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quinta-feira, 11 de maio de 2017

cotidianas #509 - Pílula Surrealista #17





Ele vinha se sentindo enjoado fazia umas duas semanas. Não tinha o que fizesse passar aquilo, fosse remédio, chá, comida. O que não vomitava, fazia-o enjoar mais ainda. Não ocorreu a ninguém, entretanto, o óbvio: estava grávido. Apenas 19 semanas bastaram para que desse a luz a uma linda batedeira elétrica, desses marca-diabo que não duram mais do que umas poucas usadas. No nascimento, entretanto, o rebento não chorou nem emitiu som algum ao sair lá de dentro – aliás, como se exige dos pequenos hoje desde cedo. Mudez total. A cena, esta sim, foi bonita, como a de todo acontecimento que trazem à luz uma nova vida. Ele com o filho ao colo, próximo do rosto, respirações próximas uma da outra, estabelecendo a ligação eterna que dali se depreende. De parto normal, o homem ainda recuperava-se do esgaçamento da uretra, por onde o eletrodoméstico saiu meio enviesado. Normal. Coisa da natureza. É sabido que a pior das dores é a dor do parto.



Daniel Rodrigues

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