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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Periferia S/A - "Fé+Fé=Fezes" (2014)


"Povo burro 
é povo submisso"
Jão



Então fazia algum tempo que eu não trazia algo para o AF, mas aí estava eu em casa a cozinhar quando resolvi pôr algo no YouTube para ouvir/assistir. Entre tantas opções modernas, entre tantos lançamentos, resolvi assistir a uma entrevista que há alguns dias eu vinha namorado na telinha. Nada mais nada menos que João Carlos Molina Esteves, o Jão, guitarrista fundador de uma das bandas que na minha opinião foi uma das precursores do movimento punk brasuca: os Ratos de Porão. Esta foi a banda que me inspirou e me fez querer fazer hardcore. Os caras tinham uma energia, uma verdade que eu sentia em poucas bandas. Mas até aí é a história que todo mundo conhece: o pioneirismo, a força, a fúria, as letras a influência... O que quero chamar atenção aqui, no entanto, talvez só quem tenha vivido aquele punk brasileiro dos anos 80 entenda o sentido. Eu curto RDP desde 1987 quando os ouvi na coletânea "Ataque Sonoro" e depois fui conhecer o "Sub", outra coletânea clássica do punk nacional dos oitenta, que é justamente o tiro inicial dessa resenha. Quando ouvi o "Ataque Sonoro", fiquei um tanto confuso quanto àquela banda. Eu havia gostado mas havia algo ali que voltimeia me fazia pular as músicas. Porém, depois, quando ouvi no "Sub" aquele baixo marcante da faixa “Vida Ruim” tive vontade de pegar imediatamente meu skate e descer a maior ladeira que eu pudesse entoando o “NÃO VAI DAAARR DESSE JEITO O MUNDO VAI ACABAARR”!!!! Aquilo me fez me fez sentir o motivo de ser punk naquele momento.
Mas os Ratos  de repente deram, meio que do nada, um salto pra um crossover. Seguiram naquele rip e eu, fã, mesmo não tendo compreendido bem aquela mudança, aprendi a amar e me mantive fiel durante todo esse tempo. Só após trinta anos, finalmente compreendi aquele salto, aquela passagem brusca daquele punk pro crossover. Estava tudo guardado na cabeça de um cara: o Jão. Um cara que com toda sua humildade e generosidade soube guardar e esperar o exato momento para, quem sabe, explicar a transição após todo esse tempo.
No meu ponto de vista, a retomada daquele ponto foi inconsciente. Uma coisa que aconteceu. Tipo, aquela namorada de adolescente que você resolve fazer um recibo mas que de repente explica o motivo de muitos erros e acertos na vida. Me refiro à Periferia S/A, banda formada por Jão na guita e vocal, Jabá no baixo e Dru na batera. A banda traz um som punk enérgico com letras de protesto que vão desde revolta contra o sistema, até o tiozinho bebaço que põe a vida fora na cachaça. E porquê eu falo deles no AF??? Porque eles me fizeram entender tal transição e também me fizeram acreditar que mesmo que o Ratos não fosse o Ratos que tanto curto e acompanho, eu teria o que acompanhar caso eles não existissem. Ouvindo o disco, o ótimo "Fé+Fé=Fezes" de 2014, segundo trabalho dos caras, vejo que seria ducaralho ouvir esse álbum de 2014 lá em 1989, por exemplo, e se por acaso o RDP não tivesse lançado o "Cada Dia Mais Sujo e Agressivo", este, o "Fé+Fé=Fezes", seria tão contemporâneo (não que pareça antigo, é que Ratos sempre esteve a frente do seu tempo), que teríamos discos para três ou quatro gerações futuras.
Mas situando-o devidamente em sua época e seu contexto, o álbum do Periferia S/A, se formos analisar de uma maneira mais ampla, pode ser visto como um acontecimento importante no cenário cultural e social brasileiro da atualidade. Numa época em que há tanto pelo que se gritar e pouca gente no mundo artístico parecendo disposta ou com capacidade para fazê-lo, trabalhos como este do Periferia configuram-se como obras necessárias e fundamentais. Sabemos que esse grito atinge poucos, e àqueles a quem chega estes já tem a consciência da necessidade de um insurgimento popular, mas já que a cena nacional de rock praticamente inexiste e ao contrário dos anos 80 quando pelo menos havia um rol de bandas, ainda que comerciais, com poder de discurso e mobilização, que a voz da periferia seja a representante de nossa legítima insatisfação. Mais do que o alcance, o importante neste momento é a indignação, o sangue nos olhos e isso o Periferia S/A tem de sobra. Como diz o título de uma das músicas do álbum, "devemos protestar" e nenhum gênero, estilo, movimento é mais legítimo do que o punk para fazer um convocação como essa. Sim, o bom e velho punk está de volta e com toda a fúria e energia. Longa vida a ele.


Lucio Agacê

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FAIXAS:
1. Pindorama Pindaíba (01:59)
2. Urbanóia (01:46)
3. Fé + Fé = Fezes (01:09)
4. Problema de Ninguém (02:31)
5. Fé + Fé = Fezes (01:27)
6. 12XU )01:33)


7. Pindorama Pindaíba (01:48)*
8. Recomeçar (03:06)*
9. Eles (01:59)*
10. A Farsa do Entretenimento (02:31)*
11. Segunda Feira (01:40)*
12. Oprimido (01:48)*
13. Carestia (01:11)*
14. Parasita (01:22)*
15. Padre Multimídia (03:31)*
16. Devemos Protestar (02:18)*

* (7 a 16 gravações ao vivo)

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Ouça:

quinta-feira, 8 de junho de 2017

cotidianas #513 - Grandes Lábios



Grandes lábios
Pequenos lábios
Boca
Bucal 
Oral Anal

Anel
Botão
Trivial
Igual
Diferente
De pé, atrás, na frente

O poliglota
O troglodita
O idiota
Entra sai
Tira bota
Pau buceta caralho xota

Grandes lábios
Pequenos lábios
Libido, perversão
Sexo, nexo, plexo
Suor, fúria, tesão

O liberado
O libertino
O aprisionado na cela
Gorda, magra
feia, vaca
pura, virgem, puta, cadela

Grandes lábios
Pequenos lábios
Acento
circunflexo
Tato, olfato, paladar
Coito, transa, sexo

Tato, olfato, paladar
Relato do fato de dar
O cu ou a buceta
da branca, amarela ou preta

Lábios finos
Lábios carnudos
Rapidez, reflexo
Toque, odor, visão
(Tesão!)
Fazer amor
Fazer sexo

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letra da música "Grandes Lábios"
da banda Hímen Elástico
(Daniel, Lucio, Cly, Lê)




segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

cotidianas #409



ilustração: Cly Reis
Essa e a história de Sofia
Que dizia-se sofrida, e sofria
Por ser fria
Mas... Sofia... ser fria
Não a faz sofrer na vida
Pois sorria
Sua ira não combina
Sua ira não combina com as capas coloridas
Desenhadas nas revistas que registram
Suas idas ou suas vindas
Sofia... sofria
Por ser fria, mas não via
Não lia, não sentia, não sabia
Que o melhor da sua linda
Rabiscada
Dependia de mentiras inventadas por artista ilusionista
Que com pouco vem fazendo
Ter um pouco de sentido toda essa ironia
Quente ou fria
Saborosa ou insípida
Inodora ou cheirosa
Sua vida
Seja dona, ó, Sofia!
Sorria... sorria...



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

COTIDIANAS ESPECIAL nº400 - A Lenda do Assubiadô



ilustração: Cly Reis
Lá é lugá de gente, mas gente de tudo qui’é feitio: gente rúim, gente humirde, trabaiadô, coroné, garimpêro, jagunço, caboclo, curandêro, ticunã, bandido, moça-da-vida. Gente do bem e otros... nem tanto. Gente viva, muito da viva, e gente que não tem nem onde caí morta, porque quando morre nem tem direito à terra pra descansá, que já não tem mais valia pra nada mêmo. E como morre gente! Ara! Gente cumo a gente que é de lá, entende, seu moço? Incrusive esse tar que o sinhô me pede pra falá. É: lá é terra de gente anssim grossêra quinem eu anssim, me adescurpe meu jeito. Gente cumo o sinhô, estudado nas estranja, conhecedô desse mundão aí fora, deve de achá inté estranho. Deve de achá que a gente é quase bicho, né? E se não é mêmo?! Anssim, quinem bicho, a gente se ‘custumô a sê tratado. Quem trabaia amarrado inté definhá pra cumê um quase-nada por dia é o quê?
Mas é terra bonita, sim sinhô! Ô, se é! Verde que não acaba mais, terra boa de se plantá. Toda a sementêra que se joga, a terra prenha. É só oiá lá as fazenda tudo. E tem de montão aquilo que os ôme mais cubiça: os ôro. Por isso, graça ao Nosso Bão Sinhô e a São Binidito, trabaio nunca fartô. Os patrão mandavo trazê gente de tudo qui’é lugá com as caçamba pra trabaiá, gente de monte quinem boiada, quinem furmiguêro, tudo amuntuado. Nem percisava de tê os dois braço. Miguelino, lá da terra do Tamborão, que diga: bão de garimpo só com uma braçada por vêiz. Será que já não definhô o pobre do Miguelino?...
Mas que bão que o sinhô me indaga essas cosa. Gosto de prosá. Anssim, a gente espanta as cosa rúim que fica grudada nos interno da gente. Não sô de protesto, não, sinhô. Ganho o meu unzinho na páiz do meu Bão Deus e na certidão que minha finada mãe me ensinô. Hoje, véio anssim, posso descansá. Mas o sinhô, vivido e entendedô, deve de sabê cumé qui’é vida de quem não tem mobral: trabaio, de bastante; mas prata, qui’é bão e de direito, um quase-nada. Por isso, lá, os trabaiadô trabaiavo tudo de cara fechada, no siso, ‘cabrunhado. Eles trabaio ainda anssim lá. Tudo brigão: se mexê, fáiz quinem carcará: bisa sem reza nem conversa. Desde de sempre foi anssim. E se não fáiz as obrigação, toma no lombo. Muita judiação, sabe, seu sinhô... Chibatada, tronco, laço de faca, de vara, taio de adaga, isso quando não é uma chupada de bala mêmo. Cosa feia de se vê. Teve um, uma vêiz, que fêiz umas marcriação e ficô dois dia no tempo dipindurado num cajueiro com os peito lambuzado de mér doce. O sinhô deve de imaginá o que as abeia fêiz com ele... Cosa do Chico Diabo, o jagunço mais marvado de lá. Ara, que esse tinha o capa-verde com ele! Mas não só ele, não! Tinha o Côsa-Feia, o Ambrosino, o Delcino Mete Bala, o Manuelzinho Bulhento, o João Tição: tudo com mardade nus’óio. Tudo cosa-rúim, tudo mafarrico, excumungado. Fêiz quarqué cosinha fora do acertado, era castigo nas carne!
Inté que um dia, um dia quarqué desses tanto, deu de aparecê pelas banda de lá um tar de Assubiadô, esse que o sinhô me apergunta. Roto, pôca carne, c’as rôpa tudo escangaiada. Cariboca feio didadó! Não prosava com ninguém. Tumbém: não sabia dizê um “ai”! Só assubiá. Nem cumê direito cumia: era só pro de si mantê di’pé e tê fortidão pra assubiá. E fazia isso com contento, sim, sinhô! A gente oiava pr’ele e ele tava com as feição dum santinho, ‘bençoado, assubiando aqueles estribio. A cara era tar a páiz de Jesuis. Ele apertava os beiço, dava um segundinho... e sortava. Um som nem fino nem grosso. Era só... bonito de se ouvi. E não digo só eu, não: todo o garimpo gostava, fosse gente ou fosse bicho. O passaredo tudo se vinha pra junto dele quando ele assubiava: aracuã, sapucaia, mutum-poranga, painho, fura-bucho, caraúna, coró-coró. Tudo, tudo se vinha pra cima das árvre cantá junto.
Fáiz muito tempo isso, seu moço. Ô, se fáiz! De primêro, ele se chegô cumo se não quisesse nada. E não queria nada mêmo. Só foi ficando pelos garimpo, ficando, assentado numa pedra, numa árvre, no mato ralo, num cabeço, assubiando. Era só o que queria. Às vêiz, usava uma fôia verde pra fazê apitá, e não é que aí era mais boniteza ainda!? Cumo não fazia mar pra ninguém – era só oiá pras feição dele que se via que não era de rinha – fôro deixando ficá ali, de garimpo em garimpo, assubiando. Quando mais qu’isso, ganhava um prato montado com os resto dus’otro. E não se quexava: cumia com gosto e com cara de ‘gradicido.
Quando o tar assubiava era cumo o canto do uirapuru no matagão fechado. Bonito cumo o cér. A gente, que vivia de cabeça quente, pela lida forçada e pela mira das espingarda, ia ouvindo aquele assubio e desmanchava um bucado da raiva, sabe? A gente ia se acarmando, acarmando, via que era milhó fazê o afazê, que se não a gente ia tá morrendo toda hora, a gente que não tinha arma de fogo e tinha poca fortidão contra os jagunço, esses, forte e gordo, que cumia as cumida boa que o patrão dava. Com o assubio do Assubiadô nos ouvido, a gente trabaiava milhó, inté com gosto, porque o tempo passava num estalo.
Mas o sinhô, seu moço, sabe que tem sempre os que não ‘guenta domá o fogo que tem no bucho, né? Pois não é que teve um jagunço que cismô com o Assubiadô? Ele, que não fazia mar pra um ramo de mureré! Isso foi logo dispois que ele se achegô por lá, e quem fêiz isso foi o Bilico Come-Dorme, jagunço do Nhô Bandêra, um gordalhão priguiçoso que só sabia cumê, durmi e inticá cuns’otro. Ele viu aquele ôme assubiando encostado no pé de um pinheiro-manso, qu’ele gostava, se achegô e foi logo destacando o punhar. “Que tu qué aqui, seu disgracento!?”, falô, arto que todo mundo escuitô. Os garimpêro tudo pararo de trabaiá; é que ninguém queria que ele morresse anssim, de faca. E dispois, ele não tava fazendo um nada! Só tava ali, assubiando cumo se nasceu nessa vida só pra fazê. Mas não é que com o punhar de fronte pr’ele o Assubiadô seguiu assubiando, carmo, na paz de Jesuis? De mó’de que ele não parô a cantiga, o capataz vortô a perguntá: “Qual tua graça? Hein, diz: qual tua graça? Não sabe fazê mais nada se não assubiá, bicho burro? Deve de sê mêmo muito burro mêmo!”, se rindo todo do Assubiadô, mas tava mêmo era com raiva dele, que não ‘parentava medo ninhum no sembrante. Cumo ele não movia uma paia, o Bilico se desgostô todo e caiu na ameaça braba: “Ah, tu não vai falá!? Qué morrê, disgracento dus’inferno?!”
Aí foi o que se assucedeu o que o sinhô quiçá nem ‘credite, que decerto só pra gente de cabeça pôca que nem a gente. É, ‘quilo foi um milagre, sim, meu sinhô, adescurpe se lhe conto o que parece troça. Mas não é, não! Por essa lúiz que me alumia! Quando o prevalecido do Bilico Come-Dorme ia lhe passá o punhar nas tripa, o Assubiadô virô os óio pr’ele, na mêma carma e... assubiô. Só assubiô. Na minha ‘gnorânça de ôme de fora, eu firmo: foi uma maravía do Nosso Sinhô. Foi cumo se o Divino que chegô naquele assopro de cantiga pro desvairido do Bilico. Não teve punhalada, nem carne rasgada. Nem mais prosa. O jagunço baixô a arma e ficô oiando nus’óio do Assubiadô, ‘dmirado. Decerto, tentando entendê o que tava se assucedendo lá no de dentro dele mêmo. Dispois, foi s’imbora pé por pé, ‘sustado, e os garimpêro, eu, ‘crusive, tudo começaro a se ri baxinho, mas que deu pra escuitá. O ôme saiu com o rabo no meio das perna, cumo se tivesse tomado uns para-te-queto do patrão!
Ô, que eu me rio todo dessas história! É bão lembrá... Só sei que dispois daquele ocurrido o tar do Bilico Come-Dorme nunca mais judiô de ninguém. Não buliu mais com ninhum trabaiadô, de móde que Nhô Bandêra lhe mandô pra imbora do garimpo pra nunca mais, que não lhe servia de nada jagunço com “modo de moça”. Foi o que me disséro – isso anos dispois –, que o Bilico tinha entrado pra igreja, e ajuda o padre numa paroquinha d’otra paragem não muito disiguar de lá. Que Deus o conduza, né mêmo, seu moço? O que eu sei é que tar do Assubiadô era um pobre que não sabia nem o seu pra-quê na vida, mas assubiava bonito as música inventada dele, e isso fazia um bem danado pros trabaiadô tudo.
E aí que começa a verdadera história desse desinfeliz de bão coração, o Assubuiadô, que o sinhô me veio de pronto indagá quem foi. Antão que chegô tão longe anssim a lenda do Assubiadô, inté lá pra suas banda, foi? Ara! Valei-me São Binidito! Foi dispois desse ocurrido com o Bilico que ele passô mêmo a sê mais um de nóis, e foi daí que ele passô a vivê com a gente, ora numa terra, ora nôtra, se ‘comodando ca’gente nas estalage, sempre assubiando seu assubio, ajudando os trabiadô a trabaiá com mais gosto. Na hora da lida, era só ele passá um meio-dia com nóis, soprando o vento pra fazê cantiga, que tudo se corria na maió das tranquilidade.
Os sim-sinhô, dono dos garimpo e das terra – o seu moço deve de imaginá –, de primêro estranharo aquilo. Querío tudo sabê quem era esse tar, por que assubiava, por que não prosava, donde saiu, essas cosa de gente desconfiada e dona dus’otro. Só que era tão meió quando ele tava, e dispois do ‘currido com o Bilico curria nos ovido que ele não bulia com ninguém, que inté os patrão não se importaro de dexá. Só ele que pudia andá por tudo, que não tinha amarração no pé quinem nóis, pro sinhô vê. Adispois, os ôme começaro a enxergá que quando o Assubiadô tava lá, assubiando enquanto os garimpêro garimpava, o trabaio rendia mais. Aí é que os patrão, que sabe ganhá as prata e usá o trabaio dus’otro, não quiséro mais que o Assubiadô fosse s’imbora.
Era tão bão quando o Assubiadô tava que os garimpo começaro a querê ele sempre, sem deixá us’otro aproveitá tumbém. Tivéro inté que se reuni o Nhô Bandêra mais o Nhô Quim, Nhô Tião, coroné Vaca-Brava, coroné Vilêga e coroné Salustiano pra mó’de organizá cada dia que o Assubiadô ia tá em que garimpo. Tudindim batido no relójo. Os jagunço já ficava esperando de banda, e quando batia a hora, pegavo o Assubiadô e levavo pr’otro garimpo. E anssim era o dia todo, zanzando pr’um e pr’otro. “E ele?”, o sinhô me apergunta? Não se desgostava. Deixavo ele assubiá, antão tava mais de bão pr’ele. Decerto, nem atinava que passô a sê mais um trabaiadô cumo nóis. Só que ao invéis de trabaiá com os braço e mercúro nas mão, ele só usava os beiço. Nem percisava de mais nada.
Anssim foi por um bão dum tempo. Foi o tempo mais bão que teve por lá, isso é acertado. Os garimpêro passaro a trabaiá mais e meió, e anssim passaro a rendê mais prata pros patrão. Os patrão, anssim, começaro a de tê mais prata que já tinho, e pra móde de não perdê o que já tava bão, passaro a dá mais prata tumbém pros garimpêro. Época boa ‘quela, seu moço! Ô, se foi! Época de pogresso. Os garimpêro não trabaiava mais de fuça cerrada, río trabaiando e fazío as cosa com gosto. Teve inté uns que queria bamburrá iguar aos patrão! Todo mundo teve menos moléstia; tomavo agora água limpa; os bodeguêro vendío muito mais quebra-goela e di-cumê. Inté as ramêra tínho mais criente pra fazê ‘quilo que os ôme e as muié gosta de fazê.
E o assubio do Assubiadô voziando tudo a gente todos dia.
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A vida de todo mundo miorô, e parecia que as cosa ío ficá daquele jeito bão que tava. Mas o sinhô sabe, né, seu moço, que nesse mundão erva má depressa cresce. Não se ademorô muito prus´ôme começá a se disintendê. Foi só o coroné Vilêga, um que falava todo ‘revezado, se apercebê que os garimpo do Nhô Quim e do Nhô Tião tava dando mais riqueza, e que os estrangêro tava começando a comprá mais deles, que as brigaiada começaro tudo de novo. Adispois, ‘inda por cima o Nhô Bandêra enfiô na cabeça que o coroné Salustiano tava mandando os garimpêro dele tirá ôro das terra que era de seu pertence. E isso era desverdade, seu sinhô. Valei-me São Benidito se eu tivé dizendo cosa errada! É que o Nhô Bandêra, sempre de ôio nas cosa dus’otro, não gostava do Salustiano, e isso era briga antiga das famía. Mas como o povo diz: “Em tempo de guerra, mintira é cumo terra”. Aí foi que se desintendêro tudo. Promessavam de morte, pararo de dá as prata boa pros garimpêro e inté as corrente vortaro pra prendê os trabaiadô. O Assubiadô, que nem sabia o que tava se assucedendo, paricia fole de oito-baxo: ia pra lá, ia pra cá. Não tinha mais paradêro. Tudo os patrão querío ele e não tinha mais combinação de relójo. Só pra móde tirá vantage um d’outro. Era a hora que eles querío e pronto!
A cosa toda foi de um jeito que se estragô o que tava bão. Ninguém trabaiava mais cum gosto nem podia comprá mais pinga nem aporveitá as noite no meretriço. Tudo vortô a sê cumo era de antes do Assubiadô chegá: cara triste, vida sofrida, tóchico, bibida, morte de arma, judiação, desatino de cabeça por causa dos mercúro. Nem o assubio dele ajudava mais os garimpêro, porque os jagunço pegavo ele toda hora toda hora. Mar dexavo ele ficá num garimpo só, e os garimpêro nem conseguia mais escuitá as cantiga de assubio dele.
Me adescurpe do que eu vô lhe falá, seu moço, mas é verdade verdadera: o bicho ôme não sabe arresorvê as cosa dotro móde que não na rinha. Foi anssim que o coroné Vaca-Brava, ôme marvado por demais, arresorveu o embaraço: se não era ele a tirá vantage, ninhum dus’otro patrão igual ele que ia tirá. Ele mandô o Chico Diabo mais trêis capanga ‘traiz do Assubiadô, tudo de cospe-fogo na mão. Não foi difícer de achá o Assubiadô. Tava ele lá, encostado no pinheiro-manso que ele gostava de se encostá pra assubiá pro ar. Não fêiz movimento ninhum quando oiô o camionetão do coroné Vaca-Brava enfreá de pertinho dele, de móde que a puêra se foi toda pra cima dele. Os capanga – gente tisnada, que Deus me aperdoe! –, descêro no depressa cumo se o pobre do Assubiadô fôsse corrê ou ameaçá eles. Óia só o sinhô, que desabsurdo! O Chico Diabo, esse sim com o cão-tinhoso por de dentro, veio carmo, mas ‘quela carma de quem tá seco pra metê bala, se lambendo, que gostava duma morte matada.
Foi antão que o Chico Diabo escarrô no chão um cuspe grosso e disse pro Assubiadô: “Vai ‘subiá pro diabo ‘agora, seu desinfeliz!”. O Assubiadô ficô só parado, sem medo ninhum, nem raiva paricia sintí. Antes de se ouvi o estampido, diz que ele esticô o braço na direção do Chico Diabo ‘ferecendo a fôia verde qu’ele fazia as música. Se fêiz ‘quele clarão. Tar um sor que se nasce e logo em siguidinha ‘noitece...
Mas o fío do tisnado do Chico Diabo não se contava cunh’essa: com a espingarda mirada, ele oiô de banda, pra que nenhum garimpêro se bobiasse em querê se provalecê ou desforrá por causa do Assubiadô. Só que quando foi oiá de novo pro cadáve... quedê? O Assubiadô: quedê? Estranhô tanto o jagunço e os ôme dele que se alevantaram tudo as arma de novo, ‘sustado que ficaro. Os garimpêro tudo parado, sem se mexê, sem dizê um “ai”, que quarqué cosinha cumia bala de novo cun’sôme naquele nervoso que tava. Foi antão que se tornô a ouvi um assubio. E era o assubio... tar e quar do Assubiadô! E vinha da árvre ‘quele som. Será que era dos passarim? Será qu’ele tava lá escundido?
Todo mundo se arvoroçô, sem ninhum entedimento, e foi aí que o Chico Diabo virô diabo mêmo! Só que de raiva. Ele cuspiu fogo pra riba, e um passarim saiu vuando do meio da copada, ‘sustadinho. Só que o assubio não parô. O Chico Diabo, sem sabê o que fazê, falô arto: “É tu que tá iscundido, disgracento?! ‘Parece! ‘Parece aqui, que eu vô te metê bala no teu bucho de novo!” Brabo que tava. O sinhô sabe qual foi o retruco? O assubio. Que continuô lindo daquele jeito que só o Assubiadô fazia. E não parava, e não parava. O Chico Diabo se vortô pra oiá se não era ninhum garimpêro que tava se engraçando em ‘remedá o assubio do Assubiadô. Mas não era, não: tava tudo de bico fechado, cun’beiço pregado de vexado que tava tudo. Devia de pensá o Chico Diabo: cumé que podia o disgracento fugi se tinha ele certidão que tinha metido bala no desinfeliz? Foi antão que o Chico Diabo, pra móde não passá vergonha na frente dos trabaiadô que ele bulia, pegô os ôme dele no ligêro e se foi-se ‘imbora no camionetão do coroné Vaca-Brava cuspindo fogo pelas venta.
Ficô tudo mundo estaqueado, sem entendê o assucedido. E o assubio do Assubiadô cismava nus’ovido da gente. Ou era os passarim das árvre que fazia? Ficô uns achando disconfiado que fosse sempre o gogó dos bichinho que assubiava, e não o Assubiadô. Pudia. Mas pudia sê tumbém que o espetro daquele ôme tivesse ido pra árvre, aquele pinhêro-manso qu’ele tanto gostava, que já era quase iguar a ele mêmo: árvre e gente. Teve inté um que disse: “É o espríto dele, cês não enxerga?” Eu, seu moço, posso lhe dizê que eu não vi espríto ninhum. Mas vai sabê se não era mêmo? Otros, inda achava que era o Assubiadô mêmo, que tava já lá no cér essas hora encostado num travissêro de núve assubiando pros lá no chão, se rindo, gracejado.
Ninguém sôbe dizê donde foi pará o cadáve do Assubiadô. Se fugiu, se saiu avoando, se entrô pra dentro da árvre. Era tão minguado o judiado que, no acertado, um tiro só serviu pra fazê ele sumi todinho duma vêiz só! Só sei lhe dizê que não que dispois desse ocurrido ninguém mais enxergô o Assubiadô, nem lá nem em lugá ninhum paricido ou desparicido c’aquele.

Quero não tê ‘borrecido o sinhô cué’ssa história toda. Foi não? Bão! Me dá sastisfação de sabê. Inda mais hoje, que vivo aqui, tão longe de lá d’onde passei tanto tempo da vida. E adispois é o sinhô que tá me fiando, o sinhô, sujeito letrado, conhecedô das cosa boa desse mundão aí. Decerto, deve de tê mêmo nessa história ‘cabrunhada que lhe prosei cosa boa tumbém, né? E adescurpre se distraí dalgum bucadim de história. Cabeça de gente véia quinem eu dêxa passá as cosa. É que já fáiz tanto tempo isso tudo! Ara, se fáiz! Me arrecordo bem sim é de quando foi esse ocurrido: otubro de doismilequinze.


A Lenda do Assubiadô
a partir do argumento original de Lucio Agacê
ilustração de Cly Reis

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Ratos de Porão – “Brasil” (1989)




“Em ‘Brasil’ a gente fala mal do país o tempo inteiro,
desde a capa até a última música.
Esse disco marcou uma época para nós (...)
Também fizemos uma versão em inglês desse álbum,
mas ficou uma bosta.
Mas era uma bosta bem produzida (risos).”
João Gordo

“Eu comecei a perceber essa aproximação
quando ia na Galeria do Rock e via
os moleques metaleiros com camiseta do Ratos de Porão
e LP’s de hardcore debaixo do braço.
Foi nessa época que começaram
a me chamar de ‘traidor do movimento’,
coisa que só parou quando
eu assumi que sou traidor mesmo.
De movimento que é só baixaria e briga,
sou traidor mesmo.”
João Gordo


Veja bem! Lá por meados dos anos 80, mais especificamente 89, eu vinha ouvindo bastante hardcore. Eu curtia muitas bandas nacionais, mas uma em especial uma sempre me chamou a atenção: Ratos de Porão ou RDP. Para nós fãs, banda conhecida mundialmente pela sua pegada agressiva e letras de cunho político-social, isso sem contar os riffs únicos de seu guitarrista João Carlos (Jão) e a figura por muitos odiada e por outros amada de João Gordo. E é desses caras que venho falar hoje, mais especificamente sobre um álbum que fez com que meu conceito musical mudasse significativamente tanto na percepção quanto artisticamente. Trata-se de “Brasil”, LP lançado pertinentemente numa época na qual o país passava por uma fase quase que como a de hoje: crise política financeira engatinhando, numa democracia maquiada, etc.

Lançado em 1989, esse disco pra mim é sem dúvida o melhor disco da RDP, de uma época em que eles andavam extremamente entrosados e com muito assunto relevante para por pra fora. Gravado em Berlim, “Brasil” foi lançado pela gravadora Roadrunner. Nele, os caras tiraram uma sonoridade monstra. Apesar das peripécias e drogas pelo decorrer do percurso (hehehe), conseguiram dar à luz o que seria um divisor de águas e um ponto final naquela velha máxima de traidores do movimento, pois definitivamente aqueles punks escrachos da periferia cravaram de vez sua bandeira no cenário crossover mundial, abrindo a partir dali portas de extrema importância para sua carreira.

Produzido por Arris Johns, foi lançado em dois idiomas, em inglês e em português, e tendo como a cereja do bolo a mais que perfeita ilustração para essa obra assinada pelo cartunista Marcatti. Além dos já citados Gordo e Jão, Jabá, no baixo, e Spaghetti, bateria, completam a banda, que teria para as gravações a participação de David Pollack e Archi (ambos da banda Happy Hour) e Frank Preece (da Exumer) nos vocais de apoio.

“Brasil”, o disco, é o melhor Brasil tipo exportação.
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FAIXAS:

Português
  1. "Amazônia Nunca Mais" - 1:54
  2. "Retrocesso" - 1:34
  3. "Aids, Pop, Repressão" - 1:18
  4. "Lei Do Silêncio" - 2:14
  5. "S.O.S. País Falido" - 1:27
  6. "Gil Goma" - 0:43
  7. "Beber Até Morrer" - 2:19
  8. "Plano Furado II" - 1:35
  9. "Heroína Suicida" - 2:16
  10. "Crianças Sem Futuro" - 1:41
  11. "Farsa Nacionalista" - 2:30
  12. "Traidor" - 0:50
  13. "Porcos Sanguinários" - 1:51
  14. "Vida Animal" - 1:28
  15. "O Fim" - 0:59
  16. "Máquina Militar" - 1:57
  17. "Terra Do Carnaval" - 2:14
  18. "Herança" - 1:53
Inglês
1.       "Amazon Never More" - 1:54
2.       "Backwards" - 1:34
3.       "Aids, Pop, Repression" - 1:18
4.       "Law Of The Silence" - 2:14
5.       "S.O.S. Broken Country" - 1:27
6.       "Gil Coma" - 0:43
7.       "Drink' Till You Die" - 2:19
8.       "Fucked Plan II" - 1:35
9.       "Suicide Heroin" - 2:16
10.   "Children Without Future" - 1:41
11.   "Nationalist Farse" - 2:30
12.   "Traitor" - 0:50
13.   "Bloody Pigs" - 1:51
14.   "Animal Life" - 1:28
15.   "The End" - 0:59
16.   "Military Machine" - 1:57
17.   "Land Of Carnival" - 2:14
18.   "Will I Receive My Heritage?" - 1:53

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OUÇA O DISCO


  

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Vômitos & Náuseas – Gravação do Primeiro CD


Deparei-me pelo Facebook com uma notícia com a qual fiquei muito feliz: uma das bandas do meu primo-brother e colaborador do Clyblog, Lucio Agacê, a Vômitos & Náuseas, vai lançar CD este ano. É para setembro que está previsto o primeiro disco full-lenght destes veteranos do hardcore gaúcho, formada atualmente, além do Lucio nos vocais, pelo Gabriel Tolla, no baixo, Fabiano Dian e Guga Prado, nas guitarras, e Cristiano Hulk, bateria.
Minha felicidade se justifica. Além de acompanhar sempre que possível, de perto ou de longe, as movimentações musicais que o agitador Lucio sempre promoveu desde os anos 80 (época em que mudou minha vida, quando, ainda guri, fui apresentado por ele ao punk-rock), igualmente, vi, em 1989, o nascimento e formação da Vômitos, a qual assisti algumas vezes em ensaio e show ao vivo. Presenciei também à época a participação na coletânea “Paranoia Suicida”, de 1990, primeiro registro oficial deles, pouco antes do Lucio entrar para o grupo.
Vômitos & Náuseas, 
retorno com tudo.
E lá se vão 20 anos de “coma”, como os próprios definem o período em que estiveram afastados. Em 2014, depois de tocarem outros projetos, entre períodos de viagens e trabalhos em outras bandas (só o Lucio teve envolvido com a Causa Mortis, Facção Zumbi, trabalhos solo, discotecagem e a própria HímenElástico, a qual também pertencia), os caras retornaram pra detonar tudo de vez com seu som que mescla o bom e velho punk com hip-hop e heavy metal. Estão atualmente aprontando material inédito no estúdio Hurricane, em Porto Alegre, incluindo canções compostas nos anos 90 e coisas novas, com produção do Sebastian Carsin, Gabriel Siqueira e Juan Acosta.

Seja bem vinda de volta, Vômitos & Náuseas! Paulada na cabeça desse rock gaúcho insosso e ridiculamente “érrebe-éssezado”. Nauseiem à vontade os estomagosinhos dessa gente apática e idiota e vomitem-lhes agressividade em forma de boa música. É de vômito que estamos precisando. O CD sai em breve, mas por enquanto, fiquem com uma das inéditas, composta em 1991: “Corpos Mutilados”.


Vomitos & Náuseas - "Corpos Mutilados"



domingo, 22 de dezembro de 2013

Garotos Podres - "Mais Podres Do Que Nunca" (1985)



"Papai Noel, velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
Cospe nos pobres."
trecho de "Papai Noel Velho Batuta"


Quando fui convidado a escrever sobre esse disco, passou um filme pela memoria
Explico:
1987 turma 027, Senai de eletromecânica, Sapucaia do Sul, RS... "Sorriso", era assim que era conhecido este que vos escreve.
Nesta época, chegou até mim um disco chamado "Ataque Sonoro", do qual já falamos aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, onde parece uma banda que que já se destacava e alçava voo com seu próprio álbum, "Mais Podres do Que Nunca". Sim, falo dos Garotos Podres, banda liderada por Mau, acompanhado de seus comparsas Sukata, Português e Mauro, e que teve lugar garantido tanto nos meus sets DJ em vários campeonatos de skate pelo estado quanto no repertorio de banda que eu tocava na época, entoando hinos como "Miseráveis Ovelhas", "Anarquia Oi!", "Não Devemos Temer", e nunca esquecendo, é claro, do clássico que 'arrebentou' em noites natalinas pelo Brasil afora, "Papai-Noel Velho Batuta", que na verdade teria outro nome, bastante fácil de imaginar, mas só teve seu título 'suavizado' para driblar a censura.
Esse com certeza foi um dos discos responsáveis pela formação punk anarco subversivo chamado hoje Lucio Agacê.
Em homenagem a todos os velhos batutas do 'braza' desejo um Feliz Natal sem ostentação e com muito sentimento cívico para todos.
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FAIXAS:
  1. "Não Devemos Temer" (Mauro/Mao/Sukata)
  2. "Johnny" (Mauro/Mao/Sukata)
  3. "Insatisfação" (Mauro/Mao/Sukata)
  4. "Maldita Preguiça" (Mauro/Mao/Sukata)
  5. "Vou Fazer Cocô" (Mauro/Mao/Sukata)
  6. "Anarkia Oi!" (Mauro/Mao/Sukata)
  7. "Eu Não Sei o que Quero" (Mauro/Mao/Sukata)
  8. "Papai-Noel Velho Batuta" (Mauro/Mao/Sukata)
  9. "Miseráveis Ovelhas" (Mauro/Mao/Sukata)
  10. "Liberdade (Onde Está?)" (Mauro/Mao/Sukata)
  11. "Führer" (Mauro/Mao/Sukata)
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Ouça:
Garotos Podres Mais Podres Do Que Nunca

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ratos de Porão - Bar Opinião - Porto Alegre/RS (11/11/13)



foto: Lucio Agacê
Nunca tinha assistido ao Ratos de Porão ao vivo. Devia isso pra mim mesmo. Do rock nacional já tinha visto shows de quase todos que considero importantes: Titãs (Arnaldo Antunes e Nando Reis, além do Marcelo Frommer ainda vivo), Camisa de VênusParalamas do Sucesso, Fausto Fawcett, De Falla, Replicantes.Até Humberto Gassinger (sem Engenheiros do Hawaii, mas tocando músicas da banda) eu vi. Legião Urbana que fazia pouco show, ainda mais aqui no Sul, não deu pra ver (quando ia fazê-lo, Renato Russo morreu). Por isso, dos grandes do rock brasileiro faltava-me, de fato, o Ratos. Os caras que inventaram (isso mesmo: sem aspas!) o que pode ser chamado de metal-core antes de qualquer outra banda gringa; o grupo criador de discos essenciais como “Crucificados pelo Sistema”, “Descanse em Paz” e “Brasil”; os desbravadores, no Brasil, de uma malvista e desvalorizada, porém riquíssima, cena juvenil chamada punk junto com Olho Seco, Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Lobotomia e outros; os verdadeiros cronistas suburbanos de um Brasil que insiste em ser desigual e decadente desde que eles surgiram, há mais de 30 anos, e bem antes disso; a primeira banda a levar, junto com o Sepultura, o rock nacional pro exterior a custas de muito esbravejo e porrada. Faltava o Ratos a mim.
Faltava.
Depois de mais de um ano me penalizando por não estar na cidade para assisti-los em 2012, quando estiveram em Porto Alegre depois de um bom tempo sem virem, pude, enfim, presenciar João Gordo & cia. “destruírem” o Opinião no projeto 2ª Maluca, da Rei Magro Produções. Showzasso! Gordo, muito a fim de tocar e à vontade com um público verdadeiramente amante da banda, subiu no palco com a gana de realmente fazer um grande show. Com Jão, esmerilhando na guitarra, Juninho, super bem no baixo, e Boka, sempre destruidor na bateria, não foi diferente. O show teve aproximadamente 1 hora e 10 minutos, o que, para uma banda como o RDP, que tem faixas até de 17 segundos, (como “Caos”, que tive o prazer de ouvi-los tocar: “Esse mundo é um caos/ Essa vida é um caos/ Caaaaaos!"), esse tempo todo dá pra executar um monte de coisa. E foi assim, repleto de “crássicos” que incendiaram a roda de pogo.
foto: Lucio Agacê
Eles mandaram ver com “Agressão/Repressão”, “Crianças sem Futuro”, “Aids, Pop, Repressão”, “Sentir Ódio e Nada Mais”, “Realidades da Guerra”, entre outras. Só as foda! “Mad Society”, de uma fase já “madura” dos caras e das minhas preferidas, veio num arranjo super legal junto com “Morrer”, das antigonas. “Sofrer”, das mais conhecidas, claro, enlouqueceu a galera, assim como a versão deles de “Buracos Suburbanos”, da Psykóze, outra memorável do punk rock brazuca. Teve ainda as imortais “Crucificados pelo Sistema” e “Beber até Morrer” - música que, há 25 anos, nos faz pensar se não é, de fato, esta a solução num país, à época da composição, de Plano Cruzado e inflação galopante e, hoje, de Bolsa Família e Mensalão... 
Mas pra pirar mesmo o público de fé que foi lá naquela noite do dia mais chuvoso na cidade em um século (!), o Ratos presenteou-nos com uma execução do clássico do rock gaúcho (quando este ainda era bom pra caralho): “O Dotadão Deve Morrer", d’Os Cascavelletes. Ao seu estilo, tal como gravaram em 1995 no álbum “Feijoada Acidente - Brasil”, ou seja, menos rockabilly e mais hardcore, a banda fez o Opinião vir abaixo, ainda mais no refrão, entoado por toda a plateia - inclusive este que vos fala. Gordo cantava: “Hey, rapazes/ Esse cara deve morrer”, e nós respondíamos em coro: “Deve morrer, deve morrer, deve morrer!”. De arrepiar!
Pra fechar, outro clássico cantado por todos: “FMI” (“O FM’ê’ não está nem a’ê’...”). Como se não bastasse a felicidade de minha realização de, finalmente, assistir ao RDP ao vivo, ainda pude fazê-lo ao lado de meu primo-brother e colaborador deste blog, Lucio Agacê, justamente quem, em meados dos anos 80, mostrou pra mim esta que é, certamente, a maior banda brasileira em atividade hoje. E será que não foi sempre?



fotos: Lucio Agacê


terça-feira, 2 de julho de 2013

"Ataque Sonoro" - Vários (1985)


A capa da coletânea em destaque, no alto
e, abaixo a foto da contracapa do LP,
velhinho, remendado,
rabiscado, mas guerreiro.
"Tudo aconteceu na manisfetação
O povo protestava contra exploração
Diziam em voz alta "abaixo a repressão"
Num coro organizado diziam os explorados"
"Reprecaos", Vírus 27


Já que estamos vivendo em uma época onde a livre expressão e manifestação popular estão em alta, resolvi escrever sobre esse disco na sessão ÁLBUNS FUNDAMENTAIS do clyblog.
Conheci boa parte das musicas contidas nessa pérola exatamente no ano de 1987 quando ingressei em uma escola profissionalizante e aquele foi provavelmente o dia em que o menino virou um revoLUCIOnário! 
Por problemas respiratórios não podia jogar bola, então, normalmente ficava responsável pelo som nas festas, jogos ou torneios de skate, tendo sido assim apresentado ao universo PUNK.
O "Ataque Sonoro" é uma compilação que reúne grandes nomes do movimento punk brasuca: RxDxP, Cólera, Lobotomia, Expermogramix, Armagedom,Vírus 27, Garotos Podres, Auschwitz, Desordeiros e Grinders.
Lançado originalmente no ano de 1985 pelo selo Ataque Frontal, na minha humilde opinião foi o primeiro registro oficial de boa qualidade do movimento punk.
Vale conferir.
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FAIXAS:
lado A
  1. "Reprecaos" (Vírus 27)
  2. "Condenado" (Ratos de Porão)
  3. "Anarquia" (Garotos Podres)
  4. "Trabalhadores Brasileiros" (Espermogramix)
  5. "Ignorância Cega" (Auschwitz)
  6. "Progresso" (Desordeiros)
  7. "Rebeldes" (Cólera)
  8. "Skate Gralha" (Grinders)
  9. "Super Projetos" (Armagedom)
  10. "Faces da Morte" (Lobotomia)

lado B
  1. "Lobotomia" (Lobotomia)
  2. "Cérebros Atômicos" (Ratos de Porão)
  3. "Mortos de Fome" (Armagedom)
  4. "Bombas" (Espermogramix)
  5. "Eu Não Sei o que Quero" (Garotos Podres)
  6. "Corrupção!" (Auschwitz)
  7. "Vira-latas" (Cólera)
  8. "Como é que Pode" (Grinders)
  9. "Capitalismo" (Vírus 27)
  10. "Holocausto" (Desordeiros)

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Ouvir:
Ataque Sonoro

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um Dia Depois do Fim


A volta da Causa Mortis


Meu primo/parceiro/irmão/colaborador (não necessariamente nessa ordem), Lucio Agacê, grande influência musical na minha vida, DJ, blogueiro, multiinstrumentista, agitador inquieto, constantemente envolvido em algum projeto musical, retoma um dos mais legais capítulos de sua trajetória no meio alternativo da Grande Porto Alegre, com o qual eu tive o privilégio de conviver ainda que brevemente: a banda Causa Mortis. Petardo hardcore, agressivo, violento, na veia e dando impiedosamente nos dedos, a CM foi contemporânea, nos anos 90, do nosso projeto musical, muito interessante mas pouco profissional e pouco ambicioso, a HímenElástico, inclusive com membros em comum, como Pereba e Maurício, e por certo, muito nos influenciou na atitute e sonoridade.
O lance todo é que depois de um hiato, aí, de 18 anos, a banda volta disposta a pôr tudo abaixo e  a grande volta acontecerá no dia 03 de maio, no Holiday Studio Pub em Sapucai do Sul. Quem estiver por lá ou pelas redondezas, não perca. Eu, mesmo estando aqui no rio, vou tentar estar presente.
Abraços a todos os integrantes e boa sorte nessa volta.
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Causa Mortis é:
LucioAgace(voz)
Sandro Takeda(bass)
Mauricio Sor(guitar)
César Pereba(drums)


Holiday Studio Pub fica na
Rua Leônidas de Souza, 891, 93210-140 Sapucaia do Sul - RS


veja o vídeo de duvulgação da volta e do evento:



C.R.