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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Exposição “Diálogos no Tempo”, de Iberê Camargo - Fundação Iberê Camargo – Porto Alegre/RS









Autorretrato dos anos 40
em ponta-seca
Mais de uma vez estive na Fundação Iberê Camargo e nunca escrevi de fato sobre o artista que lhe dá nome. Isso se torna mais alarmante considerando que, mesmo com exposições visitantes, as quais geralmente me moveram a ir a este centro cultural, há sempre uma de Iberê. Variável, mas sempre uma dele. E não apenas lá: antes do belo prédio da Fundação ser erguido, em 2008, naquele artístico desenho do arquiteto português Álvaro Siza, vi uma ótima exposição individual de Iberê Camargo no Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), nos idos de 1999, bem como presenciei obras dele em outras coletivas em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Referência da arte moderna no Brasil no século XX, talvez justamente pela complexidade de sua extensa obra – a qual percorre 50 anos de produção ininterrupta, seja pela via do figurativo ou abstratismo, pela forma definida ou o mais truculento borrão – tenha inconscientemente relutado até então de fazê-lo.

Pois, depois de tanta postergação, nada mais apropriado agora, eu, que admiro Iberê Camargo em todas as suas fases, falar justo de uma exposição que percorre vários dos momentos da trajetória do artista. “Diálogos no Tempo”, com curadoria de Angélica de Moraes, é uma investigação sobre o DNA do trabalho deste gaúcho de Restinga Seca. Foram colocados lado a lado trabalhos que estabelecem segmentos de variados períodos de sua produção, que se desdobraram em infinitas combinações de modo a evidenciarem as características da contribuição estética deste autor. São vistos, desde os óleos naturalistas dos anos 40, que muito lembram Van Gogh na coloração vibrante e na pincelada espaçada, até o fantasmagórico lamaçal de tintas do figurativismo dos anos 80, época de ápice criativo mas também de rendição ao negror psicológico e espiritual após a vivência de uma tragédia na vida pessoal.

Não à toa, de fato, os anos 80 são o vértice da seleção curatorial, uma vez que trazem, entre as 116 obras expostas – que assombrosamente passam pelas mais diferentes técnicas, da pintura a gravura em metal, da serigrafia à litografia, do desenho a charges e estudos –, uma visão bastante próxima do que realmente Iberê era (ou se tornou). O retorno à figura humana dessa época, após anos de não-figurativismo iniciados nos anos 50 com os marcantes e simbólicos carretéis, resumem o aspecto fundamental de toda sua obra: a concisão do traço. Seja na opulenta textura das camadas de tinta, na obsessiva busca pela reminiscência da cor sobre o fundo escuro ou na disformia arranjada em meio ao material pastoso, está lá o traço, o desenho como base.

Isso está presente desde a entrada da mostra nos autorretratos de períodos e técnicas diferentes: da ponta-seca ou nanquim (ambas de 1943), passando pelo óleo sobre tela (1942 e 1987) ou pastel oleoso sobre lixa (1985), há o cuidado com a representação da expressão através da ideia que se forma. Cada quadro transmite cargas de emoção. Os diversos estudos a grafite, seja treinando a elaboração das formas de manequins, objetos ou paisagens, ganham uma dimensão especial nesta mostra uma vez que suas existências enquanto processo são inseridas dentro de um contexto de “work in progress”, equiparando-os às telas “finalizadas” em que, invariavelmente, viriam a ajudar a formar.

A importância dada ao estudo é ainda mais sentida nos que levam à formação de séries como a “Desastre”, também dos anos 80, em que o artista gaúcho primeiro experimenta, seja a grafite, lápis ou mesmo esferográfica, para, aí sim, compor a pastel. Até mesmo na excelente série de serigrafias, onde se desfaz da densidade da camada de tinta, a prevalência do traço está ali.

A inquietude permanente de Iberê o estimulava a, como todo artista de verdade, caminhar na direção da superação de si mesmo. Aquilo que biograficamente se observa a título de avanço técnico, em grandes artistas como ele passa a representar, muitas vezes, a própria subversão de linguagem. O respeito ao traço, assim, por ora vai sendo desafiado por Iberê, numa maneira também de descolar-se de seu próprio tempo. Presente, mas cada vez mais metafórico e pessoal. As telas “Composição” (1980 e 1983), bem como os sem título feitos a giz de cera (1980 e 1982), trazem os mesmos carretéis perscrutados por cerca de 30 anos quase ausentes em formato, já absorvidos pelo filtro do artista maduro. Por vezes, lembram um corpo humano; noutros, o cálice bento católico ou o pecaminoso da luxúria. “Carretéis com figura” (1984) sintetiza essa ideia de profusão entre imaginário e concretude, entre o anacrônico e a memória.

Tempo e forma de fato confundem-se em Iberê, inclusive nas alusões. Guignard, com quem estudou nos anos 40, Picasso, pelo amplo paradigma oferecido que vai do cubismo à abstração, e Bacon, a quem a comparação é inevitável, são três referências de épocas distintas que passam por seu aprendizado. O pintor inglês, por exemplo, faz-se conceitualmente presente no ótimo duo “Manequim” (óleo sobre madeira, 1983), haja vista a semelhança da deformação humana como embaraço, como crítica da existência. Guignard, no apreço pelo detalhismo das primeiras paisagens, como o do belo óleo de 1944.

É possível sentir em telas como “Diálogo”, “Fantasmagoria” e “Ciclistas”, três de suas obras-primas (todas de 1987), o ordenando do caos pictórico forjado e perscrutado pelo artista, que cria e resolve e volta a desmanchar e criar novamente. Incessantemente, como que querendo desfazer o tempo para, em seguida, vencido, construí-lo novamente. A sensação que fica é a de que, mesmo “concluída”, nenhuma tela é, de fato, redentora, cabível, suficiente. E que jamais, dada a lúcida compulsão que o levava a tentar capturar o tempo de maneira tão pungente, uma obra restaria acabada. Assim, a ligação entre uma obra e outra é intrínseca, como se mais do que continuações de um mesmo trabalho (o que o é até em termos biográficos) representam pedaços do artista despejados como um lodo emocional que se desgruda do corpo para se transformar em arte.

Pelo pouco que aqui comento, é possível captar o porquê de minha inconsciente resistência em falar em Iberê Camargo e sua obra, ora tão lírica, ora tão perturbadora. Percorrer qualquer galeria com suas telas e desenhos é dar um passo para dentro de um mundo vívido, mas obscuro e pessimista por vezes, onde não raro os fantasmas de artista e de quem observa se conversam. Pois, de minha parte, admiração não falta a ele, que é certamente um dos maiores nomes das artes plásticas brasileiras, por mais desafiador e autorreconhecível que isso represente.

............................

exposição Diálogos no Tempo”de Iberê Camargo
local: Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000 - Cristal - Porto Alegre)
período: até 26 de março de 2017
de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h

entrada gratuita


Autorretrato dos anos 80,
apuro na própria estética

Bela paisagem com influência de Guignard

Uma das paisagens a óleo dos anos 40.
Vê-se o traço espaçado de Van Gogh

Um dos estudos de movimento do corpo
Outro estudo, este de vexados manequins

Serigrafia interessantíssima de Iberê

Carretéis feitos em giz de cera

Carretéis com figura,
uma síntese de períodos do artista

O duo "Manequins".
Ares de Bacon

"Desastre" o acidente de carro vai do estudo
para a tela final


"Fantasmagoria", uma das obras-primas

Os obsessivos carretéis tomando formas além do objeto





quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Oscar 2018 - Os Indicados



Guillermo del Toro, sempre impressionante visualmente,
tem seu filme como um dos favoritos ao Oscar.
E saiu a lista dos filmes indicados para o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o famoso Oscar. "A Forma da Água" do mexicano Guillermo Del Toro lidera em indicações com treze, mas "The Post", de Steven Spielberg com elenco estrelar, "Me Chame Pelo Seu Nome",  "Três Anúncios Para Um Crime"e "Lady Bird", também prometem disputarem as atenções. Destaque também para a indicação de "Logan", o primeiro filme de heróis nomeado para roteiro original, para a grande surpresa do ano, o bom "Corra!", na categoria principal, para o brasileiro Carlos Saldanha, diretor da animação "O Touro Ferdinando", indicado em sua categoria, e para a indicação de uma mulher para melhor direção, Greta Gerwig, depois de todas as manifestações de atrizes na premiação do Globo de Ouro. Embora a indicação de Greta responda à contestação de Natalie Portman quando da entrega do prêmio de diretor naquela cerimônia, ela passa longe de resolver todas as questões que envolvem a figura da mulher em Hollywood, assim, independente deste "agrado" da Academia, deveremos ver novas manifestações acerca da condição da mulher não somente dentro da indústria cinematográfica norte-americana como na sociedade como um todo. E aí? Teremos gafes como aquela do anúncio do vencedor do ano passado? Termos protestos feministas? Meryl Streep leva outra estatueta para casa? Guillermo del Toro manterá a tradição mexicana de levar o prêmio de direção, já que são três prêmios nos últimos quatro anos? Muitas perguntas aguardam resposta mas elas só serão respondidas no dia 4 de março, em Los Angeles. Até lá, o negócio é ir dando uma conferida nos títulos que já estão em cartaz e nos que estrearão até lá nos cinemas,e claro ir conferindo aqui no ClyBlog as nossas impressões sobre os filmes aqui no Claquete.
Confira abaixo as listas com todos os indicados:



  • Melhor Filme

Me Chame Pelo Seu Nome
O Destino de Uma Nação
Dunkirk
Corra!
Lady Bird - É Hora de Voar
Trama Fantasma
The Post - A Guerra Secreta
A Forma da Água
Três Anúncios Para um Crime


  • Melhor Direção

Dunkirk - Christopher Nolan
Corra! - Jordan Peele
Lady Bird - É Hora de Voar - Greta Gerwig
Trama Fantasma - Paul Thomas Anderson
A Forma da Água - Guillermo del Toro


  • Melhor Atriz

Sally Hawkins - A Forma da Água
Frances McDormand - Três Anúncios Para um Crime
Margot Robbie - I, Tonya
Saoirse Ronan - Lady Bird - É Hora de Voar
Meryl Streep - The Post - A Guerra Secreta


  • Melhor Ator

Timotheé Chalamet - Me Chame Pelo Seu Nome
Daniel Day Lewis - Trama Fantasma
Daniel Kaluuya - Corra!
Gary Oldman - O Destino de Uma Nação
Denzel Washington - Roman J. Israel, Esq.


  • Melhor Ator Coadjuvante

Willem Dafoe - Projeto Flórida
Woody Harrelson - Três Anúncios Para um Crime
Richard Jenkins - A Forma da Água
Christopher Plummer - Todo o Dinheiro do Mundo
Sam Rockwell - Três Anúncios Para um Crime


  • Melhor Atriz Coadjuvante

Mary J. Blige - Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi
Allison Janney - I, Tonya
Laurie Metcalf - Lady Bird - É Hora de Voar
Octavia Spencer - A Forma da Água
Lesley Manville - Trama Fantasma


  • Melhor Roteiro Adaptado

Artista do Desastre
Me Chame Pelo Seu Nome
Logan
A Grande Jogada
Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi


  • Melhor Roteiro Original

Doentes de Amor
Corra!
Lady Bird - É Hora de Voar
A Forma da Água
Três Anúncios Para um Crime


  • Melhor Animação

O Poderoso Chefinho
Viva - A Vida é uma Festa
O Touro Ferdinando
Com Amor, Van Gogh
The Breadwinner


  • Melhor Filme Estrangeiro

Uma Mulher Fantástica (Chile)
The Insult (Líbano)
Loveless (Rússia)
The Square - A Arte da Discórdia (Suécia)
On Body and Soul (Hungria)


  • Melhor Fotografia

Blade Runner 2049 - Roger Deakins
O Destino de Uma Nação - Bruno Delbonnel
Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi - Rachel Morrison
Dunkirk - Hoyte van Hoytema
A Forma da Água - Dan Laustsen


  • Melhor Documentário em Longa-Metragem

Abacus: Small Enough to Jail
Faces Places
Icarus
Last Men in Aleppo
Strong Island


  • Melhor Documentário em Curta-Metragem

Edith+Eddie
Heaven is a Traffic Jam on the 405
Heroin(e)
Kayayo: The Living Shopping Baskets
Knife Skills
Traffic Stop


  • Melhor Curta-Metragem

DeKalb Elementary
The Eleven O’Clock
My Nephew Emmett
The Silent Child
Watu Wote/All of Us


  • Melhor Curta em Animação

Dear Basketball - Glen Keane e Kobe Bryant
Garden Party - Victor Caire e Gabriel Grapperon
Lou - Dave Mullins e Dana Murray
Negative Space - Max Porter e Ru Kuwahata
Revolting Rhymes - Jakob Schuh e Jan Lachauer


  • Melhor Figurino

A Bela e a Fera
O Destino de Uma Nação
Trama Fantasma
A Forma da Água
Victoria e Abdul - o Confidente da Rainha


  • Melhor Maquiagem e Cabelo

O Destino de Uma Nação
Extraordinário
Victoria e Abdul - o Confidente da Rainha


  • Melhor Montagem

Em Ritmo de Fuga
Dunkirk
I, Tonya
A Forma da Água
Três Anúncios Para um Crime


  • Melhor Mixagem de Som

Em Ritmo de Fuga
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars - Os Últimos Jedi


  • Melhor Edição de Som

Em Ritmo de Fuga
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars - Os Últimos Jedi


  • Melhores Efeitos Visuais

Blade Runner 2049
Guardiões da Galáxia Vol.2
Kong - A Ilha da Caveira
Star Wars - Os Últimos Jedi
Planeta dos Macacos - A Guerra


  • Melhor Design de Produção

A Bela e a Fera
Blade Runner 2049
O Destino de Uma Nação
Dunkirk
A Forma da Água


  • Melhor Canção Original

"Remember Me" - Viva - A Vida é uma Festa - Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez
"This is Me" - O Rei do Show - Benj Pasek e Justin Paul
"Mighty River" - Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi - Mary J. Blige, Raphael Saadiq e Taura Stinson
"Mystery of Love" - Me Chame Pelo Seu Nome - Sufjan Stevens
"Stand Up for Something" - Marshall - Diane Warren e Lonnie R. Lynn


  • Melhor Trilha Sonora Original

Dunkirk - Hans Zimmer
Trama Fantasma - Jonny Greenwood
A Forma da Água - Alexandre Desplat
Star Wars - Os Últimos Jedi - John Williams
Três Anúncios Para um Crime - Carter Burwell





C.R.


segunda-feira, 5 de março de 2018

Oscar 2018 - Os Vencedores



Frances McDormand, uma das atrações da noite,
conclamou suas colegas a erguerem-se
em nome da igualdade de oportunidades.
E viva México! Parece que nos últimos tempos a festa do Oscar passou a ser uma grande celebração mexicana. Nos últimos cinco anos, nada mais nada menos do que em quatro oportunidades diretores daquele país receberam prêmio de melhor direção, sendo que em duas delas fizeram dobradinha filme/diretor. Não é pouca coisa! Desta vez foi a poesia visual fantástica de Guillermo del Toro, "a Forma da Água" quem conquistou a academia e levou os principais prêmios da noite para casa. Para completar a festa mexicana, "Viva - A vida é uma festa" bateu o favorito "Com amor, Van Gogh" e faturou o prêmio de animação e levou de quebra ainda o de melhor canção original.
De um modo geral não houve grandes surpresas e os prêmios ficaram bem distribuídos. "Dunkirk", de Christopher Nolan, dominou nos prêmios técnicos levando em três categorias, "Três Anúncios para um Crime" teve premiadas suas atuações individuais com prêmios de ator coadjuvante e atriz principal e "O Destino de Uma Nação", além do Oscar de maquiagem garantiu o primeiro e merecidíssimo troféu para Gary Oldman. "Blade Runner 2049 também ficou com dois, o de efeitos especiais e fotografia e nas categorias de roteiro, o elogiadíssimo "Me chame pelo seu nome" ficou com o de adaptado e o inusitado "Corra!" o de roteiro original, premiando o primeiro roteirista negro no Oscar. Destaque também para a categoria de filme estrangeiro, vencida pela produção chilena "Uma mulher fantástica", que trouxe a primeira protagonista transexual da história no Oscar.
Ao contrário do que eu imaginava, considerando a cerimônia do Globo de Ouro, as manifestações feministas e as questões de assédio não roubaram a cena. Frances McDormand, no entanto, vencedora do prêmio de melhor atriz, não deixou passar a oportunidade e o assunto, e numa manifestação oportuna e na medida certa, lembrou a desigualdade de oportunidades nos estúdios e pediu o apoio de todas as mulheres presentes, ao que foi atendida prontamente com uma salva de palmas em pé.
Numa cerimônia sem percalços ou imprevistos conduzida de maneira bastante competente por Jimmy Kimmel, os mesmos protagonistas do episódio da troca de envelopes do ano passado, Warren Beatty e Faye Dananway, foram chamados novamente, para desta vez anunciarem, sem susto, "A Forma da Água" como grande vencedor de 2018.
Olha, tô achando que a Academia tenha que começar a tomar medidas tipo as do Trump pra barrar esses chicanos porque eles não sabem brincar: se deixar participar, os caras levam.

Confiram abaixo todos os premiados da noite.


Guillermo del Toro o grande vencedor por seu
"A Forma da Água"
MELHOR FILME
A Forma da Água

MELHOR DIREÇÃO
Guillermo del Toro (A Forma da Água)


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A Forma da Água



MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água

MELHOR ATOR
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

MELHOR ATRIZ
Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Alison Janney (Eu, Tonya)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Corra!

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Me Chame pelo Seu Nome

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Viva - A Vida é uma Festa

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Uma Mulher Fantástica (Chile)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Ìcaro

MELHOR FOTOGRAFIA
Blade Runner 2049

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Remember Me" (Viva - A Vida é uma Festa)

MELHOR FIGURINO
Trama Fantasma

MELHOR MAQUIAGEM
O Destino de uma Nação

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
Blade Runner 2049

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Dunkirk

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Dunkirk

MELHOR EDIÇÃO
Dunkirk

MELHOR CURTA-METRAGEM
The Silent Child

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Dear Basketball

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Heaven is a Traffic Jam on the 405




C.R.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

cotidianas #595 - Olhe as Estrelas



"A Noite Estrelada", Van Gogh, Vincent
- Olhe as estrelas. Sabe uma coisa que eu adoro pensar sobre elas? Que elas já estão mortas. Digo… - Não. Não é assim que eu quero falar. Não é desse jeito. Deixa-me recomeçar. Não é que eu ache bonito o fato delas provavelmente já terem explodido em bolas de luz frias e sem vida. É só que, pela distância, muitas delas provavelmente já morreram. Mas o que elas deixaram para trás ainda continua lindo e belo e ainda brilha. Espera. Preciso analisar a situação. Preciso ter certeza se de algum jeito misterioso ele está entendendo o que eu estou falando. Mesmo que talvez ele não esteja escutando.
- Se lembra de quando nos conhecemos? Era um dia sem estrelas, é verdade. Não vou fantasiar aqui e dizer que era o céu mais estrelado e bonito do mundo. Não era. Era um céu preto pálido e feio. Daqueles dias pálidos e feios que ficam entre as fotografias. Que ficam entre as datas especiais. Aqueles dias de cumprir tabela. Daqueles em que eu chegava em casa cansado e você já estava dormindo e, a não ser pelo calor do seu abraço ao deitar na cama, teria sido um dia sem significado. Era um desses dias para mim quando nos conhecemos. Um dia qualquer da minha vida. E confesso que não achei que fosse você ser o amor da minha existência quando te vi, tomando café sozinho.
Será que estou sendo confuso? Penso no que você diria se você de fato pudesse ouvir tudo o que eu estou falando. Talvez mandasse parar de breguice, me mandasse lavar a louça ou dissesse com aquele tom manhoso “vem me dar um cheiro que eu estou com saudades”. Você sempre foi assim, prático e carinhoso, um beijo e um tapa, fogo e água, calor e frio contrastando e me levando para maior aventura que eu senti: ser teu namorado. Tá certo. Vou recomeçar de maneira mais racional, para você entender bem.
- Estamos com saudades um do outro, agora. Não podemos ouvir o tom de voz, sentir calor da pele, a respiração no cangote, o olho no olho, o sexo gostoso e repentino, o beijo cheio de amor, de saliva, de mordida, de língua, de pegada, de você em mim e de mim em você. Isso tudo é um fato, meu amor. Nunca mais sentiremos isso. Mas tem a saudade e é dela que eu quero falar.  Porque é ela, mesmo depois dessa morte estúpida, que vai nos manter unidos. Porque é através da saudade que vamos reviver nossos melhores momentos. Se conseguirmos ainda sentir alguma coisa, vai ser através dela. Raiva pela falta. Amor pelos bons momentos. Raiva pela morte que nos atravessou feito lâmina enferrujada. Amor pelo o que construímos um no outro, coisas que vão ficar para sempre. Porque comecei a falar de saudades para ele? Eu disse que ia ser racional e fiquei me perdendo em devaneios bobos e românticos, como sempre. Ah, lembrei o porquê.
- Falei da saudade porque saudade é mais ou menos como o espaço sideral, como as estrelas que já morreram, como a luz que ainda recebemos sem saber direito de onde vem. Você não sabe o que vai acontecer comigo. Eu não sei para onde você vai. Só sei que independente de onde você vá, quero que atinja sua missão. Não pense que o que vivemos foi em vão. Porque eu modifiquei você e você me modificou. Porque o que você me modificou, modificou você também e isso é um fluxo que não tem fim. Estamos eternamente ligados, apesar daquele acidente estúpido. Será que devo, nessa despedida, falar do acidente? Não foi culpa de ninguém. Pelo menos não foi culpa de nenhum de nós dois. O motorista bêbado não sabia que terminaria com nossa história. Não. Não. Não. Não vou falar do acidente com você. Vou falar de outras coisas nesta despedida.
- A morte não apagou nossos cafés da manhã, quando você acordava mais cedo só para preparar a mesa para mim. Uma mesa toda organizada, com uma faca para cada bolo, o açúcar destampado, a xícara soltando fumaça quente do melhor café do mundo, que era o seu. A cadela brincando nas nossas pernas, querendo atenção, tentando subir na mesa, enquanto ríamos e falávamos que ela precisava de autoridade e que você não tinha nenhuma. E você, com aqueles olhos pidões, que abraçam o mundo e me esquentavam, concordava que aplicar autoridade seria comigo... A morte não vai apagar os passeios de mãos dadas sob o sol, o calor da sua mão pegando na minha, os olhares que enfrentávamos por sermos duas pessoas do mesmo sexo andando pela rua de mãos juntas. A morte não apaga as caminhadas em que, num momento em específico, você roçava o seu pescoço no meu, e me dava um beijo estalado que me arrepiada todo. A morte não vai apagar os banhos juntos, a pele na pele, a boca no corpo, o corpo no corpo, o quente da água escorrendo junto ao quente dos nossos corpos, eu te empurrando contra a parede fria, querendo entrar em você, na sua boca, na sua alma, querendo me fundir.
Você está triste? Eu sei que você está, mas será que devo parar de falar essas coisas que você não está ouvindo? Ou talvez esteja, sei lá. Mas é que tristeza faz parte do próximo passo. Aceitá-la vai nos ajudar a seguir em frente. - Tava pensando aqui... Eu não quero que essa nossa despedida seja triste. Ao mesmo tempo em que reconheço que a tristeza faz parte da felicidade, né? Triste é sentir falta e só sentimos falta daquilo que nos faz feliz. Não quero vir aqui e dizer que tudo que passamos foi perfeito. Não foi. Seus choros e gritos vão ecoar para sempre na minha mente. Nossas brigas, nossos ataques deixaram marcas no que nós fomos. Porque quem ama sabe exatamente onde machucar. Quando amamos somos um amontoado de cicatrizes sob cicatrizes cobertas de beijinhos e cuidados. Quando eu descobri que você me traiu, aquela mensagem no celular quebrou meu espírito. Te imaginar com outro cara, tocando seu corpo, te dando carinho, te oferecendo abrigo num peitoral que você não deveria conhecer. O que me incomodou na traição não foi a traição. Agora que nada mais disso importa, posso falar. O que me incomodou foi o pacto quebrado. Não foi a falta de amor, porque eu sei que amor sempre existiu. Foi a falta de algo mais que até agora não sei o que é. E, não é daqui desse cemitério, que terei minha resposta.
Droga. Preciso me despedir. Preciso ir embora. Preciso deixar você virar lembrança, saudade, virar passado. Preciso e não quero. Vou falar. Só quero dizer uma última coisa antes de partir. Você me trouxe sentimentos em vida que continuarão ecoando como a luz das estrelas que já morreram. Do mesmo modo espero que minha lembrança se torne para ti algo possível de ser vivenciada, sem dor, sem machucados. Mesmo estando aqui, neste cemitério, enterrado e morto, pronto para partir, quero que você lembre como meu amor vai brilhar mesmo depois dessa minha morte. Te amo. Tenha uma vida linda e encontre a felicidade que você uma vez encontrou comigo.



Luan Nscimento

terça-feira, 9 de junho de 2015

“Carlos Bracher - Pintura e Permanência” - CCBB - Rio de Janeiro












Autorretrato

"Sou esse cara caótico.
Minha pintura não tem retoque,
ela é até um pouco desagradável.
Gosto desse sentido da imperfeição,
o fazer é que me enleva."
Carlos Bracher




Estive no CCBB aqui do Rio, há poucos dias, visitando a exposição do artista plástico mineiro Carlos Bracher. Conhecia a obra muito superficialmente e foi uma grata surpresa ver de perto sua reinterpretação de expressionismo com inspiração cubista, suas formas deformadas, a pincelada livre e seu excesso de tinta. Belíssimo trabalho e muito bacana a exposição. O evento já saiu de cartaz aqui no Rio mas deixo aqui algumas imagens da exposição para quem perdeu a oportunidade, ou para os que como eu, viram e gostaram. 

O cavalete do artista

Igrajas mineiras, tema recorrente
na obra de Bracher

O excesso de tinta

A "ausência" de formas e contornos

Natureza morta

Homenagem a Van Gogh numa recriação d"O Quarto"

Instalação no átrio do CCBB com a recriação de um dos estúdios de Bracher

Este blogueiro no cenário do ateliê de Bracher com um
dos autorretratos dele ao fundo

Cly Reis