Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador The Who. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador The Who. Mostrar todas as postagens

sábado, 6 de julho de 2024

The Chemical Brothers - "Further" (2010)

 



Álbuns Fundamentais - ClyBlog
"Os Chems fazem seu melhor álbum
em mais de uma década."
Pitchfork Music,
na época do lançamento


"Further" foi um álbum que tive uma certa dificuldade inicial pata assimilar. Tom Rowlands e Ed Simmons nunca ficaram estagnados numa zona de conforto mesmo já  consagrados e amplamente aclamados como sendo dos grandes expoentes da música eletrônica. Sempre ousaram, tentaram coisas diferentes e incorporaram elementos a seu som, mas em "Further" parecia que davam um passo adiante nesse experimentalismo, causando uma certa estranheza que, pelo que pude notar, na época do lançamento,  não fora exclusividade minha.

A estrutura das músicas, o formato do álbum, a disposição das faixas, as referências, parecia tudo pouco convencional. Mas audições mais frequentes, mais atentas, sem tantos juízos pré-estabelecidos, foram aos poucos me mostrando que ali estava um grande disco, mais um dos grandes trabalhos desses dois notáveis artesãos dos sons da nossa época.

Se o Kraftwerk, pai de todos da música eletrônica, foi paulatinamente construindo uma linguagem, forjando um formato, os Chemical Brothers que já encontraram a estrada pavimentada montado, parecem tentar desconstruir o processo, e em "Snow, a faixa de abertura, fragmentam a música, reduzem-na a ruídos eletrônicos, praticamente abdicam da melodia, numa peça singular sem batida, sem levada, sem um 'ritmo' lógico. É a volta ao começo da estrada. E perguntará alguém, "E funciona?". Não só funciona como "Snow" é improvavelmente linda. Um vocal doce, delicado sobre uma música sem música. Algo impressionante para começar um álbum que se mostrará não menos incrível. Até  porque na sequência, a segunda, "Escape Velocity", talvez seja uma das melhores músicas da dupla e uma das maiores coisas feitas em música eletrônica. Uma sinfonia eletrônica de mais de dez minutos construída paciente e minuciosamente, com uma estrutura que, em sua complexidade, lembra um grandioso concerto clássico. Mais uma grande ousadia do Brothers.

"Another World", que se segue, é uma canção suave e quase lenta; "Dissolve" é  um "rock psicodélico" que lembra particularmente The Who... E o ouvinte pode ficar perguntando, "Cadê a música eletrônica, propriamente dita, repetições, loops, BPM's aceleradas...?". Tudo isso chega finalmente na quinta faixa. Só que não de uma maneira simples e superficial. Por trás de um bate-estaca tipicamente de pistas de dança, elétrico, percussivo, repetitivo e alucinante, esconde-se uma faixa conceitual que remete aos primórdios das máquinas, à revolução industrial, à potência de um animal, à potência de uma máquina, o torque, o Jaule, o Cavalo Vapor. A máquina a serviço do homem, a tecnologia que evolui e hoje nos dá. Coisas como as que os Chemical Brothers fazem.

"Swoon", o primeiro single do álbum é um pop radiante, ensolarado, colorido, com cara de dia de primavera. Apaixonante! Tambores e ritmos tribais dão o tom em "K.D.B" que, ao contrário do que se possa imaginar não torna-se pesada ou agressiva pela ênfase percussiva. Os Chems encontram mais uma vez o ponto de equilíbrio entre o conceito, o primitivismo, as raízes negras da música eletrônica, e a palatabilidade comercial, produzindo aqui uma peça musical suave de atmosfera crescente e grandiosa.

Depois de toda essa viagem, "Wonder of Deep" retorna ao Kraftwerk, que no fim das contas, é como voltar ao início de tudo, a origem do universo do eletrônico.

"Further" é provavelmente o disco mais 'filosofal' dos Chemical Brothers. Nele Ed e Tom parecem se perguntar, "Por que estamos aqui?", "Do que somos feitos?", "De onde viemos, para onde vamos?", "E se...?". Talvez por isso eu tenha demorado um pouco para valorizar a obra. Não é todo dia que um álbum, da tão subestimada e desvalorizada música eletrônica, nos traz tanta informação.

Eles podiam ter ficado no conforto de sua reputação já consolidada, produzindo mais um hit certeiro aqui outro ali, mais uma febre das pistas, mas aqui se arriscaram. Mergulharam fundo e foram além. Além.

******************

FAIXAS:
  1. Snow (5:07)
  2. Escape Velocity (11:57)
  3. Another World (5:40)
  4. Dissolve (6:22)
  5. Horse Power (5:51)
  6. Swoon (6:05)
  7. K+D+B (5:40)
  8. Wonders Of The Deep (5:13)

*****************
Ouça:



por Cly Reis

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CLAQUETE ESPECIAL 13 anos do ClyBlog - The Who - Live at Isle of Wight Festival 1970, de Murray Lerner (1996)


LOUCA PERSPECTIVA DA ILHA
por  E L E N I C E   M I C H E L O N



 
"Senhoras e senhores, 
desocupem os seus sacos de dormir 
e sejam bem vindos!"
Jeff Drexler, 
mestre de cerimônias do Festilval de Wight, 
convocando o público a acordar, às 4 da manhã,
e assistir ao show



Como dizia o grupo Língua de Trapo, “Foi no dia de São João Batista que conheci Deusdéti; naquele tempo eu já era Marxista e ela ainda ia em discoteque”. Posso dizer que conheci o The Who numa ilha, aos vinte e poucos anos, tendo já vivido várias utopias, algumas teorias e já abandonado algumas delas. Caiu-me nas mãos o DVD do Festival da Ilha de Wigth de 1970 através de um amigo.

Como diz o título, o que relato nestas linhas é minha louca perspectiva ao vivenciar, infelizmente não possuo uma máquina do tempo, o que até hoje minha razão insiste em negar. 

Primeiro ato: luzes apagadas, um vulto de branco corta rapidamente o palco; expectativa do público e minha. Eis que explode um som que invade meu cérebro como uma marreta, sendo a dor surpreendentemente agradável.

Me deparo com um guitarrista vestindo um macacão alguns números menores, creio que propositalmente, ou não... coisas de gênios. Em outra cena, desce um esqueleto marionete (em minha mente, juro que vi), Ás do baixo, coadjuvante digno de um Tony Awards.

Segundo ato: prefaciado por "I Cant’ Explain" e diante de uma platéia atônita, surge um deus de longos cabelos encaracolados, franjas balouçando aos seus movimentos, dorso quase nu; sem esforço algum, sem nada pedir, na fração de segundos em que minha retina capta sua visão, se torna meu sex symbol, pondo Robert Plant “no chinelo”, utilizando uma expressão popular. A voz incomparável ressoava pelo teatro/ilha ou vice versa.

Extasiada, sentidos aguçados, perscruto o tablado e emerge o ator principal; pensaram que o Tony estava garantido, ante minha eloquência ao falar de Roger Daltrey? Ledo engano... olhos insanos, baquetas incontroladas, porém dominadas a seu bel-prazer, trejeitos peculiares e autênticos, inteiramente entregue... talvez no decorrer desta existência fugaz, eu consiga definir o que senti e ficou incrustrado em meu ser, tamanha foi a intensidade de sua presença naquele show e os estilhaços de loucura que Keith Moon desferiu em minha alma; (uma pitada de poesia é necessária).

Terceiro ato: harmônica nos lábios do Roger e mais curtição por parte do Keith... Blues na medida para quem é exímia apreciadora desse gênero, dentre outros, como a música clássica. The Who soava como uma afinadíssima orquestra e certamente seriam ovacionados por Beethoven e sua trupe, destacando-se a saudação de Chopin, o mestre maior (preferência minha, ok?).

Quarto ato: não poderia faltar humor, o que ficou por conta do “gênio e o insano”, culminando com uma bofetada indolor. Após a delícia que foi presenciar tal cena, irrompem os vocais agudos de Apolo, na inesquecível "Water". Nesse instante, arrebatada por algo surreal, no despertar da Kundalini, senti-me transcender.

Os acordes de Jonh Entwistle transformaram o antes marionete, no próprio titereiro, tamanho controle exercido pelo seu dedilhar.

Como se não bastasse, me servem um aperitivo de Beatles e após um Southern Confort à la Janis; confesso que saboreei cada gole, enquanto Roger adicionava ao whisky seu gelo vocálico. Ah, desejava embriagar-me e queria mais. Atendida generosamente pelo Olimpo, solos de guitarra jorraram sem cessar, aliados às performances de seu criador Peter Thownshend.

Enquanto afinam seus instrumentos, permitam que lhes conte que nesse ano Gilberto Gil e Caetano Veloso, exilados, se apresentaram no Festival, representando a Tropicália. Não é à toa que são dois dos melhores artistas do Brasil e quiçá do mundo.

Último ato: Tommy não poderia deixar de comparecer, afinal, “ninguém” é tão especial quanto “ele”, ou marcou tanto, rendendo artigos à parte. Foi o ápice do Maior Espetáculo da Terra (recomendo o filme com esse mesmo nome).

As cortinas se fecham, gritos de “Bravo!!!” presos na garganta, aplausos contidos, não ouso levantar-me... Quedo-me, sorvendo o último gole.

John Entwistle, e sua indumentária cadavérica, com
o alucinado Keith Moon, destruindo tudo, lá atrás, na bateria.


Assista:
The Who - Live at Isle of Wight Festival -1970


*****************




Elenice Michelon
tem 49 anos, mora em São Marcos/RS e tem duas filhas, Morgana e Heloiza.
É formada em Administração de Empresas, e por amor às palavras, atualmente cursa a faculdade de Letras Português/Inglês.
É apaixonada por poesia, principalmente Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Florbela Spanca, Pablo Neruda e Carlos Drummond de Andrade, curte rock, blues, música clássica, MPB e ópera, e aprecia as artes em geral, sem preconceitos de qualquer natureza.
Seus hobbies são artesanato (tricô, crochê), violão, ler e o contato com a Natureza.
Eterna aprendiz, busca conhecer um pouco de cada cultura, extrair e absorver o máximo do que lê, assiste e vivencia.
Futilidades não lhe interessam, pois aprecia conversas inteligentes que a façam pensar e que possam enriquecê-la, bem como a simplicidade das coisas, que, segundo ela "é onde reside o mágico, o belo e o segredo do universo...o Surreal".



"Sou mais a palavra ao ponto de entulho.
Amo arrastar algumas no caco de vidro,
envergá-las pro chão, corrompê-las, -
até que padeçam de mim e me sujem de branco."
- Manoel de Barros






sexta-feira, 14 de agosto de 2020

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 12 ANOS DO CLYBLOG - Pink Floyd - "The Wall" (1979)


"Vera! Vera!
O que aconteceu com você?
Alguém por aqui
Sente o mesmo que eu?"
trecho da música "Vera", 
que faz referência a Vera Lynn,
recentemente falecida.



"The Wall" definitivamente não é melhor trabalho do Pink Floyd, não é melhor que "Wish You Were Here" ou "The Dark Side of the Moon", mas é tão icônico quanto. É um álbum fundamental pela qualidade musical aliada a temática existencialista e, também, pela enorme capacidade  de adaptação as novas mídias, adaptação para cinema, shows e novas versões, que cativam o público fiel da banda e atraem novos admiradores para Pink Floyd.

Pink Floyd foi uma banda inglesa formada em Londres no ano de 1965, liderada por Syd Barret (1946-2006),  cujo período marcado pelo psicodelismo durou até o ano de 1968, quando foi substituído por David Gilmour (1946) nos vocais e guitarra. Roger Waters (1943) nos vocais e guitarra baixo, Richard Wright (1943-2008) nos vocais e teclados e Nick Mason (1944) na bateria completam a formação clássica que imprimiu uma linha de som progressiva, período que lançou o álbum The Wall.

"The Wall", álbum duplo produzido e lançado em 1979, é uma “ópera rock” que rivaliza com outros sucessos do gênero, como "Tommy" (1969) do The Who"...Ziggy Stardust" (1972) de David Bowie. São exatamente 26 músicas compostas na sua maioria por Roger Waters, que apresentou a proposta temática a banda, assumiu as letras, a maioria das músicas, a coprodução, e o design do álbum. A personalidade de Waters se agigantou ao longo da produção de "The Wall", tomando o controle da banda para si, quando os componentes do Pink Floyd já demonstravam a incapacidade de administrar seu egos e anseios artísticos.

O tema elaborado por Waters de The Wall, em tom autobiográfico,  trata da perda do pai (Eric Fletcher Walter morto na Batalha de Anzio na Itália durante a 2ª Guerra Mundial), a imagem da mãe protetora, a repressão do sistema educacional inglês, a sexualidade reprimida na adolescência e a traição, que vão compondo partes de um muro protetor ao redor do solitário personagem do trama, que em meio ao medo e ao ódio, renasce na pele de um líder fascista.

Musicalmente, "The Wall" segue a linha criativa dos trabalhos anteriores do Pink Floyd, com uma base instrumental irrepreensível, marcada pela pegada firme do baixo de Waters em sintonia com o peso da bateria de Mason, os voos solos da guitarra de Gilmour, mas pouca coisa de Wright (em processo de saída da banda). Mixagens e efeitos sonoros estabelecem um diálogo que alterna velocidade e ritmo, com Waters em uma vocalização esquizofrênica contrapondo o tom vocal mais contido de Gilmour.

No meio de tantas faixas, destacam-se "Another Brick in the Wall", música em três partes, a conhecida música do helicóptero foi faixa de trabalho nas rádios por ocasião do lançamento do álbum, sendo considerada um hino contra a repressão escolar.  "Mother", trata da superproteção e castração materna, e "Hey You" um pedido desesperado de ajuda. Mas é "Comfortably Numb", considerada por muitos como a melhor composição do grupo, criação original de Gilmour para seu trabalho solo, mas que apresentado a Walters, este deu letra à música, e incorporou ao álbum, com o destaque do virtuoso solo da guitarra de Gilmour.

"The Wall", o filme, foi adaptado para o cinema em 1982, conduzido pelo ótimo diretor Alan Parker (cuja filmografia também é fundamental), cineasta recentemente falecido, com Roger Walters de roteirista. O filme narra a vida de Pink, astro de rock interpretado por Bob Geldof, cuja estória é ancorada pelas músicas do álbum. O filme obteve boas críticas em geral, considerado por alguns como uma das melhores obras do gênero musical e do rock. "The Wall" custou US$12 milhões e arrecadou $22 milhões só nos Estados Unidos. Em Porto Alegre as exibições ocorreram no antigo e saudoso cinema Baltimore, onde a sala de exibição tinha uma atmosfera própria, um névoa londrina tomava conta do local, provocada pelo consumo cigarros proibidos e embalada pela poderosa trilha sonora. Terminado a exibição os expectadores se misturavam com a horda que habitava o bairro Bonfim, reduto boêmio da cidade da época.

Filme "The Wall", de Alan Parker

"The Wall", o show, originalmente apresentado entre 1981 e 1982 na Europa e EUA, passou pelo Brasil em turnê de Roger Waters, por três cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo e Rio) em março de 2012, sendo um dos maiores espetáculos musicais apresentados no país. O palco era constituído de um muro de 137 metros de largura, onde eram projetadas imagens originais de Gerald Scarfe do álbum, e incluía o famoso avião cruzando o estádio do Beira-Rio (estádio do Sport Club Internacional, que estava em obras na época) e explodindo junto ao muro. Segundo a revista Billboard, a turnê arrecadou mais de 450 milhões de dólares, o que faz dela a terceira de maior sucesso na história.

Passados 40 anos do lançamento de "The Wall", e 75 anos do fim da 2ª guerra mundial, com o fim da vida daqueles que testemunharam e lutaram contra a escalada do fascismo na Europa, assistimos o renascimento da cultura do ódio e do medo em vários cantos do mundo. Sim, "The Wall" continua atual, o que o eleva a categoria de Álbum Fundamental.


"The child is grown
The dream is gone"
versos finais da música "Confortably Numb"



por  Á L V A R O   S T E I W


*************************

FAIXAS:

  • Lado 1 (primeiro vinil)

1. "In the Flesh?"  
2. "The Thin Ice"  
3. "Another Brick in the Wall (Part I)"  
4. "The Happiest Days of Our Lives"  
5. "Another Brick in the Wall (Part II)"  
6. "Mother"  

  • Lado 2 (primeiro vinil)

1. "Goodbye Blue Sky"  
2. "Empty Spaces"  
3. "Young Lust"  
4. "One of My Turns"  
5. "Don't Leave Me Now"  
6. "Another Brick in the Wall (Part III)"  
7. "Goodbye Cruel World"  

  • Lado 3 (segundo vinil)

1. "Hey You" 
2. "Is There Anybody Out There?" 
3. "Nobody Home" 
4. "Vera" 
5. "Bring the Boys Back Home" 
6. "Comfortably Numb" 

  • Lado 4 (segundo vinil)

1. "The Show Must Go On" 
2. "In the Flesh" 
3. "Run Like Hell" 
4. "Waiting for the Worms" 
5. "Stop" 
6. "The Trial" 
7. "Outside the Wall"  

******************************
OUÇA O DISCO:
Pink Floyd - The Wall



Álvaro Steiw é arquiteto e mestre em Sensoriamento Remoto, trabalha na área ambiental.
Gosta de filmes, fotos e músicas antigas.
Seu álbum preferido do Pink Floyd é "Ummagumma".

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

The Who - Anfiteatro Beira-Rio - Porto Alegre/RS (26/09/2017)



"Eu não acho que você poderia ter escolhido 
algum lugar no planeta Terra que proporcione 
um evento mais positivo. Na verdade, 
este era O LUGAR para se estar hoje à noite." 
Bryan Kehew, da equipe técnica do The Who, 
a respeito do show de Porto Alegre.

A gente se emocionar com uma banda é normal. Quando a gente vê que os músicos e equipe também se emocionaram com o mesmo show é a prova de que aquela noite foi realmente mágica e única. Conversei com meu pai após o show e comentei que, das bandas que NÓS dois realmente gostávamos, dos que ainda estão vivos e/ou na ativa, com o show do The Who poderíamos dizer que assistimos A TODOS: Steppenwolf, Santana, Rolling Stones, Ringo Starr e Paul McCartney (Beatles), Jack Bruce e Eric Clapton (Cream), Roger Waters e David Gilmour (Pink Floyd), Robert Plant (Led Zeppelin), Jethro Tull. Assistimos muitos shows juntos, é claro, mas estes aí com certeza são os que nos agradam fortemente e tem um sabor especial.

As lendas Daltrey e Townsend
Ver no palco (finalmente!) Roger Daltrey e Pete Townsend, acompanhados de uma fenomenal banda, com energia de garotos, com execução perfeita dos sons, com bom humor, felizes de estarem ali, felizes pelo feedback que estavam tendo do público (é o que o texto deste link fala), tocando uma sonzeira atrás da outra (óbvio que como fã eu gostaria de escutar várias mais) deu gosto, deu muito gosto esperar todo esse tempo.

Noites mágicas ficam na memória pra sempre, e estar com os que eu amo junto quase fez esse coração explodir de felicidade, não havia lugar pra se estar no planeta Terra, a não ser o show do THE WHO naquela noite.

"Listening to you
I get the music
Casing at you
I get the heat
Following you
I climb the mountain
I get excitement at your feet
Right behind you
I see the millions
On you
I see the glory
From you
I get opinions
From you
I get the story."
da letra de "See Me Feel Me", do The Who

Delírio do público porto-alegrense que conferiu o show,
elogiado pela própria equipe da banda

por Ricardo Finocchiaro Bolsoni

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

The Who - "Tommy" (1969)



"Tommy,
você pode me ouvir?"




Um dos mais brilhantes momentos da música em todos os tempos! A ousada obra-prima criada pelo The Who, "Tommy", acompanha a trajetória de um garoto cego, surdo e mudo, o mesmo que dá nome à obra, num modelo até então ousado para os padrões do rock: uma ópera. Um álbum conceitual lançado originalmente como duplo com um ousado trabalho gráfico, composto do início ao fim sob o mesmo tema e dentro de uma coerência de arranjos musicais. Num conjunto de composições geniais amarradas entre si, a dramática historia de Tommy que aborda temas como violência, infidelidade, maus tratos, abuso infantil, fanatismos, é contada enquanto as melodias se fundem, confundem, se repetem e se completam. Tudo sob o vigor do baixo de John Entwistle, a fúria incontrolável das baquetas de Keith Moon, a técnica e a potência da guitarra de Pete Townsend e os vocais precisos de Roger Daltrey. "Tommy" é um todo, um uno e por isso é até um tanto difícil destacar alguma "faixa" entre os capítulos da saga musical, mas não há como deixar de mencionar as ótimas "I'm Free", "See Me Feel Me", o clássico "Amazing Journey" e a emblemática "Pinball Wizard", capítulo importantíssimo na ópera marcando a virada na vida de Tommy de uma garoto frágil e vulnerável para o mago idolatrado dos jogos eletrônicos.
Apesar de alguma puerilidade nas abordagens e de uma certa ausência de riqueza na escrita a obra permanece pertinente até hoje, tanto musical, quanto conceitual, quanto tematicamente. A violência infantil, o bullying, a procura por si mesmo, as motivações de uma geração, a fé, os falsos profetas, são todos assuntos tão presentes hoje quanto na época do lançamento do álbum. Uma atemporalidade que unida ao arrojo da proposta e sustentada, é claro, pela enorme capacidade técnica dos músicos  fazem de "Tommy" o que é: um marco na história da música. Um álbum imortal e fundamental.
***************************

FAIXAS:
1. "Overture" - 5:21
2. "It's A Boy - 0:38
3. "1921" - 2:49
4. "Amazing Journey" - 3:24
5. "Sparks" - 3:46
6. "Eyesight To The Blind (The Hawker)" - 2:13

7. "Christmas" - 4:34
8. "Cousin Kevin" - 4:07
9. "The Acid Queen" - 3:34
10. "Underture" - 10:09

11. "Do You Think It's Alright?" - 0:24
12. "Fiddle About" - 1:29
13. "Pinball Wizard" - 3:01
14. "There's A Doctor" - 0:23
15. "Go To The Mirror" - 3:49
16. "Tommy Can You Hear Me?" - 1:36
17. "Smash The Mirror" - 1:35
18. "Sensation" - 2:27

19. "Miracle Cure" - 0:12
20. "Sally Simpson" - 4:12
21. "I'm Free" - 2:40
22. "Welcome" - 4:34
23. "Tommy's Holiday Camp" - 0:57
24. "We're Not Gonna Take It" - 7:08

************************
Ouça:
The Who - Tommy



Cly Reis

segunda-feira, 5 de maio de 2014

The Who - "Who's Next" (1971)


"Sou o computador HAL 9000.
Entrei em funcionamento na usina HAL
em Urbana, Illinois em
janeiro de 1992.
Meu instrutor foi o Sr. Langley
e ele me ensinou a cantar uma música.
Se quiser ouvi-la,
posso cantar para você"
computador HAL 9000
em "2001 - Uma Odisséia no Espaço"



Com uma base futurista, como se fosse o filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, o The Who projetou o “Who´s Next”. Alias, a capa do disco é influenciada justamente nesse clássico da ficção científica. Na foto, o monólito (estrutura geológica que aparece no filme) foi urinado pelos quatro membros da banda: uma atitude bem rock. Este disco está posicionado entre duas óperas rock do grupo: Tommy, de 1970, e Quadrophenia, de 1973.

Voltando à película cinematográfica, um dos personagens, o computador ultra inteligente HAL 9000 chega ao ponto de controlar a espaçonave, colocando os humanos tripulantes sob seus domínios. De certa forma, a comparação pode ser feita com o sintetizador ARP 2600, que comanda este álbum. A tecnologia foi capitaneada por Pete Townshend – o centro criativo da banda.

Neste registro, o The Who se mostra ainda mais maduro, flertando com o rock progressivo, que ganhava força na época e se perpetuaria até o final dos anos 70, momento de seu declínio. Nota-se também que as músicas, na maioria, são bem mais extensas. Outro gênero musical presente é o Synthpop, que ganharia notoriedade com o Kraftwerk, principalmente nos anos 80. Ou seja, o tradicional rock visceral deu espaço para mais experimentalismo, gerando descontentamento de alguns fãs quando lançado este disco.

Mesmo com a tecnologia, Pete Towshend usa bastante violão e piano, o que permite um contraste com os sintetizadores. As baladas também são marcantes no álbum.

Como não poderia ser diferente, no início desse registro quem se manifesta é o ARP, que dá o start em "Baba O'Riley". O equipamento emite sons que parecem de videogame, aqueles de Atari. A canção também conta com um solo de violino, que dá acabamento e finaliza a música. O resultado é uma bela fusão entre o eletrônico e o orgânico. Já em "Bargain", o começo tem aquele rolo de bateria nervoso e amalucado, característicos de Keith Moon. E em meio a palmas e a pinceladas de sintetizador, Roger Daltrey (gutural) e Pete Towshend (analasado) dividem os vocais.

Contradizendo com a proposta principal do disco, numa mescla de country com blues, surge "Love Ain't For Keeping”, fazendo um resgate ao passado. Os dois violões gravados por Pete e a dispensa do sintetizador contribuem para chegar a este destino. Um bem postado coral de vozes e a liberdade dada ao baixo para solar permitiram uma maior melodia à canção.

Num formato de power trio, duas faixas não contam a presença de Daltrey. Na "My Wife" é a vez da voz rouca do baixista John Entwistle entrar em ação. A canção tem um piano no estilo faroeste, além de instrumentos de sopros muito bem colocados do meio para o final da música, encerrando-a de forma mais épica. Já "Going Mobile", Towshend canta, com o seu violão, sobre o seu prazer em dirigir. E a letra é politicamente incorreta, com o trecho: “I don't care about pollution (Não me importo com a poluição)”.

Duas músicas têm como base o piano e que poderiam fazer parte da ópera rock Tommy. Em "The Song Is Over", Pete canta de forma depressiva, com um teclado de base. Mas, quando entra a voz Daltrey vem juntamente o peso da guitarra, do baixo e da bateria. Aí, as coisas se invertem, dando mais ânimo a música. Quase no mesmo tom tem "Getting In Tune", só que nesta é Daltrey que vocaliza de forma desanimada e depois energética. A construção musical é parecida com a canção anteriormente referida, uma espécie de continuação.

A clássica "Behind Blue Eyes" é uma balada tão contagiante, que foi dispensado o uso do ARP. É uma música à moda antiga, boa cantar numa roda de amigos. Do início até a metade é introspectiva, com violão e baixo, este último instrumento com arranjos mais elaborados. Na parte final, a levada é no estilo consagrado do The Who, ou seja, com aquele peso nos instrumentos que fizeram sucesso no início da carreira.

Futurística e espacial. Estes são dois adjetivos que podem ser aplicados a "Won't Get Fooled Again", faixa que encerra o álbum. Certamente, poderia estar na trilha sonora do “Odisseia no Espaço”. É a canção mais longa do disco, com 8 minutos e 33 segundos. Ela é tão boa, que o tempo passa como um foguete, quase na velocidade da luz. Mais uma vez, o HAL, digo, o ARP entra em ação e, praticamente, é tocado numa mesma base sonora, do início até o final, com pequenas variações no meio da música. É um contagiante encerramento para este grande enredo musical.

Após esse álbum, Moon teria pela frente mais três discos para gravar. Entwistle mais cinco. E a dupla Daltrey e Townshend estão vivos e na ativa, para quem sabe fazer ainda mais.

“Who´s next” é para ser escutado durante as próximas gerações. De avô para neto. Um legado deixado para os adoradores de rock.
************************************

FAIXAS:

  1. "Baba O'Riley" - 5:08
  2. "Bargain" - 5:34
  3. "Love Ain't For Keeping" - 2:10
  4. "My Wife" (John Entwistle) - 3:41
  5. "The Song Is Over" - 6:14
  6. "Getting In Tune" - 4:50
  7. "Going Mobile" - 3:43
  8. "Behind Blue Eyes" - 3:42
  9. "Won't Get Fooled Again" - 8:31

***********************************
Ouça:


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

The Who - "A Quick One" (1966)



"Garotinha, por que você não pára de chorar?
Vou te fazer se sentir melhor(...)
Por favor, pegue um doce
Venha dar uma volta comigo
Vamos resolver isso
Lá em casa, quem sabe."
da letra de "A Quick One" 
Conheci esse disco no antigo programa “Base Sonora" da Ipanema FM de Porto Alegre. Tocou na íntegra e gravei em cassete na época. Só agora, anos depois, tomei vergonha na cara e comprei o CDzinho que, inclusive traz uma série de bônus.
Sempre curti muito esse disco, o "A Quick One", de 1966,  porque, embora goste de toda a elaboração do som do Who, este disco soa mais básico, mais rápido, canções mais agitadas, mais curtas, ainda sem toda aquela complexidade quase operística que marcaria posteriormente o trabalho da banda. Exceção feita à músioca que empresta o nome ao disco, mais longa e complexa com partes e entrepartes, o resto é rock’n roll básico com influências de surf-music, rockabilly, de cultura pop e é claro, de blues, como não podia deixar de ser no trabalho da banda, mas aqui bem mais sutilmente.
Conferidas especiais em “Run, Run, Run” bem 'surfistinha'; na engraçada “Boris the Spider”, do baixista John Entwistle com seu instrumento bem em evidência, bastante grave e acentuado; na esquisita, psicodélica e teatral “Cobwebs and Strange” com show particular na bateria do autor, Keith Moon; para a cover de Martha and the Vandellas,“Heatwave”; e para o rock gostoso “Don’t Look Away”de Townsend.
O detalhe é que a reedição de 1995 também traz ótimos registros como a ótima “Doctor, Doctor”, também de Entwistle; as covers muito legais “Bucket T” e “Barbara Ann”; “Happy Jack” numa versão acústica; uma versão alternativa de “My Generation” misturado com o hino "Land of Hope and Glory"; além de uma regravação muito bacana do tema do seriado Batman de Neal Hefti. De primeira!
A fase óperas-rock do Who é genial, é certo, mas um disco como este, “A Quick One” bem simples, mais cru, mais bobinho, menos pretencioso, de composições mais variadas, também é muito legal de se curtir. Recomendo.
E então,.. topam essa 'rapidinha'?

*************************************************

FAIXAS:
  1. Run, Run, Run
  2. Boris The Spider
  3. I Need You
  4. Whiskey Man
  5. Heat Wave
  6. Cobwebs and Strange
  7. Don't Look Away
  8. See My Way
  9. So Sad About Us
  10. A Quick One While He's Away
extras da reedição de 1995:
  1. Batman
  2. Bucket T
  3. Barbara Ann
  4. Disguises
  5. Doctor, Doctor
  6. I've Been Away
  7. In The City
  8. Happy Jack (acústica)
  9. Man With Money
  10. My Generation / Land of Hope and Glory
********************************************
Ouça:

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

The Who 'Live at Leeds" (1970)




"O melhor álbum de rock ao vivo de todos os tempos."
The New York Times


Vim ouvindo hoje no carro The Who “Live at Leeds”. Pra mim o melhor álbum ao vivo de todos os tempos. The Who é rock puro na sua essência e certamente uma das mais influentes bandas para estilos e gerações que se seguiriam, tendo, por exemplo, uma música gravada posteriormente pelos Sex Pistols, “Substitute”.
O disco saiu originalmente em 1970 em LP com apenas seis faixas e com uma capa que era uma espécie de pacote de papel pardo. Quando lançado em CD em 1996 agregou o restante do show e consolidou o set-list definitivo. “Summertime Blues” de Eddie Cochram ganha uma ótima versão,“Young Man Blues” está “matadora”, com Keith Moon endiabrado no final, “My Generation” fica quilométrica e recheada por diversas inserções. O álbum original fecha “Magic Bus” é simplesmente mágica.
Em 2001 uma versão luxo trouxe um segundo CD com a ópera-rock Tommy, que é legal também mas o clássico mesmo é o CD-1.

The Who “Live at Leeds”
CD 1
  1. "Heaven and Hell" (Entwistle) – 5:09
  2. "I Can't Explain" (Townshend) – 2:26
  3. "Fortune Teller" (Neville and Spellman) – 3:22
  4. "Tattoo" (Townshend) – 3:00
  5. "Young Man Blues" (Allison) – 5:56
  6. "Substitute" (Townshend) – 3:04
  7. "Happy Jack" (Townshend) – 2:13
  8. "I'm a Boy" (Townshend) – 2:45
  9. "A Quick One, While He's Away" (Townshend) – 8:51
  10. "Summertime Blues" (Capehart and Cochran) – 3:34
  11. "Shakin' All Over" (Kidd) – 4:34
  12. "My Generation" (Townshend) – 15:24
  13. "Magic Bus" (Townshend) – 8:21
CD 2
Tommy
  1. "Overture" (Townshend) – 6:53
  2. "It's a Boy" (Townshend) – 0:31
  3. "1921" (Townshend) – 2:26
  4. "Amazing Journey" (Townshend) – 3:18
  5. "Sparks" (Townshend) – 4:23
  6. "Eyesight to the Blind" a.k.a. "Born Blind" (Sonny Boy Williamson) – 1:58
  7. "Christmas" (Townshend) – 3:19
  8. "The Acid Queen" (Townshend) – 3:35
  9. "Pinball Wizard" (Townshend) – 2:25
  10. "Do You Think It's Alright?" (Townshend) – 0:22
  11. "Fiddle About" (Entwistle) – 1:13
  12. "Tommy, Can You Hear Me?" (Townshend) – 0:55
  13. "There's a Doctor" (Townshend) – 0:23
  14. "Go to the Mirror!" (Townshend) – 3:24
  15. "Smash The Mirror" (Townshend) – 1:19
  16. "Miracle Cure" (Townshend) – 0:13
  17. "Sally Simpson" (Townshend) – 4:01
  18. "I'm Free" (Townshend) – 2:39
  19. "Tommy's Holiday Camp" (Keith Moon) – 1:00
  20. "We're Not Gonna Take It" (Townshend) – 8:48
*************************
OUÇA:
The Who Live at Leeds Deluxe Edition


Cly Reis