Honey Hi (McVie) -
2:45
17. Beautiful Child (Nicks)
- 5:21
18. Walk a Thin Line (Buckingham)
- 3:46
19. Tusk (Buckingham)
- 3:37
20. Never Forget (McVie)
- 3:38
*********************************
OUÇA O DISCO
por Paulo Moreira
sexta-feira, 15 de maio de 2015
A guitarra de B.B King e a maior luta de boxe do século
B.B. King foi para o
Blues aquilo que Muhammad Ali foi para o boxe e Pelé no futebol. Era
um cara que tocava sua Lucille sem fazer distinção ou ter
preconceito de gênero. Tocou com artistas do Pop ao Soul, "rifou
e solou" do rock ao Jazz. Influenciou um caralhada de monstros
na guitarra como: Eric Clapton, George Harrison, Jimi Hendrix, Jeff Beck, Buddy Guy, Johnny Winter, Otis Rush e John Lennon, este último,
que confessou certa vez que seu maior sonho era tocar guitarra com
King.
B.B. King é
considerado um dos três maiores guitarristas de todos os tempos. Um
dos primeiros DVD's que eu tive na vida, foi do épico show de King
no Zaire (atual Congo), onde aconteceu o "Live In Africa”, em
setembro de 1974. O guitarrista tocou para 80 mil pessoas naquela que
é considerada sua apresentação antológica. O show era uma prévia
para a maior luta de boxe de todos os tempos, a "The Rumble in
the Jungle", a disputa do cinturão dos pesos pesados entre
George Foreman e o campeão mundial Muhammad Ali, ocorrida no mesmo
país e ano pouco mais de um mês depois.
A luta durou 8
rounds, onde Ali e Foreman se digladiaram como num coliseu
romano. Ali que vinha de uma longa parada, era acostumado a rounds
médios e longos e Foreman, que era o atual campeão e estava em
perfeita forma, costumava derrubar seus adversários logo no primeiro
ou segundo assalto. Na luta, Foreman arrancou com tudo e Ali
inteligentemente deixou seu oponente bater. A famosa esquiva do
lutador entraria em ação entre diversas “trocações”.
Os rounds ficavam
intermináveis para ambos lutadores e incendiavam a plateia local e
do mundo inteiro. Foreman levou vantagem o tempo todo. Se a luta
terminasse naquele momento, ele seria o campeão. Mas Ali usou sua
segunda estratégia e começou a provocar Foreman na luta, gritando:
"Come on, Mother Fucker! É só isso que você sabe fazer?!”.
Foreman se desestabilizou psicologicamente. Cansado de tanto bater o
atual campeão ia para o último assalto com seu físico e
psicológico comprometidos. No ultimo round, Foreman reuniu
suas forças para tentar um trunfo, mas logo sucumbiria a uma
sequência fatal do famoso soco de direita de Muhammad Ali, aquele a
quem antes se chamava de Cassius Clay.
Salve
“King” Clay. R.I.P, my nigga
King.
B.B.
King
(1925-2015)
por Francisco Bino
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Phil Spector & Vários – “A Christmas Gift for You from Phil Spector” (1963)
"Eu
inventei o negócio da música.
Onde está a estátua para mim?"
Phil Spector
Talvez
não combine muito com o espírito natalino fumar, beber e se drogar
compulsivamente dentro do estúdio de gravação. Muito menos andar
armado, a ponto de mirar uma espingarda nos integrantes dos Ramones para que estes o obedecessem. Pior: disparar um tiro a esmo e deixar
John Lennon com permanentes problemas auditivos. Mas, sobretudo, não
combina com o ato de usar um revólver para matar a
atriz Lana Clarkson em sua própria casa. Pois, ironicamente, esta
criatura, que bem poderia passar por qualquer delinquente, é nada
mais, nada menos que uma das mentes mais geniais que o mundo da
música pop já viu. Foi ele que concebeu integralmente este
histórico disco.
Claro
que estamos falando de Phil Spector. O talentoso produtor que deu
forma às obras-primas “Let it Be”, dos Beatles, a “Plastic Ono
Band”, do Lennon, e a “All
Things Must Pass”, do
George Harrison. Que é também o mesmo tirano que se trancafiava no
estúdio como fez em “Death
of a Ladies’ Man”, de Leonard Cohen, em 1977, para não deixar
ninguém entrar (nem mesmo o próprio Cohen). Mas, talvez, por uma
missão divina – motivada, quem sabe, por um milagre de Natal –
esse judeu pobre nascido no Bronx em 1939 não escolheu o caminho do
crime como seus amigos de bairro e encontrou sua salvação na música
para, passando por cima de todas as excentricidades, egocentrismos e
loucuras, entrar para a história. No final dos anos 50, esse
iluminado ajudou a dar forma à música pop, a forjar o que se passou
a chamar de enterteinment.
Compositor,
arranjador, produtor, instrumentista e até cantor, Spector ostenta
ao menos dois títulos de pioneirismo: o de primeiro multimídia da
indústria fonográfica e o primeiro grande produtor de discos. Pois,
além de todos esses predicados, ele também sabia empresariar astros
e encontrar talentos. E aí ele era infalível. Cabeça do selo
Philles Records, ele liderava projetos, lançava grupos e cantores,
direcionava carreiras. Tina
Turner, Ben King, The Righteous Brothers e Dusty Springfield passaram
por sua mão. Criador
de peças de forte apelo popular, mas com pés firmes no R&B, no
country
e no folk,
Spector inventou as teenage
symphonies, quando pôs
grupos vocais como Ronettes e Crystals a serviço de seus arranjos
elaborados e primorosos.
”A
Christmas Gift for You from Phil Spector” é o resultado dessa
profusão. Primeiro álbum-conceito de Natal do mercado fonográfico,
ajudou a impulsionar as hoje tradicionais vendas de música nessa
época do ano (o próprio título, inteligentemente sugestivo, já
induz ao ato da compra). Dono de um apuro técnico inconfundível das
mesas de som, Spector desenvolveu o que até hoje se conhece como
“wall of sound”,
ou seja, a “parede de som”, técnica própria dele que
aproveitava o estúdio como
um instrumento, explorando novas combinações de sons que surgem a
partir do uso de diversos timbres (elétricos e acústicos) e vozes
em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações.
É
isso que se ouve em todo o álbum, em maior ou em menor grau e sempre
na medida certa. Recriando melodias de standarts
natalinos, Spector, junto com o grupo de compositores e sob a batuta
de Jack Nietsche, pôs para interpretar em ”A
Christmas Gift...”, além dos já citados girl
groups Ronettes
e Crystals, a cantora Darlene Love e, para equilibrar, o grupo vocal
misto Bob B. Soxx & the Blue Jeans, cada um com três faixas
(exceto o último, com duas).
Cabe
a Darlene Love iniciar o disco com “White Christmas”, clássico
de Irving Berlin que, na mão de Spector, ganha uma dimensão
apoteótica. O primor do arranjo dá contornos s eruditos à música,
como uma minissinfonia. Mas, antes de mais nada, nada rebuscada e
saborosamente pop. Exemplo perfeito do seu método de gravação, a
música começa com a voz potente de Darlene no mesmo peso dos
instrumentos (banda e orquestra), que, por sua vez, soam com
amplitude, reverberados. A massa sonora vai se intensificando à
medida em que a carga emocional também avança na interpretação da
cantora. Ao final, banda, voz e cordas parecem explodir no ambiente,
quando atingem o ponto máximo do volume, que Spector modula
cirurgicamente. Nota-se um permanente equilíbrio de alturas:
percussão grave como tímpanos de orquestra, instrumentos de base
assegurando os médios e a voz, juntamente às cordas, com o
privilégio diferencial dos agudos, aqueles que fazem arrepiar o
ouvinte.
Na
sequência, “Frosty The Snowman”, com as Ronettes, traz o
marcante timbre agudo de Ronnie Spector – esposa do produtor à
época – animando mais o álbum, num R&B típico dos anos 50. O
coro das companheiras Estelle Bennett e Nedra Talley ao fundo encorpa
a harmonia, mesclando-se as cordas e à percussão permanentemente
cintilante dos chocalhos e sinos, como os do trenó do Papai Noel. Os
motivos natalinos, também com os característicos sininhos, voltam
na outra das Ronettes, o hit
“Sleight Ride”, com uma frenética levada de jazz
swing.
O
gogó romântico de Bobby Sheen, primeira voz da Bob B. Soxx &
the Blue Jeans (que tinha a própria Darlene Love mais Fanta James no
backing),
arrasa na versão para “The Bells of St. Mary's” – que ficou
conhecida com Bing Crosby no filme homônimo de 1945, em que, fazendo
um padre, o ator a interpreta totalmente diferente, acompanhado de um
coro de freiras e órgão. Aqui, Spector redimensiona a beleza
litúrgica da canção, aprontando um arranjo vibrante, carregado de
emotividade, com toques de balada de baile de anos 50.
“Santa
Claus Is Coming to Town” traz as Crystals Barbara Alston, Dee Dee
Kennibrew e Mary Thomas num R&B embalado e ao seu estilo vocal
peculiar. O trio reaparece em “Rudolph the Red-Nosed Reindeer”,
de pegada bem infantil, e na divertida “Parade of the Wooden
Soldiers” em que, para representar a lúdica “parada dos
soldadinhos de madeira”, Spector se vale, na abertura, de cornetas
marciais, mas sem perder o astral festivo e descontraído.
As
Ronettes, estrelas da Phillies, têm o privilégio de cantar outro
standart:
“I Saw Mommy Kissing Santa
Claus”, original na voz de Jimmy Boyd que atingira, em 1952, o 1º
posto da Billboard. Por sua vez, Darlene Love ganha “Winter
Wonderland”, um dos mais celebrados cantos natalinos
norte-americanos – composta em 1934 por Felix Bernard e Dick Smith
–, além da única composta para o disco: “Christmas (Baby Please
Come Home)", alçada em 2010 pela revista Rolling Stone à lista
de Grandes Canções Rock and roll de Natal, que justificou a
escolha: "ninguém
poderia combinar tão bem emoção e pura potência vocal como
Darlene Love”.
O
vozeirão de Bobby Sheen mais uma vez encanta na sacolejante “Here
Comes Santa Claus”, outro clássico natalino que, além da gravação
do autor – Gene Autry, hit
em 1947 –, também recebeu versões ao longo dos tempos de Elvis Presley (no aqui já resenhado "Elvis Christmas Album"), Doris
Day, Ray Conniff e Bob Dylan. Sinos de trenó, escala em tom alto,
contracantos, percussão reverberada, melodia em crescendo. Um típico
“wall of sound”
spectoriano.
Para finalizar, o próprio “cabeça” do projeto declama a letra e
“Silent Night” com o suave coro de todos os outros músicos ao
fundo, num desfecho se não brilhante como todo o restante, ao menos
coerente.
Dessa
trajetória iluminada mas altamente conturbada de Phil Spector – a
qual ele, encarcerado desde 2009 pelo assassinato da amante, segue
infelizmente desperdiçando –, fica a rica contribuição de seu
modo de compor e, principalmente, “apresentar” as músicas.
Spector foi uma verdadeira
máquina de sucessos, criando peças que serviriam de exemplo para
toda a geração da Motown e do rock de como fazer uma música
pegajosa e inteligente em menos de 4 minutos. Brian Wilson, Brian Jones, Rod Argent, Frank Zappa, Rogério Duprat, Brian Eno e até George Martin conseguiram pensar como um dia pensaram por causa do caminho aberto por Phil Spector. Sem ele não existiriam os conceitos
de hit
nem perfect pop.
Com Phil Spector a música popular virou negócio – e um negócio
muito bom de escutar. Se isso já não vale por um milagre de Natal,
ao menos justifica uma estátua.
******************
FAIXAS:
1.
White Christmas (Irving Berlin) - com Darlene Love - 2:52
2.
Frosty the Snowman (Steve Nelson/Walter Rollins) – com The Ronettes
- 2:16
3.
The Bells of St. Mary's (A. Emmett Adams/Douglas Furber) – com Bob
B. Soxx & the Blue Jeans - 2:54
4.
Santa Claus Is Coming to Town (J. Fred Coots/Haven Gillespie) – com
The Crystals - 3:24
5.
Sleigh Ride (Leroy Anderson/Mitchell Parish) – com The Ronettes -
3:00
6.
Marshmallow World (Carl Sigman/Peter DeRose) - com Darlene Love -
2:23
7.
I Saw Mommy Kissing Santa Claus (Tommie Connor) – com The Ronettes
- 2:37
8.
Rudolph the Red-Nosed Reindeer (Johnny Marks) – com The Crystals -
2:30
9.
Winter Wonderland (Felix Bernard/Dick Smith) – com Darlene Love -
2:25
10.
Parade of the Wooden Soldiers (Leon Jessel) – com The Crystals -
2:55
11.
Christmas (Baby Please Come Home) (Ellie Greenwich/Jeff Barry/Phil
Spector) – com Darlene Love - 2:45
12.
Here Comes Santa Claus (Gene Autry/Oakley Haldeman) - com Bob B. Soxx the Blue Jeans - 2:03
13.
Silent Night (Josef Mohr/Franz X. Gruber) com Phil Spector & artistas - 2:08
***************
OUÇA
O DISCO:
por Daniel Rodrigues
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)
Os Sons de Estimação
A psichodelic era dos anos 60,
sensacionalmente rica, produziu alguns dos maiores talentos da música mundial. John Lennon, Paul McCartney, Jimmi Hendrix, Sid Barret, Ray Davies, Brian Jones, Arthur Lee, Arnaldo Baptista, Lou Reed, Rocky Erikson, Frank Zappa e mais uma
dezena de cabeças geniais. Todos produziram, quando não vários, pelo menos um
trabalho fundamental para a história da música pop. Porém, um destes expoentes,
também surgido à época, criou algo sem precedente dentro da discografia do rock.
Ele é Brian Wilson, líder e principal compositor do The Beach Boys. A obra: “Pet Sounds”, de 1966, uma joia rara da
música do século XX, comparável aos mitológicos "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" ou "The Dark Side of the Moon". Requintado e perfeito do início ao
fim, é repleto de detalhismos que somente a mente obsessiva de Brian Wilson
poderia conceber, o que, somado a seu empenho, conhecimento técnico e alta
sensibilidade, resultou num disco inovador em técnicas de gravação, conceito
temático, estrutura composicional, instrumentalização, arranjos, entre outros
aspectos.
“Pet Sounds”,
diz a lenda, surgiu de um sentimento de competitividade alimentado por Brian,
um perturbado jovem com então 24 anos cujo quadro esquizofrênico era
danosamente potencializado pelo vício em LSD. Para piorar: a relação com o pai
era péssima, a ponto de, numa ocasião de briga entre os dois, levar uma pancada
tão forte que o deixou surdo de um dos ouvidos – motivo pelo qual, reza outra
lenda, teria concebido e gravado “Pet Sounds” em mono, uma vez que não conseguia
perceber fisicamente os sons em estéreo. Todo este quadro e o temperamento
vulcânico fizeram com que Brian, maravilhado mas enciumado com o resultado que
os Beatles haviam atingido com seu “Rubber Soul”, lançado cinco meses antes, se
pusesse na missão de superar a obra dos rapazes de Liverpool.
E conseguiu.
“Pet Sounds”
é uma pequena sinfonia barroco-pop jamais superada, nem pelo próprio Beach Boys.
Brian deixa para trás a pecha de mera banda de surf music creditada a eles (o que já se vinha notando desde “The
Beach Boys' Christmas Album”, trabalho
anterior da banda) e se lança na composição, produção, arranjo e
condução de todo o trabalho, resultado de longas e exaustivas pesquisas à
teoria musical e às musicas erudita, folclórica, jazz e pop. O desbunde já
começa na faixa de abertura, a clássica “Wouldn't It Be Nice”. O som fino e
lúdico do harpschord executa uma ciranda,
que faz a abertura de “Pet...” lembrar a de outro LP histórico da época, "The Velvet Underground and Nico", de um ano depois, cujo sonzinho inicial vem de
outras cordas, as de uma delicada caixinha de música. Mas a semelhança para por
aí, pois, se “Sunday Morning” do Velvet varia para um sereno pop-jazz francês,
a dos Beach Boys ganha amplitude e cor. O som do cravo repete o tempo três vezes
até que é interrompido bruscamente por um forte estrondo seco em staccato da percussão. Aquele contraste
entre o agudo cristalino das cordas e o timbre grave da batida faz da abertura
do disco uma das mais belas, conceituais e inteligentes da discografia rock.
Além disso, a música que se desenvolve a partir dali é absolutamente linda.
Elevando o tom, joga o ouvinte num jardim da infância de sons vibrantes e
coloridos num ritmo de banda marcial, onde já se nota que Brian vinha com tudo
em seu desafio pessoal: som cheio, polifonia, coros em contracanto, abundância
de instrumentos e ornados, consonância e equilíbrio total entre graves e
agudos.
Um dos
principais recursos utilizados por Brian no disco para obter esse resultado é a
concepção múltipla da obra como um todo, seja na unidade entre as faixas, na
harmonia ou no arranjo das peças. Bem ao estilo da música barroca dos séculos
XVII e XVIII, ele vale-se da variedade instrumental e, numa decorrência mais
impressionista, de timbres, uma vez que extrai sonoridades de toda a escala
diatônica através de cordas, sopros, percussão, vozes, teclados e até
eletrônicos. Há vários instrumentos exóticos, como mandolin, harpa francesa, ukulele, english corn, banjo, tack piano e temple block. A obsessão de Brian de superar o Fab Four, sabendo da prática dos "rivais" de valerem-se
de variados instrumentos em estúdio, pode ser constatada, inclusive, na
quantidade de instrumentos usados em todo o disco: cerca de 40, tocados por
quase 70 músicos diferentes, incluindo a banda em si: os irmãos Carl (vocais,
guitarra) e Dennis Wilson (vocais, bateria) mais Al Jardine (vocais, tamborim),
Bruce Johnston e Mike Love (ambos, vocais), além do próprio Brian (vocais,
órgão, piano). A belíssima balada “You Still Believe in Me”, das minhas
preferidas, vale-se deste conceito polifônico. Além de baixar o tom da faixa
inicial, explora mais ainda a riqueza dos ornamentos barrocos, como na
complexidade melódica dos corais, que funcionam como um instrumento de teclado
que acompanha o toque do cravo. A percussão, detalhada, vai do sutil som de
sininho a tambores de orquestra, os quais dão um final épico à faixa em curtos
rufares.
Outro trunfo
do disco, na tentativa de Brian de superar até a produção de George Martin para
com os Beatles, é a adoção do modelo de gravação multitrack. Usando vários takes
de vozes e instrumentos tocando ao mesmo tempo e uns sobre os outros, consegue
atingir, assim, timbres únicos. Isso foi possível pelo ouvido apurado de Brian
que, grande fã do produtor Phil Spector, “inventor” das teenage symphonies nos anos 50, chupou-lhe a ideia do “wall of sound”, refinando-a. A “muralha
de som” de Spector aproveitava o estúdio como instrumento, explorando novas
combinações de sons que surgem a partir do uso de diversos instrumentos
elétricos e vozes em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações. Isso se
nota em todo o disco, como em “That’s Not Me”, outra espetacular. Lindíssima a
voz de Love, que, limpa e sem overdub,
desenha toda a canção, enquanto a base se sustenta num órgão, nos acordes de ukulele (guitarrinha havaiana) e na combinação
grave/agudo da percussão, em que o tambor e o chocalho ditam o ritmo. “Don't
Talk (Put Your Head on My Shoulder)” é outra balada que faz, novamente, cair o
andamento para um ar melancólico. Mas que balada! Tristonha, romântica e, como
num ornamento rococó, toda cheia de enlevos. Nesta, Brian capricha na
orquestração.
Por falar em
orquestração, duas merecem destaque neste aspecto. A primeira, a não menos
lírica “I’m Waiting for the Day”, que oscila entre um ritmo de balada, levada
por um suave órgão, e momentos de empolgação, quando, lindamente, vozes em
contracanto se juntam a flautas e uma percussão densa em que o tímpano se
destaca na marcação. A orquestra, no entanto, entra por apenas rápidos
segundos, suficientes para pintar a música com alguns traços, quando, lá para o
fim da faixa, logo após Brian cantar com doçura os versos: “I’m waiting for the
day when you can love again”, violinos e cellos,
sem dar pausa entre o fim da vibração da voz e o ataque de suas cordas, aparecem
juntos em um fraseado lírico como uma suave nuvem sonora, integrando voz e
instrumentos. Depois desse breve sonho, estes e todos os outros instrumentos voltam
para encerrar a canção em tom maior, com a voz solo cantando: “You didn't think that/ I could sit around
and let him work...”, enquanto um dos coros faz: “Ah aaah ah/ ah, aaah, ah...”, em três tempos, e o outro vocalisa: “doo- doo/ doo-roo/ doo- doo/ doo-roo...”,
em dois. Estupendo.
A segunda
especial em termos de arregimentação é "Let's Go Away for Awhile”. Como a
faixa-título – uma rumba estilizada em que o compositor se vale da diversidade
de instrumentos que vão desde sopros, como sax alto e trombone, e percussão,
reco-reco e (pasmem!) latas de Coca-Cola, até um método de filtragem de entrada
de som do alto-falante, que dá uma sonoridade específica à guitarra –, é
instrumental, prestando mais um tributo à tradição medieval, uma vez que o
conceito de dissociar música da dança ou do teatro iniciou-se, justamente, com
mestres como Scarlatti e Vivaldi nesta época. Perfeita em harmonia, é quase um pequeno concerto para vibrafone, que conta também com um breve solo de bloco de
madeira, finalizando com um arrepiante diálogo entre bateria e tímpano de
orquestra, sustentados por um arranjo de cordas de caráter grandioso.
Depois do tom
médio de “Let’s...”, o ânimo volta às alturas com a graciosa “Sloop John B”. Na
introdução, outra clássica no disco, um toque de sininho e uma nota de flauta que
se estende, ambos marcados pelo tic-tac
de um metrônomo, dando início à alegre canção, com Brian, Love e Carl
alternando a voz solo e na qual não falta beleza no arranjo das vozes em
contraponto. Brian consegue dar colorações lúdicas a uma canção folclórica
tradicional do Caribe, criando uma música em que dá a impressão de que toda a
caixa de brinquedos ganhou vida e saiu a tocar pelo chão do quarto, cada um com
um instrumento: o soldadinho do Forte Apache com a tuba, o marinheiro com o
tamborim, o indiozinho Pele-Vermelha com os sinos, o playmobil com o clarinete e assim por diante.
Para os
apaixonados por “Pet Sounds” como eu, que o conhecem de trás pra diante, o
final da extrovertida “Sloop...” traz uma emoção especial, pois é sinal de que
vem, na sequência, “God Only Knows”. Magistral, numa palavra. A música que fez
o gênio Paul McCartney sentir inveja alinha-se em magnitude a ícones da música
moderna como "Like a Rolling Stone", "Bolero", "A Day in the Life", "Águas de Março" ou "Summertime". Com uma aura ao mesmo tempo celestial, emocionada e
suplicante, “God...” não poupa o coração dos diletantes, pois o órgão e o toque
do oboé já largam entoando em alto e bom som. Na suave percussão, chocalhos e temple block. As cordas e sopros,
igualmente perfeitos. A voz de Carl transmite uma emoção intensa e não menos
lírica. Após uma segunda parte em que sobe uma gradação, adensando a
emotividade, a faixa se encerra sob belíssimas frases dos sopros e uma
orquestração a rigor, quando as vozes de Carl, Brian e Johnston se misturam,
criando um efeito onírico tal como um Cantus
Firmus, tipo de melodia extraída dos cantochões polifônicos medievos em
louvor ao Senhor. Impossível não lembrar, ouvindo-a, da famosa sequência do filme "Boogie Nights" em que a câmera sobrevoa os cenários mostrando os rumos
tomados na vida de cada personagem, como se Deus estivesse vendo o destino de todos
e dissesse: “só Eu sei”.
“I Know
There's an Answer” (que, nas extras, vem na versão “Hang on to Your Ego“, com
mesma melodia e letra diferente) mantém a beleza polifônica e reforça uma outra
base conceitual do disco: a “teoria dos afetos”. Princípio básico da música
barroca, estabelece correspondência entre os sentimentos e os estados de
espírito humanos. A alegria, consonante, por exemplo, é expressa através dos
tons maiores, acontecendo o inverso para o sentimento de tristeza, em matizes
menores e dissonantes em forma. Por isso, as idas e vindas durante todo o disco
de temas calmos e/ou românticos alternados com outros alegres e mais pulsantes.
Isso que acontece novamente com a “agitada” “Here Today”, que antecede outra
obra-prima de Brian e Cia.: o baladão “I Just Wasn't Made for These Times”.
Com base de cravo, num clima dos oratórios de Bach e Häendel, percussão que
equilibra temple blocks, bateria e
tímpanos, além de impressionantes contracantos, traz ainda uma inovação em
termos de música pop: o electro-theremin,
sintetizador muito usado pela vanguarda erudita da eletroacústica que pouco (ou
nunca) havia sido usado em rock até então. E Brian não só usa como,
inteligentemente, aplica-o de uma forma genial, pois, integrando uma ferramenta
sonora moderna a outras marcantes da Idade Média (como o cravo e o tímpano), a
faz homogeneizar-se ao coro, como se instrumento e voz, natureza e espírito,
Deus e homem fossem a mesma matéria.
Se os Beatles de “Rubber...” louvavam o amor à sua Michelle, Brian, em mais uma estocada, vinha com a lenta e definitiva “Caroline No” com suas combinações de bongô/chocalho e hammond mantendo a base, além do engenhoso solo de cello com trombone, desfechando vitoriosamente o LP original.
.............................. .......
Se parasse por aí, já estava de bom tamanho, mas até os extras são dignos de nota. Haja visto a curta e brilhante “Unreleased Backgrounds”, toda a capella e na qual Brian evoca os mais ricos motetos barrocos – claro, numa roupagem pop e com a cara dele. Afinadíssimo, ele puxa um “lá”, prolongando seu corpo e baixando gradualmente a escala por cerca de 15 segundos até cair totalmente. O “good Idea”, ouvido ao fundo dito por algum dos integrantes da banda no estúdio mostra que a coisa agradou, motivando todos a se juntarem num coro. Eles exercitam melismas com acidentes, formando um verdadeiro canto gregoriano moderno. Lindíssimo. Depois disso, ainda há a ótima instrumental “Trombone Dixie”, em que, de uma feita, homenageiam o célebre bluesman Willie Dixie e evidenciam a sutil fronteira entre o folk e o erudito.
Brian Wilson vencera o desafio a que ele mesmo se propôs: apenas cinco meses depois, os Beach Boys superavam com “Pet Sounds” os Beatles de “Rubber Soul”. A história da música pop nunca mais seria a mesma, tendo em vista a alta influência deste trabalho para uma infinidade de outros artistas, que vão desde Zombies, Pink Floyd e R.E.M., passando por Van Morisson, Genesis, Blur e, claro, os próprios Beatles. Mas a instabilidade emocional e o vício em drogas de Brian não o deixariam prosseguir combatendo no front da música pop – pelo menos, não à altura de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo. Três meses adiante, o Quarteto de Liverpool se reinventa novamente e lança o espetacular “Revolver”; no ano seguinte, o histórico “Sgt. Peppers...”; logo em seguida, emendam o fecundo “Álbum Branco”. Brian perde o passo e não consegue mais conceber uma obra com início, meio e fim, quanto menos uma grandiosa como a que criou. Mas, para sorte da humanidade, havia dado tempo do mundo conhecer “Pet Sounds”, o álbum que é mais do que um “disco de cabeceira”, mas os verdadeiros “sons de estimação”.
**********************************************
FAIXAS:
1. Wouldn't It Be Nice - 2:26 (Wilson, Asher, Mike
Love)
2. You Still Believe in Me - 2:31
3. That’s Not Me - 2:30
4. Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder) - 2:53
5. I’m Waiting for the Day – 3:06
6. Let's Go Away for a While - 2:21
7. Sloop John B - 2:54
8. God Only Knows - 2:46
9. I Know There's an Answer - 3:10 (Wilson, Terry
Sachen, Love)
10. Here Today
- 2:55
11. I Just Wasn't Made for These Times - 3:10
12. Pet Sounds - 2:23
13. Caroline, No - 2:54
14. Unreleased Backgrounds - :50
15. Hang on to Your Ego – 3:17
16. Trombone
Dixie – 2:53
*********************************************
OUÇA O DISCO
The Beatles - "Rubber Soul" (1965)
Transpiração ou inspiração? A
história por trás de “Rubber Soul”, o álbum revolucionário que sobreviveu ao
deadline
"Eu realmente não estava completamente
pronto para aquela unidade.
pronto para aquela unidade.
Parecia que todas [as músicas] eram juntas.
‘Rubber
Soul’ era uma coleção de canções que,
de alguma forma, eram juntas
como nenhum álbum já feito antes,
de alguma forma, eram juntas
como nenhum álbum já feito antes,
e fiquei muito impressionado.
Eu disse: ‘É isso. Eu
realmente fui desafiado
a fazer um grande álbum’."
a fazer um grande álbum’."
Brian Wilson,
líder
dos Beach Boys
Quando o assunto em pauta é a obra dos Beatles, a transpiração sempre
andou abraçada à inspiração. Principalmente, no período entre 1962-1965, quando
o quarteto vivia à base de anfetaminas para cumprir a agenda transbordada de
shows, aparições na BBC, entrevistas e sessões de gravação em Abbey Road.
Com “Rubber Soul” não foi diferente. O LP, lançado em 3 de Dezembro de
1965, teve a honra de ser o primeiro a marcar um dos “fins” ligados aos
Beatles. John, Paul, George e Ringo bateram o martelo para o empresário Brian
Epstein. A turnê pelo Reino Unido seria a última da carreira. E eles cumpriram
a promessa. O fim dos shows foi uma
exigência, já que o interesse era desenvolver as composições e o trabalho no estúdio.
“Rubber Soul”, não há dúvida, foi o grito inicial de independência da banda
para fugir da maratona de compromissos... Apesar de que muito sofrimento ainda
estava por vir.
Bob Dylan
E não foi brincadeira. Com o Natal chegando, e a turnê pela
Grã-Bretanha à vista, os Beatles foram obrigados a produzir (com ajuda de
Norman Smith e George Martin) o sexto álbum da carreira em apenas um mês, entre
Outubro e Novembro de 1965.
A inspiração transbordava pelas mentes da principal dupla de
compositores. Uma das fontes mais
generosas foi Bob Dylan, que continuava a influenciar o grupo (“Help” – também
lançado em 65 – trouxe “You’ve Got To Hide Your Love Away”, bastante dylanesca).
Em “Rubber Soul”, o mix de folk e
eletricidade de álbuns como "Bringing It All Back Home" e "Highway 61 Revisited" (respectivamente lançados em março e agosto daquele ano) deram o toque do novo
rock americano ao sabor britânico de Liverpool.
Deadline
Além de Lennon/McCartney,
George Harrison aparecia naquela hora como a segunda força criativa. Na
verdade, até Ringo conseguiu um crédito em uma das 14 faixas que entraram no
disco. Mas como não dava apenas para ficar na inspiração, os Beatles precisaram
resgatar músicas de seu arquivo para completar o álbum. O deadline era antes do
Natal. E antes da excursão pelas Terras da Rainha, que estava marcada para
iniciar na Escócia, dia 3 de Dezembro (Exatamente no dia que o LP chegaria às
lojas).
Por isso, “Wait” foi fisgada das fitas de gravação de “Help!”, e “What
Goes On” (composição antiga de John) teve de ser recuperada para ganhar cores
das novas roupas dos Beatles. No caso de
“What Goes On”, Ringo contribuiu com 5 palavras, e ganhou o crédito como
Richard Starkey, ao lado de John Lennon e Paul McCartney. As demais faixas –
incluindo mais duas não incluídas no disco – precisaram ser geradas “à força”
para cumprir o calendário.
“Maternidade”
A história das músicas dos Beatles pode ser complexa, mas como também
existe limite de tempo e espaço para escrever, os contos da maternidade
criativa serão breves...
“I’m Looking Through You” nasceu lenta, e ganhou mais pegada na versão
definitiva. A música, que escancara os problemas de relacionamento entre Paul
McCartney e Jane Asher, é um rocker
com sombras do som produzido por Dylan em "Highway 61 Revisited" e do single “Positively 4th Street”.
A origem da linda balada “In My Life” é das mais disputadas. John
garantiu que Paul criou o meio da música. Paul disse em sua biografia, “Many
Years For Now”, que colocou a melodia sobre um longo poema editado pelo amigo
sobre a infância e amigos da região de Penny Lane, em Liverpool.
A melodia de “Michelle” já existia há alguns anos na cabeça de Paul,
mas só virou composição com a ajuda de John que a complementou com os “I want you, I want you, I want you”,
inspirado por Nina Simone. O francês da música veio das aulas de francês da
mulher do amigo Ivan Vaughan.
“Drive My Car” é outro exemplo da parceria Lennon/McCartney. Ao invés
de “You can give me golden rings”,
John sugeriu “Baby you can drive my car”,
alimentando o duplo sentido materialista da letra.
Já “The Word” foi a primeira tentativa da dupla de escrever sobre o que
aconteceria no “Verão do Amor” dois anos mais tarde. “Say the Word and
you’ll be free... it’s sunshine”.
The Byrds
Na turnê de 65 pelos Estados Unidos, George Harrison tinha ficado amigo
da banda The Byrds, que misturava o folk
e o rock, também influenciada pelo som de Bob Dylan. Esta inspiração aparece
nos arranjos de “If I Needed Someone” – o seu recado nada animador às fãs
histéricas – graças à magistral base criada pela guitarra de 12 cordas usada no
estúdio. Sua outra contribuição – “Think For Yourself” – tem letra filosófica e
conteúdo pragmático. A letra acusa alguém de falar mentiras. Quem seria? A
mulher Patty Boyd (que viria a ser mulher de Eric Clapton anos mais tarde) ou o
empresário Brian Epstein?
Ciúmes
As músicas de Paul McCartney e John Lennon também não tinham tons
alegres. “You Won’t See Me” e
“We Can Work It Out” seguem a linda de “I’m Looking Through You”. Todas
são gritos de descontentamento com a relação amorosa com a noiva, uma atriz
bastante ocupada com o tradicional grupo inglês Old Vic.
Já a sensual “Girl” – com
instrumentação que remete à música grega – conta a história de uma mulher
destruidora de corações, insensível e materialista.
“Run For Your Life” é o grito de ciúmes de John, casado com Cynthia
Powell. “Day Tripper” (que divide o espaço do single com “We Can Work It Out”) fala de mulheres e drogas de forma
subliminar. Segundo o próprio Lennon, assim como “Nowhere Man” (resultado de
uma noite em claro, tentando buscar inspiração) a música foi criada “à força”
(imagine se não fosse) para preencher os 14 sulcos do vinil.
Uma das (muitas) joias da coroa do LP fecha esse texto. Em “Norwegian
Wood” (100% dylanesca) John e Paul dão show nas harmonias, e contam a história
de um provável caso extraconjugal de Lennon que termina com incêndio no
apartamento do casal. “So I lit a fire –
isn’t good, Norwegian Wood” (“Então eu toquei fogo – a madeira da Noruega não é
das melhores”).
A madeira citada na música pode não ser das melhores. Mas “Rubber Soul”
– que completou 48 anos em dezembro de 2013 – é força de inspiração contínua no
universo musical de hoje. E do amanhã.
por Eduardo Lattes
fonte e revisão: Claudio Dirani,
autor de "Paul McCartney - Todos os Segredos da Carreira Solo" (esgotado na editora)
e "Na Rota da
BR-U2" (disponível com o autor).
**********************************************
FAIXAS:
1. "Drive My
Car" - 2:30
2. "Norwegian
Wood (This Bird Has Flown)" - 2:05
3. "You Won't See
Me" - 3:22
4. "Nowhere
Man" - 2:44
5. "Think for
Yourself" (Harrison) - 2:19
6. "The
Word" - 2:43
7.
"Michelle" - 2:42
8. "What Goes
On" (Lennon/McCartney/Starr) - 2:50
9. "Girl" -
2:33
10. "I'm Looking
Through You" - 2:27
11. "In My
Life" - 2:27
12. "Wait" -
2:16
13. "If I Needed
Someone" (Harrison) - 2:23
14. “Run for Your Life"
- 2:18
todas de Lennon/McCartney, exceto indicadas
*************************************************
OUÇA:
Eduardo Lattes de Mattos Vellani é paulista é formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda.RP pela FIAM -Faculdades Integradas Alcântara Machado, de São Paulo. Devoto de Elvis Presley e de seus “apóstolos”, os Beatles, tem quase duas décadas de experiência em Public Relations. Coordena matérias jornalísticas de cobertura em campo, tendo acompanhado de perto a execução de filmagens e reportagens para clientes como SBT, Bandeirantes, FAAP, Roberto Manzoni, Astrid Fontenelle e vários outros.
Assinar:
Postagens (Atom)