Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Television. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Television. Mostrar todas as postagens

sábado, 13 de julho de 2019

"CBGB, O Berço do Punk Rock", de Randall Miller (2013)




"Tem algo aí!
Eu consigo ver que tem algo."
Hilly Kristall quando percebia
algum talento em uma banda



No embalo do Dia Internacional do Rock, o Claquete do ClyBlog aproveita para relembrar e recomendar um dos filmes mais legais sobre este tal de roquenrou, estilo, gênero, ritmo que transcende as barreiras e limites da música configurando-se para muitos de nós uma parte indispensável de nossas vidas. "CBGB, O berço do punk rock", é um delicioso filme que lança seus holofotes sobre a trajetória de existência do pequeno bar localizado num bairro sujo e barra pesada, administrado pelo fracassado empresário Hilly Kristal, brilhantemente interpretado pelo falecido Alan Rickmann, um sujeito atrapalhado nos negócios, mas de imensa generosidade e coração, grande sensibilidade musical e, de certa forma, alguma visão musical. O lendário bar CBGB & OMFUG (Country, Bluegrass, and Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers), localizado no Bowery, no sul de Manhattan, que em princípio havia sido pensado por Hilly para tocar música country e assemelhados, acabou tomando outros rumos e veio abrir as portas para uma série de bandas, na época novas e sem muitas oportunidades, de se apresentarem e mostrarem seus trabalhos propiciando a elas aparecerem para o público, para imprensa e empresários, em meio à efervescência daquele cenário artístico que viria a se tornar o movimento punk.
Passando-se concomitantemente à criação da revista "Punk", um dos marcos do período que inspirou o nome do movimento cultural que se iniciava, o filme do diretor Randall Miller, imitando um formato fanzine, bem HQ, com quadrinhos, balões e onomatopeias, repassa com muita leveza e bom-humor as dificuldades e precariedade do lugar, os problemas familiares e financeiros de Hilly e, é claro, como não poderia deixar de ser, o surgimento de bandas que dali em diante viriam a ser grandes conhecidas nossas.
O pequeno palco iluminado apenas por uma lâmpada incandescente suspensa ali no meio, foi a primeira oportunidade de nomes como RamonesBlondieTelevisionTalking Heads e tantos outros.
Iggy Pop com o Blondie de Debbie Harry, no placo,
um dos momentos mais vibrantes de "CBGB".
Alguns capítulos pinçados pelo diretor para ilustrar apresentações destes artistas são dos mais significativos tanto na esfera musical quanto na percepção do que era, efetivamente, um lugar como aquele e acabam por serem hilários para o espectador. O choque elétrico de Tom Verlaine, do Television, por conta de um vazamento sobre o palco; Hilly dizendo para os Ramones que ninguém nunca iria gostar deles; o palco cedendo e o baterista do Blondie despencando dele; Patti Smith lendo seus poemas, xingando a galera e mandando o público calar a boca e ouvir; uma fã, à beira do palco, fazendo sexo oral com chantilly em Stiv Bators do Dead Boys, todas situações verídicas que só reforçam a aura mítica do CBGB e que foram retratadas de maneira muito bonita e quase reverencial pelo diretor.
Um filme indispensável para quem curte o punk e toda a cena que o moldou, mas acima de tudo para quem curte rock e gosta de música de um modo geral, pois o filme fala, acima de tudo, do poder da música e de como ela tem um poder transformador inigualável. É capaz de transformar um lugar, transformar ideias, conceitos, pessoas, vidas. "CBGB" mais do que um filme sobre um lugar, um empresário, sobre bandas, sobre anarquia, caos, rock, barulheira, é um filme sobre acreditar na música como força renovadora. Faça sua parte, sonhe, lance uma ideia, corra atrás e, como diz o próprio Hilly, no filme, "A música vai fazer todo o resto por nós". Não duvide disso.

trailer "CBGB, O Berço do Punk Rock"



Cly Reis




segunda-feira, 27 de junho de 2011

Television - "Marquee Moon" (1977)

"Eles são uma banda em um milhão;
as canções são algumas das maiores já feitas.
O álbum é 'Marquee Moon'".
Nick Kent,
do New Musical Express,
em 1977


“Que música é essa?”, eu me perguntava quando ouvia aquela coisa maravilhosa no rádio. Aquele riff introdutório com uma guitarra minimalista, repetida e hipnótica, seguida de uma segunda guitarra, em outro riff mínimo e igualmente repetido, que se entrecruzava e confundia-se com a primeira; e então as duas permitiam a entrada de um baixo que se por um lado dialogava com ambas, também ocupava seus espaços vazios; até a entrada uma bateria marcada, sem excessos nem arroubos que constituía enfim o corpo básico daquela canção espetacular. Mas era só o início: ela ia-se enrobustecendo, mudando, variando, trocando bases, invertendo solos, cada um mais lindo e impressionante que o outro com verdadeiros duelos de guitarras, e a bateria agora tinha arrebatamentos entusiásticos, e o contrabaixo irrompia em ímpetos emocionantes, até alcançar, depois de mais de 10 minutos, uma espécie de um ápice sonoro, um êxtase, uma redenção musical. Ouvia com muita freqüência no programa da radialista Kátia Suman, na Rádio Ipanema de Porto Alegre, ficava impressionado com aquilo, mas por algum azar nunca conseguia descobrir o nome da música – já tinha sido anunciada no início do bloco; naquele dia a programação da rádio estava no ‘automático’; ou mesmo, simplesmente, não fora anunciada - mas uma hora seria inevitável descobrir, como acabou acontecendo: aquela obra de arte chamava-se “Marquee Moon” e quem a tocava era uma banda chamada Television. A música fazia parte do disco igualmente entitulado “Marquee Moon” , de 1977, que tratei logo de ter, num primeiro momento em cassete, mas hoje tenho devidamente em CD, que traz alguns extras inclusive.
O Television, vim a saber mais adiante ainda, fora um dos precursores do punk, e ainda que a canção que tinha me encantado fosse enorme, toda trabalhada, com partes, entrepartes, solos longos e virtuosismo técnico, ela verdadeiramente já anunciava com seu minimalismo, seu ritmo, sua produção, que trazia no rastro novos tempos e uma nova sonoridade.
“See no Evil” uma das grandes do disco, é uma prova mais concreta disso com sua base minimalista, mas com uma pegada mais consistente, mais pesada e repetitiva; “Friction” vai numa linha parecida, com aquela pinta de punk porém transbordando de técnica por todos os lados; “Vênus” é quase uma sinfonia; “Elevation”, marcante pelo refrão, é o que se poderia chamar de uma música ‘limpa’ trabalhada minuciosamente em todos os detalhes, onde tudo aparece com impressionante clareza e transparência; “Guiding Light” é uma balada levinha e deliciosa; “Prove It” também é mais solta e tem uma levada gostosa de baixo; Torn Curtain” que fecha o disco é arrastada mas não cansativa, é mais melancólica que as demais mas sua condução lenta só faz com que se possa perceber com mais limpidez as virtudes musicais e a técnica dos instrumentistas.
Um dos discos mais importantes da história do rock por ter ao mesmo tempo introduzido o punk e de certa forma negar seus princípios básicos, como os de músicas curtas, composições burras e músicos que não soubessem tocar. Mas se não bastasse sua importância, influência, sua inovação, só pela canção que dá nome ao disco já valeria. Uma das coisas mais incríveis que já ouvi. Um dos meus discos prediletos.
**************************

FAIXAS:
1. "See No Evil" 3:53
2. "Venus" 3:51
3. "Friction" 4:44
4. "Marquee Moon" 10:40
5. "Elevation" 5:07
6. "Guiding Light" (Lloyd, Verlaine) 5:35
7. "Prove It" 5:02
8. "Torn Curtain" 6:56

bônus da reedição em CD
9. "Little Johnny Jewel (Parts 1 e 2)" 7:09
10. "See No Evil (versão alternativa)" 4:40
11. "Friction (versão alternativa)" 4:52
12. "Marquee Moon (versão alternativa)" 10:54
13. Untitled (instrumental)
***************
Ouça: