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domingo, 13 de janeiro de 2019

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2018




Abre o olho, Babulina, porque Caê tá chegando
e o Síndico tá chamando pra briga.
O ano de 2018 foi especial por ter sido o que marcou os 10 anos do ClyBlog e para comemorar isso tivemos uma série de convidados escrevendo sobre seus discos favoritos nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Já abrimos o ano com o especial de número 400 da seção, com o convidado Michel Pozzebon, e ao longo do ano tivemos as mais ricas e valorosas participações de convidados que deram suas brilhantes contribuições para o nosso blog, como foi o caso de Ticiano Paludo, Samir Alhazred, Arthur de Faria, Helson Trindade, Rodrigo Lemos e Lucio Brancato. A todos eles, nossos sinceros agradecimentos.
Além disso, foi ano de Copa do Mundo e, como temos feito, unimos música e futebol em publicações espaciais onde o artista ou sua obra tivesse alguma relação com o esporte mais amado do mundo, como foi o caso do apaixonado por futebol Bob Marley, dO Rappa cujas letrar volta e meia remetem a futebol e do Iron Maiden, cujo baixista é quase um hooligan e que já tentou inclusive jogar no seu time de coração.
Isto colocado, como sempre fazemos, todo ano, vamos àquela repassada na nossa seção de grandes discos atualizando os números e verificando aqueles que têm mais discos indicados, países com maior número de representantes, os anos e as décadas que mais se destacam em número de grandes obras citadas e o que mais mereça destaque neste ano que passou nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, como, por exemplo, o fato de 2018 ter sido um ano de muitas estreias nos AF's. Muitos artistas que, por sua biografia, importância em sua época, seu segmento ou no cenário musical geral, já deviam ter dado as caras por aqui há muito tempo, apareceram pela primeira vez neste ano, como é o caso de nomes como Bob Marley, que foi um dos nossos AF ClyBola, da diva Aretha Franklin, do Kiss, T-Rex e do lendário Queen que fez seu debut por aqui. Por outro lado, poucos se repetiram e, assim, especialmente nos internacionais, as posições de cima não se alteraram muito, apenas com o Iron Maiden e os Kinks entrando para o time dos que têm três álbuns fundamentais e aproximando-se do pessoal com quatro álbuns (Who, Floyd, Kraftwerk...) e um pouco mais dos líderes Beatles, Stones e Bowie que seguem na ponta com cinco discos cada.
Nos nacionais a movimentação também não foi grande mas dois artistas deram uma emoção à "disputa pela liderança": com um disco de Caetano Veloso e um de Tim Maia, poderíamos tê-los empatados na ponta com Gilberto Gil e Jorge Ben. Mas isso se, lá no início do ano, o Babulina não tivesse colocado mais um entre os fundamentais e garantido sua posição no topo entre os brasucas.
Na disputa por países, ainda que os norte-americanos ainda mantenham um boa vantagem na liderança, em 2018 os ingleses fizeram quase o dobro de indicações que os yankees e diminuíram um pouco a desvantagem para os brasileiros que haviam se distanciado no ano anterior
No que diz respeito a épocas, a marcante década de 70 continua liderando, acompanhada, com uma distância bem confortável, pela década de 80. Só que quando falamos em anos, é o de 1986 que manda, com nada menos que 20 discos, seguido pelo seu ano anterior, o de 1985 e o ano de 1976, cada um com 16 álbuns na nossa lista.
O ano que entra promete movimentação nos placares, especialmente de artistas, tanto nacionais quanto internacionais, uma vez que a vantagem dos líderes é pequena e quem vem logo atrás não tá pra brincadeira. 
As comemorações dos dez anos acabaram mas não é por isso que não continuaremos tendo participações especias nos AF. Além das habituais colaborações de Paulo Moreira, Leocádia Costa, Lucio Agacê, com certeza teremos durante ao ano a contribuição de amigos tão apaixonados por música quanto nós e que sabem que os álbuns de suas coleções e de seus corações são simplesmente fundamentais.

Vamos conferir então como ficaram as coisas por aqui depois deste último ano:


PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles, David Bowie  e The Rolling Stones: 5 álbuns cada
  • Kraftwerk, Miles Davis, Talking Heads, The Who e Pink Floyd: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Smiths, Led Zeppelin, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, John Cale* e Bob Dylan: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Brian Eno*, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Lou Reed, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Velvet Underground e Wayne Shorter: todos com 2 álbuns
*contando com o álbum de Brian Eno com JohnCale ¨Wrong Way Out"


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben: 5 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Caetano Veloso: 4 álbuns*
  • Chico Buarque, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, Gal Costa, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão e Sepultura: todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas" 
*** Contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"


PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 79
  • anos 70: 117
  • anos 80: 100
  • anos 90: 75
  • anos 2000: 11
  • anos 2010: 11

*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1976 e 1985: 16 álbuns cada
  • 1968 e 1977: 15 álbuns cada
  • 1967: 14 álbuns
  • 1971, 1972, 1973 e 1991: 13 álbuns
  • 1965, 1969, 1975, 1979 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1970, 1987 e 1989: 11 álbuns cada
  • 1966 e 1980: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 146 obras de artistas*
  • Brasil: 116 obras
  • Inglaterra: 102 obras
  • Alemanha: 8 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica e Islândia: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça e França: 1 cada

*artista oriundo daquele país




C.R.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

cotidianas #135 - Dentro



“... se conduzíssemos o otimista crônico pelos hospitais,
enfermarias e salas de operações cirúrgicas,
pelas prisões, câmaras de tortura e choças de escravos, por campos de batalha e locais de execuções;
se abríssemos para ele todas as moradas da miséria (...)
e, finalmente, deixássemos que ele olhasse para dentro dos famintos calabouços de Ugolino,
 também ele iria compreender, afinal, a natureza deste ‘melhor de todos os mundos possíveis’”.

de “O Mundo como Vontade e Ideia”


Tudo rangia. “Que saco!”, praguejava. Mas também não fazia nada para arrumar. “Que importa?” Lembrava-se de sua mãe, curvada e ridiculamente velha, dizendo: “apartamento velho é assim” – como se ela também não fosse; como se ela também não rangesse. Mas quando o apartamento é velho e descuidado, o resultado não pode ser outro. Tudo rangia: portas, chão, pia, janelas, cama, latrina, cadeiras, sofá. Arrepiava-se sempre que tinha que adentrar ao quarto, pois o som que a porta e o piso produziam sinfonicamente juntos era quase uma frase atonal: torta, irritante e sem sentido. Mas nem por isso fazia alguma coisa. Deixava assim. Ia deixando. “Uma hora isso se resolve. Ou então que vá tudo prum buraco mesmo!”
Sempre que ia à privada, por exemplo, a engrenagem da descarga produzia um urro sufocado que parecia humano, e que ia ficando cada vez mais humano semana após semana. Na verdade, a tubulação toda produzia tanto ruído que lhe parecia haver uma comunidade inteira viva por detrás do reboco, com pessoas que hora e outra conversavam, discutiam, riam, choravam, mexiam-se, e isso mesmo quando não corria água – o que lhes justificaria minimamente a existência dentro daqueles canos de metal tomados de ferrugem e limo. Às vezes tinha clara a impressão de que morava gente ali.
Mas o que importavam esses “dejetos materiais”, os objetos, as coisas inanimadas? Era tudo um saco, mas viver sozinho, pelo menos, lhe garantia que ninguém ia lhe importunar. Nenhuma voz pra incomodar, nem de mãe, nem de filho, nem de ex-mulher, nem de putas. Uma vez, depois de gozar dentro de uma vadia, acometeu-lhe uma certeza inexplicável de que só se sentira feliz nessa vida porca e suja quando estivera no útero. Hoje, ele ri do episódio, pois acha engraçado lembrar como terminou aquela transa: mandando-a embora de sua casa, irado e chorando, a golpes com o fio do abajur. Ela gritava: “pára! Pára, seu merda!” E ele dizia, sabe-se lá porque: “Ixíon, sua vadia!! Ixíon!!” Esbravejava, num prazer enlouquecido bem melhor do que o da gozada. Acordou todo o prédio aquela noite.
Agora, lembrava-se e ria, ria. Ria muito, convulsivamente. Babava-se. E para si. Para a casa. Pois nada fazia diferença: podia gritar ou emudecer-se que não faria a menor diferença. Para que mantinha aqueles livros empoeirados na estante? Letras, Filosofia, mais letras, hunff! Para que, se já lera e embaralhara tantas nesses mais de 50 anos? O que isso lhe trouxe? E as fotos sobre a mesa: “para quê?”, indagava-se, mas não achava resposta alguma. Estavam lá os porta-retratos do filho crescido e ausente, outro do filho morto, outro da ex-mulher – infelizmente viva e presente –, da sacal mãe e até daquele cachorro insuportável que enchia de pelo toda a casa (e que graças a Deus já morreu também!). E por que não os recolhia e socava tudo num baú? Não sabia. Talvez porque não tivesse baú... só por isso.
Sem ter outra coisa pra fazer, foi mijar. Acendeu a luz do banheiro, tão clara que resplandecia até o teto daquele pé direito tão alto que parecia tocar o céu. Descarregou a urina com toda a autocomplacência que nem achava que merecia e, num automatismo estúpido e sem vontade, deu a descarga.
- Ei, você.
Falou.
- É, você mesmo.
Fez-se um breve silêncio, mas logo em seguida, na boa acústica típica dos banheiros, a voz reverberou novamente:
- Não vai me responder? – disse, naquele tom falsamente choroso de quem fica magoado pelo silêncio do outro.
- Si... sim, mas... o que você quer? – respondeu àquela voz que emanava de dentro do vaso como se aquilo fizesse algum sentido.
- É, meu amigo: “Quanto mais distintamente o homem souber, mais dor ele terá”, não é, senhor das vontades já cumpridas?
Silêncio (de concordância).
- Está em Schopenhauer...
- Quê, Schopenhauer?! – saltou-lhe com violência da boca a pergunta, que recebeu, em troca, uma resposta cinicamente leve:
- É: Schopenhauer. Arthur Schopenhauer – disse a voz –. Sei que se decepassem tua cabeça do corpo agora ela ia imediatamente cravar os dentes no teu braço. Iam lutar entre si como idiotas, feito uma formiga-buldoque, não é? Rárá! Claro que sim! Eu sei, eu sei. Tu bem sabes também.
- É... eu sei...
A voz do urro, até então irônica mas sempre no mesmíssimo timbre sufocado de quando só urrava, endureceu:
- Então, o que vai ser?
- ...
- E?...
- É, eu vou.
- Muito bem, meu rapaz! Muito bem. Assim é que se fala. Isso: faça assim mesmo como estás.
Hesitou um pouco no silêncio gélido do banheiro. Mas foi. Não tirou nem a roupa. Entrou dentro do vaso, escorregando com desenvoltura pela louça. Já totalmente lá dentro, tirou para fora o antebraço e, com o indicador, deu um toquinho no tampo, que caiu quicando sobre o assento.
Depois daquele estrondo, o eco se perdeu e a calmaria reinou. Tudo ficou escuro, quente e úmido outra vez.

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