quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Copa do Mundo Gilberto Gil - Oitavas-de-Final
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
Música da Cabeça - Programa #288
Dizem que a música é das melhores formas de manter a criança que tem dentro da gente. E quanta criança tem esses nossos participantes do MDC de hoje! V.S.O.P., David Bowie, Camisa de Vênus, Tom Zé, Big Star e mais. Tem ainda Cabeça dos Outros com o jazz bop de Donald Byrd. Neste programa de Dia das Crianças, muitos presentes para aquelas de todas as idades às 21h, na brincalhona Rádio Elétrica. Produção, apresentação e infância intacta: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
"Os Inocentes", de Eskil Vogt (2021)
Eskil Vogt, diretor
"Os Inocentes", filme norueguês, de 2021, do diretor Eskil Vogt, é uma espécie de "Scanners - Sua Mente Pode Destruir" (1980), só que com pirralhos. Uma garotinha, Ida, de 7 anos, tem que cuidar, de vez em quando, de sua irmã mais velha, Anna, de 12, autista, com dificuldades motoras e de fala, e, quando a mãe está ausente ou atarefada, descer com ela no playground do condomínio para onde recentemente mudaram. Ida detesta a tarefa e se envergonha de aparecer em público com a irmã tão limitada. Isso, até o dia em que conhece uma "galerinha" interessante no play: um garoto, Ben, que descobre em si algumas propriedades telecinéticas e Aisha, uma outra menina que serve como uma espécie de catalisador, de meio para que a irmã de Ida consiga falar através dela. Ida passa então a querer descer sempre com a irmã, deixando-a, no entanto, mais com Aisha que é cuidadosa e atenciosa com Anna. Ida, num primeiro momento, simpatiza mais com Ben que, dono de uma natureza mais impura e maldosa, descobrindo a verdadeira amplitude de seus poderes mentais, começa a cometer atos bastante condenáveis e tornar-se perigoso e ameaçador.
Ben passa a se achar o "dono do campinho" e até mesmo Ida, que gostava de sua companhia e brincadeiras, começa a ter medo do menino. O que ele não contava, e muito menos Ida, é que a irmã, Anna, deficiente, muda, disforme, fosse tão poderosa quanto o amiguinho e começasse a tentar colocar ordem na brincadeira. O problema é que, Anna precisa de um médium, um intermediário para pôr em prática suas faculdades e Ben, percebendo isso, fica determinado a eliminar Aisha, a melhor 'ponte' da rival de modo a se estabelecer definitivamente como o dono do pedaço.
Batalha mental: Ben e Anna, frente a frente, Aisha, seu canal à direita, e Ida, a irmã, afastada (à esquerda), só observando. |
terça-feira, 11 de outubro de 2022
cotidianas #773 - Pílula Surrealista #51
Ele chegou cansado do trabalho. Desgastado para usar o termo correto. Entrou pela porta e viu a esposa sentada na sala assistindo tevê. Tentou puxar uma conversa amistosa:
- Oi, amor, tudo bem? O dia foi puxado hoje na firma, sabe? Chefe cobrando resultado, cliente reclamando, colega puxando o tapete... até uma multa levei do guarda de volta pra casa.
- Arrã... - consentia ela, vidrada na tela, sem dizer mais nada além desta preguiçoso interjeição.- Então... vou tomar um banho, sabe? Preciso. Estou exausto, acabado. Mas o banho vai me dar uma nova vida, você vai ver. - disse a ela, como se a esposa, absorvida em seu próprio mundo, tivesse algum interesse. - Vou sair um homem novo do banheiro.
A promessa foi cumprida:
- Tcharaaaaaammm! Viu só, eu não disse que sairia outro?
Ela tirou o olhar da tevê por um instante - mas somente o olhar, sem levar a cabeça junto, apenas conferindo - e constatou que, realmente, o marido mudara. Era outro homem.
Homem, não: primata. Um mamífero antropoide de hábitos diurnos, vegetariano, muito corpulento, com ombros largos, braços compridos, dentes caninos salientes, focinho curto e orelhas pequenas. Um gorila.
Desconfiada, mas nada surpresa, a esposa moveu pela primeira vez a cabeça da direção da tela e voltou-a para o marido repaginado. Franziu a testa pensando em algo que somente a mente de mulher pensaria, e terminou formando um sorriso discreto mas genuíno no rosto. Voltou a assistir a tevê, mas agora nada entediada e não mais desfez o auspicioso sorriso.
Daniel Rodrigues