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terça-feira, 10 de abril de 2012

Maurice Ravel - "Bolero" (1928)

"Ele sabe muito bem o que fez.
Não se pode falar de forma
nem de desenvolvimento ou modulação (...)
é uma coisa que se autodestroi,
uma partitura sem música, uma fábrica orquestral sem objeto,
um suicida cuja arma é apenas o alargamento, a amplificação do som."
Jean Echenoz, 
escritor francês, autor do romance "Ravel"


Um único movimento.
Uma sequência rítmica que se repete ao longo de mais de 15 minutos assumindo variações, adquirindo forma, desfazendo-se e incorporando elementos. Ora erguendo-se em ênfases, ora reduzindo-se quase a silêncio.
Uma obra-prima minimalista de linhas grandiosas, tons heróicos, um acento levemente ibérico e percussão quase militar.
Uma composição crescente que vai ganhando corpo, forma, amplitude pelo acréscimo progressivo de instrumentos, partindo de um vazio sonoro até chegar um final apoteótico no qual todos os elementos se unem para propiciar um êxtase total.
Modelo de composição altamente moderno e sofisticado, influente para a música da sequência do século 20, encontrado com frequencia em gêneros tidos por vezes como limitados ou burros, como a música eletrônica, por exemplo.
Este é o "Bolero".
De Maurice Ravel.
Um único movimento.
Um movimento único.

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FAIXAS:
1. Boléro (16:13)
2. La Valse (13:17)

*Os primeiros lançamentos em disco de "Bolero" apareceram em um compacto que tinha "La Valse" no outro lado. Teve vários outros formatos posteriormente mas ainda há edições onde se encontra esta primeira disposição.
*Há divergências quanto à duração oficial da peça: originalmente, pela partitura de Ravel ela teria algo em torno de 14 minutos, porém execuções mais lentas chegam mesmo a ter durações superiores a dezoito.
* A minha versão, que tenho em casa, da Slovak Radio Symphony Orchestra, tem duração de pouco mais de dezesseis minutos.
*"La Valse", apenas pra não deixar passar, também é uma peça bastante interessante. Intensa, de tom grandioso, misterioso e de valseado levemente insinuado. Muito valorosa também e não deve ser ignorada, de forma alguma.


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Ouça:
Bolero - Maurice Ravel (Orquestra Sinfônica de Londres - regência Valerie Gergiev)
La Valse - Maurice Ravel (Orquestra Filarmônica Radio France - regência de Myung-Whun Chung)

Cly Reis

domingo, 21 de agosto de 2011

Stravinsky/Debussy/Ravel/Toyama– Concertos OSPA – Teatro Dante Barone – Porto Alegre/RS (16/08/2011)




Nunca tinha visto uma orquestra fazer bis. Pois na noite de 16 de agosto, no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa do RS, presenciei isso. Foi no 15° Concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) – Temporada 2011, desta vez sob a ótima regência do maestro japonês Kiyotaka Teraoka, oficial da Orquestra Sinfônica de Osaka.
Em junho, já tinha assistido a outro concerto da Ospa, em homenagem Sergei Rachmaninoff. Muito bom. Mas este foi magnífico. A começar pela primeira peça: o balé “Petrouchka”, do genial maestro e compositor russo naturalizado francês Igor Stravinsky (1882-1971), que eu já adorava e tinha a maior vontade de ouvir ao vivo pela primeira vez. E as minhas expectativas foram totalmente atendidas. “Petrouchka” conta a história de um fantoche tradicional russo feito da palha e um saco de serragem como corpo que acaba por tomar vida e ter a capacidade amar. Como a outra grande obra de Stravinsky, o marco “A Sagração da Primavera” (1913), “Petrouchka”, feita entre 1910 e 1911, é absolutamente revolucionária, sendo uma das maiores responsáveis por mudar a cara da música universal no último século.


 A peça de Stravinsky inova em estrutura rítmica, orquestração, timbrística, forma, harmonia, uso de dissonâncias. Uma obra complexa e moderníssima que valoriza, particularmente, a percussão acima da harmonia e da melodia, algo nunca visto antes na música erudita. Influenciou largamente trilhas para cinema, a se perceber, por exemplo, uma clara referência em dois históricos temas: a do hitchcockiano “Psicose”, “hino” do suspense composto por Bernard Herrmann, com seus gritos agudos de violino, e a de “Tubarão”, de John Williams para o thriller de Spielberg, com aquela inesquecível levada minimalista de cellos em duas notas, repetem trechos de “Petrouchka” de forma quase idêntica.

Kiyotaka Teraoka regeu com brilhantismo
as peças de Stravisky, Ravel e Debussy
e ainda proporcionou um
emocionante e surpreendente bis.
O balé também tem várias parecenças com a música pop. As quatro partes que compõem a obra são coladas umas às outras, imprimindo uma unidade incrível à música como um todo, mesmo com tantas variações. Esse expediente foi utilizado com inteligência, por exemplo, pelos Beatles no clássico e influente disco "Sgt. Peppers". Outro detalhe muito similar à música pop é a forma como essas partes se interligam: uma sequência de bombo, forte e contínua, igual aos rolos de bateria que o rock instituiu.
Na segunda parte do concerto, seguiram a bela “Petite Suite”, do impressionista Claude Debussy (1862-1918), e “Pavanne pour un Enfante Défunte”, de Maurice Ravel (1875-1937), que, mais do que a de Debussy para com sua grande obra (“Prélude à L’Apres-Mid d’un Faune”), nem chega perto da genialidade de seu “Bolero”, esta, sim, um verdadeiro patrimônio da humanidade.

Maestro Yuzo Toyama:
lenda viva em seu país.
Mas a surpresa guardava-se para o final. Lembram-se que havia mencionado que nunca tinha visto uma orquestra tocar um bis? Pois a incrível “Rhapsody for Orchestra”, do maestro e compositor japonês Yuzo Toyama (ao qual eu dei graças a Deus por passar a conhecer) foi o que motivou. Nascido em 1931, Toyama é vivo, idolatrado em seu país e, mesmo a idade avançada, ainda se apresenta regendo por aí. “Rhapsody...”, sua obra mais celebrada, de 1960, me transportou para dentro dos filmes clássicos de Korosawa como “Os 7 Samurais” e “Yojimbo”. A abertura, só com percussão, adaptando a musicalidade típica do Japão feudal, é um desbunde. Rico em harmonia e construção melódica, o intenso e curto número de Toyama (pouco mais de 7 minutos) ainda desfecha incrivelmente. Depois de um breve silêncio (um “Ma”, na terminologia da música tradicional japonesa), um dos percussionistas retoma-a maravilhosamente percutindo duas bachi, pás de madeira adornadas que produzem um som fino e estridente. Dali para um final triunfante, aplaudido de pé por uns bons cinco minutos pelo bom público presente. E o bis veio exatamente a partir da repetição deste último trecho, para entusiasmo geral.
O maestro Teraoka, claramente afeito à obra do conterrâneo, colocou o coração na batuta e regeu com emoção extra, o que contagiou orquestra e plateia. Satisfeito, voltei louco para rever um bom Kurosawa e conhecer mais a obra do agora admirado Toyama.
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Rhapsody for Orchestra