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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Exposições "Oxalá Que Dê Bom Tempo", "Don't You (Forget About Me)" e "Versão Oficial" - MAC Niterói -RJ











O MAC, uma obra de arte por si só.
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói já é por si só uma grande obra de arte e uma visitação é sempre justificada independente do que estiver exposto em seu interior, mas tendo ido ao MAC dia desses com pretexto de um encontro de amigos, acabei por me deparar com três exposições, cada uma interessante sua maneira. A primeira delas, a principal e a mais destacada no espaço é a "Oxalá Que Dê Bom Tempo", da artista Regina Vater, que, bem diversificada no que diz respeito a técnicas e recursos, apresenta pinturas, instalações, fotografias, pinturas, vídeo, propõe uma reflexão sobre as relações de corpo, natureza, tempo e espaço. Bastante instigante e estimulante o trabalho da artista.
Em outra das exposições, "Don't You (Forget About Me)", de menor destaque, no corredor externo da área de exposições, o niteroiense Rafael Alonso com uma espécie de arte pop e ilusões ópticas propõe uma forma menos convencional de se ver a paisagem. Cores vibrantes, formas abstratas e sensações visuais estimulam os olhos e a maneira de reenxergar o que está à nossa volta.
A última delas, bastante diminuta e relegada a um cantinho também no anel externo de circulação, é a "Versão Oficial" que poderia ser a mais interessante delas com um pouco mais de espaço, aprofundamento e melhor apresentação. A pequena mostra organizada pelo pernambucano Bruno Faria destaca capas de LP's com ênfase para seus projetos gráficos e todo o significado que venham a conter (estético, artístico, político, social, etc.) fazendo com que de certa forma, as mesmas passem a limpo a história brasileira a partir dos anos 60. a ideia é boa mas parece-me mal executada. A exposição espremida num final de corredor, sem maiores atenções de estrutura ou informação, emoldurando um toca-discos que tocava clássicos da música brasileira, no fim das contas ficou parecendo mais uma banca de discos usados. Vi que havia atrás dos discos, nas paredes alguma informação sobre a obra mas não fica claro para o visitante se ele pode retirar o objeto do lugar e mesmo assim, quando se retira, ao recolocar ele fica instável em sua fixação e o interessado logo se intimida em não deixar cair outros como fatalmente terá acontecido com algum. Mas para mim, adorador de música, da discografia nacional e apreciador da arte das capas de álbuns, mesmo com todos os defeitos ainda assim foi bastante interessante e válida tendo lembrado muto uma seleção feita pelo ClyBlog há não muito tempo atrás sobre as melhores capas de discos do Brasil em todos os tempos..
Além das exposições, o museu ainda apresenta um pequeno espaço interativo para as crianças "brincarem" de arte com lápis de cor, cordas e com os elementos orgânicos como conchas, pedras e grãos numa extensão da exposição da artista Regina Vater.
Como eu disse no início, se nada disso lhe interessar, se não é seu tipo de arte, não vê graça nessas coisas, o próprio MAC e a maravilhosa paisagem que se pode apreciar dele já são motivos suficientes e válidos para uma visita.


A instalação que dá nome à exposição de Regina Vater,
"Oxalá que dê bom tempo"

Os elementos naturais e orgânicos na obra de Regina Vater:
"Mar de Tempo", pedras em um recipiente cerâmico

As naturezas vivas de Regina Vater

O tropicalismo presente na obra da artista com "Mulher Mutante"

Série fotográfica da artista

Instalação "Cascavida", foló com cascas de ovos 


A forma da mulher misturando-se à da paisagem.

Aqui o trabalho de Rafael Alonso e sua
"Don't You (Forget About Me)"

O olho e apercepção desafiadas na obra de Rafael.

Este blogueiro tendo como fundo as obras da exposição
(foto: José Júnior)


A exposição "Versão Oficial" e a convergência com a de Regina Vater,
o Tropicalismo

Capas de discos que contam não somente a história da música do Brasil,
como a da arte, comportamento e sociedade.

Alguns dos trabalhos mais importantes e expressivos
da arte de dar imagem a um álbum expostos em "Versão Oficial"

O espaço bastante exíguo e espremido
passa uma sensação de se estar num sebo de discos usados.

A agulha no vinil
(foto: José Júnior)


No espaço infantil das artes, papai blogueiro fazendo arte
com sua melhor criação artística
(foto: José Júnior)


Pedriscos, cascas, sementes e uma obra de arte
(foto: José Júnior)

Lá de cima, do vidro inclinado da "nave", pode-se ver a praia lá embaixo.
(foto: José Júnior)



texto: Cly Reis
fotos: Cly Reis e  José Júnior

sábado, 17 de fevereiro de 2018

cotidianas #553 - Produção Urgente



O mundo dá voltas à volta de Piccadilly Circus
Buscando a nota exótica que falta
Ao seu traje blasé televisivo

O mundo dá tratos à bola
À mesma que destrata
Pisando na miséria imediata

"Jesus Mendigo", escultura em bronze de Timothy Schmalz
Contrata para produção urgente
Um negro bem dotado
E um latino quase inteligente

O mundo é dos vivos
O mundo é dos bancos
E os bancos dos mendigos

O mundo é de loucos
Que mundos não têm dono
E só somos vencidos pelo sono

O mundo é do novo
E o novo dos antigos
O mundo é quem sobrar no fim da noite
Dos amigos

Produção Urgente
(Nei Lisboa)


OUÇA
Nel Lisboa - "Produção Urgente"

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Kiss - "Kiss" (1974)



Minha Vida com o Kiss
por Ticiano Paludo

"Nós somos parte do que eu chamaria de Renascença moderna. Acredito que, como na Idade Média, somos um grupo que combina circo, magia, música e máscaras." 
Gene Simmons, em 1980



O Kiss nasceu no mesmo ano que eu, mais precisamente em 1973. Mas, como muitos garotos dos anos 1980, só fui conhecer a banda quando eles vieram ao Brasil, em 1983. Portanto, assim como eles, naquela época, eu era um menino de 10 anos. É sabido que formamos nossa personalidade musical entre essa faixa etária e a adolescência. O que aconteceu é que fiquei tremendamente impactado com aqueles seres estranhos, gigantes e pintados.

A Rede Globo produziu e veiculou em cadeia nacional um compacto do show, que vendo com meus olhos de hoje, revela uma tremenda falta de conhecimento sobre o grupo. A reportagem sensacionalista afirmava que eles faziam sacrifício de animais no palco e que os shows eram uma espécie de ritual satânico. E o boca a boca desinformado se espalhava, como um exemplo de fake news. Amigos meus diziam que ouviram falar que, com suas botas enormes, os integrantes esmagavam pintinhos vivos no palco, e que a crueldade incluía explodir porcos da índia utilizando bombinhas. Cuspiam sangue (seria humano?) e vomitavam. Ao analisar a entrevista concedida pelo grupo, integrante do referido especial, podemos ver que a banda desmentia tais afirmações, o que parecia surtir um efeito contrário. Fanáticos se postavam na entrada do show advertindo a audiência de que ali se realizaria um culto maligno. As apresentações no Brasil foram com certeza algumas das maiores do Kiss, mesmo que em sua formação original só constassem Gene Simmons e Paul Stanley.

Vivíamos em uma época de pouca informação e muita especulação (ou será que ainda vivemos?). Nessa fase em que eu descobria o Kiss, era tal a confusão que certa vez, ouvindo o álbum "Alive II" (1977), e olhando abismado as fotos da contra-capa, um amigo meu disse que, de tanto gritar, o vocalista estava ficando rouco, com uma voz demoníaca. O que eu não sabia direito era que todos os integrantes cantavam, e o meu desinformado brother estava mal comparando e confundindo os vocais de Stanley e Simmons. Só alguns anos depois, consegui compreender melhor a banda e o seu projeto artístico, graças a uma série de posters biográficos vendidos em bancas de jornais (não havia bibliografia disponível nem documentários para assistir e aprender). Lembro de ter comprado um vinil do "Alive!" (1975) e, todos os dias, ao voltar da escola, depois da janta, passar horas ouvindo-o de cabo a rabo, fitando a capa e a contra-capa (a versão brasileira era pobre, como sempre, e não possuía encarte algum). Ficava olhando aquelas imagens e imaginando como teria sido aquele show, como eles se moviam no palco. Da única visão da banda em movimento assistida pela Globo restaram apenas vestígios de memória, uma vez que naquele tempo não havia como gravar e rever o show, fato hoje solucionado com um punhado de cliques rápidos na web.

O fato é que, mesmo com informações fragmentadas e rasas, a sonoridade e a estética visual tiveram (e ainda tem) grande impacto na minha formação musical, tanto como ouvinte, como músico e guitarrista (nos anos 1990 eu iria formar a banda de heavy metal Titânio, que embora soasse mais como Iron Maiden, tinha nos meus genes musicais um pouco de Kiss). Quando recebi esse convite para escrever sobre algum álbum do Kiss, talvez o mais obvio fosse discorrer sobre "Alive!" ou sobre "Destroyer" (1976), discos considerados pela crítica e pelo público como emblemáticos. Hoje, com os anos de vivência no meio musical e acadêmico, ainda sou apaixonado pelo Kiss, embora tenha constantemente me decepcionado em perceber que, para Gene Simmons, trata-se muito mais de um jogo de marketing do que de uma banda de rock. Desde "Revenge" (1992), com exceção de "Psycho Circus" (1998), o Kiss tem produzido álbuns fracos, especialmente os mais recentes. Como disse, embora o primeiro álbum que ouvi inteiro tenha sido "Alive II", quero dirigir o meu foco para o primeiro álbum, "Kiss", lançado em 1974, quando eu era um bebê de um ano de idade.

Acredito que hoje Ace Frehley e Peter Criss tenham se tornado péssimas sombras do passado, muito distantes daquela energia e glória do primeiro álbum, mesmo que de início ele tenha vendido pouco. Aliás, o Kiss não emplacou da noite para o dia. Venceu graças a confiança e persistência de seus membros em acreditarem naquela proposta ousada e inventiva que era encarada frequentemente com ares de deboche e descrença. Em 1974, o Kiss não contratava ghost musicians, ou seja, músicos de estúdio que gravam os álbuns e não são creditados, fazendo com que acreditemos que aquelas performances vibrantes emanem de seus membros originais, o que, em diversos momentos do Kiss, foi um truque bastante utilizado (e triste, para um fã descobrir), hoje afirmado pela própria banda. Para um fã devoto e apaixonado, tal artimanha soa como uma espécie de traição. Em 1974 temos um Kiss sincero, honesto e real.

As letras do Kiss sempre foram bobinhas, e se você critica a música brasileira atual, deveria prestar atenção no conjunto da obra deles. Mas, mesmo que você se choque com a afirmação que vou fazer, assim como o tão criticado, amado e odiado Pablo Vittar, o Kiss nasceu para chocar e divertir, não para filosofar. Mesmo que exista uma miríade de produtos licenciados, dos mais nobres aos mais esdrúxulos, os fãs sempre entraram na brincadeira do consumo da marca Kiss, e dificilmente você verá um fã apaixonado criticar tal fato. Assim são os apaixonados cegos pelo amor, assim são os fãs do Kiss.

Eu trago a minha fala para esse texto me colocando como fã (sim, apesar de tudo o que apontei é uma das bandas que mais amo), e como crítico e pesquisador. Em 1998, ou seja, 15 anos depois de conhecer a banda, quando estava concluindo minha graduação em Publicidade e Propaganda, escrevi uma monografia analisando o Kiss como marca e mito. No ano passado, ao concluir meu doutorado em comunicação, fechei um ciclo e retomei o Kiss como objeto de estudo, analisando, justamente, a sua construção mítica, trabalho que pode ser lido no livro que publiquei chamado “Mitologia Musical: Estrelas, ídolos e celebridades vivos em eternidades possíveis” (Editora Appris, 2017).


Essa analise mista de fã apaixonado com pesquisador distanciado me fez concluir que inegavelmente o Kiss é uma grande banda. E o álbum "Kiss" é um grande álbum. Os álbuns iniciais das bandas guardam o frescor e a inocência de suas juventudes artísticas. Nem todos são bons. Às vezes, um artista demora até amadurecer e produzir uma obra emblemática. No caso do primeiro álbum do Kiss, isso não ocorre. Das 10 faixas, 7 se tornaram hits do Kiss. Não vou dissecar faixa por faixa, pois existem muitas analises espalhadas com esse recorte. Convido você a ouvir o álbum na íntegra, saboreando cada momento de acordo com o seu ritmo de ouvinte. O Kiss é um mito vivo, e embora seja uma banda muito mais de shows do que de álbuns, conseguiu captar e propagar com grande eficiência, aquela energia promissora que se consolidaria ao longo das décadas seguintes, prensado naquele vinil de 1974, hoje disponível para audição nos bits espalhados pelo ciberespaço. Abra os ouvidos, feche os olhos e prepare-se para receber um beijo sedutor do Kiss.


Veja sobre o Kiss no Brasil (1883)



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FAIXAS:
1. "Strutter" - 3:12
2. "Nothin' To Lose" - 3:29
3. "Firehouse" - 3:19
4. "Cold Gin" - 4:23
5. "Let Me Know" - 3:01
6. "Kissin' Time" (Bernie Lowe, Kal Mann)" - 3:54
7. "Deuce" - 3:08
8. "Love Theme From Kiss" (Instrumental) - 2:26
9. "100,000 Years" - 3:25
10. "Black Diamond" - 5:14
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OUÇA O DISCO



Ticiano Paludo é produtor musical, sound designer, remixer e pesquisador. Possui doutorado em Comunicação Social pela PUCRS/FAMECOS. Em mais de três décadas de atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho como compositor e produtor. Foi colunista da revista Backstage. Ao longo de sua carreira, desenvolveu projetos de áudio publicitário para marcas como Converse, Electrolux e Iguatemi. Compõe para publicidade, teatro, dança, vídeo e cinema. Como docente, leciona disciplinas tais como Produção em Áudio Publicitário, Promoção e Ativação de Marcas, Arte e Estética, Produção Musical, Empreendedorismo e Semiótica, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e nas Faculdades Integradas de Taquara.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Música da Cabeça - Programa #46


“Pra tudo se acabar na quarta-feira”, disse o poeta lamentando o fim do Carnaval. Mas no Música da Cabeça a gente não acaba: começa! Aqui a gente cura a ressaca da Quarta-feira de Cinzas com música aos montes. Sente só o que vai ter: Pequeno Cidadão, The Smiths, Elvis Presley, Noel Rosa, The Strokes e Madonna. E tem mais ainda no programa de hoje! Mas aí, só escutando pra saber. Por isso, sintoniza na Rádio Elétrica às 21h, que o programa vai fazer tua volta de feriadão ficar bem colorida. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.