A doce e franzina Isabela vivia de encher balões. Balões.
Muitos deles. Centenas, milhares de balões enchidos todos os dias por seus
frágeis e castigados pulmões. Fazia vento até não mais poder.
Não pode, de fato. Aos poucos, de tanto enchê-los, os
balões, seus pulmões enfraqueceram. Esvaziaram-se de ar, o qual faltou a Isabela
não só para o cumprimento de sua lida e sina, mas também para o respiro.
Perdera o fôlego, a graça. Perdeu a vida a pobre Isabela.
Dizem, no linguajar
vulgar, que “perder a vida” significa morrer.
Mas não foi bem isso que aconteceu com Isabela. Atenciosos,
os anjos sopradores deixaram de lado por alguns instantes as suas trombetas
para lhe ajudarem a encher balões. Dois foram suficientes: amarrados aos braços
de Isabela, ela, pluma, foi sendo suspensa devagarzinho, numa viagem ascendente
e sem lágrimas.
Chegando lá, os amigos alados tiram-lhe os infláveis e a
acomodaram numa fofa nuvem branca, quando pode Isabela descansar, enfim. Ela
ouviu um familiar fado, e descobriu, então, que tocam fado no céu. Sob aquele
som agradável, sua visão enxergou os balões distanciarem-se sem explodirem,
solenes como numa legítima despedida.
para Izabella
Daniel Rodrigues
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