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sexta-feira, 1 de junho de 2018

Joan Armatrading - “To the Limit” (1978)



"O que distingue seu trabalho é a autenticidade 
única de cada uma de suas músicas. 
Percorrendo o jazz, o blues, o reggae e o rock, 
ela nunca parece repetir o material anterior." 
Stephen Demorestdec,
em matéria de dezembro de 1978 
do jornal The New York Times


Um disco que pouca gente conhece, mas que é um dos meus discos da vida: “To the Limit”, da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. Este disco me foi apresentado pelo colega de faculdade e grande figura Cláudio Almeida. Eu já havia lido uma crítica de um show da Armatrading no Jornal de Música, escrita pelo Mauricio Valladares, e tinha ficado curioso.

Nas minhas madrugadas ouvindo a Rádio El Mundo de Buenos Aires, curti pela primeira vez "Love and Affection", a principal canção do terceiro disco da moça. Mas nada me preparou para o impacto ao ouvir o “To the Limit”. Já de cara, "Barefoot and Pregnant" te derruba com o groove maravilhoso do baterista Henry Spinetti e os teclados de Red Young. Na sequência, "Your Letter" é uma daquelas baladas que te deixa na lona com o sax tenor de Quitman Dennis. "Am I Blue for You" começa com o talk box do guitarrista Dave Palmer e "You Rope You Tie Me" tem três mudanças de tempo e clima.

"Baby I" é outra balada de cortar os pulsos. "Bottom to the Top", de onde foi tirado o título do disco, é um reggae com o órgão de Dick Sims mandando no pedaço. "Taking my Baby Up Town" é um roquinho onde Aramatrading conta a história de um passeio com sua namorada. "What Do You Want" tem Joan cantando num tom baixo e a flauta de Dennis pontuando a canção. "Wishing", segundo ela própria, é a primeira tentativa de fazer poesia com uma melodia poderosa. Pra fechar, "Let It Last" tem um clima gospel e o sax soprano de Quitman Dennis fazendo mais uma aparição.

Tremendo disco com letras fortes e cantadas com maestria pela compositora. O disco é tão bom que consegui arrebanhar mais uns fãs pra Armatrading: Mauro Magalhães, Marcelo Jardim e Mauro Drummond. Ah, tu não conheces? Ouve aqui, meu!
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FAIXAS:
1. "Barefoot and Pregnant" - 3:40
2. "Your Letter” - 3:40
3. "Am I Blue For You" - 4:24
4. "You Rope You Tie Me" - 4:08
5. "Baby I" - 4:52
6. "Bottom to the Top" - 3:34
7. "Taking My Baby Up Town" - 3:25
8. "What Do You Want" - 3:44
9. "Wishing"- 4:48
10. "Let it Last" - 4:57
Todas as composições de Joan Armatrading

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OUÇA O DISCO:
Joan Armatrading - “To the Limit”


por Paulo Moreira

sábado, 31 de dezembro de 2011

cotidianas #125 - "Cortar o Tempo"



Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente

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Cortar o Tempo
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

cotidianas #178 - Nota social


O poeta chega na estação.
O poeta desembarca.
O poeta toma um auto.
O poeta vai para o hotel.
E enquanto ele faz isso
como qualquer homem da terra,
uma ovação o persegue
feito vaia.
Bandeirolas
abrem alas.
Bandas de música. Foguetes.
Discursos. Povo de chapéu de palha.
Máquinas fotográficas assestadas.
Automóveis imóveis.
Bravos...
O poeta está melancólico.

Numa árvore do passeio público
(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.

O poeta entra no elevador
o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.

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"Nota Social"
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 14 de junho de 2018

cotidianas #572 - Futebol




Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.


***

"Futebol"
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

cotidianas #544 - Receita de Ano Novo




Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

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"Receita de Ano Novo"
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CLAQUETE ESPECIAL 13 anos do ClyBlog - The Who - Live at Isle of Wight Festival 1970, de Murray Lerner (1996)


LOUCA PERSPECTIVA DA ILHA
por  E L E N I C E   M I C H E L O N



 
"Senhoras e senhores, 
desocupem os seus sacos de dormir 
e sejam bem vindos!"
Jeff Drexler, 
mestre de cerimônias do Festilval de Wight, 
convocando o público a acordar, às 4 da manhã,
e assistir ao show



Como dizia o grupo Língua de Trapo, “Foi no dia de São João Batista que conheci Deusdéti; naquele tempo eu já era Marxista e ela ainda ia em discoteque”. Posso dizer que conheci o The Who numa ilha, aos vinte e poucos anos, tendo já vivido várias utopias, algumas teorias e já abandonado algumas delas. Caiu-me nas mãos o DVD do Festival da Ilha de Wigth de 1970 através de um amigo.

Como diz o título, o que relato nestas linhas é minha louca perspectiva ao vivenciar, infelizmente não possuo uma máquina do tempo, o que até hoje minha razão insiste em negar. 

Primeiro ato: luzes apagadas, um vulto de branco corta rapidamente o palco; expectativa do público e minha. Eis que explode um som que invade meu cérebro como uma marreta, sendo a dor surpreendentemente agradável.

Me deparo com um guitarrista vestindo um macacão alguns números menores, creio que propositalmente, ou não... coisas de gênios. Em outra cena, desce um esqueleto marionete (em minha mente, juro que vi), Ás do baixo, coadjuvante digno de um Tony Awards.

Segundo ato: prefaciado por "I Cant’ Explain" e diante de uma platéia atônita, surge um deus de longos cabelos encaracolados, franjas balouçando aos seus movimentos, dorso quase nu; sem esforço algum, sem nada pedir, na fração de segundos em que minha retina capta sua visão, se torna meu sex symbol, pondo Robert Plant “no chinelo”, utilizando uma expressão popular. A voz incomparável ressoava pelo teatro/ilha ou vice versa.

Extasiada, sentidos aguçados, perscruto o tablado e emerge o ator principal; pensaram que o Tony estava garantido, ante minha eloquência ao falar de Roger Daltrey? Ledo engano... olhos insanos, baquetas incontroladas, porém dominadas a seu bel-prazer, trejeitos peculiares e autênticos, inteiramente entregue... talvez no decorrer desta existência fugaz, eu consiga definir o que senti e ficou incrustrado em meu ser, tamanha foi a intensidade de sua presença naquele show e os estilhaços de loucura que Keith Moon desferiu em minha alma; (uma pitada de poesia é necessária).

Terceiro ato: harmônica nos lábios do Roger e mais curtição por parte do Keith... Blues na medida para quem é exímia apreciadora desse gênero, dentre outros, como a música clássica. The Who soava como uma afinadíssima orquestra e certamente seriam ovacionados por Beethoven e sua trupe, destacando-se a saudação de Chopin, o mestre maior (preferência minha, ok?).

Quarto ato: não poderia faltar humor, o que ficou por conta do “gênio e o insano”, culminando com uma bofetada indolor. Após a delícia que foi presenciar tal cena, irrompem os vocais agudos de Apolo, na inesquecível "Water". Nesse instante, arrebatada por algo surreal, no despertar da Kundalini, senti-me transcender.

Os acordes de Jonh Entwistle transformaram o antes marionete, no próprio titereiro, tamanho controle exercido pelo seu dedilhar.

Como se não bastasse, me servem um aperitivo de Beatles e após um Southern Confort à la Janis; confesso que saboreei cada gole, enquanto Roger adicionava ao whisky seu gelo vocálico. Ah, desejava embriagar-me e queria mais. Atendida generosamente pelo Olimpo, solos de guitarra jorraram sem cessar, aliados às performances de seu criador Peter Thownshend.

Enquanto afinam seus instrumentos, permitam que lhes conte que nesse ano Gilberto Gil e Caetano Veloso, exilados, se apresentaram no Festival, representando a Tropicália. Não é à toa que são dois dos melhores artistas do Brasil e quiçá do mundo.

Último ato: Tommy não poderia deixar de comparecer, afinal, “ninguém” é tão especial quanto “ele”, ou marcou tanto, rendendo artigos à parte. Foi o ápice do Maior Espetáculo da Terra (recomendo o filme com esse mesmo nome).

As cortinas se fecham, gritos de “Bravo!!!” presos na garganta, aplausos contidos, não ouso levantar-me... Quedo-me, sorvendo o último gole.

John Entwistle, e sua indumentária cadavérica, com
o alucinado Keith Moon, destruindo tudo, lá atrás, na bateria.


Assista:
The Who - Live at Isle of Wight Festival -1970


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Elenice Michelon
tem 49 anos, mora em São Marcos/RS e tem duas filhas, Morgana e Heloiza.
É formada em Administração de Empresas, e por amor às palavras, atualmente cursa a faculdade de Letras Português/Inglês.
É apaixonada por poesia, principalmente Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Florbela Spanca, Pablo Neruda e Carlos Drummond de Andrade, curte rock, blues, música clássica, MPB e ópera, e aprecia as artes em geral, sem preconceitos de qualquer natureza.
Seus hobbies são artesanato (tricô, crochê), violão, ler e o contato com a Natureza.
Eterna aprendiz, busca conhecer um pouco de cada cultura, extrair e absorver o máximo do que lê, assiste e vivencia.
Futilidades não lhe interessam, pois aprecia conversas inteligentes que a façam pensar e que possam enriquecê-la, bem como a simplicidade das coisas, que, segundo ela "é onde reside o mágico, o belo e o segredo do universo...o Surreal".



"Sou mais a palavra ao ponto de entulho.
Amo arrastar algumas no caco de vidro,
envergá-las pro chão, corrompê-las, -
até que padeçam de mim e me sujem de branco."
- Manoel de Barros