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segunda-feira, 13 de março de 2023

Oscar 2023 - Os Vencedores




Michelle Yeoh, vencedora como Melhor atriz no Oscar 2023
Michelle Yeoh, a primeira asiática
a ganhar o Oscar de melhor atriz.
Você pode até não ter gostado de "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", pode ter achado tudo aquilo uma loucurada sem fundamento, mas não tem como negar que poucas vezes se viu algo parecido. Drama, comédia, aventura, uma montagem alucinante, uma história dentro da outra, várias histórias dentro de uma, universo, multiverso, personagens que não são aquilo que parecem, outros que são vários ao mesmo tempo... Até por tudo isso, pelo ineditismo, pela originalidade, pela ousadia, acho que a Academia não tinha como ignorar o fenômeno que estamos presenciando. O filme dos "Daniels", Kwan e Scheinert, levou 7 das onze estatuetas que disputou na noite de ontem, na cerimônia do Oscar, em Los Angeles e entrou para a galeria dos grandes vencedores, daqueles que além de fazer quantidade, levam os prêmios mais significativos, aqueles que atestam a majestade da obra, melhor filme e diretor.
A produção alemã "Nada de novo no front" foi outro destaque da noite, levando 4 prêmios, incluindo filme internacional. "A Baleia" ficou com dois, um deles para a excepcional atuação de Brendan Fraser, batendo o também impressionante Elvis de Austin Butler. De resto, os prêmios ficaram bem distribuídos. O ótimo "Pinóquio", de Guillermo Del Toro, com muita justiça, levou o prêmio de melhor animação; os badalados "Avatar" e "Top Gun: Maverick", ganharam um prêmio técnico, cada um e o novo "Pantera Negra" levou o de melhor figurino.
"Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", dominou também os prêmios de atuação, o que não chega a ser uma surpresa para mim, embora minhas preferências, nos três casos, melhor ator e atriz coadjuvantes e atriz, fosse diferente das escolhidas, especialmente no último caso, na qual considerava a atuação de Cate Blanchett, por "Tár" absolutamente incrível e superior, embora não veja nenhum absurdo no reconhecimento da  Academia pela ótima e versátil performance de Michelle Yeoh.
No mais, emocionantes discursos da própria Yeaoh, valorizando a mulher e desfazendo tabus  e mitos sobre a idade; de seu parceiro de filme Ke Huy Quan, vencedor como coadjuvante; da figurinista de "Pantera Negra", Ruth E. Carter, enfatizando o valor da mulher negra; do emocionado Brendan Fraser, cuja carreira parecia ter ido pelo ralo até, de repente, ressurgir com um papel dessa magnitude; e ainda da esposa do ativista russo Alexei Navalny, que encontra-se preso por sua luta contra o regime de Vladimir Putin, retratado no documentário "Navalny", vencedor em sua categoria.
Quer conhecer também todos os outros vencedores? Dá uma olhada, então, aí.

Segue abaixo a lista com todos os ganhadores do Oscar 2023:



- Melhor Animação:
Pinóquio

- Melhor Ator Coadjuvante:
Ke Huy Quan - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Atriz Coadjuvante:
Jamie Lee Curtis - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Documentário:
Navalny

- Melhor Curta-metragem:
The Irish Goodbye

- Melhor Fotografia:
Nada de novo no front

- Melhor Cabelo e Maquiagem:
A Baleia

- Melhor Figurino:
Pantera Negra: Wakanda Forever

- Melhor Filme Internacional:
Nada de novo no front

- Melhor Documentário em Curta-metragem:
Como cuidar de um bebê elefante

- Melhor Curta-metragem de Animação:
O menino, a toupeira, a raposa e o cavalo

- Melhor Direção de Arte:

Nada de novo no front

- Melhor Trilha Sonora Original:

Nada de novo no front

- Melhores Efeitos Visuais:
Avatar, O Caminho da Água

- Melhor Roteiro Original:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Roteiro Adaptado:
Entre Mulheres

- Melhor Canção Original:

Naatu Naatu - RRR

- Melhor Som:
Top Gun: Maverick

- Melhor Montagem:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Direção:

Daniel Kwan e Daniel Scheinert - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Ator:
Brendan Fraser - A Baleia

- Melhor Atriz:
Michelle Yeoh - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Filme:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo



C.R.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Oscar 2023 - Os Indicados


O fraquissimo "Top Gun" Maverick" foi um
dos destaques nas indicações.
Saíram os indicados ao Oscar 2023.

Tenho que admitir que, por enquanto, não assisti a muitos ainda, mas hoje em dia com a facilidade dos streamings, a oportunidade está dada para quem quiser, a partir de agora, maratonar os filmes até 12 de março, quando serão conhecidos os vencedores.

"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", lidera as indicações com 11, seguido por "Os Banshees de Inisherin" e pela produção alemã "Nada de novo no Front", com 9, esta disputando, inclusive, por melhor filme e melhor filme internacional. "Elvis", da brilhante atuação de Austin Butler, aparece com 8, "Os Fabelmans", de Steven Spielberg, com 7, e o badalado "Top Gun: Maverick", com 6, e destaque também para o vencedor da Palma de Ouro do ano passado, "Triângulo da Tristeza", indicado a melhor filme, além de outras duas categorias.

Particularmente, me chamou atenção a indicação de "Top Gun: Maverick", para melhor filme, a meu juízo um gloriosa porcaria; as indicação de "Batman", com 3; e a não indicação da animação "Pinóquio" de Guillermo del Toro para a categoria principal de melhor filme, o que não foi exatamente uma surpresa, mas era uma expectativa tal a qualidade do filme. Quanto ao mais indicado "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" , embora já tenha aparecido aqui no ClyBlog, na opinião do nosso parceiro Vagner Rodrigues, de minha parte não posso fazer juízo, por enquanto, mas fico com a impressão positiva pelo que foi descrito na resenha.

Mas chega de papo. Fiquem com a lista dos indicados:


  • Melhor Filme

Nada de Novo no Front

Avatar: O Caminho da Água

Os Banshees de Inisherin

Elvis

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Os Fabelmans

Tár

Top Gun: Maverick

Triângulo de Tristeza

Women Talking


  • Melhor Ator

Austin Butler (Elvis)

Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin)

Brendan Fraser (A Baleia)

Paul Mescal (Aftersun)

Bill Nighy (Living)


  • Melhor Atriz

Cate Blanchett (Tár)

Ana de Armas (Blonde)

Andrea Riseborough (To Leslie)

Michelle Williams (Os Fabelmans)

Michelle Yeoh (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)


  • Melhor Atriz Coadjuvante

Angela Bassett (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre)

Hong Chau (A Baleia)

Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin)

Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)

Stephanie Hsu (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)


  • Melhor Ator Coadjuvante

Brendan Gleeson (Os Banshees de Inisherin)

Brian Tyree Henry (Causeway)

Judd Hirsch (Os Fabelmans)

Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin)

Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)


  • Melhor Direção

Martin McDonagh (Os Banshees de Inisherin)

Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)

Steven Spielberg (Os Fabelmans)

Todd Reid (Tár)

Ruben Ostlund (Triângulo de Tristeza)


  • Melhor Animação

Pinóquio por Guillermo del Toro

Marcel the Shell with Shoes On

Gato de Botas 2

A Fera do Mar

Red: Crescer é uma Fera


  • Melhor Curta  de Animação

The Boy, The Mole, The Fox and the Horse

The Flying Sailor

Ice Merchants

My Year of Dicks

An Ostrich Told Me The World is Fake and I Think I Believed It


  • Melhor Roteiro Original

Os Banshees de Inisherin

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Os Fabelmans

Tár

Triângulo de Tristeza


  • Melhor Roteiro Adaptado

Nada de Novo no Front

Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Living

Top Gun: Maverick

Women Talking


  • Melhor Curta em Live-Action

An Irish Goodbye

Ivalu

Le Pupille

Night Ride

The Red Suitcase


  • Melhor Design de Produção

Nada de Novo no Front

Avatar: O Caminho da Água

Babilônia

Elvis

Os Fabelmans


  • Melhor Figurino

Babilônia

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Elvis

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Sra. Harris vai a Paris


  • Melhor Documentário

All That Breathes

All the Beauty and the Bloodshed

Fire of Love

A House Made of Splinters

Navalny


  • Melhor Documentário em Curta-Metragem

The Elephant Whisperers

Haulout

How Do You Measure a Year?

The Martha Mitchell Effect

Stranger at the Gate


  • Melhor Som

Nada de Novo no Front

Avatar: O Caminho da Água

Batman

Elvis

Top Gun: Maverick


  • Melhor Direção de Fotografia

Nada de Novo no Front

Bardo

Elvis

Empire of Light

Tár


  • Melhor Edição

Os Banshees de Inisherin

Elvis

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Tár

Top Gun: Maverick


  • Melhores Efeitos Visuais

Nada de Novo no Front

Avatar: O Caminho da Água

Batman

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Top Gun: Maverick


  • Melhor Maquiagem e Cabelo

Nada de Novo no Front

Batman

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Elvis

A Baleia


  • Melhor Filme Internacional

Nada de Novo no Front (Alemanha)

Argentina, 1985 (Argentina)

Close (Bélgica)

EO (Polônia)

The Quiet Girl (Irlanda)


  • Melhor Trilha Sonora Original

Nada de Novo no Front

Babilônia

Os Banshees de Inisherin

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Os Fabelmans


  • Melhor Canção Original

Diane Warren – “Applause” (Tell It Like a Woman)

Lady Gaga – “Hold My Hand” (Top Gun: Maverick)

Rihanna – “Lift Me Up” (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre)

M.M. Keeravaani e Chadrabose – “Naatu Naatu” (RRR)

Ryan Lott, David Byrne, Mitski – “This Is a Life” (Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo)


Que comece a maratona!



C.R.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Música da Cabeça - Programa #103


Não é só porque estamos no finzinho do Mês da Mulher: é porque aqui elas estão sempre na nossa cabeça. Um programa (quase) todo feminino foi o que calhou esta semana, pois terá Liz Fraser, Marina Lima, Gal Costa, Maria Rita, Suzanne Vega, Lady Miss Kier e outras. Não será diferente no “Música de Fato”, no “Palavra, Lê” e no quadro móvel da semana, “Cabeção”. Tudo com a massiva presença delas. Seja homem ou mulher, o negócio é escutar o Música da Cabeça de hoje, às 21h, pela feminilíssima Rádio Elétrica. Produção e apresentação dela: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dia de Oscar


E esta noite acontece a cerimônia de entrega do Oscar, um dos prêmios mais importantes e, sem dúvida, o mais badalado da indústria cinematográfica. O musical "La La Land - Cantando Estações", com 14 indicações surge como inevitável grande favorito mas é bom abrir o olho com os bons "Manchester à beira mar", "A Chegada" e "Moonlight" que correm por fora também com boas possibilidades.
Confira a lista com todos os indicados:


Melhor Filme
Melhor Diretor
Melhor Atriz
Melhor Ator
Melhor Ator Coadjuvante
Melhor Atriz Coadjuvante
 Melhor Roteiro Original
 Melhor Roteiro Adaptado
Melhor  Animação
 Melhor Documentário em Curta-Metragem
  • Extremis
  • 4.1 Miles
  • Joe's Violin
  • Watani: My Homeland
  • Os Capacetes Brancos
Melhor Documentário em Longa-Metragem
  • Fogo no Mar
  • Eu Não Sou Seu Negro
  • Life, Animated
  • O.J.: Made in America
  • 13ª Emenda
 Melhor Longa Estrangeiro
  • Terra de Minas (Dinamarca)
  • A Man Called Ove (Suécia)
  • O Apartamento (Irã)
  • Tanna (Austrália)
  • Toni Erdmann (Alemanha)
Melhor Curta-Metragem
  • Ennemis Intérieurs
  • La Femme et le TGV
  • Silent Nights
  • Sing
  • Timecode
Melhor Curta em Animação
  • Blind Vaysha
  • Borrewed Time
  • Pear Cider and Cigarettes
  • Pearl
  • Piper
Melhor Canção Original
  • "Audition (The Fools Who Dream)" | Música de Justin Hurwitz, canção de Benj Pasek e Justin Paul - La La Land: Cantando Estações
  • "Can't Stop the Feeling" | Música e canção de Justin Timberlake, Max Martin e Karl Johan Schuster - Trolls
  • "City of Stars" | Música de Justin Hurwitz, canção de Benj Pasek e Justin Paul - La La Land: Cantando Estações
  • "The Empty Chair" | Música e canção de J. Ralph e Sting - Jim: The James Foley Story
  • "How Far I'll Go" | Música e canção de Lin-Manuel Miranda - Moana: Um Mar de Aventuras
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Maquiagem e Cabelo
Melhor Mixagem de Som
Melhor Edição de Som
Melhores Efeitos Visuais
Melhor Design de Produção
  • Patrice Vermette (design de produção) e Paul Hotte (decoração de set) - A Chegada
  • Stuart Craig (design de produção) e Anna Pinnock (decoração de set) - Animais Fantásticos e Onde Habitam
  • Jess Gonchor (design de produção) e Nancy Haigh (decoração de set) - Ave, César!
  • David Wasco (design de produção) e Sandy Reynolds-Wasco (decoração de set) - La La Land: Cantando Estações
  • Guy Hendrix Dyas (design de produção) e Gene Serdena (decoração de set) - Passageiros
Melhor Edição
Melhor Trilha Sonora


C.R.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Meredith Monk - “Dolmen Music” (1980)



“Se Monk está procurando um lugar no firmamento clássico,
é a música clássica que tem muito a aprender com ela.
Ela pode aparecer ainda mais à medida que o novo século se desenrola,
e as gerações posteriores invejarão aqueles que conseguiram vê-la viver".
Alex Ross,
jornalista e crítico musical

“A voz humana pode muito bem ser o Instrumento mais expressivo de todos,
capaz da mais sutil das nuance e da exclamação mais dramática,
 mas poucos exploraram toda a sua gama tão
completamente quanto Meredith Monk”.
John Kelman,
jornalista e crítico musical




Um jornalista amigo meu, logo após assistir o espetáculo de Meredith Monk no Theatro São Pedro durante o 22º Porto Alegre em Cena, em 2015, comentou abismado com o que vira: “Meredith Monk veio de outro planeta”. Embora entenda a força de expressão, pois em parte é um asteísmo justo, hei de discordar dele: Monk não vem de longe, de um lugar desconhecido, mas, sim, do próprio planeta Terra. De seus recônditos, das profundezas, da natureza mais genuína e inobservada por nós, reles normais. Em Monk habitam uma índia shokagawe, uma japonesa enka, uma bruxa celta, uma inca quíchua, uma indiana vadava, uma caçadora africana, uma fêmea das cavernas. Ou, simplesmente, uma mulher, misteriosa e mágica, moderna e atemporal, autêntica e viva. 

Cunhada na vanguarda dos anos 60, a norte-americana Monk é compositora, cantora, coreógrafa e criadora da new opera, além de música de teatro, filmes e instalações. Uma das artistas mais originais e influentes do nosso tempo, é pioneira da chamada "técnica vocal estendida" e "performance interdisciplinar", que muito caminho abriu para artistas internacionais como BjörkElizabeth Fraser, Laurie Anderson, Diamanda Galas e brasileiros como Arnaldo AntunesTom Zé e Walter Franco. Monk cria obras que prosperam na interseção de música e movimento, imagem e objeto, luz e som, descobrindo e tecendo novos modos de percepção. “Dolmen Music”, de 1980, considerada uma de suas obras-primas, traz uma mostra expressiva desse caldeirão de ideias e referências.

Contemporânea de conterrâneos como Philip Glass, Morton Feldman, Terry Riley, Harry Partch e Steve Reich, Monk é, como estes, parte de uma linha evolutiva da música clássica através dos séculos. Talvez até mais que eles, entretanto, ela junta todos os tempos e estilos em um único elemento-base: a voz. Dona de uma capacidade sintética espantosa, ela faz remontar Palestrina e Boulez num átimo. Assim, Monk destila em “Dolmen Music” peças da mais inquietante beleza. Quando muito, conta com a participação de Steve Lockwood no segundo piano e a percussão e violino do produtor Collin Walcott (o “CO” do Codona, grupo avant-garde formado por ele com DOon Cherry e NAná Vasconcellos nos anos 70).

Na primeira parte, é praticamente apenas isso: voz e piano. Suficiente para Monk, sobre melismas e vocalises, criar paisagens de som que desenterram sentimentos, energias e memórias para as quais não há palavras. E nem precisam. Vê-se isso num de seus clássicos: “Gotham Lullaby”, que abre o álbum. Sobre uma delicada base de piano em contraponto, que, cíclica, engendra dois tempos de 4 compassos para, obsessiva e incondicionalmente, voltar sempre à mesma nota, ela explora do mais sentimental registro de soprano a sufocados gritos de desespero. Regravada por Björk em 2015, é uma canção de ninar de um lugar fictício e obscuro – e absolutamente interno.

Na minimalista “Travelling”, o piano, tal como já explorara em “Key”, de 1970, se transforma em elemento percussivo para acompanhar o canto tribal, que se vale de perfil sonoro prolongado das notas para conferir-lhes variações de modulação, a exemplo dos gritos de guerra indígenas. Noutra hora, é a mezzo clássica que aparece, a qual lembra por demais Liz Fraser do Cocteau Twins. Sua exploração sonora vai do som mais gutural ao agudo nasal em exercícios vocais de difícil execução. Já “The Tale” – que fechou sua apresentação em Porto Alegre numa engraçada performance de bruxa dos contos de fantasia – parece brincadeira de criança, mas é de uma complexidade inequívoca. A breve letra (“I still have my hands/ I still have my mind/ I still have my money/ I still have my telephone…”) é um artifício chistoso para desencadear uma peça de caráter mínimo em que Monk põe mais uma vez sua interminável capacidade vocal a serviço da imaginação. É impossível não visualizar uma bruxa encanecida e enrugada, pois, sobre o tema sonoro picaresco do órgão elétrico, ela encarna a personagem, ornamentando falas e risadas por meio de ressonâncias e modulações.

“Biography”, outra assistida no show de 2015, é uma das mais incríveis canções escritas nos últimos 50 anos na música mundial. Não é exagero o que digo, afinal, “Dolmen Music” como um todo é considerado um dos 20 trabalhos fundamentais para se entender a música da segunda metade do século XX conforme aponta o crítico e pesquisador musical italiano Piero Scaruffi. E este tema, composto em 1973, é bastantemente representativo dentro do repertório de Monk. Não à toa sua execução deixa todo mundo pasmado como ocorrera em Porto Alegre, um misto de estarrecimento e encanto. Nela, Monk parece sintetizar todo o sofrimento da condição feminina neste mundo opressivo e desigual ao contar a biografia de uma anônima e simbólica mulher. Tudo sem precisar de palavras, somente através dos sons. O triste tema do piano faz base para o canto que vai da mais íntima angústia à histeria. Os melismas aprontados por Monk vão pouco a pouco se transformando, ganhando mais intensidade mas, igual e fatalmente, aproximando-se do insano. O choro aflito é desenhado em traços dissonantes e atonais, remetendo aos arranjos vocais lancinantes de Ligeti em “Requiem” e de Penderecki em “Canticum Canticorum Salomonis”. A loucura avança aos limites, e Monk passa a articular palavras sem sentido em vibratos, tremulos e glissandos. Um pássaro ferido grita, um animal acuado na jaula grita. Há momentos em que, alucinada, a mulher conversa consigo mesma, alternando a própria voz e tentando fazer emergir o que ainda lhe resta de sanidade. Até sucumbir de vez. Em sustenidos, o piano, impassível em sua melancolia, anuncia que, enfim, tudo terminou. Música que vale ouvir e reouvir sempre.

A segunda metade do disco é totalmente dedicado à faixa-título, miniconcerto para seis vozes, piano, violino, violoncelo e percussão. O arsenal técnico e criativo de Monk é explorado aqui com maior complexidade, mas sem se descaracterizar do restante. Afinal, é a voz que permanece no comando, capaz de fazer-nos projetar mundos exóticos e sem distinção temporal. “Overture And Men's Conclave”, primeira parte da peça, começa nas três vozes femininas e cello repetindo uma pequena célula de 4 compassos, em que a última nota se estende. As vozes masculinas, monódicas como a dos modos gregorianas e microtonais como a dos cantos tibetanos, entram em contracanto.  O uso do “kobushi”, vibrato lento muito usado como ornamento música japonesa, passa a dar cores cada vez mais orientais à música, cuja intensidade aumenta, fazendo a música avolumar-se.

A predominantemente ressonante “Wa-ohs”, na sequência, é trazida do repertório de “Songs from the Hill/Tablet”, trabalho de Monk de um ano antes. Novamente, a referência à música do Oriente é visível, haja vista que o coro forma um quase um mantra de monges budistas. Percussivas, as vozes funcionam como gongos soando. Logo após, acordes cadenciados de cello conduzem a bela “Rain”, em que os timbres femininos vão entrando em frases esparsas até encurtarem seus espaçamentos e construírem um andamento mutável, em que as modificações das células rítmicas vão se alterando no decorrer e ganhando novas conformações.

Cheia, a polifônica “Pine Tree Lullaby” conta apenas com as vozes em cascata, engendrando um canto litúrgico e zen ao mesmo tempo. Não menos impressionante, “Calls” aproxima-se do arrojo do rock ao usar o violoncelo sendo friccionado pelo arco, mas não na horizontal como normalmente, e sim na direção vertical. O efeito é de um som trasteado, vibrado, atritado. Soma-se a isso ainda as baquetas de percussão no próprio instrumento, que não necessariamente percutem o cello, mas, sim, colocadas bem próximas às cordas, deixam-se percutir pela vibração gerada pela esfregação da crina do arco. As vozes retornam para a derradeira “Conclusion”, onde novamente Monk resgata o lamentoso tema central da abertura da peça, adicionando agora gemidos, ruídos, palavras quebradas e onomatopeias das mais diversas.

 Se se pensar a obra de Meredith Monk dentro de uma linha evolutiva da música clássica se perceberá que sua música abarca todas as épocas. Vem desde a Idade Média, passando pelo Renascimento, Barroco, Romantismo, Ópera, Decadentismo, Modernismo até chegar ao nas vanguardas do século XX e todos os seus inúmeros direcionamentos. Por este ângulo, é fácil explicar o porquê da minha emoção quando a vi no palco. Era a emoção de estar vivenciando algo superior. O privilégio de vê-la ao vivo é como presenciar uma ópera de Wagner regida por ele mesmo, é como escutar um recital de Chopin com o próprio ao piano. Monk, no panteão dos compositores clássicos, nos traz essa exploração da voz como uma linguagem que expande os limites da composição musical na história de arte, uma linguagem eloquente em si própria. E que nos faz identificar algo submerso em nós mesmos. Nós, esses habitantes de um indistinto planeta Terra que Monk nos faz reconhecer.
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FAIXAS:
1. “Gotham Lullaby” - 4:14
2. “Travelling” - 6:15
3. “The Tale” - 2:47
4. ”Biography” - 9:26
5. “Dolmen Music” - 23:39
a. “Overture And Men's Conclave”        
b. “Wa-ohs”     
c. “Rain“
d. “Pine Tree Lullaby”   
e. “Calls”            
f. “Conclusion”

todas as composições de autoria de Meredith Monk.
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OUÇA O DISCO:


por Daniel Rodrigues