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domingo, 29 de maio de 2011

"Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho", de Charles Bukowski (2010) - L&PM



"Estilo significa guerrear sem escudo.
Estilo significa não ter frente de batalha.
Estilo significa a mais absoluta naturalidade.
Estilo significa um homem sozinho com um bilhão de homesn em volta."
Charles Bukowski


Passei ontem pelas últimas páginas de "Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho" de Charles Bucowski, uma coletânea de textos variados e de origens diversas de um dos mais controvertidos escritores dos últimos tempos e um dos melhores a meu juízo. Apesar de admirador do estilo e da obra do autor, tenho que admitir que este livro em especial não enquadra-se entre os melhores de sua bibliografia, até mesmo por este caráter variado das procedências que faz com que o mesmo perca algum sentido de unidade. Com resenhas para jornais, artigos para revistas, crônicas, contos, críticas literárias e escritos perdidos nunca publicados até então, o livro de certa forma percorre a carreira do escritor e acompanha sua evolução. Nem tudo tem lá muita qualidade. A escrita do Velho Safado mostra-se por vezes ainda um tanto incipiente, um tanto sem rumo, sem alvo certo, onde em alguns casos até a velha e característica verborragia incontida e impiedosa não consegue atender nem aos próprios princípios literários.


Porém mesmo com alguns defeitos nesta coletânea, Buk consegue ser melhor do que a maioria dos escritores contemporâneos e que as coisas que se lê hoje em dia. Seu texto tem energia, tem vigor, tem forma, tem objetivo, fúria, mesmo quando simplesmente põe linhas aparentemente desordenadas e sai atacando tudo no escuro.

Falando assim pode parecer que "Pedaços de um Cadernos Manchado de Vinho" é só um amontoado de escritos fora de propósito, o que em absoluto seria verdade: O livro traz preciosas apreciações literárias sobre Hemingway, Pound e Artaud; ensaios sobre conceitos pessoais de escrita e estilo; e contos admiráveis com as marcas registradas do velho beberrão.

Algumas das muitas "Notas de um Velho Safado" que aparecem neste livro, nome da antiga coluna publicada em revistas ao longo de sua carreira, são rigorosamente imperdíveis, outras bem dispensáveis; sua "Antologia de Artaud" é simplesmente magnífica; o bom conto "Malhação" tem toda a boa e velha sujeira e putaria de Bucowski; já o ótimo "20 Tanques para Kasseldown" traz uma admirável sutileza, uma aura de mistério e um tom sombrio e pessimista. Também deve-se destacar outros contos de ficção como o curioso "Como tudo começou" e o emocionante "Eu conheço o Mestre", além do espetacular "O Outro", um misto de romance policial, espionagem e sobrenatural que (tomara que Buk não esteja lendo isso no outro mundo mas), lembra o "Horla" de Maupassant. Os ensaios literários também merecem menção, sobretudo dois deles, o notável "Sobre a matemática da respiração e do estilo" e o lindíssimo "Treinamento Básico", um apaixonado manifesto que fecha o livro com tudo o que um leitor pode querer ler da essência de um escritor.

Se formos comparar com outras obras de Charles Bukowksi, como o livro de contos "Crônicas de um Amor Louco", as reflexões filosóficas de "O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio", ou o excelente romance policial "Pulp", certamante este aqui fica lá para trás, mas vale sempre pelo jeito turrão e 'mal-humorado', vale pela escrita, pelo jeito autêntico de escrever, vale pela visão da vida sob um ponto de vista mais cru e mundano, vale pelo humor, pelo sarcasmo,... e se não vale por tudo isso, vale ao menos pela curiosidade. Para os fãs, como eu, um prato cheio.



Cly Reis

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Selecionados para a publicação coletiva "Big Buka"



Como estava de férias, já se passaram alguns dias, eu já comentei no nosso espaço lá no Facebook, mas acho legal que seja registrado aqui no blog mais uma conquista pessoal e do clyblog, por extensão: a novidade é que um conto deste humilde blogueiro foi selecionado para a coletânea "Big Buka - Para Charles Bukowski" a ser lançado pela nossa parceira a Os Dez Melhores. Fico realmente extremamente feliz de integrar esse seleto grupo de dez autores que tiveram o prazer e a responsabilidade de escrever sobre este grande autor, muitas vezes subestimado pela sua simplicidade  de escrita e objetividade, e terem seus contos escolhidos para fazer parte deste livro. Pode parecer óbvio, mas torcia muito pelo meu conto por ver nele uma série de qualidades e referências que, na minha opinião, imodesta e suspeita, o faziam forte candidato a ser selecionado. ainda bem que os julgadores da editora entenderam da mesma forma.
Particularmente, é meu terceiro trabalho envido para seleção e o terceiro escolhido. Ôpa!!! 100% de aproveitamento! Não deve ser mero acaso e talvez eu tenha alguma qualidade para o negócio. Mas como disse, é legal para o blog, porque além do fato dos contos serem um item forte no nosso conteúdo geral, sempre presentes na seção COTIDIANAS, somando as minhas com as publicações do meu irmão e parceiro de blog, Daniel Rodrigues  já temos 4 publicações em livros coletivos, além do premiado "Anarquia na Passarela", este individual do próprio Daniel.
Quando comecei o blog ficava muitas vezes me perguntando pra que escrever aquelas 'historinhas', para quem estava escrevendo, se alguém lia, se valia a pena... Bom, acho que independente das respostas às perguntas anteriores, não pode haver estímulo maior para continuarmos escrevendo e escrevendo e escrevendo do que o reconhecimento do nosso talento, e sermos, eu e o Daniel, escolhidos entre tantos outros autores de qualidade enche-nos de satisfação.
Mas enfim, mesmo que futuramente não consigamos publicar ou entrar em coletâneas, seleções ou antologias, mesmo que nem sempre consigamos reconhecimento, mesmo que, no fim das contas, ninguém nos leia, como diria o próprio Bukowski, "Não há perdas em escrever".


Abaixo a lista dos autores selecionados para o coletivo "Big Buka":

Cly Reis

Fabio Mourão

Heliton Queiroz

Jeremias Soares

Marina de Campos

Max Moreno

Rafael Simeão

Willian Couto

Wuldson Marcelo

Afobório (organizador)

Parabéns aos colegas também escolhidos.

Cly Reis


sexta-feira, 20 de abril de 2018

cotidianas #563 - meus gatos



"Gato ao sol", desenho de Charles Bukowski
eu sei, eu sei,
eles são limitados, tem diferentes
necessidades e 
preocupações.

mas observo e aprendo com eles.
gosto do pouco que eles sabem,
que é
tanto.

eles reclamam mas nunca
se inquietam.
caminham com uma dignidade surpreendente
dormem com uma simplicidade direta que
os humanos simplesmente não conseguem
entender.

seus olhos são mais
belos do que os nossos olhos.
e eles conseguem dormir 20 horas
por dia
sem
hesitação
ou remorso.

quando estou me sentindo
pra baixo
tudo que preciso fazer é
observar meus gatos
e a minha
coragem
retorna.

estudo essas
criaturas.

são meus
professores.

***********
"meus gatos"
Charles Bukowski

domingo, 22 de fevereiro de 2015

cotidianas #353 - Charles Bukowski sobre Música e Cinema



"Todos os dias volto do hipódromo apertando o rádio em diferentes estações, procurando música, música decente. tudo é ruim, insípido, sem vida, sem melodia, indiferente (...).
(...) Os filmes são tão ruins quanto a música. Você ouve ou lê a crítica. Um grande filme. E dái saio pra ver o tal filme.  E sento lá me sentindo um grande idiota, me sentindo roubado, enganado. Posso adivinhar a próxima cena antes de acontecer. E os motivos óbvios dos personagens, o que os move, o que desejam, o que é importante para eles é tão infantil e patético, tão enfadonho e grosseiro. As partes românticas são irritantes, velhas bobagens preciosistas.
Acho que a maioria das pessoas vê filmes demais. E, com certeza, os críticos. quando dizem que um filme é ótimo, quererm dizer que é ótimo em relação a outros filmes que vram. Perderam a visão geral. São martelados com cada vez mais filmes novos. Simplesmente não sabem, estão perdidos no meio daquilo. Esqueceram o que é realmente ruim que é a maior parte do que assistem."



Charles Bukowski
do livro "O Capitão Saiu para o almoço
e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio"

terça-feira, 7 de março de 2017

COTIDIANAS ESPECIAL nº500 - "Peso Morto"



P E S O   M O R T O
M  A  X     M  O  R  E  N  O


QUANDO A NOTÍCIA DO ACIDENTE CHEGOU ao IML de Santa Mônica, Flávio sorriu. Pensou logo em André, seu parceiro de longa data no recolhimento de corpos de pessoas mortas em acidentes nas rodovias da região. A informação inicial dava conta de que as vítimas, dessa vez, era uma senhora — de uns sessenta e tantos anos — e uma moça com idade entre vinte e vinte e cinco anos.
A caminho do local do acidente, Flávio estampava no rosto uma satisfação mórbida. Tinha os olhos vidrados na estrada, as pupilas dilatadas, um sorriso malicioso congelado no canto da boca e o pé pressionando o pedal do acelerador, enquanto André, absorto, fitava através da janela do rabecão a paisagem rural que se estendia por dezenas de quilômetros.
— Isso é uma tremenda doideira! — disse André, sem chegar a dirigir o olhar ao parceiro de profissão.
— A vida é assim mesmo, cara, relaxa! — Flávio mantinha um tom de voz amistoso, e a mesma expressão de satisfação ainda estava instalada em seu rosto. — Azar de uns, sorte de outros.

Mesmo com todas as especulações dos curiosos e o procedimento padrão junto à Polícia Rodoviária, o resgate dos corpos acabou sendo mais rápido do que o habitual. Quando Flávio e André chegaram ao local, os paramédicos já haviam retirados os corpos das ferragens — do que restou de um Toyota Corolla Xei 2015 —, que agora jaziam sob um plástico negro na lateral de uma das pistas. O corpo da idosa sofrera alguma avaria na altura da bacia; já o cadáver da moça — exceto por uma fratura exposta no braço direito — estava intacto. O veículo em que elas trafegavam foi “tirado” da estrada e capotou várias vezes antes de ser arremessado contra a vegetação rasteira na beira da estrada. Um dos policiais que atenderam a ocorrência, demonstrava a mesma emoção de quem está habituado a ocupar um posto de operário na linha de produção de uma indústria, ao explicar que um caminhoneiro — desses metidos a terroristas — exagerou ao encostar na traseira do carro onde as mulheres estavam.
— Esses caras não ligam para ninguém — disse ele, encerrando a conversa com uma moça com cara de boneca japonesa, que segurava o microfone (com o emblema da TV local) em uma das mãos.

Cerca de quinze minutos depois, os dois jovens voltavam a sentir o vento no rosto, invadindo as janelas do carro fúnebre. Já estavam na estrada, de volta. Rodaram mais seis ou sete minutos antes de Flávio diminuir a marcha e deslizar o veículo pelo acostamento da pista. Os dois jovens trocaram um olhar em silêncio. À direita do carro, erguia-se uma grande plantação de milho, costurada por uma estradinha de terra, tortuosa. O milharal se estendia até onde a vista podia alcançar. “O lugar perfeito”, pensou Flávio. Entrou com o veículo e estacionou na diagonal, mutilando um pequeno trecho da plantação, de modo que o rabecão ficou encoberto pelo rio de tendões dançantes.
— Hora de suar, irmão! — disse Flávio, abrindo a porta do veículo.
O amigo permaneceu no banco do carona. Ainda mantinha o cinto de segurança travado e o olhar fixo num ponto imaginário, pensativo.
— Qual foi, André?
— Isso não está certo, cara!
Flávio desceu do veículo. Já estava se encaminhando para a parte de trás do rabecão, quando mudou de ideia. Retornou e encarou o amigo.
— O que é que tá pegando, cara? Anda, desce logo daí.
— Essa merda toda, Flávio — ele meneava a cabeça —, isso não está certo!
— Relaxa, cara, os mortos não falam.
— É muita sacanagem, não quero mais continuar com essa parada!
— Deixa de besteira, e me ajuda aqui com a gostosa.
Contrariado, André desceu do veículo e foi ao encontro de Flávio, que já se preparava para puxar a gaveta com o corpo da moça.
Passava das duas da tarde e, no céu, algumas nuvens carregadas se revezavam na tarefa de inibir os raios do sol, o que tornava a temperatura mais amena. Com a habilidade adquirida ao longo dos anos, os dois rapazes não encontraram nenhuma dificuldade em carregar a gaveta com o corpo da moça até uma das fileiras (de milho) um pouco mais distante do carro.
— E aí, vai querer buscar a velha? — perguntou Flávio, picando um olho.
— Que tal ir se foder?
— Calma, cara, eu só estou zoando.
O amigo deu de ombros.
Andando de costas, André se afastou lentamente do corpo da garota, enquanto Flávio começava a despi-la. Fazia isso com uma naturalidade assustadora. O estranho brilho em seus olhos denunciava: ele estava curtindo o ritual macabro.
— Até que ela tem uns peitinhos lindos — disse André, à distância, mas dando adeus ao discurso cheio de pudor que ensaiara inicialmente.
— Tá fazendo o que ainda aqui? Vaza logo, cara. Volta pro carro e vê se fica de olho.
André obedeceu e mergulhou no milharal de volta ao rabecão, enquanto Flávio terminava de despir a falecida. Feito isso, ele arriou as próprias calças e se debruçou sobre ela, ofegante como um animal no cio.
Menos de dez minutos depois, ele voltou para o veículo. Tinha no rosto uma expressão nojenta de satisfação. Fez um sinal com a cabeça, indicando que agora era a vez do amigo.
André conseguiu ser ainda mais rápido, e três minutos depois já havia encharcado os seios da morta com seu esperma pegajoso.

***

De volta ao IML a vida sugeria uma normalidade contraditória, e nenhum dos dois rapazes voltou a tocar no assunto.  A convivência com a morte, às vezes, faz isso com as pessoas, se convenciam. Mas a verdade era que admitir algum tipo distúrbio de comportamento implicava em ter de encarar um problema que resultaria em sérias consequências morais e religiosas. Aquela já era a décima segunda vez que os amigos se entregavam aos prazeres dos mortos. Contudo, embora não tivesse o menor controle sobre o seu lado pervertido, André via a necrofilia como um pecado mortal. Já tinha ido longe demais. Tenho que parar com essa porra toda, relutava. O peso (na consciência) começava a ficar insuportável. Por isso, quando o fim de semana chegou, o rapaz viu na confissão com o padre Germano alguma possibilidade de redenção com o Pai Celestial. André estava longe de ser uma pessoa religiosa, mas acreditava que tal atitude pudesse, de alguma forma, abrir um canal de “negociação” com o Criador. Já é alguma coisa!
No confessionário, André levou quase cinco minutos ensaiando como começaria a conversa com o representante de Deus e, na falta de uma frase mais criativa, decidiu usar o mesmo clichê idiota que todos os desgraçados usam:
— Padre, me abençoe porque eu pequei.
Padre Germano fez seu comentário inicial (de praxe) e ouviu —  sem interrupções — toda a história do jovem pecador. Em seguida entregou-se a um silêncio perturbador.
— Padre?... Ainda está aí?
— Sim, estou aqui, meu filho.
Ouviu-se então um soluço do lado do confessionário onde o eclesiástico estava.
— O que eu devo fazer? Não aguento mais essa culpa.
— Quero que medite por um instante, filho. Busque a resposta dentro do seu coração.
André passou tanto tempo mergulhado em questionamentos teológicos e filosóficos, que quando deu por si, quase dez minutos já haviam se passado.
— Padre, o senhor pode me perdoar?
Um novo silêncio se instalou no ambiente. Mas este fora quebrado antes que completasse cinco segundos.
— Creio que isso não seja uma tarefa muito fácil, garoto.
O som veio de algum ponto atrás das costas de André, e não era a voz do padre Germano.
Ao girar o corpo, o jovem se separou com dois policiais que — sem nenhuma cerimônia — o algemaram imediatamente.
— Padre — questionou ele —, que merda é essa? Essa porcaria de confissão não era para ser sigilosa?
Padre Germano se aproximou de André, e as lágrimas percorreram suas bochechas rosadas.
— Sim, meu filho. A confissão é um ato sigiloso. Mas — ele enxugou os olhos com um lenço todo amarfanhado —, desde que você não tenha perdido a irmã e uma sobrinha num trágico acidente de carro, e tenha passado pelo constrangimento e a dor ter tido os corpos de seus entes queridos profanados por um cretino como você.
— Mas, padre!
— Vá pro inferno, meu filho!
O tom irônico adotado pelo padre chamou a atenção dos policiais, que trocaram um olhar de aprovação no momento em que conduziam o rapaz a 16ª Delegacia de Polícia.

***

Na cadeia, André não viu outra opção a não ser entregar o amigo. Foi num julgamento sob olhares revoltosos que ambos foram apresentados ao termo “vilipêndio a cadáver”. E foi nesse mesmo dia que descobriram que, de acordo com o Artigo 212 do Código Penal Brasileiro, a pena para esse tipo de crime pode chegar a três anos de detenção, além de multa aos infratores. O juiz que julgou o caso foi compreensivo com a dupla e os isentou do pagamento da tal multa, condenando-os “apenas” aos três anos de reclusão.
Saíram de lá antes do aniversário de dois meses de encarceramento. Os dois jovens foram assassinados por seus companheiros de cela e — ironicamente — tiveram seus corpos profanados por meia dúzia de detentos que ocupavam o mesmo pavilhão.



***



Max Moreno é escritor e redator publicitário. É autor do romance "A Outra Sombra", publicado originalmente em 2013 e traduzido e publicado em inglês em 2016; e autor participante da coletânea de contos "Big Buka - Para Charles Bukowski" (2016) em homenagem ao escritor norte-americano.
Paranaense, nascido em Mariluz, Max reside atualmente na cidade de Campo Mourão, tambem no Paraná, onde, além da atividade literária, é locutor na rádio Musical FM.


quinta-feira, 31 de março de 2011

cotidianas #74 - Hoje eu vou comer sua bunda


"A bunda é cara da alma do sexo."
Charles Bukowski



D esde aquela noite percebeu que as coisas não seriam tão simples quanto tinham lhe parecido antes. Para satisfazer seu mais novo hábito não poderia simplesmente vestir-se, virar as costas e ir embora. Não, aquilo sempre exigiria alguma medida mais séria. Só que agora que tinha gostado e sabia que ia querer fazer aquilo de novo.
Tudo começou com uma raspadinha de dentes, com um mordiscada no traseiro do rapaz. Adorava bundas, bundas masculinas, as admirava, as desejava, verdadeiramente as cobiçava. Não como a maioria das mulheres com aquela admiração pouco palpável, ou melhor, até palpável porém pouco objetiva. Sim, porque há de se admitir que a fixação do homem pelo traseiro do sexo oposto tem a objetividade da posição, do domínio, do instinto, da voluptosidade da mulher, e de uma eventual e afortunada penetração por trás, ao passo que a da mulher costumeiramente é mais visual, mais contemplativa e, se tanto, se limita no mais das vezes, a não ser em casos mais extremos de taras, sadomasoquismos ou fetiches específicos, a beliscões, tapinhas, circustanciais lambidas e para as mais ousadas ou íntimas, leves dentadinhas às vezes.
Mas ela era diferente. Esta tinha a motivação daquele objeto e normalmente ansiava por um contato mais forte: uma enterrada de unhas nas carnes suculentas, um dedo mais abusado, uma inversão do cachorrinho mesmo sem ter pênis. Ah, se tivesse pênis de vez em quando! O que não faria com aquele macho, ali, de quatro...
Não era insatisfeita com sua condição de fêmea. Adorava ser mulher, adorava ser penetrada, possuída pela frente e por trás, como fosse. Submetida conforme sua vontade, é claro, mas a mera perspectiva de proveito prático daquela posição a seduzia. Suas tentativas de ousadias com dedos quase sempre eram repelidas, salvo raras exceções; tapinhas costumavam ser bem entendidos e correspondidos, tirando uma vez que um desses aí interpretou mal, achou que ela gostava de apanhar, abusou um pouco da força o que a obrigou a chamar por socorro, que por sorte veio logo antes que ele conseguisse lhe aplicar outro soco; mas via de regra sua postura propositiva não era muito bem encarada e costumava intimidar alguns parceiros e até mesmo afastar namorados. Por isso ultimamente resolvera maneirar. Limitava-se mesmo aos beliscos e leves abocanhadas até ver em que terreno estava pisando.
Foi assim com o rapaz que conhecera naquela noite. Danceteria-beijos-mãos-carro-motel e lá estavam os dois nus começando aquele ritual preliminar longo e molhado. Mamilos-nucas-coxas-barrigas-costas e ela consegue deixá-lo deitado de bruços na cama. De joelhos na cama, leva a cabeça até a altura da bunda do rapaz, abre lentamente a boca soltando um bafo quente e ameaçador que ele não vê, só sente o quente da respiração. Dá então uma raspadinha com os dentes de baixo para cima e uma mordiscada de leve na parte mais rechonchuda daquela bela bunda, à que ele parece reagir com um arrepio.
Sem levantar muito a cabeça, ofegante como uma onça, com um aspecto selvagem e mirando o rosto dele pelo espelho, ela então anuncia:
- Hoje eu vou comer a sua bunda!
Ele sem se abalar, sem abrir os olhos, acha graça da exclamação de desejo tipicamente masculina. Ri da piada. Mas a risada é interrompida por um assustador grito de dor. Salta para o lado levando a mão à nádega esquerda. Olha atônito para a mão: sangue!
- Tu é maluca? Tu é maluca? Eu vou te matar, sua vaca! Eu vou te matar! - e em meio à fúria, ainda consegue ficar surpreso ao perceber que ela, inacreditavelmente, está mastigando com prazer e satisfação. Mastigando um pedaço dele. Um naco da sua bunda!
- Sua desgraçada! Ó o que tu fez comigo? – e grita, grita mais alto enquanto ela acaba de engolir o pedaço que tirara daquele corpo delicioso.
Ela, com a cara praticamente toda suja de sangue, continua olhando para ele com um olhar fixo, parado, felino e ameaçador, como quem já sabe que depois de um ato como este não poderá simplesmente vestir-se virar as costas e ir embora. Então sai da cama, abaixa-se tranquilamente, pega um pé do seu scarpin preto, dá dois passos em direção a ele, que diante daquele avanço ameaçador vê trocar sua fúria matadora de segundos atrás pelo acuamento tal qual o de uma criança indefesa, e crava-lhe o salto do sapato entre o pescoço e o ombro.
Ele fica indeciso por um instante entre tentar estender os braços até ela para tentar agarrá-la, ou atender ao sangue que jorra abundante e impiedosamente. Opta, por fim, pela segunda alternativa mas sem efeito. É muito sangue. Perde sangue demais e em pouco tempo lhe faltam totalmente as forças e se esvai o último fio de vida.
Ela então respira fundo, pensa com calma, planeja: aquilo ali é um motel, centenas de pessoas vão lá por dia, se fossem procurar digitais, encontrariam milhares; na boate, no escuro passariam por mais um casal qualquer na noite, na saída não chamariam mais atenção que quaisquer outros; na entrada do motel provavelmente a moça prestara mais atenção ao motorista do que nela. Com sorte não teria chamado muita atenção em nenhuma destas situações. Tratou de recolher qualquer coisa que a identificasse, que pudesse comprometê-la e agora só restava sair dali.

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“HOMEM MORTO EM MOTEL COM MUTILAÇÕES"; ou

“SEXO E BRUTALIDADE EM MOTEL DA CAPITAL”; e ainda,

“HOMEM ENCONTRADO MORTO EM MOTEL SEM PEDAÇO DA NÁDEGA”.

Eram as manchetes principais das páginas policiais dos jornais no dia seguinte. Tudo vago. Em nenhum deles alguma menção mais objetiva à acompanhante. Um dizia “moça bem apresentável”, outro, “mulher não identificada”, outro “garota de programa”, sempre com informações desencontradas quanto ao tipo físico. Parecia que safara-se. O leão-de-chácara da boate dizia ter visto uma morena saindo com o rapaz, a moça da portaria do motel vira uma loira no banco do carona; o flanelinha dizia que era meio coroa; um amigo do rapaz afirmava que não tinha mais de 25; o barman da boate dizia que era bem alta, uma transeunte da madrugada teria visto uma baixinha. A que poderia ser a melhor testemunha, a garçonete do motel que fora chamada no quarto para limpar alguma coisa não conseguira ver ninguém porque a mulher, ou quem quer que fosse, provavelmente estava atrás da porta uma vez que assim que entrara no quarto com a vassoura e o balde, fora golpeada na cabeça e só lembrava de ter acordado horas depois nua. Tinha também um mendigo que a teria visto abandonar um avental e um gorro na rua, estava muito bêbado para se dar crédito para qualquer coisa que dissesse. Bingo! Estava limpa.
Agora aliviada pela impunidade praticamente garantida daquele ato terrível, finalmente conseguia saborear as sensações da noite anterior. O tamanho da sua ousadia, do seu atrevimento, a excitação que aquilo causara. E aquela mordida, daquele jeito, nunca tinha ido tão longe, uma dentadinha vá lá mas cravou-lhe os dentes, tirara um pedaço, e o pior, tinha gostado daquele ato. E a carne, o sangue... E o sabor? Até que não era ruim. Não, não, era bom mesmo. Tinha gostado e sabia que ia querer fazer aquilo de novo.
Sucedeu que começaram a ser encontrados corpos de homens em lugares variados; motéis, casas de praia, de campo, apartamentos, barracos, terrenos baldios; todos eles com um traço em comum: a ausência de pedaço substancioso de nádega. Peritos garantiam que tinham sido arrancados por dentes. Dentes humanos!
A polícia começava a ter pistas daquela curiosa serial-killer e o cerco contra ela se fechava, afinal de contas não era uma profissional, nunca sonhara em ser uma assassina em série - as circunstâncias a fizeram assim - e desta maneira, neófita na prática criminosa cada vez mais cometia erros, deixava traços e tornava-se então uma presa possível e cada vez mais próxima da justiça. Mas não estava exatamente preocupada com isso. Sabia que mais cedo ou mais tarde seria apanhada mas enquanto isso aproveitava o máximo para desenvolver sua tara que agora agregara este caráter assassino.
As autoridades policiais tinham pistas quentes de possíveis locais que frequentava: shopping centers, barzinhos, museus, etc. Tinham a informação de que naquela noite possivelmente estivesse naquela boate badalada da zona sul. Havia pelo menos três detetives à paisana atentos circulando pela boate. Um deles se aproxima do balcão e pergunta ao barman por uma descrição de uma moça, mais ou menos 27 anos, altura média, olhos castanhos, bonita...
- Passa um monte dessas por aqui toda noite, cara! Como é que eu vou saber!
O policial então, meio desapontado, afasta-se do bar e dirige-se ao banheiro meio conformado. Vai dar uma mijada pra planejar uma melhor maneira de encontrar a canibal filha-da-puta.
Enquanto ele se afasta, uma moça bonita de cabelos e olhos castanhos, não muito alta, aproxima-se do bar e dirige-se a um rapaz que está ali parado sozinho tomando uma cerveja:
- Me paga uma bebida?

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sarau "Conte Uma Canção - vol.2"




O ClyBlog e a editora Multifoco promovem no próximo dia 18 de dezembro um evento no qual serão lidos em público os contos dos editores deste blog, Daniel Rodrigues e Clayton Reis, presentes na antologia "Conte Uma Canção - vol.2" publicada este ano. Um sarau ao melhor estilo onde serão lidos os contos “O Filho do Diabo” e “Heart Fog” com a participação especial da atriz convidada Luciana Zule para as leituras.
Daniel Rodrigues já é autor premiado tendo recebido em 2013 o Prêmio Açorianos de Literatura por seu excelente "Anarquia na Passarela" e nos últimos tempos tem se destacado ela participação em coletâneas e antologias como nesta "Conte Uma Canção - vol.2". Clayton Reis também já figura em diversas publicações tendo uma crônica no livro "Colorados - Nada Vai nos Separar" e contos nas coletâneas "OMMCQC II - Os Matadores Mais Cruéis Que Conheci, vol.2", "Big Buka: Para Charles Bukowski", "Post Mortem" e logicamente, também no livro que motivará o evento.
A entrada é gratuita e após a leitura podemos desfrutar de um momento agradável num bate-papo descontraído sobre os contos, sobre literatura, sobre música ou sobre o que der vontade de falarmos.
Estão todos convidados e será uma enorme satisfação contar com sua presença.

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SERVIÇO
Sarau de Leitura de contos da antologia “Conte uma Canção - vol.2”
dia: Domingo, 18 de dezembro
horário: 15h
local: Multifoco Bistrô (R. Mem de Sá, 126
Lapa – Rio de Janeiro)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Entrevista com Cly Reis sobre a antologia "Os Matadores Mais Cruéis que Conheci" volume II



por Alexandre Durigon
revisor e organizador do livro
"(OMMCQC")vol.II



Clayton Reis é gaúcho, mas vive no Rio de Janeiro,
é arquiteto, cartunista, amante de música, literatura, cinema,
criador e editor do blog ClyBlog
 e um dos autores participante
s da coletânea
“Colorados – Nada Vai nos Separar”,
publicado pela editora Multifoco em 2012. 
Alexandre Durigon: Clayton, como você e a literatura se conheceram?
Cly Reis: O curioso é que relutei um pouco para aceitar a literatura na minha vida. Meu pai sempre teve muitos livros em casa, embora hoje eu consiga avaliar que não tivesse grande exigência de qualidade. Mas sempre me estimulou a ler. Tinha muitos best-sellers em casa, daqueles ordinários, tipo Sydney Sheldon, Marguerite Yourcenar e coisas do tipo, só que sempre no meio disso tudo um Cervantes, um Stoker, um Machado. Comecei a ler por essa espécie de 'pressão' dele, mas ainda sem prazer. Depois veio a época das fichas de leitura pra colégio, o que me incomodava por estar lendo coisas impostas contra a minha vontade. Aí desperdicei algumas boas leituras em nome dessa rebeldia lendo com desinteresse, fazendo de conta que lia, copiando fichas dos outros ou pegando livros fininhos pra acabar logo. O gosto mesmo acho que veio com o interesse por música, por rock. As inúmeras ligações que ambos têm. O fato de uma música do Cure ser baseada em Camus; de um Renato Russo querer ser Rosseau; de um álbum da Siouxsie remeter ao reino do espelho da Alice; de Morrissey ser apaixonado por Wilde; e mais tantas outras ligações e referências. Foi uma espécie de descoberta da palavra. As letras de música me mostraram um pouco disso. O quanto às palavras são belas e como podem adquirir tantas formas.



AD: Por que a profissão de escritor lhe interessou?

Cly: Na verdade, acho que não posso tratar as coisas nesses termos ainda. Não se trata, no meu caso, de uma profissão, embora a possibilidade me encante muito. Gosto muito de escrever. Gosto da liberdade da palavra e, como disse, de todas as possibilidades que ela oferece. Tive uma banda, de duração muito efêmera, na qual explorávamos exatamente isso: a liberdade. O que conseguíssemos tirar de um conjunto de palavras era aproveitado, frases desconexas podiam ser interessantes, contar uma estória no formato musical era válido, fazer uma paródia inteligente era algo estimulante. Acho que aí que comecei a escrever mesmo. Sem vergonha, sem filtros, valorizando o que saía de mim.
Fui muito estimulado também por três escritores, fundamentalmente: André Gide, que embora tenha um texto mais formal em determinada fase, defendia essa liberdade de escrita. Nunca vou me esquecer de quando li a introdução de "Os Frutos da Terra" e ele dizia ali "escrevi este livro numa época em que a literatura cheirava a mofo". Aquilo me fascinou e, efetivamente, o livro não obedece a nenhuma regra de ordem, formato ou conceito.
Também por Clarice Lispector e suas descrições apaixonadas pelo ato de escrever, como "escrever é uma pedra lançada num poço fundo", ou, "escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando esta palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu...". Notável!!!
E, por último, mas fundamentalmente, Charles Bukowski que, digamos assim, me tirou o medo de parecer fraco, ridículo, pretensioso ou incapaz. Sua garra, sua vontade de escrever, sua qualidade, sua crueza, sua simplicidade me seduziram. Quando escreveu "Não há nada que impeça um homem de escrever a não ser que ele impeça a si mesmo (...) A rejeição e o ridículo apenas lhe darão mais força.", aquilo parece que tinha sido escrito para mim. Acho lindo quando ele diz, "Não há perdas em escrever, faz seus dedos dos pés rirem enquanto você dorme; faz você andar como um tigre."



AD: Por que participar de uma antologia?
Cly: Exatamente por não ser um escritor profissional, me parece uma boa oportunidade de, por enquanto, mostrar meu trabalho de uma maneira mais ampla. Internet é ampla, mas determinados tipos de conteúdo tem que atingir um público específico e como sabemos, nem todo mundo lê o que está na internet. Muita gente vê um texto grande e já se assusta, só passa os olhos. Acho que a impressão papel direciona para quem realmente está interessado em determinado assunto. A pessoa não comprará, não pegará emprestado um livro, não manterá na bolsa, se não tiver um mínimo de interesse por aquilo. E me interessa que cause interesse. Eu quero ser lido.



AD: Fale um pouco sobre a (OMMCQC) II?
Cly: Gostei da proposta. Essa coisa de assassinos, matadores, maneiras de matar. Meu irmão que também escreve, foi quem me avisou que havia uma seleção de textos aberta e, como no meu blog, não raro tenho algum conto nesta linha, foi só selecionar um que considerasse que teria boas chances de entrar.



AD: Como você define o processo que envolve a compilação de uma antologia?
Cly: Na verdade, nós, autores selecionados, não participamos disso de forma muito direta, embora, em particular neste caso, da antologia (OMMCQC) II, o editor mantenha-nos sempre bastante atualizados sobre as etapas que estão acontecendo. Pelo que percebo, ainda que o trabalho seja árduo e intenso, desde as escolhas até a publicação, parece-me extremamente prazeroso e compensador. Logicamente que envolve muita dedicação e vontade, mas parece trazer suas compensações. 



AD: Como você vê o mercado editorial brasileiro para os novos autores?
Cly: Eu ainda preciso 'experimentá-lo' de maneira mais efetiva mas ele me parece menos assustador do que se me afigurava antes. Me parece que quem quer, QUER MESMO, e tem qualidade, de uma maneira ou de outra acaba publicando. As oportunidades estão por aí, é só procurá-las e ter perseverança.



AD: Em sua opinião, é possível viver de literatura no Brasil?
Cly: Acho que sempre representa um temor a possibilidade de viver de arte no Brasil. Parece impossível a não ser que já se traga algum sobrenome, uma fama momentânea, um 'paitrocínio' ou algo do tipo. Posso estar enganado. Espero estar enganado. Sinceramente, acho que não correria um risco dessa natureza. Mesmo que venha a engrenar uma carreira de escritor em algum momento, sinto que deva manter uma outra atividade mais estável.



AD: De que maneira a internet atua em sua vida de escritor?
Cly: Ah, para mim, atualmente é meu meio. É meu canal. Coloco praticamente toda a minha produção criativa na internet, no meu blog. Na internet, na verdade, a gente nunca tem certeza de estar sendo lido, muitas vezes o visitante só vai lá e passa os olhos, se acovarda com um texto muito longo, mas só o fato de escrever e colocar ali para quem quer que possa se interessar já é válido. E se uma dessas pessoas realmente ler, apreciar, se fizer um comentário então, já terá sido extremamente compensador.



AD: Fale um pouco sobre o seu conto, "Hoje eu vou comer sua bunda"?
Cly: É um conto do qual gosto muito. Gosto da estrutura dele. Imodestamente, o considero muito bom nesse sentido. As passagens de tempo, os pontos de convergência, o desenvolvimento, a aceleração e desaceleração, são méritos de construção que só o bom leitor consegue perceber.
A minha matadora, anônima na verdade é uma assassina quase casual mas que gostou da coisa, ainda mais pelo fato do novo hobby estar ligado a um fetiche.
O curioso é que muito frequentemente, talvez por uma preocupação subconsciente de não ser interpretado como machista, coloco as mulheres em condição de destaque nos contos e, tendo escrito muitas histórias de assassinatos, frequentemente me aprecem boas matadoras. 



AD: Para encerrar: quais seus planos daqui pra frente? Já tem um livro na manga, projetos, publicações?
Cly: O editor, Afobório, me elogiou de forma muito bonita, o que me estimulou bastante. Tenho uma boa produção de textos nos mais variados estilos, tenho uma crônica já publicada e até agora, 100% de aproveitamento nas tentativas de inclusão em publicações, o que também é muito estimulante. Por enquanto penso em incluir mais alguns contos em outras seleções que abrirem por aí, mas não é de se descartar tentar alguma coisa individual em breve. Também estou com um projeto em andamento de publicação de cartoons e tirinhas, que também são um ponto forte do meu blog, isso ainda é algo em curso, mas que aguardo com muita expectativa.


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*entrevista publicada originalmente na página da antologia no Facebook:
 https://www.facebook.com/pages/Os-Matadores-Mais-Cru%C3%A9is-Que-Conheci/527931777301099?fref=ts

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ClyBlog 5+ Livros



E chegamos ao último especial da série 5+ do clyblog. Não que não tivéssemos mais assunto, daria pra pesquisar sobre mais um monte de coisas com os  amigos, saber o que mais um monte de pessoas interessantes pensam, levantar listas mas acredito que estes temas abordados, além de bastante significativos, resumem, de certa forma, a ênfase de assuntos e as áreas de interesse do nosso canal.
E pra encerrar, então, até aproveitando o embalo da Feira do Livro de Porto Alegre, cidade que é uma espécie de segundo QG do clyblog, o assunto dessa vez é literatura. Sim, os livros! Esses fantásticos objetos que amamos e que guardam as mais diversas surpresas, emoções, descobertas e conhecimentos.
Cinco convidados especialíssimos destacam 5 livros que já os fizeram sonhar, viajar, rir, chorar, os livros que formaram suas mentes, os que os ajudaram a descobrir verdades, livros que podem mudar o mundo. Se bem que, como diz aquela frase do romando Caio Graco, "Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros mudam as pessoas.".
Com vocês, clyblog 5+ livros:




1. Afobório
escritor e
editor
(Carazinho/RS)
" 'O Almoço Nu' é muito bom.
Gosto muito desse livro."

1- "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez
2 -"Búfalo da Noite", Guillermo Arriaga
3- "Numa Fria", charles Bukowski
4 - "Sorte Um Caso de Estupro", Alice Sebold
5 - "O Almoço Nu", William Burroughs
 
Programa Agenda falando sobre o livro "O Almoço Nu", de William Burroughs

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2. Tatiana Vianna
funcionária pública e
produtora cultural
(Viamão/RS)


Kerouac, um dos 'marginais'
da geração beatnik
"Cada um destes são livros que chegaram as minhas mãos em momentos diferentes de vida
e foram importantes para muitos esclarecimentos.
Algumas destas leituras volta e meia as retomo novamente para entender melhor,
porque sempre algo fica pra trás ou algo você precisa ler depois de um tempo,
de acordo com o seu olhar do momento."

1- "On the Road, Jack Kerouak
2 - "1984", George Orwell
3 - "Os Ratos", Dionélio Machado
4 - "A Ilha", Fernando Morais
5 - "O livro Tibetano do Viver e Morrer", Sogyal Rinpoche






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3. Jana Lauxen
escritora e
editora
(Carazinho/RS)


"Minha vida se resume a antes e depois de "O Acrobata pede desculpas e cai".
"O Jardim do Diabo", do Veríssimo, é um romance policial incrível
do tipo que você não larga enquanto não acabar. E quando acaba dá aquela tristeza.
"Capitães da Areia" li há muito tempo e não consigo me esquecer desse livro.
O engraçado é que a primeira vez que o li, tinha uns 12 anos e  não gostei.
A segunda vez eu tinha mais de 20 e fiquei fascinada pela obra.
O "Livro do Desassossego" é para ter sempre por perto, para abrir aleatoriamente e dar aquela lidinha amiga.
Conheci Pedro Juan em uma entrevista que ele concedeu para a revista Playboy,
e a "Trilogia Suja de Havana" foi o primeiro livro do autor que eu li.
Seus livros são proibidos em seu próprio país, visto a crítica social que o autor acaba fazendo sem querer.
Digo sem querer por que sua temática não é política – ele fala de sexo, de drogas, de pobreza, de putas,
e detesta ser classificado como um autor político.
Mas acaba sendo, pois é impossível descrever qualquer história que se passe em Cuba sem acabar fazendo alguma crítica social.
Mesmo que enviesada."

"Capitães da
Areia"

1- "O Acrobata Pede Desculpas e Cai", Fausto Wolff
2 - "O Jardim do Diabo", Luís Fernando Veríssimo
3 - "Capitães da Areia", Jorge Amado
4 - "Livro do Desassossego", Fernando Pessoa
5 - "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez





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4. Walessa Puerta
professora
(Viamão/RS)


"Estes são os meus favoritos."

1- "O Tempo e o Vento", Érico Veríssimo
2 - "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder
3 - "Era dos Extremos", Eric Hobsbawn
4 - "Dom Casmurro", Machado de  Assis
5 - "O Iluminado", Stephen King



 A brilhante adaptação de Stanley Kubrick, para o cinema, da obra de Stephen King

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5. Luan Pires
jornalista
(Porto Alegre/RS)


"Dom Casmurro" tem uma das personagens mais emblemáticas da literatura nacional:
Capitu. A personagem dos "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" é um verdadeiro ensaio para quem curte a construção de um personagem.
Toda criança deveria ler a coleção do "Sítio do Pica-Pau amarelo". E todo adulto deveria reler.
Uma homenagem a imaginação, a cultura e ao sonho das crianças e dos adultos que nunca deveriam deixar de ter certas inquietações juvenis.
Desafio qualquer um no mundo a descobrir o final de "O Assassinato de Roger Ackroyd"! [ponto final!].
Cara, pra mim, "Modernidade Líquida" é o livro mais necessários dos últimos tempos.
Pra entender a sociedade e o caminho para onde estamos seguindo.
"@mor" é um ensaio perfeito das relações humanas atuais.
O que me chamou atenção é que não demoniza a internet, mas aceita o papel dela nos relacionamentos atuais.
O formato, só em troca de e-mails, é um charme. E o final é de perder o fôlego."


1- "Dom Casmurro", Machado de Assis
2 - "Sítio do Pica-Pau Amarelo" (qualquer um da coleção), Monteiro Lobato
A turma do Sítio, do seriado de TV
da década de 70, posando com seu criador
(à direita)
















3 - "O Assassinato de Roger Ackroyd", Agatha Christie
4 - "Modernidade Líquida", Zigmunt Bauman
5 - "@mor", Daniel Glattauer




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