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sábado, 19 de novembro de 2011

John Coltrane - "My Favourite Things" (1961)



"John [Coltrane] era como um visitante a este
planeta.
Ele veio em paz e o deixou em paz."
Albert Ayler,
saxofonista norte-americano


Eu poderia falar aqui da importância de John Coltrane para a história do jazz.
(Ou tentar falar)
Ou mais, poderia falar da sua relevância para a história da música.
Eu poderia falar da relação de Coltrane com o saxofone e de sua deste artista para a consagração deste instrumento.
Poderia ressaltar todas as qualidades técnicas deste fantástico instrumentista.
Poderia tentar explicar suas grandes virtudes, seu estilo, características, mas como não sou um especialista, e sim apenas um apreciador, por certo, não conseguiria explanar tudo com precisão.
Poderia até...
Bom...
Poderia um monte de coisas.
Mas não vou.
Queria falar-lhes do disco "My Favourite Things" de 1961, mas... o que poderia dizer dele?
Falar da banda?
Do repertório de regravações de clássicos?
Porter, Gershwin, Rogers...? Hum...
Deixa pra lá.
Apenas dir-lhes-ei que "My Favourite Things" é uma daquelas obras que parecem preencher a alma d'a gente. Uma daquelas coisas que parecem não estar sendo tocadas por seres humanos. Que por vezes chega a parecer fazer-nos ficar em vias de desfalecer ou talvez, também, e não raro, sem nenhum aviso, fazer-nos apanharmo-nos inadvertidamante com lágrimas nos olhos.
Ah,
Dos meus favoritos.

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FAIXAS:
1."My Favorite Things" (Richard Rodgers) — 13:41
2."Everytime We Say Goodbye" (Cole Porter) — 5:39
3."Summertime" (George Gershwin) — 11:31
4."But Not for Me" (Gershwin) — 9:34

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Ouça:
John Coltrane My Favourite Things


Cly Reis

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dinah Washington - "After Hours with Miss D" (1954)



"Não há dois caminhos sobre  isto:
'After Hours  With Miss D' ainda é a prova rítmica, rebelde mais robusta
de que a  Srta. Washington
é uma das artistas mais incomparáveis
nos mais altos escalões da canção popular moderna."  
trecho do texto da contracapa
original do álbum de 1954


Meu primeiro contato com Dinah Washington, lembro, foi proporcionado pela minha amiga Mari, que era secretária num escritório onde eu trabalhava. Ela me emprestou uma fita cassete do namorado dela da época que era um geólogo que havia excursionado à Antartida e que, segundo ele, havia gravado a fita a bordo do navio Barão de Tefé, o que exigia que eu devesse ter cuidado redobrado com a fita. Levei para casa, ouvi, adorei e por ter gostado tanto e para não correr nenhum risco de danificar aquela relíquia da história expedicionária brasileira, tratei de fazer uma cópia para mim e devolver aquele K7 o quanto antes possível. Fiquei muitos anos com aquela fitinha sem saber os nomes das músicas nem nada mas sempre curtindo muito aquela voz, aquela interpretação, aquela emoção, tudo!
O cassete caiu em desuso, a fita se perdeu e fazia alguns anos que não ouvia nada desta cantora até que há pouco tempo atrás, fuçando numa dessas lojas de LP's antigos por aí, topei com um bolachão da cantora. Um belo exemplar, capa de papelão duro, vinil pesadão, edição original americana dos anos 50... Devia custar uma nota! Caro? Paguei R$ 5,00 por aquela raridade. Eu estava levando comigo "After Hours With Miss D", de 1954, para casa e finalmente eu tinha um registro decente desta cantora que eu havia aprendido a gosatar mas que não tinha nada dela em casa para ouvir.
O disco é absolutamente sensacional! Com uma banda de primeira, a "Rainha do Blues" como era conhecida interpreta de forma brilhante e emotiva clássicos do jazz e rhytm'n blues dos anos 50 em jam-sessions soltas e inspiradas.
"Am I Blue?" é uma balada doce, inspirada, sentida, pontuada por um trumpete choroso e melancólico; "A Foggy Day" ao contrário, é um jazz ensolarado, embalado e cheio de vida; "I Let a Song Go Out of My Heart" é belíssima com destaque especial para a metaleira da retaguarda; mas em "Love for Sale", é Dinah quem dá ums show todo particular, mudando os tempos vocais com uma facilidade impressionante e até mesmo rasgando a voz o melhor estilo Satchmo.
Mas a que eu mais adoro no disco é "Blue Skies", clássico de Irving Berlin, numa versão longa com uma interpretação solta da diva e um grande interlúdio instrumental com espaço para performances individuais notáveis de cada um dos integrantes da banda.
Som delicado, delicioso para se ouvir  naqueles momentos de relax, nas horas de silêncio. Som para aquelas after hours.
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FAIXAS:
1."Blue Skies" (Irving Berlin) – 7:52
2."Bye Bye Blues" (David Bennett, Chauncey Gray, Frederick Hamm, Bert Lown) – 6:58
3."Am I Blue?" (Harry Akst, Grant Clarke) – 3:14
4."Love Is Here to Stay" (George Gershwin, Ira Gershwin) – 2:31
5."A Foggy Day" (G. Gershwin, I. Gershwin) – 7:59
6."I Let a Song Go Out of My Heart" (Duke Ellington, Irving Mills, Henry Nemo) – 7:02
7."Pennies from Heaven" (Arthur Johnston, Johnny Burke) – 2:17
8."Love for Sale" (Cole Porter) – 2:12


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vídeo de "Love For Sale"



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Ouça:
Dinah Washigton After Hours With Miss D



Cly Reis

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

cotidianas #106 - "O Estrangeiro"



O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?


O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem


Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora


Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)


E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:


"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:


É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú


E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection").

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"O Estrangeiro"
Caetano Veloso