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sábado, 8 de julho de 2023

Frank Jorge & Naipe de Sopros - Bar do Alexandre - Porto Alegre/RS (30/06/2023)

 

“Rock 'n' roll: amor e morte”. Com este lema, emprestado do amigo e também roqueiro gaúcho Julio Reny, o carismático e catalisador Frank Jorge subiu não ao palco, mas à calçada do badalado Bar do Alexandre, em plena Rua Saldanha Marinho, no Menino Deus, quadras da minha casa. Tão perto é que, chegando a pé e uns minutos após o começo do show, fui recebido por Frank tocando “Se Você Pensa”, de Roberto e Erasmo, ao lado de Alexandre Birck, na bateria, e Régis Sam, baixo, além de um afiado naipe de sopros: Carlos Mallmann (trombone) Joca Ribeiro (trompete) e Gustavo Muller (sax tenor e barítono). Que luxo! Combinação simples, mas suficiente para o front man entregar um show cativante e de puro rock. No set-list, temas da carreira solo de Frank, hits da sua tão lendária quanto ele Graforréia Xilarmônica, uma das bandas fundadoras do rock gaúcho e clássicos nacionais, internacionais e regionais.

A convite do próprio Frank, pude presenciar uma apresentação digna da melhor Porto Alegre roqueira. O público que cantou com ele de cabo a rabo joias do seu repertório solo como “Pode Dizer Assim”, “Não Pense Agora”, “Sensores Unilaterais”, “Elvis” e “O Prendedor” até aquelas da Graforréia que não podem faltar: "Eu", "Twist", "Nunca Diga" e "Amigo Punk", esta milonga-rock que é mais do que uma música: é um dos hinos não-oficiais da Porto Alegre alternativa.

Frank e sua banda tocando o hino "Amigo Punk"

Mas teve também covers muito legais e coerentes com a pegada rock 50/60 que sempre caracterizaram a obra e a estética de Frank. Dos parceiros de rock gaúcho, além de "Amor e Morte", de Reny, teve "Lugar do Caralho", do ex-parceiro de Cascavelletes Júpiter Maçã (à época, anos 80, ainda Flávio Basso) e "Cachorro Louco", pedrada da própria Cascavelletes. Ainda menos vaidoso, ele tocou, sob um coro geral da galera, o hit "Núcleo-Base", dos paulistas do Ira!, ato, convenhamos, raro em artistas do Rio Grande do Sul, comumente bairristas.

Mas teve mais! Frank não poupou relíquias. Outra de RC, numa emocionante "Quando"; Beatles, "Nowhere Man", rock argentino e até Ramones. Porém, claro, nada do punk grosseiro, e sim, uma versão da sessentista "Rock 'n' Roll Radio". Nada mais condizente com Frank Jorge. O clima de celebração se completou ainda com o anúncio, horas antes, da inegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. O próprio Frank puxou mais de uma vez o coro: "Ele é inelegível!" em ritmo de "Seven Nation Army", tal as torcidas organizadas, porém dentro dos acordes de "Nunca Diga", de autoria do próprio Frank (que, diga-se, foi escrita bem antes do megasucesso da White Stripes).

Um começo de noite agradabilíssimo regado àquilo que hoje se reserva a pequenos redutos porto-alegrenses, que é a cena rock. Por algumas horas, o clima da antiga Osvaldo Aranha foi recuperado e se reproduziu ali, testemunhado pelo céu nublado da noite. Um momento de resistência, de celebração. Quase litúrgico. Frank, na 'seriedade", como diz a todo tempo, trata, de fato, rock como algo sério. Empunhando sua guitarra como um padre carrega um crucifixo, São Frank Jorge conduziu sua legião de séquitos em enlevo de oração. Coisa muito séria esse rock 'n' roll, hein? Assunto de amor é morte. Amém.

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Frank e banda mandando ver no bom e velho rock 'n' roll

Sendo recebido ao som da Jovem Guarda de Roberto e Erasmo


Rua e bar lotados para assistir Frank Jorge

Outro clássico do repertório "xilarmônico": Nunca Diga"

Daniel Rodrigues

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Rock HQ

 




Ramones - arte inspirada na canção "Pet Sematary"

Nirvana - arte inspirada na canção
"Francis Farmer Will Take Her Revenge on Seattle"

Guns 'n Roses - arte inspirada na canção
"Welcome to the Jungle", com menção 
à canção "Paradise City"


Queen - arte inspirada na canção 
"Who Wants to Live Forever" com
menção à canção "Killer Queen"

U2 - arte inspirada na canção "The Fly"

Jimi Hendrix - arte inspirada na canção "Fire".
com menção à canção "Foxy Lady"

David Bowie - arte inspirada nas canções
"Starman", "Blackstar" e "The Man Who Fell on Earth",
com menção à canção "Five Years"




Rock HQ
ilustrações digitais de Cly Reis


terça-feira, 3 de agosto de 2021

"Cowabunga! - The Surf Box" - Vários Artistas (1996)









"Cowabunga!"
Expressão de alegria, espanto, exaltação, 
que costumava ser usada entre surfistas




É culpa do Tarantino! Ele que foi o responsável por apresentar a grande parte do público, que não conhecia - e aí me incluo - algumas pérolas da surf music. A trilha sonora de seu clássico "Pulp Fiction", traz algumas dessas maravilhas, a começar pela eletrizante "Misirlou" que ficou, de certa forma, imortalizada pela inesquecível cena de abertura de seu cultuado filme. Quem viu aquela cena, quis saber imediatamente, o que era aquele som.
Despertado o interesse, pedi a um colega de faculdade, que me dissera ter uma coletânea bem vasta e ampla da surf music, que me emprestasse o material para que eu, ainda na época do K7, gravasse a minha fitinha. O que ele me levou foi uma caixa com 4 CD's e, logicamente, não deu pra gravar tudo em uma fita só, mesmo numa de 90 minutos. "Cowabunga! - The Surf Box" é a coletânea definitiva do som surf, passando a limpo a história, as características e os grandes nomes do estilo especialmente da época áurea, nos anos '60, mas também destacando releituras, revivals e novos nomes, das décadas seguintes, até a metade dos anos '90.
As que eu conhecera no filme de Tarantino estão lá, mas "Cowabunga!" passa longe de ser apenas o disco que tem as músicas do "Pulp Fiction". A coletânea reúne o que há de melhor e mais significativo produzido pela turma das ondas, numa época em que o esporte era associado ao rock'n roll e guitarras e não ao reggae, pela leseira do clima de praia, e a babas pop insossas de artistas como Jack Johnson.
Composta predominantemente por temas instrumentais, "Cowabunga!" traz em grande parte de suas faixas aquelas características guitarras nervosas, com aquele som tremulado cheio de reverberação, além de saxofones vibrantes e envenenados, nçao raro envolvidos por atmosferas latinas, árabes, indianas ou de qualquer outra sonoridade exótica. 
Tem muita coisa boa em mais de oitenta faixas, mas vão aí algumas das minhas preferidas: "Pintor", do The Pharos, num clima bem à espanhola; "Church Key", do The Revels, com aquelas graciosas risadinhas femininas; a alucinante "Bombora", dos Surfaris, de guitarra ecoante e bateria selvagem;  "Fiberglass Jungle", intensa com sua bateria tribal e sax hipnótico; "Disintegration", do The Ready Men, que brinca de se desintegrar e voltar o tempo todo, num crescente e decrescente de ritmo absolutamente envolvente; e ainda uma versão ao vivo de "Misirlou", de Dick Dale, com a Bob Fuller Four, com quase seis minutos de variações de guitarras enlouquecidas. Entre as que tem vocal, destaque para a versão original de "Surfin' Bird", do Trashmen, conhecida depois pela cover dos Ramones; a divertida "Beach Party", com a voz adorável de Anette Funiccelo; e, é claro, o clássico "Surfin' U.S.A.", dos Beach Boys, praticamente um hino da surf music.
O CD 4 é dedicado ao surf contemporâneo, por assim dizer, com o que melhor foi feito no gênero depois da década de ouro, nos anos '60. Pra falar a verdade, dessa seleção tem muita coisa dispensável, mas merecem uma conferida a pedrada "Storm Dancer", uma verdadeira tempestade sonora, quebrando tudo na bateria; a ótima "Save The Waves"; e a a alucinante, já com características bem do pós-punk, "Pier Pressure", do habilidoso guitarrista Teisco Del Rey.
Devo essa ao Tarantino que, além de nos presentear sempre com grandes filmes, volta e meia nos revela algumas preciosidades musicais e nos faz ir atrás, conhecer mais e querer ter na coleção. Valeu por mais essa, Tarantino.
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FAIXAS:

  • Disco 1 - "Ground Swells" (1960-1963)
1. Bulldogg - The Fireballs (02:11)
2. Moon Dawg! - The Gamblers (02:14)
3. Church Key - Barbara Adkins / The Revels (02:03)
4. Underwater - The Frogmen (02:07)
5. Mr. Moto - The Bel-Airs (02:09)
6. Let's Go Trippin' - Dick Dale & His Del-Tones (02:09)
7. Surfer's Stomp - Mar-Kets (01:56)
8. Surfin' - The Beach Boys (02:17)
9. Paradise Cove - Surfmen (03:03)
10. Latin'ia - The Sentinals (02:28)
11. Bustin' Surfboards - The Tornadoes (02:29)
12. Misirlou - Dick Dale & His Del-Tones (02:13)
13. Surf Beat - Dick Dale & His Del-Tones (02:59)
14. Cheater Stomp - Fabulous Playboys (02:10)
15. Pipeline - The Chantays (02:18)
16. Surfer Joe - The Surfaris (03:38)
17. Wipe Out - The Surfaris (02:38)
18. The Rising Surf- Richard Allen (02:42)
19. Surf Rider - The Lively Ones (03:18)
20. Shoot That Curl - Chris & Kathy (04:21)

  •  Disco 2 - "Big Waves" (1963)
1. KFWB Jungle - The Beach Boys (00:28)

2. Surfin' U.S.A. - The Beach Boys (02:28)
3. Jezabel - The Illusions (02:20)
4. Body Surf - Aki Aleong & The Nobles (02:01)
5. Surf Bunny - Gene Gray & The Stingerays (02:30)
6. Soul Surfer - John Fortune (02:36)
7. Shoot the Curl - The Honeys (02:19) 
8. Baja - The Astronauts (02:29)
9. Pintor - Pharos (02:17)
10. Cat on a Hot Foam Board - New Dimensions (01:41)
11. Surf City - Jan & Dean (02:27)
12. Breakfast at Tressels - Rhythm Rockers (02:46)
13. King of the Surf Guitar - Dick Dale & His Del-Tones (02:06)
14. Surfin' at Mazatland - The Centurions (03:14)
15. Surfin' Hootenanny - Al Casey / K-C-Ettes (02:08)
16. The Lonely Surfer - Jack Nitzsche (02:34)
17. Surfer Girl - The Beach Boys (02:26)
18. Beaver Patrol - The Blazers (02:47)
19. Fiberglass Jungle - Crossfires (02:13)
20. Mr. Rebel - Eddie & the Showmen (04:57) 

  • Disco 3 - "The Ebb Tide" (1963-1967)
1. Penetration - Pyramids (02:00)

2. Bombora - The Surfaris (02:05)
3. Heavies - The Rotations (01:45)
4. Moment of Truth - Dave Myers & the Surftones (02:45) 
5. My Little Surfin' Woodie - The Sunsets (02:00)
6. Let There Be Surf - The Chevell's (02:10)
7. Surfin' Bird - The Trashmen (02:22)
8. Ski Storm - The Snowmen (02:01)
9. Disintegration - The Ready Men (02:26)
10. Beach Party - Annette (01:49)
11. Theme from Endless Summer - The Sandals (03:24)
12. New York's a Lonely Town - The Tradewinds (02:16)
13. K-3 - The Challengers (02:10)
14. Tell 'Em I'm Surfin' - The Fantastic Baggys (02:03)
15. On the Run - The Rondels (02:15)
16. Walk-Don't Run '64 - The Ventures (02:23)
17. I Live for the Sun - The Sunrays (02:27)
18. Malibu Run - Fender IV (02:26)
19. Miserlou - The Bobby Fuller Four (05:47)
20. Hit the Surf - Sea Shells (03:34) 

  • Disco 4 - "New Waves" (1977- 1995)
1. Storm Dancer - Jon & the Nightriders (02:50)

2. Goin' to Malibu - Malibooz (03:13)
3. Wave Walk'n - Surf Raiders (02:17)
4. Night of the Living Wedge - Wedge (02:35)
5. My Beach - Surf Punks (01:49)
6. The Tan Punks on Boards - Corky Carroll & The Cool Water Casuals (02:54)
7. The Rebel - The Cruncher (01:54)
8. Polairs - Insect Surfers (03:57)
9. Chumming - The Halibuts (01:59)
10. Save the Waves - The Surfdusters (03:05)
11. Desert Bound - Looney Tunes (02:12)
12. Pier Pressure - Teisco del Rey (02:24)
13. A Night in Tunisia - Laika & the Cosmonauts (02:12)
14. Reverb 1000 - Man or Astro-man? (02:04)
15. Banzai Run - The Phantom Surfers (02:29)
16. Spanish Blue - Aqua Velvets (03:29)
17. Xke! - Boss Martians (02:23)
18. Killer Dana - The Chantays (02:14)
19. Honeybomb - Mermen (06:09)
20. Punta Baja - The Eliminators (03:35)
21. Wingnut's Theme - The Sandals (04:35)
22. Esperanza - Dick Dale (05:50)

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Ouça:
Cowabunga! - The Surf Box:




Cly Reis

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Parede sonora

Dias antes do dia 17, sem saber estar premeditando, rodei no meu programa "Then He Kissed Me", com a The Crystals, autoria de Phil Spector. A música havia estado na minha cabeça durante a semana anterior, e ao reescutar o programa mais uma vez me embasbacava: que coisa magnífica! Em composição, arranjo, timbre, sonoridade. E outra clássica, "Be my Baby", dele com as Ronettes, que Scorsese usou mais de uma vez em seus filmes, como na cena de abertura de "Caminhos Perigosos"?! Música pop na mais precisa - e bem acabada - acepção. O monofásico "wall of sound", que Beach Boys, Beatles, Love, The Zombies, Bruce Springsteen e produtores como Brian Eno Tony Visconti, e Stephen Street souberam se valer tão bem, é revolucionário ainda hoje, era digital, por sua concepção integral de uma obra musical mesmo mais de 60 anos depois de ser inventado. No estúdio mas, principalmente, na mente genial e louca de Phil Spector.

Spector produzindo Lennon
nos anos 70
Se para Spector a genialidade andava junto com a loucura, uma alimentando-se da outra, não raro a segunda vencia a queda de braço. Andar armado no estúdio, a ponto de manter em cárcere privado dentro do estúdio os rapazes dos Ramones ou apontar um revólver para a cabeça de outro produzido, Leonard Cohen (e ao mesmo tempo lhe fazer declarações de amor), era prenúncio de que algo pior uma hora podia acontecer. Como de fato, aconteceu. O assassinato a tiros de sua esposa Lana Clarkson, em 2003, colocou o excêntrico e talentoso, mas também perigoso e intratável Spector, atrás das grades para sempre. De artista a criminoso. Condenação a 19 anos de prisão, que dificilmente seriam completos por alguém já aos 62 anos quando da sentença, como de fato aconteceu no último dia 17 de janeiro, com Phil já a seus 81 de vida.

A obra de Phil Spector é daquelas coisas inesgastáveis assim como as polêmicas em torno de sua conduta não raro paranoica e violenta. desde suas autorias junto aos conjuntos que ajudou a montar e empresariar - e a explorá-los também, no pior sentido do termo - até as produções de discos dos Beatles, de Lennon, dos Ramones, de Harrison. Já o resenhei aqui para o blog com seu essencial "Phil Spector Christmas Album", e certamente falar dele e de sua obra merece muito mais. Inesgastável.

Como disse meu amigo e jornalista Paulo Moreira, com Phil Spector morre uma era do rock 'n' roll. Como algo que se rompe. Como uma grande parede sonora, que rui para sempre na música pop.


PHIL SPECTOR
(1939-2021)


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Cena de abertura de "Caminhos Perigosos"
de Martin Scorsese, com "Be my Baby",  
da The Ronettes, autoria de Phil Spector

Daniel Rodrigues

sábado, 13 de julho de 2019

"CBGB, O Berço do Punk Rock", de Randall Miller (2013)




"Tem algo aí!
Eu consigo ver que tem algo."
Hilly Kristall quando percebia
algum talento em uma banda



No embalo do Dia Internacional do Rock, o Claquete do ClyBlog aproveita para relembrar e recomendar um dos filmes mais legais sobre este tal de roquenrou, estilo, gênero, ritmo que transcende as barreiras e limites da música configurando-se para muitos de nós uma parte indispensável de nossas vidas. "CBGB, O berço do punk rock", é um delicioso filme que lança seus holofotes sobre a trajetória de existência do pequeno bar localizado num bairro sujo e barra pesada, administrado pelo fracassado empresário Hilly Kristal, brilhantemente interpretado pelo falecido Alan Rickmann, um sujeito atrapalhado nos negócios, mas de imensa generosidade e coração, grande sensibilidade musical e, de certa forma, alguma visão musical. O lendário bar CBGB & OMFUG (Country, Bluegrass, and Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers), localizado no Bowery, no sul de Manhattan, que em princípio havia sido pensado por Hilly para tocar música country e assemelhados, acabou tomando outros rumos e veio abrir as portas para uma série de bandas, na época novas e sem muitas oportunidades, de se apresentarem e mostrarem seus trabalhos propiciando a elas aparecerem para o público, para imprensa e empresários, em meio à efervescência daquele cenário artístico que viria a se tornar o movimento punk.
Passando-se concomitantemente à criação da revista "Punk", um dos marcos do período que inspirou o nome do movimento cultural que se iniciava, o filme do diretor Randall Miller, imitando um formato fanzine, bem HQ, com quadrinhos, balões e onomatopeias, repassa com muita leveza e bom-humor as dificuldades e precariedade do lugar, os problemas familiares e financeiros de Hilly e, é claro, como não poderia deixar de ser, o surgimento de bandas que dali em diante viriam a ser grandes conhecidas nossas.
O pequeno palco iluminado apenas por uma lâmpada incandescente suspensa ali no meio, foi a primeira oportunidade de nomes como RamonesBlondieTelevisionTalking Heads e tantos outros.
Iggy Pop com o Blondie de Debbie Harry, no placo,
um dos momentos mais vibrantes de "CBGB".
Alguns capítulos pinçados pelo diretor para ilustrar apresentações destes artistas são dos mais significativos tanto na esfera musical quanto na percepção do que era, efetivamente, um lugar como aquele e acabam por serem hilários para o espectador. O choque elétrico de Tom Verlaine, do Television, por conta de um vazamento sobre o palco; Hilly dizendo para os Ramones que ninguém nunca iria gostar deles; o palco cedendo e o baterista do Blondie despencando dele; Patti Smith lendo seus poemas, xingando a galera e mandando o público calar a boca e ouvir; uma fã, à beira do palco, fazendo sexo oral com chantilly em Stiv Bators do Dead Boys, todas situações verídicas que só reforçam a aura mítica do CBGB e que foram retratadas de maneira muito bonita e quase reverencial pelo diretor.
Um filme indispensável para quem curte o punk e toda a cena que o moldou, mas acima de tudo para quem curte rock e gosta de música de um modo geral, pois o filme fala, acima de tudo, do poder da música e de como ela tem um poder transformador inigualável. É capaz de transformar um lugar, transformar ideias, conceitos, pessoas, vidas. "CBGB" mais do que um filme sobre um lugar, um empresário, sobre bandas, sobre anarquia, caos, rock, barulheira, é um filme sobre acreditar na música como força renovadora. Faça sua parte, sonhe, lance uma ideia, corra atrás e, como diz o próprio Hilly, no filme, "A música vai fazer todo o resto por nós". Não duvide disso.

trailer "CBGB, O Berço do Punk Rock"



Cly Reis




quarta-feira, 18 de abril de 2018

Música da Cabeça- Programa #54


Dona Yvone Lara foi sentar-se no trono que a esperava no céu dos sambistas, mas aqui a gente não deixa a batucada parar. Além de homenagear a Rainha do Samba, vamos ter também vários outros gêneros: o rock dos Ramones, o eletro-pop de Towa Tei, a bossa nova de João Gilberto e a soul de Gil Scott-Heron. Mas tem mais também! Para saber, só escutando o programa hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

sábado, 10 de março de 2018

Elas metem medo




As canadenses irmãs Soska
nomes de destaque na nova cena feminina do terror.
Durante muito tempo, devo admitir, nutri uma série de restrições a filmes dirigidos por mulheres. Com exceção de algumas diretoras como Agnés Varda, Jane Campion, Agnieszka Holland, Sophia Coppola e mais uma que outra ou alguma obra eventual, de um modo geral torcia o nariz para filmes de realizadoras. Não por julgá-las menos capazes ou talentosas para a atividade, mas muito em função da própria identidade criada em torno de suas obras, fruto das limitações ou das imposições  estabelecidas pelos estúdios e da própria expectativa comportamental apregoada pela sociedade machista, que com seus dogmas como "isso não é coisa de menina", "mulher tem que ser comportada", entre outros tantos, acabou por padronizar o produto cinematográfico feminino tornando-o, muitas vezes, previsível e enfadonho.
Mas os novos tempos, o surgimento de um novo pensamento no tocante a gêneros e uma nova atitude feminina, associada à abertura, ainda que pequena, de oportunidades e confiança por parte de produtores fez surgir uma nova geração de cineastas "de saias" cheia de ideias, vigor e talento. Desatreladas dos padrões estabelecidos como "femininos", elas abordam, sim, assuntos pertinentes à sua condição de mulher, mas o fazem de maneira mais inventiva, ousada e reflexiva. No terror, por exemplo, estilo cujos princípios básicos sempre foram veementemente apartados das mulheres desde suas infâncias ("menina não vê essas coisas", "isso é muito nojento", "tem que ver filme de princesa"...), e no qual muito raramente figuravam até dez, quinze anos atrás, parece agora encontrar uma safra criativa, madura e livre dessas amarras estéticas e morais capaz de produzir bons trabalhos e imprimir sua identidade. Selecionamos, aqui, alguns destes filmes dirigidos por mulheres que mostram que elas começam a se destacar num dos gêneros até então mais predominantemente masculinos do cinema, com bons argumentos e trabalhos muitíssimo bem realizados. Podem começar a ficar com medo porque elas estão chegando.




1. "O Babadook", de Jennifer Kent (2014) - Um dos filmes de terror mais assustadores dos últimos tempos numa história repleta de símbolos e metáforas que aborda temas como perdas, a maternidade sozinha e estados psicológicos conflitantes e relação a um filho, com muita criatividade e inteligência.
Amelia perde o marido em um acidente de carro no dia em que está para ter seu bebê e a partir dali passa a, de certa forma, responsabilizar o filho pela perda e a todos os problemas decorrentes daquela ausência, nunca dedicando o amor e a dedicação que deveria a ele. O menino Samuel, com 6 anos, tem problemas de comportamento na escola, um temperamento difícil e uma mente muito inventiva e a mãe não lida nada bem com nenhuma destas situações tratando-o com indiferença, negligência e até raiva. Num dos raros momentos em que reúne paciência para dar alguma atenção ao garoto, resolve ler para ele e encontra na estante um livro que não conhecia chamado Mister Babadook e aí que os problemas começam de verdade pois o personagem do livro, um homem de capa, cartola, corpo esticado e unhas enormes, lembrando um figura de expressionismo alemão, começa a atormentar e ameaçar o garoto e a mãe e, pelas páginas do livro anuncia que não irá deixá-los em paz.
Talvez a criatura seja somente fruto da mente confusa e inventiva de Samuel, talvez seja realmente apenas um livro do mal, talvez o pai retornando do além, ou ainda, talvez seja nada menos do que o próprio estado mental de Amelia em relação ao filho e a projeção e materialização de sua negação a ele, da qual ela só conseguirá se livrar se conseguir lidar com isso.





2. "Raw", de Julia Ducournau (2016) - Terror forte, intenso, pesado, chocante, com cenas gráficas de canibalismo mas que não deixa de trazer assuntos interessantes à tona. Maturidade, sexualidade, autodescoberta e autoaceitação são alguns dos temas presentes em "Raw" , ótimo filme da francesa Julia Ducournau de apenas 34 anos.
Uma garota vegetariana que acaba de entrar na faculdade de veterinária, Justine, em um dos trotes pesados impostos pelos veteranos é obrigada a comer rim de coelho, mudando então drasticamente seu comportamento a partir deste momento, passando não somente a comer carne como a ter atitudes estranhas e assustadoras. A carne parece ter libertado a Justine que estava presa dentro dela. A verdadeira Justine. Uma pessoa que se escondia atrás do vegetarianismo, da virgindade, da pureza, de valores que na verdade talvez não tivessem a importância que ela queria fazer crer. Uma volta ao mais primário instinto do homem. O instinto animal.






3. "Boa Noite, Mamãe", de Veronika Franz e Severin Fiala (2016) - Um dos filmes mais perturbadores que já assisti. "Boa Noite, Mamãe" é tenso do início ao fim. Sua limpidez e calmaria, sem sustos ou sobressaltos, contrasta com a tensão presente no ar o tempo inteiro. Uma mulher volta para casa depois de uma cirurgia plástica no rosto mas seus dois filhos gêmeos, Elias e Lukas, têm dúvidas se aquela mulher que retorna é mesmo sua mãe. A atadura no rosto, sua atitude ríspida, sua indiferença e uma série de outros pequenos indícios fazem com que os garotos, num primeiro momento a confrontem e adiante, a mantenham prisioneira chegando a torturá-la física e psicologicamente em busca de uma confissão e da revelação do paradeiro da verdadeira mãe.
O filme muito bem dirigido pela austríaca Veronika Franz em parceria com Severin Fiala faz questão de deixar uma série de questões em aberto de modo a manter o espectador curioso e intrigado. O que houve com a mulher para que fizesse uma cirurgia plástica? Houve um acidente? Um incêndio? Os meninos teriam algo a ver com isso? Será por isso que a "mãe" proíbe isqueiros? Será por isso que ela ignora um dos gêmeos? E será que realmente são duas crianças?... Assista e tire suas próprias conclusões.






5. "Acorrentados", de Jennifer Lynch (2002) - Essa é filha de peixe! Tem seu talento, tem seu estilo, tem suas próprias ideias mas não dá pra ignorar que ter sido criada no lar de um dos mestes do cinema contemporâneo ajuda muito na formação. E no caso de Jennifer Lynch parece que não apenas na escolha do caminho como na linguagem, uma vez que faz a linha esquisitona do pai com temas sombrios, violentos, surreais e grotescos, o que já ficava evidente em sua estreia com o bizarro "Encaixotando Helena" de 1993. Em "Acorrentados" ela volta ao maníaco obsessivo e dominador desta vez com um taxista que sequestra uma mulher e seu filho na saída do cinema. Bob, o taxista, estupra e mata a mulher mas mantém o garoto de nove anos como prisioneiro e o faz permanecer assim por muitos anos, até a adolescência, acorrentado, sempre presenciando outros sequestros e crimes contra mulheres.
A violência contra a mulher e aquela ideia que muitos homens tem que por usar determinada roupa ou agir de tal maneira a mulher "está pedindo pra ser estuprada" são assuntos evidentes na abordagem da diretora, mas temas como violência doméstica na infância e traumas psicológicos ligados à família também aparecem principalmente no que diz respeito ao vilão Bob.
Esse não é exatamente um terror, mas vindo da família Lynch, no mínimo é de mexer com a cabeça de qualquer um.






6. "Garota Sombria Caminha Pela Noite", de Ana Lily Amirpur (2014) - Uma espécie de justiceira sobrenatural que vaga pelas noites iranianas colocando machões, abusadores e traficantes no seu devido lugar e que, numa dessas perambulações noturnas, topa com Arash, um rapaz envolvido com traficantes e cujo pai é viciado, que está exatamente tentando se afastar daquele universo envenenado de Bad City, a cidade fictícia onde vivem. O encontro dos dois, criaturas que de alguma forma precisam de algo que complete ou que justifique suas vidas, parece frear um pouco os ímpetos da garota e quem sabe, amenizar sua sede de sangue.
Típico cult movie. Preto e branco, cenas longas, diálogos breves, silêncios, quadros estáticos e ação mais psicológica do que prática. Muito interessante a direção de arte que, mesmo com orçamento baixíssimo, mistura elementos dos de épocas diferentes deixando indeterminado o momento em que acontece a ação, bem como a trilha sonora que reforça essa sensação de indefinição de tempo e local, com ênfase em música americana dos anos 80, mas com momentos de música clássica e canções regionais iranianas. Embora seja cheio de referências à cultura e ao cinema americano, "Garota Sombria Caminha Pela Noite", por seu ritmo, sua estética e dinâmica é um daqueles filmes para quem está interessado numa proposta diferente como filmes de arte e "filmes cabeça".





7. "American Mary", de Jen e Sylvia Soska (2012) - Terror com toques de fetichismo. "American Mary" conta a história de uma estudante de medicina que, ainda durante o curso, decepcionada com o universo da profissão que escolhera e vendo sua situação financeira cada dia pior, ao tentar a carreira de stripper sendo que em seu primeiro dia na boate, uma circunstância inesperada faz com que tenha que pôr em prática suas habilidades médicas. a partir dali entra para o ramo de cirurgias clandestinas de modificações corporais executando algumasoperações absolutamente bizarras.
O que começa como uma necessidade financeira que ela realiza cheia de relutância e até repugnância, transforma-se numa atividade sádica e prazerosa e um objeto de vingança. 
Forte, sangrento, sádico, "American Mary" de certa forma coloca em discussão os sonhos profissionais, a ética dentro de uma atividade, os caminhos que podem levar uma pessoa a realizar algo fora de seus padrões morais e mais uma vez, os abusos sexuais contra mulheres. Uma boa mostra do cinema das promissoras irmãs Soska que, sem dúvida, tem muito mais coisas interessantes a oferecer.







8. "O Convite", de Karyn Kusama (2015) - Will e sua namorada Kyra são convidados para um jantar com amigos do tempo de colégio e faculdade na casa da ex-esposa dele, Eden, depois de anos sem se verem e de terem superado, ambos, separados, à distância, a tragédia em comum da morte de seu filho. Eden, agora com um novo marido parece refeita e animada, no entanto o convite e o jantar parece esconder algo de muito suspeito que apenas Will parece perceber mas que é ignorado e subestimado pelos demais convidados supondo que a desconfiança de Will se dê em função de todo o trauma que sofrera.
Embora não seja brilhante, o filme tem o mérito de manter essa dúvida de estar ou não acontecendo alguma coisa estranha e o espectador vai sendo absorvido e cada vez mais envolvido na trama em grande parte graças à atuação do ator Logan Marshall-Green que, sendo o centro de observações dos fatos e das ações dos outros personagens, nos transmite todas as sensações com de maneira muito convincente.
O roteiro meio que escorrega lá pela metade, a justificativa toda em si não é das mais válidas, mas a cena final do filme é simplesmente inquietante.






9. "Quando Chega a Escuridão", de Katrhyn Bigelow (1987) - Este provavelmente é o mais fraco da lista mas vai apenas para destacar a diretora que seria a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção, aqui ainda em seu segundo longa. "Quando Chega a Escuridão" é uma espécie de terror road-movie- western de vampiros. Entendeu?
Tudo começa quando um rapaz, Caleb, conhece Mae e no fim da noite ela lhe pede uma carona para casa. Só que durante o caminho ela começa a demonstrar algum pânico pela inevitável chegada da manhã e aí, né, já sabemos porquê. Ele não escapa dos dentinhos dela e é lavado até um grupo de amigos da garota, saqueadores e baderneiros, todos vampiros, é claro, onde ele terá que passar por uma prova para entrar para a gangue uma vez que não é bem-vindo. 
O filme de Bigelow se distingue de muitos do gênero pelo caráter humano que ela confere às criaturas da noite, não mencionado, por exemplo, a palavra vampiro em momento algum do filme. O roteiro se perde um pouco em alguns momentos, a trama acaba corrida demais e o final fica um pouco em desacordo com o que foi todo o resto do filme mas mesmo assim é interessante observar o crescimento do cinema da cineasta. Com certeza que valeu pela experiência e aprendizado até chegar à estatueta dourada.





10. "O Cemitério Maldito", de Mary Lambert (1989) - Esse é um bônus! Outro que não é da nova geração mas serve bem para ilustrar o trabalho das mulheres no cinema de terror.
Uma família se muda para uma nova casa na beira de uma rodovia movimentada. Lá, o gato da família morre atropelado na estrada destino que muitos outros mascotes já vieram a ter, conforme conta Ju, o vizinho ao dr. Louis Creed, o novo morador. Sensibilizado pela tristeza que a morte do bichano causaria ao menininho, filho de Louis, o velhote revela que ali perto existe um antigo cemitério indígena no qual se crê que quem for enterrado lá volta à vida. O médico usa o artifício com o gato e o resultado é positivo apenas em parte pois o bicho volta à vida mas diferente do que era, muito mais agressivo e perigoso. Vendo, logo em seguida seu filho, Gage, ter o mesmo destino na movimentada estrada, Louis não hesita em enterrá-lo no cemitério dos bichos para trazê-lo de volta mas o retorno do filho é ainda pior do que o do animalzinho de estimação. 
Baseado no romance "O Cemitério" de Stephen King e roteirizado pelo mesmo, "O Cemitério Maldito" é um clássico do terror sendo frequentemente lembrado em listas de melhores pelos cinéfilos amantes do gênero. Destaque ainda para o tema musical do filme, "Pet Sematary" dos Ramones, que além da boa história, bom roteiro, maquiagem assustadora e climão aterrorizante, é mais um ponto a seu favor.




Cly Reis

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

"Escola de Rock", de Richard Linklater (2003)





"Deus do Rock,
obrigado por esta oportunidade de arrebentar.
Nós somos vossos servos humildes.
Por favor, nos dê o poder de explodir a mente das pessoas
com o nosso rock de alta tensão.
Em seu nome oramos, Amém."
Dewey Finn (Jack Black)






E pensar que eu hesitei tanto em assistir a esse filme!
Completamente desinformado e imaginando que pudesse apresentar uma visão caricatural ou excessivamente estereotipada de roqueiros, que tivesse um monte de rockzinhos juvenis irritantes e que fosse uma típica comédia teen repleta de baboseiras, namoricos e valentões de escola, além de algumas restrições que tenho ao ator Jack Black, um tanto expressivamente exagerado em muitos momentos, sempre adiei a possibilidade de sentar pra ver "Escola de Rock". Mas como minha filha de seis anos começa a se interessar por rock e, na pior das hipóteses, mesmo que o filme fosse uma completa porcaria, pelo menos teria algum estreitamento de contato com o gênero por aquela coisa toda de guitarras, palco, postura, visual e tudo mais, achei que valia a pena dar uma olhada com ela. E não é que o filme é um grande barato? É um filme de roqueiros! Um filme de paixão pelo rock. De respeito por ele e por tudo  que representa.
Jack Black que, se em outros papéis é exagerado, caricato, neste é perfeito, caindo como uma luva na pele do músico fracassado e desempregado Dewey Finn que dispensado por sua própria banda e pressionado pelo casal com quem divide o apartamento a pagar sua parte nas despesas, vê numa vaga que seria para o amigo Ned Shneebly de professor-substituto numa escola de ensino fundamental, a chance de, se fazendo passar pelo colega, faturar uma grana e pagar as despesas que estão sendo cobradas. O caso é que chegando lá, depois de deixar claro para a turminha que assumira que não queria nada com nada, ele descobre que a galerinha tem aula de música e que as crianças são bastante talentosas. Dewey, enxerga então ali a possibilidade de usar aquele talento a seu favor convencendo, sob falsos pretextos, a garotada a entrar num concurso de bandas de olho no polpudo prêmio que lhe garantiria o fim dos pesadelos financeiros. Só que os alunos têm aula de música clássica e o desafio de Finn passa a ser o de colocar o rock no sangue, na cabeça e na atitude daquela crianças e aí é que o filme fica um barato. A seleção da banda, as noções sobre rock'n roll, a apresentação dos ídolos marcam um momento muito legal no filme. A cena em que o falso professor escolhe os mais aptos para cada instrumento e improvisa um "Smoke On The Water" com eles é bárbara; o passar dos dias com o  desenvolvimento das atividades de sua equipe mirim e das aulas de rock ao som de "My Brain is Hanging Upside Down" dos Ramones chega a ser emocionante para fãs do bom e velho rock'n roll; e a do retorno para a escola, na van, depois da inscrição na Batalha das Bandas ao som de "Immigrant Song" do Led é empolgante.
O "professor" Finn dando uma aula de rock.
O roteiro é aquele bem padrãozinho americano, nada demais: apresentação da situação-problema-solução aparente-nova complicação da situação-ato heroico-encaminhamento do grande momento-apoteose (com ou sem final feliz). Seu grande mérito, no entanto, está na escolha do tema e a forma de sua apresentação, na qual o protagonista tem a oportunidade de expôr para os alunos, e por extensão, é claro, a nós espectadores, tudo o que o rock representa, e como quem não quer nada, entre uma aulinha e outra, um diálogo aqui outro ali, coloca alguns pontos interessantíssimos que estão no sangue do rock como a vocação provocadora e desafiadora, o veículo para manifestar suas insatisfações e indignações e o tesão de tocar pelo prazer, pra fazer algo legal ou simplesmente pela possibilidade de deixar as pessoas malucas. 
Dirigido pelo bom Richard Linklater de "Boyhood" e da trilogia romântica "Antes do Amanhecer", "Antes do Pôr-do-Sol" e "Depois da Meia-Noite" com Julie Delpy e Ethan Hawke, "Escola de Rock" tem do roteiro assinado por Mike White (que interpreta o verdadeiro Ned Shneebly no filme) mas deve muito ao próprio ator principal, Jack Black, fanático por rock, na época vizinho de White e que segundo o roteirista vivia tocando em volume altíssimo e cantando pelado pela casa afora muitas das músicas que fazem parte da trilha do filme, o que o inspirou a escrever a história da forma como o fez. Aliás, a trilha sonora é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme com sonzeiras de AC/DC, Black Sabbath, The Doors, Cream, Metallica e mais um montão de clássicos muito bem colocados  dentro do filme.
Enfim, um ótimo filme para que se apresente o rock'n roll aos filhos e entretenimento garantido aos papais e mamães roqueiros. Para a minha filhe que já estava interessada, já curtindo alguma coisa, já identificando alguns nomes e riffs, talvez tenha sido o empurrão definitivo. Pra ter uma ideia do quanto a aula foi válida, a minha pequeninha já tá até pedindo, "Põe "Iron Man". Valeu, né? Nota dez pra ela. Com louvores.


Cly Reis

sábado, 21 de novembro de 2015

Pearl Jam no Rio



Eddie Vedder com Marky Ramone ao fundo.

Nem era grande fã do Pearl Jam mas, em 2005, na falta de grandes shows aterrissando naquele momento lá pelas bandas de Porto Alegre, onde morava na época, resolvi dar aquela conferida no show dos caras. Não podia ter tomado decisão mais correta! A apresentação da banda de Seattle na capital gaúcha foi simplesmente catártica com direito a canja de Marky Ramone na batera para que Eddie Vedder interpretasse visceralmente o clássico dos Ramones, "I Believe in Miracles". Ainda agora, aqui escrevendo, me arrepio só de lembrar.
Mas eis que terei a oportunidade de rever esta banda que me impressionou tanto no palco e que depois daquilo só cresceu no meu conceito, desta vez aqui no Rio de Janeiro, no estádio do Maracanã, no próximo domingo, 22 de novembro. Diante das notícias dos shows realizados até então em Porto Alegre, São Paulo, Brasília e BH nesta presente turnê, tenho a impressão que a minha sensação de êxtase se renovará com esta nova apresentação.
Bom, então é aguardar com grande expectativa e com certeza o clyblog trará detalhes, opiniões, sensações, fotos e o que mais for possível depois do show.
Por enquanto fiquem aí com um gostinho provando o quanto os caras mandam bem ao vivo, exatamente com "I Believe in Miracles", na turnê de 2005, só que da apresentação de São Paulo.



vídeo Pearl Jam - "I Believe in Miracles" - São Paulo (2005)



Cly Reis