Saía de tudo daquela caçamba:
Lixo, entulho, comida, roupa velha...
O mendigo, o maluco, o sem-teto, como queiram chamar, puxava lá de dentro e examinava tudo.
Tirava um pão, mordia, uma caixa, chacoalhava, um chapéu, experimentava. Não ficava uma graça com aquilo na cabeça? Fez pose, dançou, arrancou risadas de quem passava. Parecia um ator desses de televisão.
De repente cansou do chapéu. Jogou longe.
Voltou a futucar no amontoado.
Tirava papel, tirava plástico, tirava pano.
Um pouco de tudo saía daquele lixo.
De repente parou.
Parecia ter encontrado algo interessante...
Puxou lá de dentro uma TV. Sem tela, sem tubo, só o casco e uma antena desengonçada.
Levou a TV pra beira da calçada, arrumou a antena, girou o botão da sintonia, deu uns tapas na lateral, sentou no meio-fio e... começou a assistir.
Ria sozinho.
Se deliciava com o que passava na TV do seu delírio.
Ria também quem passava.
Alguns paravam. Olhavam com curiosidade. Deviam se perguntar o que se passava na tela da cabeça do maluco.
E de repente era todo mundo rindo na calçada: os passantes rindo do mendigo e o mendigo rindo do nada.
*****
Era um belo homem com um chapéu que dançava graciosamente diante de uma entusiasmada plateia que o aplaudia.
Ele era um grande astro da TV.
Cly Reis
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