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terça-feira, 16 de maio de 2017

"Guardiões da Galáxia vol.2", de James Gunn (2017)


Sou obrigado a ir na contramão da maioria das pessoas com quem conversei e das críticas que li sobre "Guardiões da Galáxia vol.2". O filme é bem inferior ao primeiro e mesmo abandonando o comparativo, como obra isolada, deixa muito a desejar. Fui para ver o primeiro, na época, com poucas expectativas e no entanto acabei me deparando com um filme atraente, ágil, divertido, com personagens carismáticos, tiradas bem-humoradas e uma trilha sonora pra lá de maneira, que por si só já garantia boa parte da simpatia pelo filme.
Este segundo sofre excessivamente pelo problema de sequencias não apoiadas em um bom argumento e sim em elementos frágeis como comportamentos característicos de personagens, bordões, piadinhas e ações previsíveis. Assim, acaba quase que meramente tentando se sustentar na empatia conquistada no anterior e o coitado do roteiro é que sofre com isso. O resultado é uma história que não acontece. Não vai. "Guardiões da Galáxia vol.2" é um filme truncado, travado.
As irmãs Nebulosa e Gamora resolvendo suas questões.
O enredo principal desta vez se concentra na descoberta do pai por parte de Peter Quill, o Senhor das Estrelas, mas desde seu aparecimento, o processo de conhecimento e revelações entre os dois se arrasta num mimimi infinito, e em meio a isso desenvolvem-se diversas outras pontas como a relação de Gamora coma irmã Nebulosa, a perda de liderança de Yondu, os Soberanos querendo vingança pelo desrespeito dos Guardiões em seu planeta, a crise existencial de Rocket, sendo que nenhum desses sub-enredos consegue ter a devida fluência para manter uma boa dinâmica de filme.
Não li os quadrinhos, tenho que admitir, mas entendo que para capítulos de uma edição impressa, ou em uma série de quatro ou cinco volumes, o andamento seja interessante, mas quando esse objeto tem que ser transposto para a linguagem cinematográfica, ele necessita de alguns cuidados adicionais que garantam sua agilidade, ainda mais num filme que pretende enquadrar-se nos gêneros de ação e aventura.
Baby Groot, uma amorzinho, tchuc-tchuc
mas não acrescenta nada.
Nem o senso de humor sarcástico de Quill salva, nem a comicidade jocosa de Drax, muito menos as cenas de ação, longas e desgastantes. Até Groot bebê, que prometia ser um dos grandes baratos do filme, é mal aproveitado em situações tolas que desperdiçam todo o carisma conquistado e sua presente condição infantil e queridinha. Yondu tem destaque exagerado, Kurt Russel está fraquíssimo como pai de Quill e Silvester Stallone tem uma aparição ridícula e injustificável. Pra não dizer que só falei mal, a trilha sonora que havia sido destaque na primeira aventura, volta a ser um dos pontos altos. Não com o mesmo brilho, é verdade, não tão oportuna e precisa quanto na outra vez, mas ainda assim muito boa.
Creio que pela expectativa que "Guardiões 1" gerou, o público acabou recebendo-o com uma muito boa vontade. Uma condescendência excessiva que não corresponde ao que o filme verdadeiramente poderia oferecer que chega a me parecer quase um constrangimento em admitir, "É, não foi lá essas coisas".
Depois de cinco cenas pós-créditos, por incrível que pareça, um dos melhores momentos do filme (!!!), a tela anuncia que Os Guardiões da Galáxia retornarão. Atualmente isso gera em mim mais preocupação do que expectativa. Depois desta sequencia, para mim, decepcionante, já não tenho certeza se apostaria muito neste retorno. Torço para estar errado, mas convenhamos, que quando a trilha sonora e os créditos finais são as coisas que merecem destaque num filme, é porque tem alguma coisa muito errada com ele.


Cly Reis 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Cyndi Lauper - "She's So Unusual" (1983)




"Uma mistura de auto-confiança,
sentimentalismo descarado
e humor inteligente"
Stephen Thomas Earlewine,
da Allmusic sobre 
"She's So Unusual"





Se me perguntassem, lá naquele início de anos 80, entre as cantoras pop que estavam em evidência, Madonna ou Cyndi Lauper, qual seria minha preferida, eu, não teria dúvida em escolher a segunda. Se preferia Cyndi naquele momento, mesmo sem muito discernimento naqueles meus 9 ou 10 anos de idade, hoje com critério o suficiente (eu acho...) consigo avaliar os porquês. Madonna já estourava em sucesso, é verdade, com seu primeiro álbum já prenunciando seu reinado no mundo pop, no entanto, aquilo me soava um popzinho frágil, artificial e pueril. Musiquinhas como "Everybody", "Borderline", "Burning Up", "Crazy For You" não me despertavam, e não despertam até hoje, nenhum entusiasmo, nenhum brilho nos olhos. Eram cançõezinhas bobas que qualquer outra daquelas, qualquer cantora medíocre metida a gatinha apelando pra lingeries e sensualidade gratuita podia fazer.
No mesmo ano, 1983, "rivalizava" com ela nas paradas uma outra norte-americana. Uma magricela de voz estridente e cabelo extravagante que apesar do igual sucesso comercial naquele momento, parecia ter seu lugar irremediavelmente reservado à margem da outra.
"She's So Unusual", álbum de estreia de Cyndi Lauper era muito melhor do que o debut de Madonna com o disco que levava seu nome. Mais bem trabalhado, bem acabado e coeso, o trabalho de Cyndi alcançava um resultado mais consistente, isso sem falar no talento vocal nem sempre devidamente reconhecido da cantora, muito superior ao da Material Girl.
"Money Changes Everything", cover dos The Brains, uma banda americana pouco conhecida, é um pop vigoroso que ganha uma atmosfera meio escocesa por conta de um agradável solo de melódica; "Time After Time", que possivelmente tenha inspirado a canção "Como Eu Quero" do Kid Abelha é uma balada graciosa, delicada e apaixonante; e "When You Were Mine" é uma boa versão da música do primeiro álbum de Prince. "Witness" é interessante pela pegada reggae; "She Bop", uma new wave embalada, com seu refrão malicioso e picante (sugerindo masturbação), parece reeditar as velhas chamadas rock'n roll ("Be bop--be bop--a--lu--she bop/ Oo--oo--she--do--she bop--she bop); e a encantadora "All Through The Night" tem interpretação marcante da cantora e um trabalho de estúdio impecável dos produtores lhe garantindo um status de qualidade superior.
Mas o ponto fulgurante do disco não poderia ser outro que não o megahit "Girls Just Wanna Have Fun", canção vibrante e descontraída conduzida por uma base eletrônica repetida que, se prestar-se bastante atenção, lembra a "locomotiva" de "Trans-Europe Express" do Kraftwerk. A música, aparentemente boba e juvenil, é quase um manifesto bem-humorado pela liberdade de escolha das mulheres, o que a torna extremamente relevante nos dias atuais com a presente reconscientização feminina e levante em busca de condições igualitárias. "Sim, eu sou mulher e só quero me divertir. E daí?", este era o recado.
O tempo viria a mostrar que a aparente "apelação" de Madonna era na verdade um inteligente e necessária provocação tão valorosa quanto uma "Girls Just Wanna Have Fun", e que, apesar de seu talento vocal inferior a Cyndi, é uma artista mais completa. Hoje gosto muito mais de Madonna. Da obra de Madonna, da influencia de Madonna, do comportamento de Madonna. Talvez a dimensão do que Madonna se tornou, e mais uma legião de madonnetes que vieram na cola dela exibindo seus decotes e lingeries e cantando refrões sussurrados tenha abafado as Cyndis por aí afora. Mas o fato é que Cyndi Lauper prosseguiu sua carreira com competência e qualidade, reapareceu na metade dos anos 90 com uma coletânea que trazia uma releitura de "Girls Just Wanna Have Fun", mas nunca igualou o sucesso de seu ótimo disco de estreia de 1983 quando, sim, Cyndi Lauper era melhor que Madonna.
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FAIXAS:
1. Money Changes Everything (5:02)
2. Girls Just Want To Have Fun (3:55)
3. When You Were Mine (5:07)
4. Time After Time3:59

5. She Bop (3:43)
6. All Through The Night (4:29)
7. Witness (3:38)
8. I'll Kiss You (4:05)
9. He's So Unusual (0:45)
10. Yeah Yeah (3:17)

*"She's So Unusual" teve um relançamento comemorativo pelos 30 anos de seu lançamento em 2013 com uma série de extras, demos, remixes e versões inéditas.
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Ouça o Disco:


Cly Reis

quinta-feira, 11 de maio de 2017

cotidianas #509 - Pílula Surrealista #17





Ele vinha se sentindo enjoado fazia umas duas semanas. Não tinha o que fizesse passar aquilo, fosse remédio, chá, comida. O que não vomitava, fazia-o enjoar mais ainda. Não ocorreu a ninguém, entretanto, o óbvio: estava grávido. Apenas 19 semanas bastaram para que desse a luz a uma linda batedeira elétrica, desses marca-diabo que não duram mais do que umas poucas usadas. No nascimento, entretanto, o rebento não chorou nem emitiu som algum ao sair lá de dentro – aliás, como se exige dos pequenos hoje desde cedo. Mudez total. A cena, esta sim, foi bonita, como a de todo acontecimento que trazem à luz uma nova vida. Ele com o filho ao colo, próximo do rosto, respirações próximas uma da outra, estabelecendo a ligação eterna que dali se depreende. De parto normal, o homem ainda recuperava-se do esgaçamento da uretra, por onde o eletrodoméstico saiu meio enviesado. Normal. Coisa da natureza. É sabido que a pior das dores é a dor do parto.



Daniel Rodrigues