Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Ride. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ride. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de outubro de 2023

Ride - "Nowhere" (1990)

 




"...encontramos uma foto 
[a onda da capa do álbum]. 
Na minha cabeça, 
sabíamos o clima que estávamos buscando
 – que era essa coisa de escapismo, 
meio do nada
 – e tínhamos essa imagem 
para basear essa ideia."
Andy Bell, guitarrista


A expressão cult, às vezes meio vulgarizada, atribuída a qualquer obra ou artista de valor duvidoso, ou a elementos excessivamente populares para se destacarem como algo diferenciado, tem em uma de suas origens a definição de algo que tem, sim, determinado valor reconhecível, embora, evidentemente, não seja o melhor de sua categoria. Costumo classificar para mim alguns itens como cult, de forma muito pessoal e independente da avaliação geral ou da unanimidade dos entendidos. É o meu cult! Por ser subestimado, por ser underground, por ser maldito, pela raridade, enfim, pelo meu critério de reverência.
É o caso do álbum "Nowhere", do Ride. Embora para muitos ele seja o clássico absoluto da banda inglesa, um dos ícones da cena britânica do início dos anos 90, para mim "Nowhere" é o álbum cult. Tenho por sua obra maior, mais completa, seu sucessor, o excelente "Going Blank Again", de 1992, um trabalho, na minha opinião, mais maduro, mais bem lapidado, mais aperfeiçoado tecnicamente, no entanto, além de entender toda a idolatria dos fãs pelo disco de estreia, tenho por ele um enorme respeito e carinho. Em parte é isso: "Nowhere" ainda é meio tosco, meio cru, muito raiz, mas está  ali uma banda vigorosa, pura, cheia de coração. "Seagull" que abre o disco é  exatamente isso: é energia pura, numa linha de baixo alucinante com uma tempestade de guitarras e uma linha vocal celestial.

" 'Seagull' pode ser visto como a música tema do álbum, na medida em que tem a imagem do oceano, e é uma espécie de declaração de intenções com uma letra forte – parece a primeira faixa de um álbum. Além disso, faz referência a "Revolver", dos Beatles, que abre com "Taxman"Gaivota tem a mesma linha de baixo, então parecia que havia algumas coisas apontando para ela como a abertura."
Andy Bell

Mas o ímpeto não se resume à abertura e pode ser encontrada também em "Kaleidoscope" e "Decay",
Há também aquelas que são doces, adoráveis, e no entanto, não menos cruas, como "In a Different Place" e sua encantadora melodia, "Polar Bear", com sua guitarra suja e sua batida estrondosa, e "Drums Burn Boom", que equilibra leveza e beleza com peso e barulho. A versão original do álbum,  em LP, se encerrava com a delicada "Vapour Trail", embora a versão em CD ainda trouxesse mais três faixas, "Taste", com toda sua energia psicodélica, a boa "Here and Now", e a música que batiza o álbum, "Nowhere", soturna e misteriosa, como um mergulho num pântano.

"Esta tornou-se uma das nossas favoritas, mas naquele momento era apenas mais uma melodia. "Vapour Trail" parecia apenas uma música simples de quatro acordes. Não foi preciso muito esforço para gravar – foi uma sorte incrível que tenha ficado tão boa quanto ficou. Agora eu ouço as músicas e concordo que "Vapour Trail" saiu um dos melhores."
Andy Bell


Mas o ponto alto, que une precisamente essa pureza sonora, com leveza e intensidade, é a espetacular "Paralyzed". Sua sonoridade oca, suas guitarras hipnóticas, o vocal arrastado, seguem lentamente, numa batida seca, marcada, fazendo com que o ouvinte seja absorvido num inevitável transe mágico. A parada, a pausa no meio da música, retornando com a batida marcada e sons de vozes de uma multidão ao fundo é, simplesmente de arrepiar!

"Durante os tumultos eleitorais, estávamos gravando em Oxford Street, em Londres. Abrimos a janela do estúdio quando estávamos fazendo a linha de piano, e havia uma multidão se rebelando do lado de fora. Parecia tão bom, e nos lembrou de uma música dos Smiths, então decidimos usar aquilo em "Paralyzed". Você tem que estar aberto a esses acidentes afortunados, a esse processo orgânico, porque ele agrega. Tornou-se outra coisa no estúdio porque a segunda metade da música virou esse trecho atmosférico de bateria, baixo e piano que não teria feito parte de nenhuma demo caseira - e nós sequer teríamos ensaiado."
Andy Bell

Imagino que para a maioria dos fãs  e críticos seja exatamente o contrário: "Nowhere" seja o melhor disco do Ride e "Going Blank Again" mereça, se tanto, algum respeito. Mas até essa possível divergência reforça a condição de "Nowhere" dentro da minha concepção: é o preferido de muitos mas para mim, embora não seja o número um, é, indubitavelmente, um grande disco. Enfim, para bem ou para o mal, é um disco cult.

*********************

FAIXAS:
1 Seagull (6:10)
2 Kaleidoscope (3:02)
3 In A Different Place (5:29)
4 Polar Bear (4:46)
5 Dreams Burn Down (6:06)
6 Decay (3:36)
7 Paralysed (5:34)
8 Vapour Trail (4:18)
9 Taste (3:17)
10 Here And Now (4:27)
11 Nowhere (5:23)

***************
Ouça:
Ride - "Nowhere"




por Cly Reis

sábado, 18 de outubro de 2014

Ride - "Going Blank Again" (1992)





"As pessoas estavam muito apaixonadas pela forma como fazíamos as coisas no início,

mas o fato que tudo é que tinha mudado bastante durante esse processo,
assim como as próprias pessoas.
Acho que “Goin Blank Again” refletiu isso.
Acho que para um monte de gente foi um certo choque.
Talvez eles esperassem algo mais obscuro ao estilo de “Nowhere”. 
Mark Gardener
vocalista e guitarrista




" 'Going Blank Again' estava à frente de seu tempo para as pessoas que queriam grunge e shoegaze.
Ou ele não associava-se claramente com um movimento especial na música na época,

ou simplesmente não havia um movimento na música naquele momento,
o que é a verdade. Aconteceu por conta própria. "

Loz Colbert,
baterista


Muita gente prefere o cultuado “Nowhere”, álbum de estreia dos ingleses do Ride, mas, particularmente, tenho um carinho todo especial e uma grande admiração pelo ótimo “Going Blank Again” de 1989. Embora seu antecessor seja inegavelmente bom, um clássico do shoegaze britânico, “Going Blank Again” soa mais radiante, mais luminoso, mais aberto.

Um órgão ecoando, uma virada de bateria, uma linha de baixo sinuosa e as guitarras rasgando estridentes apresentam a maravilhosa “Leave Them All Behind”. O vocal em coro de Andy Bell e Mark Gardener se encarrega de dar toda uma monumentalidade à canção, enquanto os solos psicodélicos, os rolos e as pratadas constantes conferem um gostoso ar de jam session à faixa de abertura que, de cara, já se apresenta como uma das grandes do álbum.

Provavelmente pelo efeito extasiante da faixa inicial, as seguintes “Twisterella” e “Not Fazed” e “Chrome Waves” podem dar a falsa impressão de serem menos interessantes, mas assim que o ouvinte se recupera da sensação estonteante da abertura e depois de algumas audições um pouco mais atentas a impressão facilmente é rechaçada, especialmente em relação a “Not Fazed”, faixa elétrica, cheia de energia, conduzida por um riff cativante. Mas se mesmo com uma observação mais cuidadosa, de alguma forma o sentimento persistir, com certeza será desfeito logo em seguida pela empolgante “Mousetrap”, uma adorável canção delineada por uma belíssima melodia vocal em coro da dupla Bell e Gardener; e pela espetacular “Cool Your Boots”, outra que justifica a grandeza do álbum, com uma inspirada linha de guitarras ruidosas e rascantes, incrementada por pedais wah-wah, mas cujo ponto alto, no entanto, se dá no seu trecho final quando a bateria alterna o ritmo cadenciado da canção com breves acelerações ao estilo punk, culmina num final apoteótico.

A simpática “Making Judy Smile” é uma daquelas canções de transição como todo grande disco tem, fazendo uma espécie de ponte para o segmento final quando outros dois grandes momentos se afiguram: as espetaculares “Time Machine”, e “OX4”. A primeira, surgindo com uma introdução de teclado viajante, algo meio “espacial”, seguido por uma linha de baixo dub, que quebrada por uma marcação no aro da bateria, irrompe agora sim, em um baixão com distorção, contrapondo com guitarras que desta vez aparecem puras e limpas, acompanhadas por uma programação de teclado contínua que pontua com magia e levez toda a canção. E se a difícil tarefa de finalizar bem um álbum de qualidade como “Going Blank Again” ficaria a cargo de “OX4” ela não decepciona e o faz de forma perfeita numa das canções mais belas e inspiradas do disco. Com uma introdução de teclados bem psicodélica, uma levada apaixonante e outra linha de baixo muito envolvente, a faixa conta com um trabalho de guitarras excepcional, dobrando e soando como bandolins em alguns momentos assumindo assim um certo tom de grandiosidade e, por fim, desfazendo-se num belíssimo solo de guitarra que some silenciando aos poucos, já deixando vontade de ouvir de novo.

À parte qualquer questão pessoal por ser “Going Blank Again” um dos meus xodós, ele não entra nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS por uma questão meramente pessoal. Ride é um dos grandes representantes do rock inglês produzido no final dos anos 80 e o álbum um dos melhores exemplares do britpop, deixando um pouco de lado o ranço de alguns de seus colegas e compatriotas, e jogando um pouco de luz na obscura cena musical britânica daquele momento.
************************************************

FAIXAS:
1. Leave Them All Behind (Ride, Gardener) 8:18
2. Twisterella (Ride, Gardener) 3:43
3. Not Fazed (Ride, Bell) 4:25
4. Chrome Waves (Ride, Bell) 3:55
5. Mouse Trap (Ride, Gardener) 5:15
6. Time Of Her Time (Ride, Bell) 3:17
7. Cool Your Boots (Ride, Bell) 6:04
8. Making Jody Smile (Ride, Bell) 2:39
9. Time Machine (Ride, Gardener) 5:55
10. OX4 (Ride, Gardener) 7:04

**********************************
Ouça:
Ride Going Blank Again


Cly Reis