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terça-feira, 15 de março de 2016

cotidianas #424 - As Páginas Íntimas



Que bunda!
Que bunda incrível! Que bunda absurda!
Aquela bunda era o planeta Terra, era o universo, era o tudo.
Ai, quando ela virava de bruços na cama eu chegava a pensar que dava pra escrever um livro naquela bunda. Um dia pensei em pedir mesmo pra ela. Primeiro ela faria cara de espanto, depois de ofendida, curiosa perguntaria do que o livro trataria, eu lhe contaria que era sobre um cara que a vida inteira tinha procurado a mulher ideal e um dia a encontrava. A mulher perfeita, a mulher definitiva, a mulher da sua vida que além de boa, carinhosa, cheirosa, tinha a melhor bunda que ele já vira. Uma bunda monumental, uma bunda divina. Daria pra escrever um livro naquela bunda, era o que pensava sempre que a via. E a coisa toda ia, o livro seguia e biriri bororó, até que um dia ele perguntava a ela se ela deixaria. O que? Que  escrevesse o livro. Onde? Na sua bunda. Tu tá louco? Primeiro ela faria cara de brava, depois de surpresa, depois de ofendida, aí disfarçadamente interessada perguntaria do que a história falaria, ele contava, quase convencida ainda faria um cu doce mas, envaidecida, permitiria.
Aí eu me estirava todo pro criado-mudo, ela ria do meu alongamento de gato, eu abria a gaveta, pegava a caneta e começava:
"Que bunda!
Que bunda incrível, que bunda absurda!"



Cly Reis

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