"Este é o primeiro dia dos meus últimos dias"
primeiro verso de "Wish"
O som conhecido como metal industrial, por misturar elementos de metal e hardcore com os de música eletrônica, incluindo samples, bases pré-gravadas e ruídos cotidianos da vida moderna, salvo raras exceções era extremamente barulhento e pouco técnico tirando o prazer ou a apreciação de uma audição, ou às vezes, ao contrário, mostrava-se excessivamente mecânico porém pouco pesado, pedindo mais contundência sonora, mais agrassividade. Mas "Broken" , um EP, dos Nine Inch Nails, de 1991, aparecia como um dos poucos que conseguiam encontrar o meio-termo exato do gênero, e com uma mistura perfeita e planejada de barulho, tecnologia e qualidade produzia então uma das melhores obras da categoria.
A própria banda, na pessoa de seu membro-único, Trent Reznor, multi-instrumentista de formação clássica, recém ganhador do Oscar de trilha original por "A Rede Social", havia se aventurado pela floresta de sintetizadores e máquinas em "Pretty Hate Machine", seu álbum de estreia com um resultado bem interessante porém, para mim, carente de 'pegada'. O disco até tinha peso nas entrelinhas, nas letras, nas interpretações vocais, nas batidas altas e aceleradas mas faltava vida, faltavam guitarras, e foi isto principalmente que ele colocou no segundo trabalho; e como o próprio Sr. NIN definiu na época era 'um disco baseado em guitarras'.
Senhores, e elas explodem!
A introdução crescente da vinheta de abertura, 'Pinion", desemboca direto na demolidora "Wish", uma bomba, um petardo destruidor com uma tempestade de guitarras que vem em resposta aos vocais desesperadores de Reznor, até terminar repentinamente com o ouvinte já provavelmente sem ar. Mas a pausa é curta pra se recuperar e "Last" já chega de sola com uma guitarra alta e pesadíssima. A segue a instrumental sufocante "Help Me I'm in Hell", menos pesada mas não menos impressionante com sua atmosfera densa lembrando uma abertura de filme de terror.
"Happyness in Slavery" que vem a seguir, então, quebra tudo de vez! Entra arrebentando um vocal gritado, um 'confronto' de sintetizadores que introduzem para uma base bem eletrônica que lembra muito o disco anterior, mas aqui soando muito mais poderosa ajudada por um eventual baixo distorcidaço que aumenta ainda mais o caos. A música é pesada, a letra a pesada e o vídeo é tão pesado que sua execução pública foi totalmente proibida. Nele, o artista performático, Bob Flanagam aparece se despindo e prende a si próprio numa máquina de torturas que perfura, corta, dilacera seu corpo enquanto seu rosto vai mesclando sensações de dor e prazer. E não é mais ou menos esta a ideia do disco? "Broken" é um misto de deleite musical com uma constante estupefação pela intensidade sonora. Ao mesmo tempo que fica evidente toda a criatividade, técnica e qualidade de Trent Reznor, ele faz questão de nos 'incomodar' com sua estrondosa barulheira.
Nine Inch Nails: Happiness In Slavery (Uncensored) (1992) from Nine Inch Nails on Vimeo.
Depois de "Happyness..." ter deixado quase que apenas destroços, ainda sobra alguma coisa pra "Gave Up" vir com um ritmo alucinado bem hardcore para encerrar a obra.
Não?
Ôpa!
Surpresa! O CD ainda corre silenciosamente até a faixa 98 para nos apresentar mais duas faixas: "Physical", cover interessante de Adam Ant, bem cadenciada mas com bom peso; e "Suck", versão bem eletrônica com levada bem quebrada para a música do Pig Face, banda do excelente batarista Martin Atkins, ex- PIL, que a propósito, empresta sua qualidade, fúria e técnica à excelente "Wish" e à acelerada "Gave Up".
A linguagem de "Broken" daria rumo ao, também, ótimo trabalho posterior, "The Downward Spiral", que é assunto pra outra hora, mas por si só, este EP representa um dos marcos do gênero industrial, um dos divisores de águas da estilo e um dos melhores discos dos anos 90.
Pela evolução sonora da proposta do próprio Nine Inch Nails e pelo resultado alcançado até mesmo no âmbito geral da categoria metal-industrial na qual é importantíssimo, "Broken", mesmo sendo um EP não podia ficar de fora aqui dos Álbuns Fundamentais.
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FAIXAS:
1."Pinion" – 1:02
2."Wish" – 3:46
3."Last" – 4:44
4."Help Me I Am in Hell" – 1:56
5."Happiness in Slavery" – 5:21
6."Gave Up" – 4:08
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98."Physical" (Adam Ant) – 5:29 *
99."Suck" (Martin Atkins, Paul Barker, Trent Reznor, Bill Rieflin) – 5:07 *
todas as músicas compostas por Trent Reznor, exceto as indicadas
todas as músicas tocadas integralmente por Trent Reznor, exceto faixas 2 e 6 com bateria de Martin Atkins e Cris Vrenna
*não estão listadas na relação original do EP
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Ouça:
Nine Inch Nails Broken
Cly Reis
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