Mas Christian, tu cita o Humberto falando do Duran Duran e o disco não é deles, é do Arcadia! Explico. O Arcadia foi formado por 3 dos 5 integrantes do Duran Duran quando eles resolveram dar uma parada para tocar projetos paralelos. O fundador John Taylor (baixista) e o Andy Taylor (guitarrista) foram tocar com o Robert Palmer e o baterista do Chic no Power Station. Os outros 3 que são o vocalista Simon Le Bon, o tecladista Nick Rhodes e o baterista Roger Taylor fizeram o Arcadia. Uma coisa me passou pela cabeça agora, o Duran Duran poderia se chamar “The Taylors” porque 3 Taylor sem parentesco algum em uma mesma banda não é pouca coisa.
Para este projeto eles ainda contaram com a guitarra do David Gilmour nas faixas "The Promise" e "Missing", e participações como a da Grace Jones, Sting, Carlos Alomar, Herbie Hancock e outros músicos. Para mim é um pop elegante, funkeado e com muitas camadas de produção características dos anos 80, mas sem muito exagero. "Election Day" foi o single que puxou o disco, mas ao longo da audição tu vais percebendo outras músicas que também faziam parte das rádios na época como a "Goodbye Is Forever" e a "The Promise".
Quem puder, ouça a versão tripla que conta com o disco normal, outro disco com versões estendidas/remixes/instrumentais e ainda um DVD com clipes das músicas. Mais ou menos neste período foi que o Duran Duran colocou a música "A View to a Kill" no filme "007 Na Mira dos Assassinos". No clipe desta música pode-se notar o “climão” que estava entre os membros da banda, onde nenhum aparece contracenando com o outro. Este disco foi importante para a retomada do Duran Duran que aconteceu no disco seguinte, que foi o "Notorius", agora resumido a 3 integrantes, o John Taylor, o Simon Le Bon e o Nick Rhodes. Muito do que foi desenvolvido a partir desta reunião já estava contido neste belo disco que é o "So Red The Rose", do Arcadia. Escuta, vale a pena.
Coronavírus se espalhando, "pibinho" na economia, demonização do abraço, perda de McCoy Tyner e Max Von Sydow, dólar nas alturas... Olha: só mesmo ouvindo o Música da Cabeça pra aliviar a coisa. Temos pílulas relaxantes de boa música no programa de hoje das marcas Grace Jones, Jorge Ben, Cibo Matto, Jards Macalé, Elza Soares e outras. Ainda, lembramos o Dia da Mulher, celebrado dia 8, e fazemos homenagem no "Cabeção". A dose semanal que você precisa está na Rádio Elétrica. Siga a prescrição: tome às 21h. Com produção e apresentação de Daniel Rodrigues. É tiro e queda.
Os irlandeses da U2, no topo da lista, em foto de Anton Corbjin da época de "Bad"
Sabe aquela música de um artista pop que você escuta e se
assombra? E o assombro ainda só aumenta a cada nova audição? “Caramba, que som
é esse?!”, você se diz. Pois bem: todas as décadas do rock – principalmente a
partir dos anos 60, quando as variações melódico-harmônicas se multiplicaram na
reelaboração do rock seminal de Chuck Berry, Little Richard e contemporâneos – são
repletas de músicas assim: clássicos imediatos. Mas por uma questão de autorreconhecimento, aquelas
produzidas nos anos 80 me chamam bastante a atenção. É desta década que mais
facilmente consigo enumerar obras desta característica, as que deixam o ouvinte
boquiaberto ou, se não tanto, admirado.
Conseguiu entender de que tipo de música estou falando?
Creio que talvez precise de maior elucidação. Bem, vamos pela didática das duas
maiores bandas rock de todos os tempos: sabe “You Can´t Always Get What You
Want”, dos Rolling Stones, ou “A Day in the Life”, dos Beatles? É esta
espécie a que me refiro: podem não ser necessariamente as músicas mais consagradas
de seus artistas, nem grandes hits, mas são, inegavelmente, temas grandiosos, emocionantes,
que elevam. Você pode dizer: “mas têm outras músicas de Stones ou Beatles que
também emocionam, também são grandes, também provocam elevação”. Sim, concordo.
Porém, estas, além de terem essa característica, parecem conter em sua gênese a
ideia de uma “grande obra”. Dá pra imaginar Jagger e Richards ou Lennon e
McCartney – pra ficar no exemplo da tabelinha Beatles/Stones – dizendo-se um
para o outro quando compunham igual Aldo, O Apache em "Bastardos Inglórios": “Olha, acho que fizemos nossa obra-prima!”
Quer mais exemplos? “Lola”, da The Kinks; “Heroin”, da Velvet Underground; “Marquee Moon”, da Television; "We Are Not Helpless", do Stephen Stills; "Kashmir", da Led Zeppelin. Sacou? Todas elas têm uma integridade especial, uma alma mágica, algo de circunspectas, quase que um selo de "clássica".
Pois bem: para ficar claro de vez, selecionamos, mais ou menos em ordem de preferência/relevância, as 30 músicas do pop-rock internacional dos anos 80 as quais reconhecemos esse caráter. Para modo de poder abarcar o maior número de artistas, achamos por bem não os repeti, contemplando uma música de cada - embora alguns, evidentemente, merecessem mais do que apenas uma única indicada, como The Cure, U2 e The Smiths. Haverá as que são mais conhecidas ou mais obscuras; as que, justamente por conterem certo tom épico, se estendem mais que o normal e fogem do padrão de tempo de uma "música de trabalho"; artistas de maior sucesso e outros de menor alcance popular; músicas que inspiraram outros artistas e outras que, simplesmente, são belas.
E desculpe aos fãs, mas, claro, muita gente ficou de fora, inclusive figurões que emplacaram superbem nos anos 80, como Michael Jackson, Elton John, Bruce Springsteen e Queen. Até coisas que adoraria incluir não couberam, como “Hollow Hills”, da Bauhaus, “Hymn (for America)”, da The Mission, "51st State", da New Model Army, "Time Ater Time", da Cyndi Lauper, "Byko", do Peter Gabriel, "Up the Beach", da Jane's Addiction, "Pandora", da Cocteau Twins, "I Wanna Be Adored", da Stone Roses... Mas não se ofendam: tendo em vista a despretensão dessa listagem, a ideia é mais propositiva do que definidora. Mas uma coisa une todos eles: criaram ao menos uma música diferenciada, daquelas que, quando se ouve, são admiradas de pronto. Aquelas músicas que se diz: “cara, que musicão! Respeitei”.
“É
muito fácil para mim falar de ‘Spinnig Away’, porque ela tem uma característica
que eu gosto muito, e que já eu usei antes também. Eu gosto muito de ter
contrastes de velocidade. Por exemplo, de ter ritmos staccato muito, muito rápidos, ritmos picotados, em
que vocais muito líquidos correm por cima deles. Algo como duas qualidades bem
opostas: um ritmo que é staccato e
ligeiramente oscilante. Se você ouvir a forma como os tambores começam nessa
música, eles têm uma sensação estranha e fora de equilíbrio. Seu som é nítido.
Os vocais e os violinos, por outro lado, não são tocados com o mesmo espírito,
eles estão quase em um universo musical diferente. Eles flutuam em cima deste
mar de ação, esse mar de atividade. E os violinos tocam em um compasso
diferente.”
Brian Eno
“Wrong Way Up” foi uma paixão instantânea. Adquiri o CD poucos anos depois de seu lançamento, 1990, mas já o mirava desde quando li na revista Bizz que Brian Eno– de quem já gostava, pois até lhe tinha em K7 “Before and After Science”, de 1977, além de admirar as parcerias/produções a bandas e artistas que de muito já ouvia, como as com David Bowie, Talking Heads, U2, Devo, entre outros – e John Cale – de quem sabia em parte da importância e qualidade também pelas produções a outros artistas e pelo The Velvet Underground, obviamente, mas não tinha ainda noção de sua magnitude como hoje – haviam, finalmente, se juntado para um trabalho em comum. Os dois já tinham se pechado 16 anos antes no show ao vivo transformado em disco “June 1, 1974”, projeto conjunto com Nicoe Kevin Ayers que, justamente por contar com tantos talentos juntos, não abria espaço para cada um explorar mais de si mesmos. Os dois também participavam frequentemente dos projetos de um e de outro (Cale em “Another Green Wolrd”, de Eno, de 1975; Eno em “Fear”, de Cale, de 1974), mas algo único, em par, não. “Wrong...” surgia-me, assim, com uma grande expectativa de poder ouvir reunidos aqueles que considero, juntos com Phil Spector e George Martin, os dois maiores produtores de estúdio da história, duas figuras fundamentais para o rock e com bagagens ricas, até parecidas em alguns aspectos. Britânicos (um nascido na Inglaterra, o outro no País de Gales), ambos fundaram bandas clássicas, Roxy Music e Velvet Underground, respectivamente, e foram os integrantes que saltaram fora no início (Eno, depois do primeiro disco; Cale, após do segundo) para tocarem seus projetos solo. De formação acadêmica e erudita, também sempre tiveram estilos marcantes em tudo que produziram e, muito por conta disso, preferiram trilhar por uma carreira que apontava não só para a musical, mas para outras artes, como plásticas, cinematográfica e cênica.
O que esperar, então, deste aguardado encontro? Ainda mais considerando que lhes era comum há bastante tempo o valor das parcerias, basta ver as de Eno (David Byrne, Jon Hassell, Harold Budd, Robert Fripp) e as de Cale (Nico, Terry Riley, Lou Reed). Por que nunca haviam pensado em algo próprio até então? A resposta parece nos direcionar a uma mera coincidência ou falta de oportunidade, pois o resultado é uma afinidade tamanha que chega, às vezes, a parecer que sempre compuseram juntos. Para mim, o efeito foi o que lhes disse na primeira linha deste texto: arrebatamento imediato, que perdura até hoje por um álbum que não canso de ouvir, um dos preferidos de minha discoteca.
Apesar da sugestão do nome, algo como “caminho errado ascendente”, em que se nota certa ironia por parte de dois artistas de vanguarda que sempre optaram pelo caminho autoral e não-comercial, o disco é um verdadeiro caminho fácil. Fácil de ouvir, fácil de gostar. Complexo em harmonias e arranjos, mas totalmente aprazível e saboroso aos ouvidos. Composto de 12 faixas, metade cantada por cada um e todas compostas em dupla (exceto “The River”, só de Eno), “Wrong...” tem cara de projeto artesanal, haja vista a sucintez da instrumentalização e até do projeto gráfico (do próprio Eno), mas que consegue ser universal e supermoderno sem soar pretensamente high-tech, resgatando referências folclóricas, pop e clássicas. Um resumo do que poderia ser chamado de world music. Valendo-se dos predicados de cada um, como o conhecimento apurado de ambos da mesa de estúdio, a técnica de Eno aos teclados e sintetizadores, seus cuidados com os detalhes, a pegada erudito-modernista de Cale e, claro, a criatividade absurda dos dois como compositores, “Wrong...” lhes extrai o que há de melhor. “Lay my Love”, bela e imponente, abre dando este tom: simbiose entre instrumentos eletrônicos e acústicos, polirritmia, escalas em intervalos quebrados – típico de Cale – e referências étnicas principalmente nos contracantos – típico de Eno. “Empty Frame”, um rock-soul anos 50, e “Crime in the Desert”, espécie de twist minimalista, ambas sob uma textura eletrônica e também na voz solo de Eno, trazem o mesmo conceito.
Cale sussurra a leve “In the Backroom”, de clima árabe especialmente no andamento. O canto elegante do galês volta em “Cordoba”, estupenda, das melhores do álbum. Minimalista e propositalmente em volume mais baixo que o restante das faixas, é toda composta em detalhes de texturas e sonoridades, em que os elementos vão se incorporando um a um sobre uma base de teclados e uma batida programada. Muito cool, nela se sentem os ecos das tradições moura e.católica da histórica cidade espanhola. A sempre marcante viola de Cale tange um curto mas exuberante solo que remete à atmosfera misteriosa da região da Andaluzia.
“Spinning Away”, mais uma maravilhosa, tem visível mão dos dois. A começar pela de Cale, que pinta com o som de sua viola com cores renascentistas esta peça. Mas a melodia é bastante característica de Eno, tais como as que coescreveu com Byrne em “Remain in Light”, do Talking Heads, em 1980, ou as que já experimentava em “Before...” ("No One Receiving"), visto suas camadas de linhas vocais em tom médio lembrando cantos tribais e a base percussiva da guitarra, que se conjuga com a programação rítmica. A cara da proposta do disco.
Mais uma linda canção e outro show de Cale aos vocais, charmoso e variante nas escalas: a enigmática “Footsteps”. Com uma aura oriental, seja nos acordes agudos de teclado-solo, seja nos adornos que adensam seu “climão” sombrio, seja no som seco da tabla tocada por Ronald Jones. Ao final da faixa, esta mesma batida amadeirada marca em três tempos espaçados o começo da seguinte e, talvez, melhor do disco – embora seja difícil a escolha. “Been There, Done That” é ritmada e num tom mais alto, o que contrasta com a gradação média para menor da soturna anterior. Nela, a ideia de percutir os fios dos instrumentos de corda aparece de novo. De refrão pegajoso (“Been there, done that/ Been there, don’t wanna go back”), é um dos melhores exemplos de pop world music que pode existir. Novamente, o entrecruzamento de cantos aproveita muito bem os timbres aveludados tanto de Eno quanto de Cale – como ocorrera em outra ótima faixa, “One World”, música de trabalho do álbum –, assemelhando-se um com o outro em vários lances.
O disco fecha com talvez a mais bonita música de todo o cancioneiro de Eno: “The River”. Balada estilo anos 50, em que o tom grave de sua voz cantando com suavidade faz-se extremamente marcante (“So deep in the water/ Sleep, dark as the night...”), é uma cantiga de ninar doce e lírica escrita para sua filha Irial no dia de seu nascimento – o que justifica ser a única sem parceria na composição. A participação do outro filho do compositor, Roger Eno, aos teclados, aumenta o clima familiar e emotivo da canção, que desfecha com o violino de Neil Catchpole desenhando o andamento de maneira lânguida e cadenciada, até sumir leve e gradualmente, caindo em um sono tranquilo.
“Wrong...” é um disco que não data, semelhante a "Nightclubbing", de Grace Jones (1981), "Low", de Bowie (1976) ou “Off the Wall”, de Michael Jackson (1979), trabalhos que souberam casar a tecnologia que suas épocas lhes disponibilizaram com uma essência tradicional, trazendo inovações de estilo e técnica, mas, principalmente, por conterem um conceito bem definido e apurado. Por isso mantêm-se frescos através do tempo, atemporais.
Porém, mais do que a contribuição que trouxe ao universo pop, o disco é, antes de mais nada, um feliz encontro de artistas muito afins, onde fica evidente a identidade e admiração mútuas que têm um pelo outro. Tarimbados àquela altura, podiam muito bem, como vários outros veteranos já incorreram, trilhar pelo “caminho fácil”: gravar standards um de outro, intercalando-se. Cale cantaria, por exemplo, "Third Uncle",“Babies on Fire" e outras quatro e Eno fazia o mesmo: ficava com versões de "All Tomorrow's Parties", "Heartbreak Hotel"e completava com mais quatro. Pronto: fechava um disco com 12 faixas, quando muito mais umazinha nova (a de trabalho, claro) para justificar para a mídia um reencontro. Mas estamos falando de John Cale e Brian Eno, meus caros, dois dos maiores nomes da música do século passado e que, graças!, ainda vivos e produzindo bem, continuam sendo permanentemente ascendentes anos 2000 afora e até quando existir esta fascinante arte chamada música.
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“One World”(vídeo oficial) -Brian EnoeJohn Cale
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FAIXAS: 1. Lay My Love - 4:44 2. One Word - 4:34 3. In the Backroom - 4:02 4. Empty Frame - 4:26 5. Cordoba - 4:22 7. Spinning Away - 5:27 8. Footsteps - 3:13 9. Been There, Done That - 2:52 10. Crime in the Desert - 3:42 11. The River - 4:23
Seguindo com a segunda parte do duelo com o radialista,
locutor, cinéfilo e blogueiro Paulo Telles num bate-papo tão apaixonado pela
sétima arte quanto instrutivo. Se na primeira Telles aborda o faroeste
norte-americano, destacando diretores, títulos referenciais e até sobre o papel
da mulher no western, agora, ele fala
um pouco mais sobre o spaghetti, a
versão italiana para o gênero que não só ganhou fãs no mundo todo como, de certa
forma, trouxe-lhe uma nova linguagem. Ainda, aquilo que todo cinéfilo gosta:
listas. O entrevistado já sai elencando seus filmes preferidos nas duas
categorias e defende com muito critério e poder analítico uma a uma de
suas escolhas. Vamos, então, à segunda e última parte da entrevista:
FRANCISCO BINO:- Sei que não é
fácil fazer estas coisas, mas nos faça uma lista com os dez melhores western
Spaghettis de todos os tempos segundo você? E os dez melhores do cinema
americano?
PAULO TELLES: E não é mesmo, prezado Bino (risos). Elaborar
uma lista com apenas dez de cada estilo não é uma tarefa fácil. Entretanto, há
outros títulos que também estão em minha apreciação que não se encontram aqui
listadas, portanto, apresento os meus Top Ten de cada estilo do gênero:
AMERICANOS
1 -"RASTROS DE ÓDIO"/The Saerchers (1956) –
Direção: John Ford Foi através desta
obra prima (assisti pela primeira vez em 1985, com catorze anos) que comecei a
me interessar sobre cinema e tentar entendê-lo como arte. Foi a partir deste
momento, que me deixei penetrar pelo mundo de John Ford e no mundo dos westerns. Não tem como você não se
deixar encantar pela beleza majestosa e áspera do Monument Valley, cenário
natural este preferido de Ford, e pela figura estoica de Ethan Edwards,
interpretado por John Wayne. Em minha opinião, foi a melhor atuação de sua
carreira, digna mesmo de um prêmio, trabalho este que rendeu até elogios do
cineasta e filósofo Jean-Luc Godard, inimigo declarado de Wayne por razões
políticas. “Rastros de ódio”
conserva os elementos dramáticos do faroeste tradicional, por seu estilo
peculiar, épico e lírico, onde o cineasta descreve a odisseia de Ethan e de
seus discípulo Martin Pawley (vivido por Jeffrey Hunter) na perseguição aos
comanches que raptaram a jovem Debbie (vivida por Natalie Wood), e isto tudo
num relato de tensão ininterrupta e de grandeza plástica e cromática, segundo
as nobres palavras do finado crítico Paulo Perdigão, ex-colunista do jornal O
Globo. Recentemente, o filme foi exibido em reprise nas grandes salas do Cinemark, em sua sessão de
clássicos, e assisti junto ao José Eugenio Guimarães, editor do blog Eugenio em Filmes. Mesmo sem o
impacto do formato VistaVision, ainda
assim valeu o ingresso.
"Rastros de Ódio", cena de abertura
2 - MATAR OU MORRER/High Noon (1952) –
Direção: Fred Zinnemann Um dos grandes westerns que estabeleceu o chamado Western
Psicológico, uma alusão ao Macarthismo e a sociedade americana de então,
uma das obras primas de um grande cineasta, Fred Zinnemann. Poucos sabem, mas
os americanos consideram tão importante este filme que uma cópia desta obra
prima foi depositada numa cápsula do tempo, que só será reaberta no ano 2213.
Uma trama elevada à dimensão de tragédia grega tendo como herói o xerife Will
Kane (em minha opinião o mais humanizado de todos os protagonistas no gênero,
digno do título de herói) vivido por um dos atores que mais bem personificaram
o mito do cowboy do oeste, Gary
Cooper, em uma cruzada solitária para defender sua vida. Ele durante muitos
anos cuidou de uma cidade e de seus habitantes, mas agora mesmo não estando sob
a insígnia da lei, estes mesmos habitantes se recusam a ajudá-lo, pois todos
temem o pistoleiro e seus comparsas que descerão no trem do meio dia para matar
Kane. Um estudo acurado da consciência do herói que mesmo podendo fugir ou
deixar a responsabilidade para o próximo xerife, ainda sim mantém sua dignidade
para ter paz consigo mesmo. Não tem como não falar deste Western sem mencionar
Grace Kelly como sua esposa quaker, e a famosa canção “Do Not Forsake Me Oh My Darling”, interpretada
por Tex Ritter. Solidão, consciência, medo, e ingratidão são as temáticas
principais desta obra de Zinnemann.
3 - O MATADOR/The Gunfight (1952) – Direção: Henry
King Outro grande western de base psicológica dirigida por
um dos grandes artesões de Hollywood, e trazendo Gregory Peck numa das melhores
atuações do gênero, Jimmy Ringo, um temível pistoleiro que quer largar as armas
para viver pacificamente para a esposa e seu filho, que ainda não o conhece.
Contudo, sua fama de rápido no gatilho não só atemoriza as pessoas mais
pacatas, mas atrai aventureiros desocupados que o querem por à prova, o que faz
com que Ringo não consiga a paz que almeja. Um estudo acurado do mito do
pistoleiro, que tão logo seja afamado (ou mal afamado), outros estão dispostos
a temê-lo ou a desafiá-lo.
4 - DA TERRA NASCEM OS HOMENS/The Big Country (1958) –
Direção: William Wyler Um dos melhores Westerns
americanos que já assisti e por muitos, e também pudera, não tinha nada para
dar errado tendo na direção um dos maiores cineastas de todos os tempos,
William Wyler, que assinou grandes obras primas da Sétima Arte, como “Jezebel”, “A Princesa e o Plebeu”, “Chagas
de Fogo”, e “Ben-Hur”,
como também não podia dar errado tendo um elenco de primeira categoria como
Gregory Peck, Jean Simmons, e Charlton Heston. Outro destaque é sua produção,
com uma fotografia impecável e formato de tela panorâmica que nenhum televisor
poderia enquadrar, isto é, um dos primeiros faroestes americanos em
superprodução para afastar o público dos televisores, que então esvaziavam as
salas de exibição. Vale lembrar também de sua mensagem pacifista, coisa rara
nos filmes do gênero, já que o personagem de Peck, um almofadinha do
leste, se envolve na briga de duas famílias por causa da divisão de água, mas
ele acredita que poderá agradar a gregos e troianos. Muito interessante!
Destaque para a briga entre Peck e Heston, que viram a noite lutando, e também
para eletrizante trilha sonora de Jerome Moross.
5 - OS BRUTOS TAMBÉM AMAM/Shane (1953)- Direção:
George Stevens Era o filme
preferido do crítico brasileiro Paulo Perdigão, já falecido, entretanto a meu
ver ele é um conto moral sobre a redenção e a ótica de uma criança ao idealizar
o perfil do herói do Oeste. O baixinho Alan Ladd é perfeito como o pistoleiro
Shane, que busca a paz e quer largar as armas, mas ele não consegue quando se
vê obrigado a empunha-las para defender um casal e o filho deles, que o
idolatra como um verdadeiro mito. Shane chega a uma cidade como um típico “anjo
purificador” ao tentar distribuir dignidade e autoconfiança para os fazendeiros
amedrontados. A fábula sobre o bem e o mal e disputa entre dois é bem
caracterizada no duelo final entre Ladd (Shane) e o pistoleiro Wilson, vivido
pelo brilhante Jack Palance. Outro clássico do gênero recomendado para todos os
amantes do Western, ou simplesmente, quem ama cinema.
6 - DUELO AO SOL/Duel in The Sun (1946) – Direção:
King Vidor Verdadeiramente um Super-Western
de tirar o fôlego!!! Uma nova forma bem adulta de atrair o público igualmente
adulto as salas de cinema, e produzido por David O’ Selznick, o megaprodutor
responsável por outra obra prima (E O Vento Levou) e estrelando a
sensual Jennifer Jones e o galante Gregory Peck, que não esta nada galante
nesse filme (risos). Foi o maior êxito comercial de Selznick e que foi o apogeu
do Western romanesco, no
entanto, acabou criando problemas com ligas puritanas americanas pelo teor de
sexualidade bem apimentada e exagerada, ao introduzir o chamado “beijo francês”
no cinema americano. Além disso, a trama é basicamente uma tragédia grega, onde
a mestiça vivida por Jennifer Jones tem o pai condenado à morte por ter matado
sua mãe e o amante dela, e daí passará a viver com uma tia, vivida por uma dama
do cinema, Lilian Gish, que é esposa de um senador, vivido pelo lendário Lionel
Barrymore. Mas os dois filhos do casal se interessam pela mestiça, mas ela
acaba optando pelo mais sedutor e amoral, que é Gregory Peck, que não quer
nenhum compromisso, em vez do decente Joseph Cotten. De resto, é uma tragédia
grega a se seguir em grandes proporções, mas no grande estilo do Western
Clássico Americano.
7 - A LEI DO BRAVO/White Feather (1955) – Direção:
Robert D. Webb É um dos meus
prediletos por tratar-se de um tema antirracista, e um dos faroestes mais
respeitados sobre a temática indígena, cujo argumento foi redigido pelo
cineasta Delmer Daves, mas dirigido por Robert D. Webb (um cineasta de menor
renome, mas nem por isso menos admirado). No roteiro, Daves repetiu os mesmos
ingredientes de Flechas de fogo, realizado cinco anos antes, versando a
trajetória de jovem guerreiro cheyenne
Cão Pequeno (vivido espetacularmente por Jeffrey Hunter) e um engenheiro bem
intencionado Josh Tenner (vivido por Robert Wagner). Este tenta persuadir os
índios a mudar-se para uma reserva, mas o projeto acaba prejudicado pela
ganância de garimpeiros. A obra caminha para uma sequência final que eu mais
admiro - o confronto do solitário de Cão Pequeno, que se recusa a mudar de sua
reserva, contra as tropas da União. Destaque para a bela Debra Paget,
praticamente a repetir seu papel em Flechas de Fogo, como a irmã de Cão
Pequeno e interesse romântico do herói vivido por Wagner. Recomendo.
Poster de "A Face Oculta, de Brando
8 - A FACE
OCULTA/One-Eyed Jacks (1961) – Direção: Marlon Brando Outro Western em
superprodução que está em minha apreciação onde se tem o registro da única
experiência de Marlon Brando como diretor. Muitos apreciam "O Poderoso Chefão" como o melhor
filme de Brando, mas contesto um pouco isso, tendo em vista este excêntrico
trabalho do gênero onde o ator investiu cinco milhões de dólares, em dois anos
de trabalho. Foi uma produção tumultuada (era para Stanley Kubrick dirigir), e
das 35 horas de filme impresso, Brando selecionou material para cinco horas de
filme, que acabou sendo reduzido para 2h e 21 minutos de filme. Era para ter
sido o Western de maior duração da história se Brando não fosse obrigado a
reeditar sua duração. Além disso, tramas ligadas sobre a vingança me fascinam,
assim como a dualidade do caráter do ser humano quando se aplica no personagem
vivido por Karl Malden. Malden é bandido assaltante de bancos como Brando, e
acaba traindo este, seu melhor amigo, que passa cinco anos na prisão e jura
vingança por todos os anos que ficou no presídio, e quando finalmente o
reencontra, ele é um homem mudado, xerife de uma cidade, e respeitado pelo
povo. A questão fica se ele mudou moralmente ou isso não passa de uma fachada.
Brando sempre alegou que seu Western era um “assalto frontal ao tempo dos
clichês”.
9 - OS PROFISSIONAIS/The Professionals (1966) –
Direção: Richard Brooks Revisitado por mim
faz pouco tempo, não há a menor dúvida que esta obra de Brooks foi uma resposta
americana (uma das primeiras) para o Western italiano que já invadia as salas
de exibição, e também não foi pra menos, pois importaram até a beleza italiana
dos deuses Claudia Cardinale para se juntar as feras do cinema americano, como
Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, e o ator negro Woody Strode, este
excelente, mas infelizmente pouco valorizado. Um ótimo exemplar de tenacidade e
tensão, cuja trama vai adquirindo colorações políticas e éticas inesperadas,
mas com extraordinário espírito de aventura como jamais vista no gênero
americano. Destaque para a fotografia e para sua trilha sonora, de Maurice
Jarre.
10 - MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA/The Wild Bunch (1969) –
Direção: Sam Peckinpah O “clímax dos clímax” do gênero, como eu defino. Para os amantes de cinema,
e, sobretudo, do gênero que estamos debatendo, é a obra clímax da estilização
da violência, coreografada de forma ritualística em câmera lenta, evocando um
Oeste sujo e selvagem, sem qualquer idealismo romântico e lenda áurea dos
mitos, com personagens decadentes, anacrônicos, e desglamourizados. Causou
polêmica de fato, o que retardou o reconhecimento de Sam Peckinpah como um dos
grandes cineastas do gênero, pois acabou sendo cortados 56 minutos de sua
metragem original, o que provocou protestos do diretor e até mesmo por parte da
crítica, que não estava ainda acostumada com este excesso da violência nos
filmes. Outrora os ídolos do cinema americano, William Holden, Ernest Borgnine,
e Robert Ryan, três fantásticos atores (principalmente o terceiro, que atuou em
Hollywood sempre com muita competência e profissionalismo, sendo um dos meus
atores preferidos) estão soberbos e maravilhosos em seus papéis, arquétipos do
declínio e de toda decadência, que de uma maneira ou outra, desgraçadamente se
empenham em aventurar num último golpe de suas malditas vidas. Vale também
destacar a bela fotografia de Lucien Ballard.
ITALIANOS/EUROPEUS
1 - TRÊS HOMENS EM CONFLITO/Il buono, il brutto, il
cattivo (1966) – Direção: Sergio Leone
Foi o primeiro faroeste
italiano a me chamar a atenção justamente devido a falta de romancismo,
idealismo, lirismo, e todo tipo de folclore tão comumente acostumado nos
faroestes americanos. Propositalmente, o grande Sergio Leone soube o que fez ao
retratar o Velho Oeste do jeito que fosse condizer com os fatos, e descartando
mitos. A ganância e o individualismo exacerbado, pessoas querendo se dar bem à
custa de outras, são características bem acentuadas nas obras deste grande
cineasta, como vemos neste exemplar, revelando ao mundo um novo tipo de cowboy,
o mais distante possível de John Wayne, Gary Cooper, ou Randolph Scott, e seu
nome é um mito vivo – o americano Clint Eastwood. Junto a Lee Van Cleef e Eli
Wallach (maravilhoso como Tuco, o feio), formam um triunvirato de trapaças e
aventuras desmedidas, onde ao fim, o duelo a três é inevitável.
2 - DJANGO/Django (1966) – Direção: Sergio Corbucci Outra obra prima que
ajudou a consolidar o faroeste italiano na minha preferência. O mundo se rendeu
a um novo ídolo do Western europeu, e desta vez um genuíno italiano chamado
Franco Nero, um dos meus atores favoritos do gênero. Não há como não se
impressionar com uma figura calada e de toda de negro chegando a uma pequena
cidade carregando um caixão. Uma cidade dominada pelo terror da famigerada Ku
Klux Klan que para dominar o poder enfrenta bandidos mexicanos, e o estranho
Django está no meio de tudo isso para salvar a vida de uma estranha mulher, por
quem se apaixona ao seu modo. Corbucci dá a esta obra uma carga explosiva
acentuada, realçada pela antológica trilha sonora de Luis Bacalov.
3 - O DIA DA DESFORRA/La Resa dei Conti (1967) –
Direção: Sergio Sollima
Outro exemplar à italiana
do gênero que é um exercício psicológico de tensão, mas mantendo as
características do legítimo padrão do western italiano, trazendo o americano
Lee Van Cleef como um caçador de bandidos da elite que persegue um mexicano
(vivido pelo italiano Thomas Millan) acusado de violentar e matar uma menina.
Contudo após vários reveses, em que o caçador tem o seu orgulho ferido devido à
esperteza do mexicano, ele descobre que na verdade ele é inocente, vitima de
inescrupulosos da alta roda em que o caçador vivido por Cleef faz parte, e por
isso ele resolve ajudar o mexicano. Um dos melhores e mais expressivos filmes
do Western europeu, dirigido por um Sergio, mas que não é o Leone.
O "O Dólar Furado",
dos favoritos
do faroeste spaghetti
4 - O DÓLAR FURADO/Uno Dollaro Bucato (1965) – Direção:
Giorgio Ferroni
Giuliano Gemma é outro
dos meus heróis do gênero à italiana, e este filme, ainda que embora tenha
alguns clichês do Western americano, ainda assim vale o espetáculo, que como “Django”, de Corbucci, ajudou a
impulsionar a moda do bang bang a italiana. Impressionante como uma
moeda de um dólar no bolso acaba salvando a sua vida após ser abatido pelos
inimigos, e como se fosse Ullysses da “Odisseia” de Homero, volta para se
vingar dos homens que tentaram matá-lo, tiraram a vida de seu irmão, e raptaram
sua mulher. “O Dólar Furado” é
outra obra prima do gênero que ajudou no impulso do faroeste italiano.
5 - OS QUATRO MALDITOS/Los Cuetro Implacables (1965) –
Direção: Primo Zeglio
Não chega a ser um
clássico do gênero italiano, mas meus motivos para listá-lo são mais puramente
afetivos, pois foi um dos primeiros assistidos por mim ainda na infância, e em
ter como herói aqui Adam West, que no ano seguinte emplacaria como o mais
famoso Batman da TV. O cowboy aqui
vivido por West é quase limpinho, briga adoidado, mas a trama sobre um agente
da lei (vivido por West) que tentar impedir que quatro bandoleiros (daí o
título de “Quatro Malditos”, ou
no original, “Os Quatro Implacáveis”)
recebam a recompensa por terem capturado e matado um fugitivo da justiça que
era inocente não deixa de ser de toda interessante e é uma história bem
ritmada. Como não deixarão barato, os “quatro malditos” emboscam o agente da
lei, e este, terá que lutar por sua vida.
6 - POR UNS DÓLARES A MAIS/Per un pugno di dollar
(1964) – Direção: Sergio Leone
Leone parte com tudo
nesta obra desmistificadora dos mitos laureados do Velho Oeste. A ganância, o
individualismo, o dinheiro, surgindo a figura do 'caçador de recompensas', tão
enormemente explorado em outros filmes, contudo sem tanta convicção e realidade
como expõe Leone. Embora sem muitas afinidades, os personagens de Clint
Eastwood e Lee Van Cleef, por motivos diferentes, acabam esquecendo suas
diferenças e se unindo para enfrentar a quadrilha de Gian Maria Volonté, com a
intenção de dividir a recompensa por eles oferecida pela Lei. Outra obra
merecedora de destaque entre os grandes clássicos do gênero spaghetti de se fazer Western.
7 - ERA UMA VEZ NO OESTE/C'era una volta il West
(1968) – Direção: Sergio Leone
Outro exemplar, talvez o
mais popular, onde se seguiu toda a Trilogia de Leone (“Por um punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a Mais” e “Três Homens em
Conflito”). Vale destacar que o roteiro foi escrito por Leone com colaboração
de Bernardo Bertolucci, com leves reminiscências do clássico americano “Johnny Guitar”, de Nicholas
Ray (1954). Foi uma febre ao ser lançado nos nossos cinemas em 1971, mas
infelizmente com cópias de 144 minutos devido à censura (a metragem original
aos propósitos do cineasta foi de 229, sendo reduzidas umas para 137, e outras
com 165 minutos, a versão apresentada no mercado de vídeo hoje). Uma trama com
muito sangue e sem qualquer moral, uma verdadeira crítica à mitologia do Oeste
em vez do antigo glamour dos faroestes americanos, retratando a passagem de
pioneiros para os tempos da civilização com a chegada dos trilhos das
ferrovias. Parece um paradoxo ao vermos Henry Fonda, outrora um representante
da mitologia clássica do Western Americano, o típico mocinho das telas, na pele
de um malfeitor sujo e cínico como Frank. Não foi a toa que Leone escolheu
Fonda, pois era um assíduo admirador deste ator. Charles Bronson na pele de um
pistoleiro, Harmônica (porque sempre toca esta gaita quando esta prestes a
matar), que busca vingança contra Frank, que matou seu irmão, se destaca pelo
caráter lacônico, de quase poucas falas, e de muito suspense de seu personagem,
assumindo uma atitude quase parecida com a de Sterling Hayden em “Johnny Guitar”, quando protege
a viúva Jill Mcbain, vivida por Claudia Cardinale. Mais do que uma
superprodução, é um Super-Western,
acabando por se consagrar como um dos exercícios mais ousados do cineasta
Sérgio Leone.
"Era Uma Vez no Oeste", sequencia inicial
9 - CAÇADA AO PISTOLEIRO/Un minuto per pregare, un
instante per morire (1968) – Direção: Franco Giraldi
Um Western italiano cheio
de tensão, com argumento freudiano à dimensão de tragédia grega, mas não
deixando de ser extremamente violento e desmistificador. Trata-se da história
do pistoleiro Clay McCord (vivido por Alex Cord), temido e odiado por muitos,
que tem sua cabeça a prêmio oferecido por um delegado corrupto de uma cidade
(vivido pelo ótimo Arthur Kennedy). Contudo, o delegado age fora da lei e vem a
intervir Lem Carter (o sempre brilhante Robert Ryan), governador do Novo
México, que oferece uma anistia ao pistoleiro, contudo alguns aventureiros não
querem saber e tentam emboscar McCord, que ainda enfrenta outro problema – ele
tem momentos de ataque epilético, e carrega o trauma pelo pai também ter tido
esse mesmo problema. Embora os atores principais sejam americanos, o filme
ainda conta com as presenças italianas de Nicoletta Machiavelli, e do ator
Mario Brega. Está entre meus colecionáveis.
10 - ADIOS SABATA/Indio Black, sai che ti dico: Sei un
gran figlio di... (1970) – Direção: Gianfranco Parolini
Como não podia deixar de
serem ao estilo italiano, trapaças, aventureiros sujos, e todo mundo querendo
se dar bem. É assim que funciona esta obra de Parolini, tendo como anti-herói o
aventureiro Sabata (na verdade, Indio Black no original), vivido pelo
excelente Yul Brynner, aqui ainda um tanto limpinho e barbeado como foi em Sete
Homens e Um Destino, em 1960. Sabata é um caçador de bandidos que se junta
a um vigarista, Ballantine (vivido por Dean Reed) e ao engraçado e cínico
revolucionário, o gordo Escudo (vivido por Ignazio Spalla) para combater as
forças do Imperador do México Maximiliano, e se apoderar de um carregamento de
ouro. Contudo, esta união de forças tem objetivos diversos. O destaque fica em
algumas situações engraçadas, quando o ladrão Ballantine tenta enganar seus
associados. Vale também a pena assistir “Sabata,
O Homem que Veio Para Matar” (que não tem a ver com o filme estrelado
por Brynner, apesar do mesmo nome do protagonista), estrelado por Lee Van
Cleef, onde se apresentam as mesmas situações humorísticas quando se trata de
bandido enganar o outro, afinal, quem disse que existe honra entre ladrões?
B: Quais você acha
que são os western mais subestimados de todos os tempos?
PT: Acentuo uma obra fordiana intitulada “Audazes e Malditos”, de 1960, que
trata da questão do racismo. Pela primeira vez, o Mestre John Ford desenvolveu
uma mensagem antirracista em um tom bem eloquente que chega a ser comovedor,
tendo como pano de fundo o ano de 1866, quando negros recém-libertados passam a
integrar regimentos de cavalarias comandados por oficiais brancos. Um deles, um
notável sargento vivido pelo brilhante Woody Strode, é acusado de um crime que
ele não cometeu, sendo levado à corte marcial por preconceito racial. Mas ele é
defendido por seu superior, vivido por Jeffrey Hunter. O relato do filme
(sempre reconstituindo os fatos em flashbacks) é tenso, épico, e de
uma solene dramática indescritível, que só um brilhante cineasta como Ford
poderia conceber, mas eu pessoalmente considero um de seus melhores trabalhos
junto às outras obras de requinte maior do diretor. Também “A Árvore dos Enforcados”, dirigido
por outro grande artesão dos westerns,
Delmer Daves em 1959, acredito um tanto subestimada por alguns críticos,
entretanto não poderia ter um protagonista mais humano em todos os aspectos do
que o médico Joe Frail, vivido por Gary Cooper em uma de suas últimas atuações.
Amargo, malquisto, cínico, mas ao mesmo tempo, não isento inteiramente de
altruísmo, procura esquecer um trauma do passado e tenta continuar a vida. Mas
ele percebe que nem tudo esta perdido, pois se renderá ao amor de uma imigrante
suíça que acaba salvando sua vida, vivida pela Maria Schell. Vale destacar a
bela canção interpretada por Marty Robbins. Outro western, desta vez europeu, que acho muito subestimado é “Os bravos não se rendem”, dirigido
por Robert Siodmak e Irving Lerner, que conta a trajetória do General Custer de
maneira realista e desmistificadora (nada a ver com o herói pintado por Raoul
Walsh no clássico “O Intrépido General
Custer”,com Errol Flynn, em 1945). Robert Shaw esta perfeito
como o famigerado militar em sua sede de glória, e a famosa batalha de Little
Big Horn. Contudo é um dos trabalhos menos badalados (mesmo com uma bela trilha
sonora), visto a índole verdadeira e descaracterizante do personagem, o que
pode não agradar a todos.
B: Sam Peckinpah e
Robert Altman foram meio que marginalizados por Hollywood. Mesmo com poucos
filmes sobre o tema western eles impactaram a estética do gênero para sempre.
Wild Bunch e Quando os Homens são Homens, são exemplos claros disso. Que grande
contribuição foi essa? E que outros diretores após essa geração conseguiram
essa façanha?
O genial Altman, um dos diretores que mudaram o western
PT: Conheço pouco o trabalho de Altman no gênero,
com exceção do “Oeste Selvagem”, estrelado
por Paul Newman, em 1976. Entretanto, posso adiantar que ambos os cineastas são
oriundos da televisão e dirigiram trabalhos gratificantes no gênero para a
telinha. Peckinpah chegou a dirigir episódios de “O Homem do Rifle” (com Chuck Connors) e “Paladino do Oeste” (com Richard Boone), e Altman episódios da
série “Bonanza”e “Lawman”. Acredito que a
questão da marginalização destes cineastas é que ambos foram sinceros demais em
suas obras, sem rodeios. Peckinpah recorreu à violência em “Meu ódio Será Sua Herança”,de
1969, e a partir daí, não foi só no gênero western
que se viu esta apelação do diretor que é consagrado como o “Poeta da
Violência”. Basta acessarmos seus outros ótimos trabalhos como "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia"(1974)
e "Sob o Domínio do Medo"(1972),
que poderemos ver também esta exaltação. Quanto a Altman, como vi “Oeste Selvagem”, senti a desmistificação
de uma lenda, no caso Buffalo Bill, e grande parte dos produtores embora saibam
que as lendas e mitos não correspondem à verdade, ainda assim preferem que as lendas
sejam impressas. Hollywood durante anos promoveu isso em seus westerns, e mesmo com o desenrolar das
mudanças graças aos faroestes italianos, a indústria de cinema não parecia
apoiar esta descaracterização dos mitos tão amados pelo folclore americano.
Contudo, a grande contribuição destes dois mestres foi tentarem fazer um novo
estilo de western, sem exaltação de
mitos ou heróis, sem áura romântica, propondo para as plateias mundiais que o
Velho Oeste também pode ser interessante se analisarmos seus personagens e o
meio social em que viveram. Acredito que Lawrence Kasdam (que realizou em 1985
o ótimo “Silverado”), que
também realizou pouquíssimos trabalhos no gênero (o último, “Wyatt Earp”, de 1994, com Kevin
Costner, que foi um fracasso), e atualmente Tarantino, vem conseguindo esta
proeza de impactar a estética, e por que não dizer, imortalizar o gênero.
B: Sabemos que
ainda existem produções western
tanto nos EUA quanto na Europa. Mesmo com Tarantino e outros diretores fazendo western
a sua maneira e em forma de homenagem, podemos afirmar que esse gênero morreu
ou ainda vai ressuscitar em uma grande e genial produção?
PT: Acredito que, na verdade, o western nunca morreu. Naturalmente as
produções de hoje são em menor escala, e não como era a mais de 50 ou 60 anos
atrás, época rica em criatividade e em franca produção, onde tínhamos cineastas
brilhantes como John Ford, Raoul Walsh, Howard Hawks, Anthony Mann, Delmer
Daves e claro, incluindo Peckinpah, Leone e outros mais. Mas de uma forma ou de
outra, o faroeste está vivo, só esta adormecido enquanto um cineasta fera como Tarantino ou como Clint Eastwood, a lenda viva, não rodarem novos trabalhos no
gênero (será que Clint pensaria em rodar um novo faroeste? Seria genial!). E
enquanto isso, também, novas produções são realizadas pela TV americana ou
mesmo para o cinema sem sabermos. Mas uma coisa é certa: este gênero
estritamente americano também batizado pelos italianos não morreu e nem morrerá
tão cedo se depender de cada fã e espectador como nós para divulgar, apreciar e
assistir. Podem acreditar!
B: Quais filmes western merecem destaque a partir dos anos 80 até
hoje, nos faça uma lista de alguns que são pouco conhecidos?
Willie Nelson em
"Justiça para um bravo"
PT: Não estou muito a par das novidades em
matéria de western nos últimos
tempos, mesmo porque sigo um esquema eclético focalizando em geral o cinema
antigo e todos os seus gêneros, mas naturalmente, o western tem um espaço com todo carinho dedicado. Entretanto, posso acentuar
alguns trabalhos do faroeste já tanto esquecidos na metade dos anos de 1980,
como “De Volta ao Oeste” (“Once
Upon a Texas Train”), de 1986, para a TV, dirigido por um dos grandes
especialistas do gênero, Burt Kennedy, e trazendo Richard Widmark (um notório Man
Of The West de primeira), Angie Dickinson, e o cantor Willie Nelson, além
de contar com presenças conhecidas como Chuck Connors, Stuart Whitman, Jack
Elam, Ken Curtis, Dub Taylor. No ano seguinte, o mesmo Willie Nelson foi o
protagonista de “Justiça para um Bravo”(“Red Headed Stranger”),
também realizado para a TV, onde contou com as presenças da bela Katharine Ross
(de “Butch Cassidy”) e do
excelente Royal Dano (cujo seu melhor papel de destaque foi no western “Irmão contra Irmão”, dirigido por
Robert Parrish, em 1958). Vale destacar também por esse período “O Álamo, 13 dias de Glória”, de
1987, que retrata a batalha do Álamo com mais fidelidade do que a versão
patriótica apresentada por John Wayne, em 1960, onde James Arness (da série de
TV Gunsmoke), interpreta Jim Bowie, Brian Keith como Davy Crockett,
Lorne Greene como Sam Huston (em seu último desempenho), e o inesquecível Raul
Julia como o general Santana. Em 1995, Jeff Bridges interpretou o temível Wild
Bil Hickcok na produção “Uma Lenda do
Oeste”, dirigida por Walter Hill, onde conta a trajetória
fidedigna de uma lenda, o mais distante possível de Gary Cooper na produção “Jornadas Heroicas”, de 1936, dirigida
por DeMille. Dos mais recentes que acredito que são ainda menos conhecidos, vale
destacar “Inferno no Faroeste”, de
2013, sob a direção de Roel Reiné, onde estrelam Mickey Rourke e Danny Trejo.
Parece-me que este western não chegou
as nossas salas de exibição.
B: Há um tempo eu
soube que Clint Eastwood escreveu uma carta a John Wayne pedindo a ele para
fazerem um filme juntos. Isso não aconteceu é claro. Caso acontecesse essa
produção seria ímpar e juntaria definitivamente os dois maiores ícones do western.
Um de cada estilo. E se no final do filme houvesse um duelo entre a dupla, quem
venceria?
Wayne e Clint,
o tão esperado duelo que nunca aconteceu
PT: Vixe, nem ouso te responder com segurança a
esta pergunta sem levar uma bala perdida (risos). Uma parada dura já que ambos
são dois gigantes do mesmo gênero, mas com estilos diferentes e épocas
diferentes. O mais engraçado é que, em 1989, dez anos após a morte de Wayne,
uma pesquisa realizada por uma revista de cinema apontou Clint Eastwood como o
novo sucessor de John Wayne. No entanto, Clint, apesar de admirar o bom e velho
Duke, jamais quis se comparar a ele ou sequer substituir John Wayne.
Clint tinha como modelo para o gênero o ator Gregory Peck, do qual considera
sua melhor atuação em “O Matador (“The
Gunfighter”). As performances vindas de Clint para compor seus durões
nos westerns, segundo ele, se
inspiravam em Gregory nesta obra dirigida por Henry King em 1951. É fato (e não
fita) que Clint enviou uma carta para o veterano Duke, propondo que
fizessem um filme juntos. Já pensou, Bino? Dois gigantes do gênero que talvez
pudesse precisar de duas telas do formato VistaVision para compor
tamanho encontro! (risos). Entretanto, Wayne, que vira “O Estranho Sem Nome”, a obra de Clint dirigida em 1973, não
gostou nem um pouco do estilo revisionista e violento deste western. Para Wayne, já foi difícil
filmar "Bravura Indômita",em
1969, tendo que se reinventar um pouco e quase recusou o papel que deu a ele
seu único Oscar como ator. Mas o gênero estava se desenvolvendo bem rápido, e
os faroestes estrelados por Wayne em épocas anteriores já ficavam obsoletos
para os novos padrões. Entretanto, Duke não só recusou o convite como
também aproveitou para criticar o trabalho de Clint Eastwood, que não lhe deu
ouvidos. A parceria não aconteceu e o maior prejudicado foi o público, ou, quem
sabe, o próprio Wayne. Portanto, por mais que eu adore John Wayne, acho que
Clint sacaria primeiro, ou quem sabe, por alguma "providência", um
empate técnico? (risos)
B: Para finalizar,
uma pergunta que será símbolo de todos os "Duelos" com entrevistados:
descreva você num grande filme?
PT: “Meu Ódio Será Sua Herança”. Não que
eu seja o “arquétipo da decadência” como os protagonistas da obra de Peckinpah,
que queriam realizar o último trabalho de suas vidas antes de se “aposentarem”,
mas eu sempre procuro investir nos negócios ou em qualquer situação da minha
vida como se fosse dar também o meu “último golpe”, ou concretizar meu “último
trabalho”. Isso não quer dizer, literalmente, que seja o último, mas quando
desejamos alcançar certos objetivos na vida com sucesso fica a lição que
devemos fazer o melhor do nosso melhor
em todos os nossos empreendimentos como se fosse o último. Os homens de Pike
Bishop (William Holden) não desistiram, e mesmo com o resultado que obtiveram
no final, eles foram determinados, e nós também não devemos desistir, mesmo que
nos sintamos decaídos em algum momento de nossas vidas. Assim, me descrevo em “The Wild Bunch”! "Meu Ódio Será Sua Herança"