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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

cotidianas #583 - Pílulas Surrealistas #29



A doce e franzina Isabela vivia de encher balões. Balões. Muitos deles. Centenas, milhares de balões enchidos todos os dias por seus frágeis e castigados pulmões. Fazia vento até não mais poder.

Não pode, de fato. Aos poucos, de tanto enchê-los, os balões, seus pulmões enfraqueceram. Esvaziaram-se de ar, o qual faltou a Isabela não só para o cumprimento de sua lida e sina, mas também para o respiro. Perdera o fôlego, a graça. Perdeu a vida a pobre Isabela. 

Dizem, no linguajar vulgar, que “perder a vida” significa morrer.


Mas não foi bem isso que aconteceu com Isabela. Atenciosos, os anjos sopradores deixaram de lado por alguns instantes as suas trombetas para lhe ajudarem a encher balões. Dois foram suficientes: amarrados aos braços de Isabela, ela, pluma, foi sendo suspensa devagarzinho, numa viagem ascendente e sem lágrimas. 

Chegando lá, os amigos alados tiram-lhe os infláveis e a acomodaram numa fofa nuvem branca, quando pode Isabela descansar, enfim. Ela ouviu um familiar fado, e descobriu, então, que tocam fado no céu. Sob aquele som agradável, sua visão enxergou os balões distanciarem-se sem explodirem, solenes como numa legítima despedida.

para Izabella

Daniel Rodrigues

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