Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Clássico é Clássico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Clássico é Clássico. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de março de 2019

"Carrie, A Estranha", de Brian De Palma (1976) vs. "Carrie, A Estranha", de Kimberly Peirce (2013)



Um olhar feminino sobre questões como adolescência, sexualidade, relação mãe e filha talvez justificasse o fato da diretora Kimberly Peirce tentar refilmar o cultuado "Carrie, a estranha", dirigido originalmente por Brian de Palma, a partir da obra de Stephen King, porém, como nenhum destes aspectos levantados tem relevância suficiente na nova versão, o filme da diretora norte-americana torna-se completamente dispensável. E olha que nem vou me dar o trabalho de falar inexpressiva da refilmagem de 2002 ou da infame "sequência de 1999.
Mais interessado em provocar sustos, jorrar sangue e exibir efeitos visuais, o remake na ânsia de rejuvenescer o contexto acaba tornando-se apenas mais um terror tem cheio de clichês. Se essa atualização tem alguma vantagem em relação ao antigo é no que diz respeito à difusão da imagem da pobre Carrie em redes sociais por meio dos celulares. Esse, sim, considero uma bola dentro da nova versão, amplificando o alcance da exposição e agravando ainda mais a humilhação sofrida pela garota. De resto, a refilmagem erra em uma série de escolhas e não apresenta, no fim das contas, quase nenhum mérito.
Do outro lado temos a versão original, de 1976, na qual a condução de Brian de Palma, que sabendo exatamente o que quer de cada cena, cada segmento, cada enquadramento, lhes dá tratamentos diferenciados de acordo com a tensão que pretende imprimir. Desde quebras de ritmo e inversões de expectativa como na cena inicial em que um momento de ternura entre adolescentes, filmado em câmera lenta e emoldurado por uma música suave, é interrompido pela surpresa de um misterioso sangue, numa espécie de recriação da cena do chuveiro de Hitchcock mas desta vez com o sangue do florescer da puberdade de uma menina. Ou quando da escolha do casal Carrie e Tommy como reis do baile, quando a cena, sob uma trilha triunfante, toda conduzida em câmera lenta, como se a protagonista quisesse que aquele momento durasse para sempre, tem quebrado seu encanto com a queda do balde de sangue sobre a nossa protagonista, desencadeando todos os acontecimentos trágicos do baile. Sequência esta, por sinal, na qual se dá o maior show da direção de De Palma no filme, com a manifestação dos poderes da garota sob uma edição alucinante, divisões de tela que deixam o espectador aturdido, closes rápidos, aceleração de movimentos, variações de iluminação que ajudam a induzir as sensações do público e toda uma maestria na execução que fazem está cena uma das grandes passagens da história do cinema.

cena da fúria de Carrie (1976)

Além de tudo isso, a escolha da protagonista, no mais recente, a bonita e graciosa Chlöe Grace Moretz, "normal" demais, do ponto de vista físico, parece-me pouco apropriada, ao passo que o antigo contava com a esmilinguida Sissi Spacek, um verdadeiro bichinho-da-goiaba que chegava a dar pena só de ver, muito mais pertinente à situação de bullying que, no atual, praticamente só pode se apegar à condição religiosa da garota, uma vez que, no mais, ela não difere muito das outras. Julianne Moore até se sai bem como a mãe fanática religiosa na nova versão, mas nada consegue superar aquela interpretação, em alguns momentos quase obscena, de Piper Laurie no original. Se na original, Sue, a garota arrependida do bullying com Carrie, a que pede para que o namorado leve a esquisita à festa, é discreta e adequada ao papel (Amy Irving), no remake é uma Barbie chamativa e destalentosa; enquanto o garotão, Tony Ross que até está simpático no novo, mas é tão insignificante que durante boa parte do filme a gente fica procurando por ele, no velho filme é marcante na figura de William Katt, praticamente um rock star (lembra Robert Plant em seu melhor momento), um anjo loiro, tão impressionante e imponente que não teria como não olhar para ele e não saber que aquele rapaz é "o cara" da escola. E a nossa vilã? O que dizer dela? Ai, a garota que implica mais incisivamente com a nossa heroína é simplesmente sofrível!!! Uma atriz inexpressiva que abusa das caras e bocas com clichês de atuação constrangedores, que não dá nem para comparar com a clássica atriz de Brian De Palma, Nancy Allen, que, embora também um tanto teatral demais, serve perfeitamente dentro do tipo de proposta dramática das cenas do diretor.
O original faz quatro ao natural. Aquele jogo que até poderia ter sido mais, mas o time grande tira o pé porque não tem mais o que provar. Um, por que tem mais recurso técnico, time bom que toca quando tem que tocar e parte pra cima na hora que tem quer definir a jogada (ou seja, conduz com sabedoria as cenas de drama, dá o ritmo certo o tempo todo e deixa o espectador sem respirar nas cenas de terror). Dois, pela escalação. Um time muito mais bem escolhido com o jogador certo em cada posição (a mãe, impecável; a vilã, perfeita; o galã, muito adequado e a 'matadora', não poderia ter sido melhor escolha), enquanto o adversário além de escalar jogadores fracos, colocou alguns fora da função onde poderiam render mais. Três, pelo pequeno plano-sequência que sai da mesa do casal, denuncia a troca dos votos, passa por baixo da escada, acompanha a corda do balde, chega até ele em cima do palco e reencontra frontalmente Tommy e Carrie na mesa prestes a se consagrarem rei e rainha do baile. Golaço! E mais um pela cena final. Lenta, "despretensiosa"... Quando parece que não vai acontecer mais nada, dá um cagaço no espectador mais despreparado. Foi o caso comigo. O timezinho remake até faz um por conta da boa inserção dos celulares e mídias sociais na história, mas fica por aí mesmo. Saiu barato!

À esquerda a Carrie de Brian De Palma e à direita, a de Kimberly Peirce.

Sissy Spacek, a Carrie, de Brian de Palma, literalmente, incendeia a torcida
e dá um banho de água fria nas pretensões do filme de Kimberly Peirce de se igualar ao original. 
Um verdadeiro baile! 





Cly Reis

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

"O Vingador do Futuro", de Paul Verhoeven (1990) vs. "O Vingador do Futuro", de Len Wiseman (2012)



Paul Verhoeven pode não ser dos diretores mais elegantes no que diz respeito à sua obra, com algumas coisas bem toscas e sua tradicional violência exacerbada, mas não há como negar que, entre erros e acertos, o diretor holandês já colocou alguns de seus filmes na galeria de clássicos do cinema como é o caso do icônico "Robocop", do polêmico "Instinto Selvagem" e do frenético "O Vingador do Futuro", eletrizante ficção científica de ação que, encorajada por sua dinâmica e potencial, ganhou há alguns anos atrás uma nova versão cinematográfica. O problema principal do remake de "O Vingador do Futuro", de 2012, é que ele tenta se levar a sério demais. Quer tomar um viés político, social, até ecológico. O instigante argumento, baseado no conto de Philip K. Dick ("Blade Runner" e "Minority Report"), é mais bem aproveitado na versão original que é muito mais descontraída que a última, sem chegar a cair exatamente na comédia. A leveza, mesmo entre tiros, explosões e naquele momento o recorde de mortos em filmes de ação, se deve em grande parte à figura do carismático Arnold Shwarzenegger que, mesmo com suas inegáveis limitações de atuação, mesclava como poucos, especialmente naquele momento da cerreira, a capacidade de encarnar o brutamontes durão ao mesmo tempo que fazia o bobão cômico. Já no novo, a estrela principal é Colin Farrell, de quem já não gosto muito mas que, independentemente da minha opinião pessoal, não há como negar que não chega perto do carisma de Shwarzenegger. Ele até se esforça, faz lá uma gracinha que outra mas, notoriamente, está concentrado em sua missão, está compenetrado, está preocupado e isso torna seu personagem chato e distante.
Douglas Quaid (Shwarzie no original e Farrel no remake) é um operário de mineração que, cansado de sua vidinha rotineira é seduzido por um anúncio da empresa Rekall que promete implantes de memória que serão como férias realmente vividas em sua vida com a opção de incrementar a aventura e assumir outra identidade, outra atividade. Quaid escolhe ser agente secreto mas no momento do implante de memória algo dá errado (ou parece dar) e nos é revelado que aquele cliente já tinha um implante anterior e que não seria quem achava que era. Com a diferença que o primeiro Quaid queria férias em Marte e o segundo na União da Bretanha, o centro urbano e administrativo de um planeta Terra semidestruído por uma guerra química, a ação se desenrola em ambos, desenfreadamente, a partir do momento que Quaid sai da Recall. Tudo é muito parecido mas no de 1990 tudo é mais charmoso e cativante, até mesmo os defeitos como, por exemplo, os cenários de Venusville, a zona do meretrício de Marte, bem primários mas... o que seria de "O Vingador do Futuro" sem eles?
A refilmagem tem a vantagem do avanço dos recursos tecnológicos mas os efeitos visuais do original não ficam devendo em nada mantendo-se até hoje como referência no quesito. A cabeça-bomba da "mulher das duas semanas" e o raio-X no terminal de passageiros, os rostos inchando até os olhos quase saltarem das órbitas quando Quaid e Melina ficam expostos à atmosfera de Marte, a própria reprodução da superfície do planeta baseada em imagens obtidas pelas sondas da NASA são impactos visuais que não serão esquecidos facilmente.

"O Vingador do Futuro" (1990)
cena do disfarce no terminal de passageiros em Marte 

"O Vingador do Futuro' (2012)
cena do disfarce no terminal de passageiros da UFB
(referência à cena do original)

Além disso tem os personagens periféricos, muito mais cativantes, cada um a seu modo na versão primeira: Lori, a esposa, está muito melhor na pele de Sharon Stone do que da "soldadona" Kate Beckinsale, embora a disputa seja acirrada no quesito beleza; Melina, a agente do original (Rachel Ticotin) é muito mais simpática do que a do remake, Jessica Biel, feminina e carinhosa quando é pra ser mas durona na medida certa, e até por isso, mais carismática; Cohaagen na nova versão é quase um ninja, enfrentando no braço, de igual para igual o agente Houser (Quaid) numa das cenas decisivas do novo filme, ao passo que no anterior era somente, e muito apropriadamente, só mais um empresário bundinha bem filha-da-puta.
E tinha o Benny do táxi que tinha sete filhos pra criar; tinha o capanga, o cara que explode a cabeça de outro no "Scanners" do Cronenberg (Michael Ironside), e que sempre fazia bons vilões; e tinha o Kuato que ficava na barriga de um cara nos subterrâneos de Marte... e na refilmagem sequer tem um Kuato! Onde já se viu? O remake até faz algumas referências ao velho como à gorda na estação de embarque, à mutante de três seios, mas soam tão jocosas que, se foram homenagem, soaram mais como um injustificável escárnio.
"O Vingador do Futuro" 1990, de Paul Verhoeven ganha com facilidade. Não goleia, mas faz aquele 2x0 clássico, sem esforço. Tem melhores jogadores, melhor técnico e mais conjunto. O filme de Len Wiseman até é esforçado, tem suas qualidades, joga alguma bola, é verdade, mas, me desculpe..., Clássico é Clássico!

O momento em que as memórias são implantadas em Quaid, na Recall, em cada uma das versões.
Ambas os filmes deixam a dúvida se tudo o que acontece a partir dali foi real ou não.

Num jogo corrido, Paul Verhoeven confirma que no mata-mata, ele é o cara e não tem pra ninguém.



quinta-feira, 22 de novembro de 2018

"Ben-Hur", William Wyler (1959) vs. "Ben-Hur", de Timur Bekmambetov (2016)


O que que alguém tem em mente quando resolve refilmar um dos maiores clássicos de todos os tempos? A não ser que você seja um Kubrick, um Kurosawa, um Scorsese, e pretenda lançar uma nova visão sobre o original, nenhuma razão justifica. Fazer melhor?... É uma pretensão descabida e constrangedora. Melhorar tecnicamente?... O filme é consagrado, aclamado, multipremiado e o cara acha que um efeitinho aqui, outro ali, uma maquiagem, vão fazer diferença? Ganhar muito dinheiro? A mera ousadia de mexer com um clássico já gera desconfiança do público e, geralmente a conferida, a ida ao cinema, só confirma o fracasso da empreitada, o que faz com que, nas críticas, nos comentários e no boca-a-boca ele não seja recomendado e portanto torne-se, na maioria das vezes, um grande prejuízo financeiro. Fazer uma homenagem?... Não com uma versãozinha que não amarra as chuteiras do clássico, quando a melhor homenagem seria ficar sentado no sofá de casa assistindo e reverenciando aquela obra-prima. Então, me diz: por que diabos um infeliz resolve refilmar "Ben-Hur"?
Cara, que contribuição o cidadão acha que tem a dar ao filme que até pouco tempo atrás era o maior ganhador do Oscar? Ele acha que pode melhorar alguma coisa? Pode ter recordes de bilheteria? Não! Não! Mil vezes não!
A versão atual tenta ser mais dinâmica, mais enxuta do que as mais de três horas da antiga, o que não se justifica porque, por outro lado, fica se demorando em situações dispensáveis, cujo tempo poderia estar sendo utilizado num melhor desenvolvimento. A opção por um encurtamento, além de tudo, modifica pontos interessantes da história original, como, por exemplo, a "adoção" de Judah Ben-Hur pelo romano que é salvo por ele nas nas galés no original, que é excluída em detrimento de um "avanço da fita" até o ponto onde nosso herói conhece o mercador (Morgan Freeman) que lhe proporciona enfrentar o irmão adotivo Messala na corrida de bigas. Cena que, justiça seja feita, é muito caprichada, muito bem executada, ganhando uma importância crucial no novo filme, mas que, a rigor, não devia ter sido tentada pois, por mais bem feita que tenha sido, sempre que se for lembrar da cena de bigas de "Ben-Hur", pode ter certeza que a que virá à mente de qualquer um será a épica de 1959. Mas aí reside um ponto interessante: o filme não é um horror, não é péssimo, terrível! Tem seus defeitos mas tem suas virtudes. A cena da corrida é boa, a das galés é impactante, a ordenação da história e a hierarquia de fatos proposta pelo diretor é até interessante... Só que deveria usar tudo isso para fazer outro filme e não refilmar um dos maiores filmes da história. Na comparação é como o Íbis ajeitadinho, com um bom esquema tático, se meter a enfrentar o Barcelona.

trailer "Ben-Hur" (1959)


trailer "Ben-Hur" (2016)




Pois então, já que falamos em futebol, vamos à bola rolando que é o que interessa. Só pela ousadia, por ter se metido de pato a ganso, o "Ben-Hur" do glorioso Timur Bekmambetov já sai tomando 1x0.
Pelas atuações dolorosas de seus protagonistas, especialmente do personagem principal, Jack Huston, neto de John Huston, que deve ter causado um alvoroço no cemitério fazendo com que o avô, William Wyler e Charlton Heston (mesmo sem ser brilhante) dessem voltas nos seus respectivos túmulos com sua performance, e pelo não menos terrível Messala leva 2x0.
Pela relação da mãe ( Ayelet Zurer) com o adotado romano, vai o terceiro gol, e pela fragilidade e má construção das relações no filme, de um modo geral, vai buscar mais uma na rede.
Por ter se metido a besta de tentar reproduzir a incrível cena dos remadores nas galés, mesmo o fazendo com alguma qualidade, toma outro no contra-ataque: 5x0; e pela opção pela exclusão do resgate do cônsul romano na batalha marítima que recupera a nobreza de Ben-Hur, leva outro pra deixar de ser besta. Não perca as contas: 6x0.
Por modificar elementos expressivos do clássico de 1959 como o acidente com o novo governador, chegando à judeia, que leva à prisão de Ben-Hur; a situação da mãe e irmã leprosas; a transferência do Circo Romano, onde ocorrem as corridas, de Roma para uma "filial" em Jerusalém; a ausência das quilhas metálicas nas rodas da biga de Messala, na prova; e a falta de colhões de manter aquela conotaçãozinha homossexual entre Ben-Hur e Messala que o antigo, mesmo em sua época, teve a ousadia de sugerir, vai buscar mais uma no barbante. Estamos em quanto? Sete, né?
O original marca mais um pela trilha sonora marcante de Miklós Rósza e outro pelo deslumbre visual e suntuosidade. É um massacre: 9x0.
William Wyler contra o esforçado Timur Bekmambetov vale mais um pra conta do original e; como não poderia deixar de ser, pela cena da corrida de bigas, um das mais marcantes, eletrizantes, emocionantes, incríveis da história do cinema, guarda mais um. 11x0.
Mas e as virtudes do remake que eu apontei, não valem nada? Meros chutes a gol, sem perigo nenhum. Aquelas que o goleiro olha e só acompanha pela linha de fundo e o narrador chama o slogan da emissora: "Globo e você, tudo a ver", ou "Bandeirantes, o canal do esporte", ou "SporTV, o canal campeão"..., ou qualquer coisa do tipo.

O de 2016 até é esforçado mas, me desculpe:
Clássico é clássico.
Resultado final:
O antigo abre 11 corpos de vantagem sobre o novo na corrida de bigas, alcança o retardatário e pisoteia o cocheiro do adversário na curva final.
Um gol para cada Oscar na prateleira. 






Cly Reis

sábado, 11 de agosto de 2018

"Despertar dos Mortos", de George A. Romero (1978) vs. "Madrugada dos Mortos", de Zack Snyder (2004)




Despertar dos Mortos (1978)
dirigido por: George A. Romero

Um filme que vence a barreira do tempo e se torna icônico, “Despertar do Mortos” é uma obra completa que serviu e serve de inspiração para o “gênero de zumbis” até os dias de hoje. Obrigado, George Romero!
Os mortos estão retornando à vida e atacando os vivos. Quatro sobreviventes do ataque escondem-se em um shopping abandonado e planejam contra-atacar. No entanto, milhares de mortos-vivos descobrem o esconderijo e iniciam um novo massacre, contaminando outros sobreviventes que retornam como zumbis e somam-se ao exército de abomináveis criaturas.
Devo afirmar que é um filme bem longo, com mais de duas horas de duração, e seu ritmo é um tanto parado, o que recomenda que não se espere ver muitas cenas de ação. Elas até existem, há algumas, é verdade, mas não é toda aquela ação tipo tiro, porrada e bomba.
Apesar do roteiro não ser uma grande obra, a narrativa do filme é uma delicia, divertida e ao mesmo tempo tensa, fazendo-nos, até mesmo, ficar realmente preocupado com o grupo de sobreviventes. Por trás da mascara de “apenas um filme de zumbis”, "Despertar dos Mortos" traz toda uma critica social ao consumismo, levando zumbis a um shopping, e mesmo algumas referências a racismo. Contudo, se você não quiser levar em consideração esses aspectos do filme, tudo bem, a escolha é sua, mas deixar isso passar fará você perder boa parte da graça da obra.
Tudo que temos do gênero de zumbi na cultura pop devemos a esta obra. Ela foi o carro chefe, um marco na temática. Tudo funciona: as atuações, a narrativa, e a maquiagem, quando necessário, se faz presente de maneira espetacular. Miolos, tiros e muita diversão, “Despertar do Mortos” marcou seu lugar na historia.

"Despertar dos Mortos" - trailer


"Madrugada dos Mortos" (2004)
dirigido por: Zack Snyder

Sabe quando a pessoa passa um tempo fora e volta diferente? Você vê a essência dela, a reconhece mas percebe que ela esta diferente...? Um diferente positivo. É isso que “Madrugada dos Mortos” faz com os filmes dos zumbis.
Após mais um dia de trabalho, tudo que Ana quer é tomar um banho ao lado do marido e dormir. Mas nas primeiras horas da manhã ela é violentamente atacada por uma legião de mortos-vivos e se descobre em um pesadelo real: o mundo inteiro está tomado por zumbis. Em fuga desesperada, Ana se une a um pequeno grupo de sobreviventes que se refugiam num shopping center enquanto o mundo lá fora se transforma literalmente no inferno.
Esse remake de Zack Snyder, não tem ênfase na questão da critica social e aposta muito mais na ação. “Madrugada dos Mortos” é muito mais um filme de ação do que uma obra de terror. Sua ação é frenética, o ritmo é ótimo, há excelentes tomadas aéreas e temos ótimas sequências de tiros em zumbis, que, a propósito, graficamente são lindas também.
O filme de Snyder é muito bem dirigido conseguindo trabalhar com êxito com um grupo de sobreviventes bem maior do que no original, o que torna a parte as relações entre eles mais impessoal e garante uma maior possibilidades de interações. O fato de termos pouquíssimo, quase nada, do background da maioria dos personagens é ótimo, uma vez que assim criarmos teorias e expectativas sobre cada um deles, o que acaba sendo bom, pois há casos em que imaginamos que algum deles poderia agir de determinada maneira mas então aquele personagem toma uma atitude totalmente o contrária do que esperávamos, criando uma quebra de expectativas bastante interessante.
"Madrugada dos Mortos" não chega a ser uma obra espetacular mas conseguiu dar um ar revigorado aos zumbis. Pode não ter o mesmo peso que sua versão original mas ajudou, em sua época, a redefinir os filmes do gênero. Uma ação frenética e uma câmera ágil tornam a experiência de assistir a esse filme uma coisa deliciosa. Corra e vá assistir esse filme, mas corra mesmo porque os zumbis aqui são muito rápidos.

"Madrugada dos Mortos" - trailer

ROLA A BOLA
Começa o jogo! Esse realmente é um mata mata. Dois times que jogam pra frente, gostam de jogar bonito, ousar, mas também mordem na hora de marcar.
"Madrugada dos Mortos" é muito rápido, seu inicio de partida é frenético e, olha lá... dribla um, dois, passa pelo posto de gasolina, desvia do helicóptero pegando fogo, E GOOOLAÇO.  "Madrugada dos Mortos" 1 x 0.
O forte elenco e toda aquela ação fazem os fãs do futebol moderno torcerem muito para a “A Madrugda dos Mortos”  e seu futebol veloz, e impulsionado pela torcida, o time de Zack Snyder vai para cima. Bola na trave !Com zumbis ágeis como esses não podemos negar que é um futebol bonito e objetivo. Lá vem mais uma explosão e quase mais um gol.
A partida vai transcorrendo com pressão de “Madrugada dos Mortos”. Mas seu jogo frenético cansa no final e é ai que “Despertar dos Mortos” dá o pulo do gato.  Seu jogo inovador que fez escola, com diálogos certeiros como se fossem uma bela tabela na frente da grande área, a força do conjunto que joga regular e uniformemente o tempo todo, o elenco jogando bem e acalmando o jogo nos momentos chave com humor na medida certa... De repente, Bum! GOOOOOL. "Despertar Dos Mortos" empata o jogo. 1 x 1.
Acho que desta vez teremos um empate pelo equilíbrio das duas equipes e pelo bom futebol desempenhado por ambos. Seria o mais justo. Mas, futebol não é justiça. Tem horas que a camisa pesa, toda a história de um time lhe dá forças para no final da partida usar a mística de suas cores e, não foi diferente aqui. George Romero deu inicio a esta onda pop de zumbis e esta originalidade é seu grande diferencial e sempre vai ser....  GOOOOL de "Despertar do Mortos". 2 x 1.

"Queremos vocês"! A fúria zumbi, à esquerda na versão original de Romero,
e à direita na competente refilmagem de Snyder.

Uma bela partida! Cada um no seu estilo, ambos fantásticos e divertidos, porém a originalidade do primeiro, do mestre Romero, me conquistou.





Vagner Rodrigues

sábado, 14 de julho de 2018

"O Estranho Que Nós Amamos", de Don Siegel (1971) vs. "O Estranho Que Nós Amamos", de Sofia Copolla (2017)


É interessante, nos dias de hoje, uma obra cuja refilmagem, atual, seja mais "comportada" do que uma versão original antiga. Limitada por todo o comportamento e padrões morais de sua época, "O Estranho que nós amamos" de Don Siegel, de 1971, é muito mais contundente que a morna versão de Sofia Copolla, de 2017. A sensação que passa é a de que, propondo-se a filmar a novela de Thomas Cullinan, de 1966, e rever o clássico dos anos '70, a diretora encontrou-se diante de algo que não tinha muito a acrescentar e assim, acabou optando pela sutileza. Só que essa pretensa simplicidade acaba, em sua obra, traduzindo-se quase como pobreza diante da imponente filmagem de Don Siegel, que curiosamente não era dado a esse tipo de drama mas que foi extremamente bem-sucedido em sua incursão.
Ambos saem do mesmo ponto de partida: durante a guerra civil americana, em algum lugar no estado do Mississipi, no sul dos Estados Unidos, um soldado yankee, John McBurney, é encontrado por uma menina em um bosque e é levado ao internato do qual ela faz parte, com outras cinco garotas, uma professora e a diretora. Todas se mostram um tanto receosas em acolher um inimigo mas, de certa forma atraídas pelo sujeito, entendem que devem socorrê-lo e não entregá-lo aos regimentos locais até que se recupere de seus ferimentos. No entanto, nesse meio tempo, de convalescênça, os sentimentos das mulheres da casa vão se manifestando de maneiras diferentes em relação ao estranho e, acho que é aí que as leituras dos diretores se diferenciam.
Enquanto o original toca, de maneira direta, em temas como sexualidade, pedofilia, religião, racismo e feminismo, o último restringe-se quase que a um exame comportamental das mulheres do internato e a uma investigação de suas sensações e impressões pessoais acerca de um "corpo estranho" dentro daquele ambiente exclusivamente feminino, escondendo-se atrás de uma suposta "sutileza" para assegurar suas qualidades. Se o filme de Siegel não se furta a colocar seu personagem, Clint Eastwood, como um grande filho-da-puta, Sofia Copolla, por incrível que pareça, alivia o sujeito, quase fazendo-o uma vítima e por pouco não levando-nos mesmo a ter pena dele, condicionado, seduzido, submetido por aquelas perversas mulheres. Sim, o filme da garota Copolla parece um pequeno filme de terror em que um conciliábulo de bruxas dominam uma pobre vítima que tem o azar de ir par ali. Já o surpreendentemente ousado filme de Siegel, traz mulheres que não se intimidam mesmo diante de um canalha que está pronto para mentir para elas, comer quantas conseguir, se estabelecer, tomar o que puder e, em último caso, se nada der certo, sair com alguma vantagem. Qual é o mais feminista?
O filme de Sofia Copolla é bom! Não se engane. Minhas impressões não pretendem desvalorizá-lo. "O Estranho que Nós Amamos" de 2017 ganhou o  prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 2018 e isso não é pouca coisa. O problema é que o outro, o antigo, é muito melhor.

trailer "O Estranho Que Nós Amamos" (1971)



trailer "O Estranho Que Nós Amamos" (2017)

A abordagem é muito melhor (1x0). As interpretações são melhores (2x0). Clint Eastwood por Colin Farrel... (3x0). As intensidades das cenas chave são, no geral, muito mais impactantes (4x0). A fotografia é um muito superior, um show O que dizer da entrada do soldado na casa carregado pelas garotas? De McBurney observando a garota pelas venezianas? E tem a queda da escada, McBurney sendo levado para fora no final (ih, foi spoiler?) (5x0... já virou goleada!). Mas a favor do filme atual pesa que não é um filme ruim, muito longe disso e tem, sim, sues méritos e suas qualidades. Nicole Kidmann, embora não superior à ótima Geraldine Page no papel da diretora Martha, está muito bem  e isso conta a favor do filme. Além de, é claro, o prêmio em Cannes, que não é pra qualquer um e dá mais um golzinho na conta do filme de Sofia Copolla. Assim, o placar de 5x3 fica de bom tamanho e traduz melhor o que foi o jogo entre estas duas boas equipes.
A cena do jantar, momento crucial em ambas as versões.

Nós até gostamos do estranho da Sofia, mas o estranho que nós amamos mesmo é Clint Eastwood.



Cly Reis

sábado, 30 de junho de 2018

"Oldboy", de Park Chan-Wook (2003) vs. "Oldboy, Dias de Vingança", de Spike Lee (2013)



Tipo da refilmagem que... pra que? Pra dar características mais ocidentais, pra redimensionar o protagonista, pra fazer muito dinheiro? Pode ser, embora ache que não tenha alcançado sucesso em nenhum dos objetivos. Mas só pode ter sido algo assim, porque se era pra fazer melhorar, fracassaram estrondosamente. 'Oldboy", filme coreano de Park Chan-wok, de 2003, sensação no festival de Cannes do ano seguinte quando venceu o prêmio de Grande Prêmio do Júri, é uma daquelas pequenas novas obras de arte do cinema. Ainda que tenha alguns problemas de amarração, uma certa confusão na primeira parte, o longa não deixa de ser intrigante e sedutor em momento algum. O drama de um homem, Dae-Su, aprisionado misteriosamente por quinze anos tomando conhecimento lá, de dentro de seu cativeiro, que sua esposa fora assassinada e que ele, incrivelmente, é acusado do crime, e que sua filha, que tinha três anos quando fora preso, está viva, aproxima-nos do protagonista e faz com que nos solidarizemos com ele. Mas os mistérios vão se abrindo, se descortinando e começa a vir à tona que Dae-Su teria cometido um ato muito grave. Mas o que teria sido tão sério para tamanha vingança? Não vou revelar porque para quem não assistiu, seria um spoiler imperdoável, mas o fato é que Park Chan-wok nos mantém envolvidos e interessados o tempo inteiro com uma direção ágil, dinâmica, cheia de ousadias, sacadas de edição e uma fotografia notável, muito próxima à linguagem de quadrinhos que, a propósito é a inspiração de "Oldboy", originado de um mangá japonês.
Aí, dez anos depois, aparece uma refilmagem pelas mãos de Spike Lee e a gente pensa que ele vai fazer a coisa certa mas, não, pelo contrário, não só ele não dá nenhuma contribuição, como consegue piorar tudo. Diante de uma obra praticamente irretocável, Lee, possivelmente na intenção de dotar sua versão de alguma originalidade e autoralidade, faz algumas escolhas bem discutíveis. Nada que comprometesse a trama em si, que permanece basicamente a mesma, mas mexe com alguns elementos que, se não eram chave, faziam parte de todo um charme da história original. Novamente sem dar spoiler, mas a forma como seu protagonista, no caso Joe Ducett (Josh Brolin), conhece a garota; o personagem central do motivo de sua punição, a reação de Joe quando descobre a verdade; a mudança do final; todas são, opções de roteiro,e por consequência de direção, no meu ponto de vista, extremamente equivocadas e que só contribuíram para desvalorizar a mal-sucedida tentativa norte-americana de refilmar este novo clássico do cinema.

Cena da luta - Oldboy (2003)



Cena da Luta - Oldboy, Dias de Vingança (2013)

Diretor por diretor, embora não conheça a fundo a obra do coreano, Spike Lee tem uma filmografia  mais badalada com alguns títulos de indiscutível importância no cinema moderno, mas aqui, no seu Oldboy, parece aquele técnico que pensou mal o jogo, entrou com um esquema estapafúrdio e, não deu três minutos, já saiu tomando gol. E aí, amigo, com um adversário cheio de graça, cheio de molecagens, não deu mais pra buscar.
Oldboy 2013 leva outro pelo fato de tomar a liberdade de fazer as pequenas alterações mencionadas anteriormente; outro por conta da fotografia do original que com seus quadros estáticos, parecendo quadrinhos, causam uma sensação, ao mesmo tempo de admiração e inquietação no espectador; toma mais um na comparação da famosa cena da luta, um plano sequência de tirar o fôlego que, na refilmagem parece artificial, excessivamente americana, diante da naturalidade, da maestria, da técnica, da gana com a qual é feita na coreana. Já tá 4x0!
Oldboy de Spike Lee parece não entender o que está se passando em campo e leva outro só por causa daquele vilão inexpressivo e excessivamente afetado vivido por Sharlto Copley. Nesse caso, não que original fosse muito melhor, mas é que o da segunda versão é inqualificável.
Completamente perdido em campo, o novo Oldboy leva mais um pelo fato de ter mexido com um elemento, que se não era fundamental, era muito significativo no final e que quem viu o filme sabe do que se trata, mas que eu corto a língua de quem revelar. E no finalzinho, o bom diretor norte-americano numa jornada infeliz, ainda vai buscar mais uma no fundo da rede por ter se metido de pato a ganso em tentar refazer, imitar, superar, igualar a pequena joia de Park Chan-wook. A violência gráfica com cenas chocantes, explícitas, ainda que não representem ganho em relação ao original, garantem, no entanto, um golzinho de honra, uma vez que caracteriza um diferencial válido na refilmagem. Mas ficamos por aí... Parecia um pesadelo. Parecia a Alemanha em 2014. Um estrondoso 7x1 do Velho Oldboy sobre o Novo. Muito justo o placar. Um banho de bola... ou melhor, de cinema.
Dae-su e Ducett, em busca de vingança com martelo em punho.


Park Chan-wook, técnico dos Garotos de 2003, apesar da esmagadora vitória é expulso pelo juiz da partida por sair da área técnica e reclamar demais da arbitragem.
Fala demais, fala demais...





Cly Reis

sexta-feira, 15 de junho de 2018

"Scarface, a Vergonha de uma Nação", de Howard Hawks (1932) vs. "Scarface", de Brian De Palma (1983)



"Scarface, A vergonha de uma nação" (1932), sem sombra de dúvidas é além de um clássico filme de gangsters, uma forte critica social para época. Na Chicago dos anos 20, um gângster Tony Camonte (Paul Muni) mata um rival do seu chefe e rapidamente ganha destaque dentro da quadrilha. Tony espera o momento exato para assassinar seu chefe e se tornar o novo líder do bando, mas o fato de sua irmã  Cesca Camonte (Ann Dvorak), por quem ele sente uma paixão incestuosa, estar envolvida com seu homem de confiança Guino Rinaldo (George Raft) o deixa totalmente abalado.
Um acerto na narrativa é a forma como ele envolve a imprensa, mostrando o trabalho da redação em apurações das noticias dos crimes e destacando suas manchetes, evidenciando o medo da sociedade da época com a “guerra de Gangues”. Outro momento fantástico é a relação que filme faz do letreiro que fica na frente da janela da casa de Tony, com a personalidade e objetivos do criminoso.
Muito bem filmado, com atuações bem a destacadas e uma violência fora do comum para época, o filme se torna grandioso mesmo que em alguns momentos sua narrativa fique repetitiva e tenha saltos temporais que deixam o espectador um tanto perdido. O longa ganha muita força em sua maneira crua e cruel de construir o personagem e assim acompanhamos boa parte da ascensão de Tony em sua busca por conquistar o mundo.
"Scarface" de 1983 consegue ser tão real e tão violento quanto sua primeira versão. Meu Deus, um filme completo! Década de 80. Centenas de imigrantes cubanos aportam na costa da Flórida durante uma breve abertura da ilha por Fidel Castro, em uma manobra para se livrar do excesso de presos nas cadeias cubanas. Em meio à massa de miseráveis, chega Tony Montana (Al Pacino), bandido de pouco nome e muita marra, disposto a conquistar o mundo do tráfico.
Essa versão definitivamente é um clássico. A direção, figurinos, atuações, tudo está perfeito. Brian De Palma tem um ótimo controle de cena, ótimas escolhas de ângulos, trabalha maravilhosamente sua narrativa nos colocando ao lado de Tony. O tempo todo acompanhamos a vida do nosso herói...ops...vilão, em todos o detalhes.
Scarface(1983) e mais uma obra bem crua e extremamente violenta, não só visual mas também em diálogos e criticas sociais. Uma obra de arte, uma inspiração para todo um gênero de filmes futuros. É difícil descrever esse filme sem ficar o elogiando efusivamente. Por mais longo que o filme seja, com suas quase três horas de filme, ele não cansa pois a narrativa é tão boa que você só quer ver as conseqüências de cada passo de Tony.
Um dos momentos grandiosos do filme, que mostra bem quem é o personagem, com todo o talento assombroso do diretor, é, logo no inicio, quando Tony, vai roubar a cocaína de um grupo de colombianos e um plano seqüência espetacular, mostra toda a frieza e como nada vai abalar nem impedir Tony de ir atrás de seus objetivos. Essa cena “vende” o filme, além é claro, da seqüência final que dispensa apresentações e comentários, sendo uma das mais famosas do cinema.

Cena final - "Scarface" (1983)

Mas então vamos ao jogo: apita o arbitro, mexe na bola. Scarface de 1932 começa vindo para o ataque com tudo dando vários disparos ao gol. Essa seqüência de tiros à meta do adversário resulta em um belo gol logo no inicio. (1932) 1 X 0 (1983).
Recomeça a partida. Tony Montana tabela com seus amigos ao sair da cadeia, entram cena e na área com tudo. Ali eles são mortais, partida empatada. (1932) 1 X 1 (1983).
Tony Camonte mostra sua cara, começa e conquistar mais e mais poder e confiança e assim é GOOOL. Tony Montana, não fica para trás, roubando a bola e tudo que vê pela frente, e GOOOOOL. Howard Hawks da show de comando, mostrando classe e leva seu comandados a fazer mais um gol. De Palma, mostra total controle com seu elenco também. Apesar de violento, nos momentos que ele coloca a bola no chão, aí vira futebol-arte, lindo de se ver. (1932) 3 x 3 (1983).
Então jogo o termina empatado 3 x 3 e vamos a prorrogação. Scarface de 1983, mostra toda sua energia, sobra fôlego, vem com força nessa parte final. Seu roteiro mais recheado, um elenco de apoio que cresce, como no caso de Mary Elizabeth Mastrantonio como Gina Montana, que sai jogando e tabelando no final, para que o astro principal que mostra todo seu brilho nos últimos minutos, disparando loucamente em direção ao gol, faça mais dois tentos naquele final simplesmente espetacular. (1932) 3 x 5 (1983).
"O mundo é seu".
O final de 1932 e o de 1983.


Não foi uma partida fácil. Jogo equilibrado, bem jogado, mas ao mesmo tempo violento e disputado. Tivemos expulsões, brigas, duas equipes malandras, em alguns momentos até desleais, porém o jogo terminou,  mesmo com tudo isso. Quem viu, tenho certeza que não vai esquecer o espetáculo proporcionado por Scarface (1932) e Scarface (1983).
Uma aula de Futebol... digo... de Cinema.



Vagner Rodrigues

quinta-feira, 10 de maio de 2018

"A Pequena Loja dos Horrores", de Charles B. Griffith, Mel Welles e Roger Corman (1960) vs. "A Pequena Loja dos Horrores", de Frank Oz (1986)



Na maioria das vezes um remake costuma deixar a desejar comparado à sua obra original mas, na minha humilde opinião, não é o que acontece com “A Pequena Loja dos Horrores”, que teve sua primeira versão em 1960 e sua refilmagem, mais dançante e marcante em 1986. A primeira versão é do fabuloso Roger Corman, que a filmou em apenas dois dias (o que, a bem da verdade, pode-se notar ao longo do filme), e a segunda, do mestre dos bonecos, Frank Oz.
O filme de 1960, filmado em um tempo curtíssimo como já falei, trazia na sua maioria atores desconhecidos na época. A trama gira em torna da floricultura do senhor Mushnik (Mel Welles) onde trabalha Seymour (Jonathan Haze), um desastrado admirador e cultivador de plantas. Ao ser demitido, Seymour pede uma chance de mostrar sua planta nova chamada  Audrey Jr., uma homenagem a mulher que por quem é apaixonado (Jackie Joseph) e que também trabalha na loja. A planta faz muito sucesso até o momento em que para de crescer e descobrimos que ela se alimenta de sangue humano para se desenvolver. Então o filme segue essa trama de Seymour indo atrás de alimento para sua planta que, por sinal, vive pedindo comida. E, sim, ela fala!
É tudo muito simples no longa. Os efeitos, e principalmente os cenários, até pelo fato de praticamente só existir um, uma vez que 90 % do filme se passa dentro da floricultura, o que acaba tornando o filme monótono e um pouco repetitivo em alguns momentos. Mas o filme ganha por sua criatividade e bom humor. O longa de 1960 é bem engraçado com um humor quase inocente, o que particularmente, me agrada muito. Mas "A Pequena Loja dos Horrores" também tem cenas de terror que, por sinal funcionam muito bem. Uma delas que merece ser mencionada, apesar do efeito tosco, é a da revelação dos botões das flores da planta logo após a perseguição (veja no final do vídeo abaixo).



O resultado final é filme bem inventivo com atuações até bastante boas mesmo sendo um tanto caricatas, excetuando o monstro/planta, que, este sim, não tem carisma nenhum. Não é uma obra prima mas cumpre sua função de entreter e contar uma historia de monstro diferente e divertida.
Vamos agora à versão de “A Pequena Loja dos Horrores” de 1986: seu roteiro é basicamente o mesmo do filme de 1960 com algumas mudanças que, a propósito, são bem vindas. Audrey (Ellen Greene) namora um dentista que é extremamente violento, e a planta é muito mais falante e, a principal mudança, esta segunda versão é um MUSICAL.
O roteiro é meio bagunçado, mas o fato de ser um musical e as músicas serem ótimas, tornam essa  versão dinâmica e mais fácil de se envolver com os personagens, que ainda são muito caricatos porém muito mais simpáticos. O longa abraça totalmente a comédia o que já podemos constatar pelo elenco, já podemos ver isso. Temos Rick Moranis  no papel de Seymour, Steve Martin como o dentista maluco (kkk) e o time conta ainda com as participações especiais de John Candy e Bill Murray.
Tecnicamente os efeitos são bem melhores que os do original de 1960, até por se tratar de um filme de Frank Oz que garante que o boneco da planta funcione sempre perfeitamente. Um dos grandes destaques é a parte a musical com temas e números realmente fabulosos! Além disso, o carisma de Audrey II, faz o vilão tornar-se sadicamente simpático. Quanto ao desfecho, que fique registrado que o final deste longa é "algo"... e não digo mais nada.
Vamos ao confronto: bola rolando é o que importa. O inicio de partida é bem equilibrado, duas equipes parecidas com a proposta de jogar pra frente. Mas a alegria do filme de 1986, o futebol moleque, cantando e encantado sai na frente, jogando por música. 1 x 0 para 1986.
Jogo segue meio morno agora. A tensão, a pressão, o terror na área, faz com que o original de 1960 ganhe espaço. Uma equipe letal com seu ar de terror. "A Loja..." de Corman empata quase no final, GOOOL 1960, 1 X 1.
O jogo vai se encaminhando para o empate mas o elenco de 1986 mostra que tem mais força para aguentar. Embora 1960 tenha uma promessa no seu time, 86 tem a realidade. Só craques que fazem belas tabelas envolventes. Numa delas, a bola sobra para Audrey II, que finta o goleiro e toca fraco, com requintes de crueldade. Esse jogador é de outro planeta! "A Pequena Loja..." marca. GOOOOOL!!! 2 x 1 para 1986.
À esquerda, a misteriosa e faminta Audrey Jr. e ao lado a simpatia e a alegria de Audrey II.

Final de jogo, um bom jogo, equilibrado, mas vence o futebol alegre!





por Vagner Rodrigues

domingo, 29 de abril de 2018

"A Morte do Demônio", de Sam Raimi (1981) vs. "A Morte do Demônio", de Fede Alvarez (2013)



A refilmagem de "Evil Dead - A Morte do Demônio", de 2013, é um daqueles exemplos clássicos de que nem sempre o fato de ter um bom orçamento garante um grande filme. Quando se fala em "filme de fundo de quintal", pode-se pensar quase literalmente no longa de Sam Raimi, que se não foi num quintal foi num sítio caindo aos pedaços. Problema? Não! Sam Raimi fez de sua limitação um de seus trunfos e a choupana escangalhada serviu como cenário sinistro para uma história simples, banal, clichê mas que tornou-se um grande clássico do cinema das últimas décadas. Para quem não conhece a história, um grupo de amigos vai passar um fim de semana numa cabana nas montanhas, em um lugar isolado no meio de uma floresta. Lá descobrem, no porão, um livro que, uma vez recitadas suas passagens, desperta demônios lá adormecidos.
Mesmo as atuações caricatas do elenco, formado basicamente por amigos do diretor; o tom cômico; e os efeitos especiais muitas vezes toscos, não desvalorizam em nada o trabalho de Raimi e, por incrível que pareça, não deixam o filme menos assustador. Talvez parte do problema de sua refilmagem tenha sido exatamente o fato de se levar muito a sério. A própria opção por uma protagonista feminina já indica uma pretensão além do entretenimento que, neste caso, não fazia muito sentido nem representava um ganho efetivo. Atitude? Demonstração de coragem? Prova de que mulheres também podem enfrentar grandes ameaças?... Tudo isso é válido e importante, ainda mais numa indústria tão machista como a do cinema, mas me parece que não era a hora nem o lugar. Se bem que mesmo que fosse um homem no papel seria difícil superar a performance do carismático Bruce Campbell, (que por sinal faz uma aparição na nova versão) que, por pior que fosse como ator, com seus trejeitos, exageros e caretas, tem uma daquelas atuações tão marcantes que eternizam um personagem.
Na tentativa de dar mais dramaticidade a algumas situações do original, o remake do diretor Fede Alvarez torna-se enfadonho e arrastado como é o caso da leitura do Livro dos Mortos, cheia de enrolação e pequenos desdobramentos paralelos. A própria cena do estupro da árvore, um clássico do cinema, ainda que tenha um ganho técnico e seja, a bem da verdade, mais soturna, não consegue superar em impacto a antiga. Aquele movimento de câmera, veloz, quase rasteiro, por entre as árvores da floresta, que virou meio que uma assinatura de Sam Raimi, é reproduzida por Fede Alvarez mas me parece também mal utilizada ou no mínimo uma mera cópia, a essas alturas, bem menos impressionante do que quando foi feita pela primeira vez.

Cena do estupro da árvore - 1981



Cena do estupro da árvore - 2013

Embora tenha a benção de Sam Raimi, que produz o longa, "A Morte do Demônio" (2013) não chega aos pés do original. Nem um roteiro mais elaborado, nem melhores atores, nem melhores recursos técnicos, nada disso foi o suficiente para desbancar um filme despretensioso mas claramente feito com gana. Coisa de quem sabia muito de cinema, tinha boas ideias, só não tinha muita grana na época, mas deu um jeito nisso com muita criatividade e paixão pelo cinema.
Há versões de que na verdade, o novo filme não seria uma refilmagem e sim uma continuação, o que só pioraria sua situação considerando a quantidade de situações iguais à do antigo, tornando, aí sim, um grande pastiche sem nenhum valor.
Mais uma vez, o CLÁSSICO é o CLÁSSICO, já o vice-versa, com certeza, aqui, não se aplica.
O demônio no porão nas duas versões, à direita o de 2013,
bastante assustador, para ser bem justo.


Evil Dead '81 não perdoa e corta todos os membros da nova versão com uma motosserra, ao melhor estilo de Ash, seu protagonista.
Vitória fácil.
Evil Dead '2013 até consegue seu golzinho de honra por conta do clima sombrio e pela parte técnica mas o placar final fica nisso...,
(dois braços e duas pernas amputados contra uma mutilação)



  
Cly Reis

quinta-feira, 12 de abril de 2018

"Psicose", de Alfred Hitchcok (1960) vs "Psicose", de Gus Van Saint (1998)



Para estrear o nosso quadro Clássico É Clássico (e vice-versa), como não poderia deixar de ser trazemos um grande clássico do cinema. Aqui, conforme anunciamos, uma produção de sucesso, consagrada, um filme marcante da história do cinema, é colocado frente a frente com sua refilmagem e, entrando no clima da Copa, como se fosse uma partida de futebol, avaliaremos quem sairá vencedor desse embate cinematográfico.
O primeiro filme a enfrentar seu remake é nada mais nada menos que "Psicose", filme originalmente dirigido por Alfred Hitchcock, em 1960, e que ganhou uma nova versão pelas mãos do diretor Gus Van Saint em 1998.
"Psicose" de Alfred Hitchcock é uma daquelas coisas magistrais do cinema! Um filme que começa como um policial, chega a sugerir algo sobrenatural e revela-se como um filme de serial-killer, tudo sem deixar cair a tensão em momento algum. Uma obra de arte que só por seu tamanho e grandeza não deveria permitir a ousadia de alguém tentar refilmá-lo. Pois bem: talvez percebendo isso mas ao mesmo tempo tentado pela admiração pela obra de Hitchcock, o norte-americano Gus Van Saint resolveu encarar o desafio mas provavelmente vendo-se incapaz de melhorá-la em qualquer quesito, talvez numa tentativa de homenagem, resolveu simplesmente imitá-la. Sim, a versão de 1998 é meramente uma cópia. Uma reprodução quadro a quadro, cena a cena, literalmente, sem qualquer originalidade. Pra não dizer que não tem diferença, tem a cor, que é um decréscimo considerável em relação à fascinante fotografia (propositalmente) em preto e branco de Hitchcock e, ah, tem umas imagens aleatórias entre um assassinato e outro mas que não representam nada de considerável no todo. E aí, entre o original genial, brilhante e arrebatador, e uma cópia deslavada sem nenhum mérito artístico, não tem como não ficar com a primeira.
A "versão" de Gus Van Saint não tem nenhum ganho. Nada! Anne Heche, apesar de insossa, ainda se vira bem como a ambiciosa Marion que rouba o dinheiro da empresa e vai se hospedar no sinistro Bates Motel; Julianne Morre como a personagem que vai no rastro da irmã investigar seu desaparecimento também dá conta do recado; William H. Macy até tem algum destaque como o detetive; mas o inexpressivo Vince Vaughn diante do perturbador Anthony Perkins como Norman, não sei se é de rir ou de chorar. Mas aí o espectador curioso fica com aquela expectativa pra ver a cena do chuveiro. Talvez seja legal... Nossa! É lamentável. Como eu disse, é a mesma cena, é uma cópia, mas é outra coisa! E para piorar, a opção pelo colorido acaba com grande parte da magia e do terror que Hitchcock soube extrair tão bem do monocromático.
Filme por filme, um é como se fosse um quadro pintado pincelada a pincelada enquanto o outro é uma cópia xérox que depois foi pintada com hidrocor. Psicose antigo 1x0.
A propósito de colorir, a fotografia em preto e branco é mais um gol para o Psicose preto e branco. 2x0.
Quanto aos atores, só para ficar no principal, Anthony Perkins simplesmente tem uma das atuações mais marcantes do cinema tendo forjado um dos personagens mais emblemáticos de todos os tempos enquanto o constrangedor Vince Vaughn é exagerado, pouquíssimo convincente e nada sutil. "Psicose" clássico , 3x0.
Roteiro? O roteiro é o mesmo, só que o diretor da refilmagem não tira nenhuma vantagem disso nem consegue imprimir qualquer valor novo a ele. Mais um gol pro velho Psicose. 4x0!
Elementos técnicos como montagem, som, luz, novos recursos e tecnologias, mesmo 38 anos depois da primeira versão não ajudam em nada a tornar a obra de Gus Van Saint melhor, por isso, nestes itens ele apenas não perde, mas também não ganha.
Quanto ao diretor, basta dizer que original é de Alfred Hitchcock e o outro de um diretor que sequer ousou mudar uma cena numa refilmagem. Bom, né... 5x0 pro Psicose do Hitch e um banho de bola.
 O "Psicose" clássico é um CLÁSSICO mas o mesmo não vale para o inofensivo remake de Gus Van Saint que, como diria Norman Bates, não seria capaz de fazer mal a uma mosca.
O Norman de Perkins com sua expressão naturalmente ameaçadora e o de Vaughn claramente forçado.
Um remake que nunca devia ter acontecido.


Hitchcock dá cinco punhaladas em Gus Van Saint e o original vence a cópia com facilidade.








Cly Reis


domingo, 8 de abril de 2018

Clássico é Clássico (e vice-versa)


Um clássico é um clássico e a gente tem que respeitar. Mas será que o remake do clássico merece a mesma reverência? Neste momento pré-Copa do Mundo, o Claquete, a seção de cinema do ClyBlog, colocará frente a frente grandes filmes com suas respectivas refilmagens e, como se fosse uma partida de futebol, descobrirá qual dos dois é melhor. Um verdadeiro duelo. Um jogão. Um dérbi. Um clássico! Itália x Alemanha, Inglaterra x França, Alemanha x Argentina, Brasil x Alemanha, Brasil x Argentina? Nada disso se compara a enfrentar seu maior rival: o seu igual. Sabemos que um clássico é um clássico mas será que o inverso se aplica à sua releituras? É o que descobriremos na nova seção que estará em cartaz até o final Copa do Mundo da Rússia, Clássico é Clássico (e vice-versa). A bola está rolando e o rolo está girando.


C.R.