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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Exposição “The Beatles Kids & Fans” – Acervo fã-clube Revolution – Praia de Belas Shopping – Porto Alegre/RS



A semana não poderia ser melhor para os fãs de Beatles porto-alegrenses. No último dia 9,  terça, completaram-se os 77 anos de nascimento de um dos maiores gênios da história da música: o beatle John Lennon. Além disso, o outro gênio da banda, Paul McCartney, se apresenta na cidade no próximo dia 13, no Estádio Beira-Rio, repetindo (se não, superando) o histórico show que fizera neste mesmo palco e chão em 2010 – ocasião em que eu felizmente estava presente.

Para fechar essa programação com topete mullet, o Praia de Belas Shopping, próximo ao local do show da sexta e num ponto bem central da cidade, ainda está promovendo, até dia 15, o “The Beatles Kids & Fans”. Com entrada gratuita, a mostra traz artigos do acervo do Revolution, de São Paulo, único fã-clube de Beatles da América Latina reconhecido oficialmente pela Apple, corporação fundada pelo grupo que cuida da marca The Beatles. Na exposição, é possível conferir objetos como: revistas, cards, fotos, matérias, reportagens, bonecos e discos, que contam um pouco da trajetória do grupo.

Tive a oportunidade de conhecer e conversar com o diretor do fã-clube Revolution, o Marco Antonio Mallagoli. Com muita simpatia e amor pela banda, Marco, único brasileiro que esteve com as quatro lendas, me disse: “Os Beatles são precursores não só na música, mas na liberdade das pessoas. É uma música muito forte a que eles fizeram, tanto que, 50 e poucos anos depois que eles começaram, ainda estamos falando deles”.

Dentre as relíquias expostas, um baixo Hofner 63 idêntico ao que Paul usava no início da banda – e autografado pelo autor de “Hey Jude”. Igualmente, uma agenda assinada por John Lennon do dia em que Marco o conheceu em frente ao famoso edifício Dakota, em Nova York, onde o músico morava e onde, fatidicamente, foi assassinado. Detalhe: a foto é de 10 de outubro de 1980, um dia depois do aniversário de John e menos de dois meses antes do trágico acontecimento.

A mostra tem ainda um espaço dedicado, como o nome sugere, às crianças. Estive na exposição e pude ver que a gurizada realmente se divertem e interagem com os elementos e a história dos Quatro Rapazes de Liverpool. Para elas, têm atividades como: oficina de paper toys; Guitar Hero; pinturas; painel de fotos com o Beatles Cartoon; entre outras.

Gurizada tocando Beatles no Guitar Hero
Não irei ao show de Paul desta vez, mas conferir a exposição "The Beatles Kids & Fans" e poder conversar com alguém que conheceu não apenas Paul, mas todos os seus três companheiros de jornada, me deixa, pelo menos, com um gostinho de estar perto do universo beatle.

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serviço
exposição “The Beatles Kids & Fans”
Acervo fã-clube Revolution
endereço: Praia de Belas Shopping - Av. Praia de Belas, 1181 (1º piso)
período: até 15 de outubro
horário: Segunda a Sábado – 10h às 22h / Domingos e Feriado – 11h às 22h.


Entrada: Gratuita
Mais informações: www.praiadebelas.com.br

Totens com a história da Fab Four
Outra relíquia do acervo: um baixo Hofner 1963 autografado por Paul
O disco de ouro de "She Loves You", presente de John a Mallagoli
Fotos de e com Paul McCartney
Criançada aproveitando para pintar 


Joguinhos dos anos 60 com temática beatle
A agenda com o autógrafo de John e a foto tirada 2 meses antes da morte do artista
Baquetas e objetos relativos a Ringo Star
Paper toys de John, Paul, George e Ringo
Visão superior de toda a exposição
Selfie em plena Abbey Road (eu estou de pés descalços, mas não aparece)

Daniel Rodrigues

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pearl Jam - Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro (22/11/2015)



Já com as luzes acesas durante "Rockin' inthe Free World"
Não sei mas, tenho a impressão que só eu não fiquei empolgado com o show do Pearl Jam.
Show normal, normalzinho.
Tinha grande expectativa por conta da apresentação que havia presenciado deles em Porto Alegre em 2005 e por todos os comentários que vinham sendo feitos em relação aos outros pontos da turnê mas no fim das contas foi um show morno.
"Oceans" como escolha para a abertura já me pareceu uma opção pouco feliz, a não ser que fosse seguida por um dos mega-hits ou por uma paulada, o que não foi o caso. "Present Tense" do álbum "No Code" a seguiu e assim, já a partir daí, a primeira parte se arrastou num ritmo não lento, mas sem pegada. É verdade que a moderação era quebrada de vez em quando por algo mais agressivo como "Even Flow", a boa "Mind Your Manners", uma das melhores do novo álbum "Lighting Bolt" e a excelente "Do The Evolution", talvez a mais empolgante do primeiro segmento, mas não era o suficiente para engrenar de vez.
Considerei o planejamento do repertório um tanto equivocado no seu conceito, no seu ritmo, na sua sequência, mas não dá pra negar também que parte da sensação pouco satisfatória do início do show pode ser um atribuída ao som do estádio que prejudicava muito a qualidade de cada música e por vezes fazia com que estas soassem como uma massa sonora única.
Eddie Vedder vestindo a sunga vermelha com a qual
foi 'presenteado' por um fã da plateia.
Terminada a primeira parte, no primeiro bis, depois de algumas acústicas, Eddie Vedder camou o público ainda mais para junto da si com uma interpretação de "Imagine" de John Lennon, em homenagem a um fã morto num dos atentados de Paris com o público proporcionando um belo espetáculo visual com seu celulares acesos. Mas a balada de Lennon já trouxe no rastro a intensa "Jeremy" e a boa "Why Go" para quebrar a sequência morosa e fechando o segundo trecho com uma inusitada mas interessante participação de um fã aniversariante que pedira para cantar e que surpreendentemente mandou muito bem puxando a introdução de "Porch".
Com um Eddie Vedder simpático, falante e bem-humorado, o último bis compensou a desnecessária cover da infame banda que estava no Bataclan em Paris e da chata "Last Kiss" de Wayne Cochram (mas que, devo fazer justiça, todos cantaram juntos acompanhando com palmas) com as ótimas versões para os clássicos "Comfortably Num" do Pink Floyd e da já tradicional "Rockin' in the Free World" de Neil Young, talvez o melhor momento do show com as luzes do estádio já acesas, encaminhando o final e a galera se acabando no rock'n roll. Esta última parte também apresentou os clássicos "Black" e "Alive" que não poderiam faltar, até porque, no fim das contas, a maioria esmagadora das pessoas que estava no estádio estavam interessadas em ouvir as músicas do álbum "Ten" e na reta final foram recompensadas com o que esperavam. Aliás, ambas duas tiveram execuções e performances à altura de suas grandezas com a devida entusiasmada reação do público que as cantou em côro de forma emocionante.
Para ser justo, com o final se aproximando, com as covers, com os clássicos da banda e o clima descontraído, chegando ao ponto do vocalista vestir por cima da bermuda uma sunga jogada pelos fãs, dá pra dizer que a tepidez que dominava o espetáculo na maior parte do seu tempo deu lugar a um show, no fim das contas, interessante. Antológico? Incrível? Maravilhoso? Não, não. Um bom show. Bom. Só isso.


SET LIST - "Pearl Jam - Maracanã
Oceans 
Present Tense
Corduroy
Hail Hail
Mind Your Manners
Do the Evolution
Amongst the Waves
Save You
Even Flow
Who You Are
Setting Forth, da carreira solo de Eddie Vedder)
Not for You
Sirens
Given to Fly
I Want You So Hard (Boy’s Bad News), do Eagles of Death Metal
Comatose
Lukin
Rearviewmirror


Bis 1:
Yellow Moon (acústica)
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town (acústica)
Just Breathe (acústica)
Imagine, de John Lennon (acústica)
Jeremy
Why Go
The Fixer
Porch

Bis 2:
Last Kiss, de Wayne Cochran
Comfortably Numb, do Pink Floyd
Spin the Black Circle
Black
Better Man
Alive
Rockin’ in the Free World, de Neil Young
Yellow Ledbetter

Só pelo registro, com imagem distante mas com som bastante razoável, segue o vídeo da execução de 
"Alive" - Maracanã (22/11/2015)




por Cly Reis

sexta-feira, 27 de junho de 2014

The Beatles Rock Cup - A Grande Campeã


É CAMPEÃO!
Sim, amigos, temos a grande campeã, a maior música dos Beatles.
Nossos beatlelistas especializados avaliaram o confronto A DAY IN THE LIFE x GOLDEN SLUMBERS  e, não sem dificuldade chegaram, cada um à sua decisão, que definiu a grande vencedora desta emocionante Copa do Mundo The Beatles.
E qual foi?
Bom, como era de se esperar, a copa da maior banda de todos os tempos só poderia ter mesmo o desfecho mais espetacular de todas as copas. Confira abaixo as avaliações da bancada e seus resultados para a finalíssima:



A DAY IN THE LIFE x GOLDEN SLUMBERS



Eduardo Wolff:
Se formos parodiar a Copa do Mundo no Brasil nos estilos de jogo apresentados até então, a "A Day In The Life" seria a Holanda e a "Golden Slumbers" uma Colômbia. A primeira esquadra ("a europeia") começou o torneio se apresentando como postulante ao título. E comprovou de fato. Foi passando por vários clássicos compostos pelos Beatles, sendo uns até por goleada, mostrando um futebol refinado e bonito. Nesta composição, Lennon seria Robben e Macca o Van Persie. Já a equipe "sul americana", veio desacreditada, mas mostrou um impressionante toque de bola e ganhando jogo a jogo com um certo respeito. O meio campo dessa música é James Paul McCartney, que seria um James Rodriguez. Ou seja, é o responsável pela classe e cadência do time, além de marcar alguns gols. Neste confronto, a balança pende para o lado "holandês", pois é uma música completa, rica em detalhes e efeitos. A outra é fragmento de uma sequência fantástica de Abbey Road. No final das contas, quem reluz como ouro de fato é...
A DAY IN THE LIFE.



Christian Ordoque:
Seguinte ó... As finalistas demonstram exatamente o que penso sobre os Beatles. Os Beatles foram uma banda formada pelo Lennon que por isso teve o mérito e também de ter sido o compositor que deu mais gás na fase Iê-iê-iê ( a maior parte das músicas do melhor disco dessa fase que é o A Hard Day´s Night foi ele quem compôs). E foi só. Depois disso se apagou. Fez uma música aqui e outra ali. Quem deu consistência, norte ao grupo e o desenvolveu apontando novos caminhos desde o revolver, passando pelo Peppers até o final foi o Macca. Ponto. Desenvolveu e abriu espaço para as suas próprias composições e também para as dos outros Beatles como o seu amigo de infância, George, que fez músicas lindíssimas como Something, Within You, Here Comes the Sun, While my Guitar e por aí vai. Estas duas músicas finalistas representam muito bem o que isso significa, essa hegemonia “Macarthiana”. Se fosse possível mensurar, diria que 66 % das músicas que deram consistência para a carreira dos Beatles tem o Macca. Isso se reflete também nessas duas músicas escolhidas visto que Golden Slumbers é dele e metade da Day in the Life também. Solucionando a questão. Taco a taco, considero que A Day in the Life é uma colagem (solução genial) de duas músicas, uma parte do Lennon e outra do Macca, sendo que até hoje ele a canta em seus shows. Música fundamental num disco fundamental. Golden Slumbers é uma pequena sinfonia utilizando o recorte não somente para duas partes, mas para três, que é Golden Slumbers, Carry That Weght e The End. Esse sim, um recorta e cola maduro, utilizando o potencial de todos os integrantes da banda e podendo ser notados todos os instrumentos sendo tocados com suas características dos músicos. Curiosamente, o Macca até hoje termina seus shows com a frase final de The End que é: And in the end, the Love you take, is equal to the Love you make. Por representar essa hegemonia do McCarney, sua posição de líder de fato dos Beatles e por saber utilizar e mostrar o que cada um tinha de bom dentro de si e da banda nesta música, para mim, GOLDEN SLUMBERS é a melhor música dos Beatles.


Leocádia Costa:
Queridos colegas da Copa Beatles, Confesso que não tive muita dúvida em escolher entre as duas canções finalistas, votando na grande campeã a meu ver depois de tantos embates. Várias canções prediletas caíram nos confrontos, mas tudo bem, as escuto sempre que o coração manda. A escolha da canção aconteceu por predileção, porque nesta etapa as duas finalistas deixaram claro para mim o seu significado. Os Beatles são uma banda, certo? Lennon, Ringo, Paul e George tocaram juntos, compuseram e criaram uma qualidade musical que serviu de referência a muitas pessoas sendo trilhas sonoras de suas vidas ou inspirando novos músicos a experenciarem ainda mais. Como banda os considero imbatíveis. Ainda não escutei uma banda que reúna tanta qualidade aliada à emoção, e atentem, sou uma ouvinte sempre ligada, antenada em tudo, curiosa sonoramente. Através dos Beatles conheci John Lennon a quem admiro e sempre escutei individualmente, viajei com Ringo em sua percussão, me emocionei com as composições malucas que Paul propõe e, ainda hoje, descubro o oriente através de George. Enfim, vejo essa banda como uma união de talentos, um grupo que esteve aqui para deixar essa mensagem sonora para todos nós. Por isso, quando escuto The Day in the Life escuto todos eles fazendo música equilibradamente. Escuto cada conversa e troca de ideias dos bastidores, vejo Lennon e McCartney compondo, percebo a atmosfera dos Beatles. Eles estão ali, presentes a dupla de compositores lendária, os músicos Ringo e George arrasando e a particpação de George Martin que participa como um quinto besouro encantado. Em The Day in the Life, a variada inspiração em fatos do cotidiano, contados em um dia das nossas vidas, recoloca os Beatles num ranking de comunicadores de todas as loucuras humanas, de todos os delírios e de todas as formas de relacionamento que nos encaminham ao amor. Desta forma Golden Slumbers ocupa o segundo lugar, porque eu estaria privilegiando uma composição que é a cara de McCartney e ele sozinho não fez os Beatles. Por isso, escolho essa canção dentre tantas que passaram por nós, nesta Copa e me sinto em boa companhia com estes besouros que nasceram dourados pela sabedoria de espalhar e eternizar canções pelo mundo. Sorte nossa, não é mesmo?
A DAY IN THE LIFE é a minha vencedora.


Rodrigo Lemos:
Que final emocionante. Méritos não faltam às duas equipes. A obra dos The Beatles está muito bem representada nestas duas canções. Curiosamente uma é composta por duas composições diferentes justapostas e a outra é quase que um movimento, uma parte de uma sinfonia junto com carry that weight, etc. A Day in the Life, até por ser uma música 2 em 1 tem quase todos os ingredientes das diferentes fases da Banda. Tem efeitos de estúdio, instrumentos de orquestra, referências à cultura e a vida no Reino Unido, referências ao consumo recreacional de substâncias ilícitas, harmonias de vocal, muita criatividade e só falta o refrão pegajoso iê-iê-iê. Mas como dizem em Liverpool, "A Jack of all trades is a master of none" ou, mal traduzindo, "quem sabe de tudo um pouco não é especialista em coisa alguma" e posso pensar em outras músicas que considero mais interessantes para cada uma das características mencionadas. Golden Slumbers é quase que um exército de um homem só. Não fosse por George Martin ter escrito o arranjo para os instrumentos de orquestra, seria Macca no gol, Macca na defesa, no meio campo, no ataque, no banco, Macca cruzando para Macca cabecear, fazendo corta luz para si mesmo e gastando a bola. Apesar desse individualismo, ou talvez até justamente por causa disso é uma puta música. Golden Slumbers é daquelas para botar numa espaçonave para que outros seres se iludam achando que aqui na terra todos somos talentosos e temos bom gosto. Me desculpem, mas Golden Slumbers é hors-concours. Tudo é muito bem colocado, não tem uma nota fora do lugar. O vocal é matador e o baixo desta música é uma aula de como complementar e dar liga aos outros instrumentos. Pode não representar tão bem a diversidade da obra da banda mas música por música é muito superior a A Day in the Life.
Minha campeã é GOLDEN SLUMBERS.


Inacreditável!
Incrível!
Que final!
Em um final inédito nas Copas, o confronto acabou empatado.
Como se decide uma partida empatada numa copa?
Vamos para os pênaltis.
E os penais serão as escolhas dos amigos do Clyblog no Facebook.
Então vamos lá. Vamos ver o que a torcida decide. Vamos desempatar esse jogo:



e  A DAY IN THE LIFE é
A GRANDE CAMPEÃ!!!



E pra comemorar vamos com ela, A DAY IN THE LIFE para embalar o título:

sábado, 5 de abril de 2014

Jeff Beck - "Blow by Blow" (1974)




“A música deste disco
preenche a lacuna entre
o rock branco e Mahavishnu Orchestra,
ou jazz-rock” 
Jeff Beck



Há muito tempo, tinha vontade de escrever sobre minhas preferências musicais. Agora, depois dos 50 (um pouco depois, na verdade), resolvi tomar coragem e colocar no "papel virtual" minhas impressões sobre aqueles discos que significam muito pra mim. Um de suma importância é um clássico do fusion, que foi a minha porta de entrada no jazz propriamente dito: "Blow by Blow", do guitarrista inglês Jeff Beck.

Pra começar, um pouquinho de história. Jeff Beck foi um daqueles talentos da guitarra que surgiram na década de 60 em Londres, ao lado de Eric Clapton, Peter Green e Jimmy Page, entre outros. Ele integrou os Yardbirds, fez um disco de blues considerado clássico chamado “Truth” com a Jeff Beck Group e montou outras diversas bandas (entre elas, um power trio Beck, Bogert & Appice). Em 1974, porém, Beck estava numa encruzilhada: tinha desmontado o JB Group e o BBA e tinha ficado fascinado com a sonoridade conseguida no jazz-rock ou fusion de um colega guitarrista, o também inglês John McLauglhin, mentor e criador da Mahavishnu Orchestra. Ele monta então um quarteto para gravar seu novo disco no Air Studios, de propriedade de George Martin. Ao lado de Max Middleton nos teclados; Phil Chen no baixo e Richard Bailey na bateria, Beck viria a fazer história. O resultado foi “Blow by Blow”. O disco começa com um funk-jazz de primeira chamado "You Know What I Mean", que é uma espécie de carta de intenções do guitarrista. O swing é irresistível, mas ele não descuida do trabalho em grupo. Todos brilham. Na sequência, começa a aparecer a influência de Martin na produção: "She's a Woman", do repertório dos Beatles, composta por John Lennon e McCartney. Numa levada reggae, Beck acrescenta o som muito em moda na época do talk box, popularizado um ano depois por Peter Frampton em "Show me the Way".

Depois, vem uma música em que o título diz tudo: "Constipated Duck" ou pato resfriado. Munido de um pedal wah-wah e muitos efeitos, Beck brinca com a sonoridade de sua guitarra. Pra fechar o lado 1 (é, eu sou do tempo do LP e da fita cassete), uma dupla explosiva: "Air Blower", composta pela banda, e "Scatterbrain", de Beck e Middleton. Nestas duas faixas, sem intervalos entre uma e outra, o guitarrista exercita todo seu talento e exige uma performance além da conta de sua banda. Destaque absoluto pro baterista Richard Bailey, que faz coisas incríveis em seu instrumento, acompanhando as maluquices engendradas por Beck. No final de segunda, inclusive, Martin consegue romper o cerco e coloca sua orquestra pra dar um molho todo especial na pauleira fusion do quarteto. Depois de todo este virtuosismo, Beck nos brinda com uma das gravações mais bonitas que eu já ouvi em meus quase 53 anos de vida: "Cause We've Ended as Lovers", uma balada maravilhosa composta por ninguém menos do que Stevie Wonder. A relação entre os dois começou quando Beck gravou um solo no disco "Talking Book" de Stevie (já resenhado por Eduardo Wolff aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS). Depois, com o Beck, Bogert & Appice, fez uma versão da clássica "Superstition", que foi o grande sucesso do disco. Nesta balada, Beck geme, esperneia, se entorta todo com sua guitarra mostrando toda a tristeza que Stevie quis passar na canção. De tirar o fôlego.

Após isso, só mesmo um funkão em homenagem ao mestre Thelonious Monk pra gente poder respirar. Em "Thelonious", Stevie faz sua participação especial no clavinete. Em seguida, vem uma faixa estradeira, talvez a faixa mais roqueira do disco, chamada "Freeway Jam". O baixo de Phil Chen segura todas, enquanto o resto se esbalda na jam session. E, pra encerrar, um momento sublime do disco: "Diamond Dust". Outra balada, desta vez com as cordas arranjadas e regidas por Martin fazendo o contraponto à guitarra límpida de Beck. “Blow By Blow” é um disco seminal que eu não me canso de ouvir há exatos 38 anos.

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Curiosidades: Jeff Beck sempre montou bandas extraordinárias. Uma delas, a do disco “Truth” com Rod Stewart no vocal e Ron Wood no baixo. E Rod nunca se cansou de roubar os músicos de Beck. Primeiro foi o baterista Carmine Appice e, depois, o baixista Phil Chen. Os dois tocam no disco "Blondes Have More Fun", de 78, que tem o "sucesso" roubado de Jorge Ben, "Do Ya Think I'm Sexy".

Ganhei “Blow By Blow” em cassete do meu querido e saudoso primo José Carlos De Andrade Ribeiro, o popular Chico Caroço, que foi um pouco responsável pela minha educação musical. Mas esta é outra história...

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FAIXAS:
1. "You Know What I Mean" (Jeff Beck/Max Middleton) - 4:05
2. "She's a Woman" (John Lennon/Paul McCartney) - 4:31
3. "Constipated Duck" (Beck) - 2:48
4. "Air Blower" (Beck/Middleton/Phil Chen/Richard Bailey) - 5:09
5. "Scatterbrain" (Beck/Middleton) - 5:39
6. "Cause We've Ended as Lovers" (Stevie Wonder) - 5:52
7. "Thelonius" (Wonder) - 3:16
8. "Freeway Jam" (Middleton) - 4:58
9. "Diamond Dust" (Bernie Holland) - 8:26

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OUÇA O DISCO





quinta-feira, 17 de junho de 2021

“Sergio Mendes no Tom da Alegria”, de John Scheinfield

 

E dizer que eu virava a cara para Sergio Mendes... Visão totalmente equivocada a minha, como se, para ser músico, precisasse necessariamente ser um prolífico compositor. De fato, esso não é o caso de Mendes, pianista que erigiu sua carreira em grande parte sobre o repertório de outros autores elaborando engenhosos arranjos que unem sofisticação harmônica à satisfação pop. Foi isso que ele fez com maestria em temas como “Mais Que Nada”, do Jorge Ben, “Água de Beber”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e "Fool on the Hill", dos Beatles, por exemplo, para citar três clássicos de seu cancioneiro. Mas parecia-me insuficiente, pois dava-me a impressão de que tanto sua obra era menor por causa disso quanto seu êxito se dava justamente pelo critério muitas vezes simplista do público norte-americano. Superados meus preconceitos e já admirador da obra de Mendes há algum tempo, assisti com muito prazer a “Sergio Mendes no Tom da Alegria”, documentário dirigido e roteirizado por John Scheinfield, premiado documentarista norte-americano afeito aos registros audiovisuais de músicos como John Coltrane, Herb Albert, John Lennon e Bing Crosby.

A produção gringa, no caso de Mendes, se justifica plenamente. Desde que o Regime Militar o afugentou do Brasil dias após o Golpe de 1964, o músico, que já tinha contatos e nutria certo respeito na terra de Charlie Parker já da época em que a bossa nova estourara por lá no início dos anos 60 (havia gravado, em 1963, por exemplo, um disco em parceria com Cannonball Adderley), decide fazer as malas e seguir carreira por lá. E dá muito certo. Depois de alguma batalha inicial na nova terra, sua inteligência musical o condicionou a criar a Brasil 66, banda que contava com músicos brazucas e ianques e com a qual gravou nove discos entre 1966 e 1971 de estrondoso sucesso. Com o grupo, Mendes juntava a brasilidade do samba e a levada do jazz e da soul, criando um híbrido até então inédito que virou cult. Os gringos, desde então, o reverenciam - até mais do que os brasileiros. Nessa lista de admiradores, estão Quincy Jones, Herb Albert, Lani Hall, John Legend e Black Eyed Peas.

Mendes e sua Brasil 66:a música
brasileira ganha os EUA
A abordagem do documentário se dá pelo olhar estrangeiro, mas mantém o tempo todo ligação com o Brasil. Isso porque, mesmo tendo se integrado tão bem ao mercado norte-americano, sua música e referências sempre foram essencialmente brasileiras e latinas. Aliás, isso é o que lhe diferenciou num momento pós-bossa nova em meados dos anos 60, quando mundo ansiava por uma continuidade ao caminho aberto por Tom, João Gilberto e outros. Como dizem Nelson Motta e Boni em depoimento, o sentimento com relação à Mendes à época em que ele começara a fazer sucesso nos Estados Unidos era o de que ele havia “vencido”, ou seja: um brasileiro que conseguira achar a química certa para levar a cultura do Brasil mundo afora sem deturpá-la, e sim, adaptando-a. Entre os feitos de Mendes está o de praticamente ter sido o primeiro artista do mítico selo A&M Records, então iniciante e pelo qual o próprio Tom gravaria anos mais tarde discos históricos da segunda fase da bossa nova.

No que toca ao filme, essa visão de fora tem suas vantagens e desfavorecimentos. O que não é tão bom é o tom meio didático, principalmente do início da fita, quando é necessário explicar “o que é bossa nova” ou “o que foi o Golpe Militar”, o que, ao invés de ampliar o entendimento, resultam numa generalização um tanto superficial. Não que um documentário não deva explicar, mas é possível partir de um ponto menos simplório. Porém, nada que comprometa, até porque as virtudes do longa compensam, como a disponibilidade de um rico material audiovisual e fotográfico – o apreço documental que norte-americanos têm muito mais em relação a várias outras nações, a começar pela brasileira – e, principalmente, o acesso a entrevistados. Não que seja impossível a uma equipe brasileira chegar a fontes estrangeiras – vejam-se os docs “Milton Nascimento: Intimidade e Poesia” e "O Dia que durou 21 Anos", exitosos nesta ponte EUA-Brasil – mas, convenhamos: quem mais conseguiria com facilidade que alguém como o ator Harrison Ford (responsável, no início da carreira, pela construção do estúdio de Mendes em Los Angeles) desse depoimento que não fosse conterrâneo seu? Fora isso, é mais fácil agregar à obra fontes do Brasil estando nos Estados Unidos do que o contrário.

“Sergio Mendes no Tom da Alegria” - trailer

Essa fronteira entre EUA e Brasil que o filme se põe ao documentar um artista com um pé em cada extremo da América também traz coisas curiosas. A visão dos norte-americanos é a principal delas. Muito bonito de ver, por exemplo, a reverência de Quince e Will.I.Am ao colega brasileiro. Este último, inclusive, faz um comentário interessante próximo ao fim do longa, quando, falando da longevidade do trabalho de seu ídolo, diz que, durante sua trajetória, vários presidentes entraram e saíram e ele continua ativo. Will.I.Am´, porém, está referindo-se a presidentes dos Estados Unidos e não do Brasil, raciocínio que, obviamente, só poderia vir de um norte-americano.

Numa narrativa um tanto comum, mas eficiente, “Sergio Mendes no Tom da Alegria” faz uma louvação aos então 80 anos que o artista completara em 2020, pontuando momentos em que este, um apaixonado pela música, reinventou-se. Invariavelmente com um sorriso cativante no rosto, é o próprio Mendes que conta sobre a adaptação inicial a outro país e mercado, a composição do megassucesso AOR “Never Gonna Let You Go”, cantada por Joe Pizzulo e Leza Miller nos anos 80 (sim, é de Mendes!), o renascimento com o disco “Brasileiro”, nos anos 90, a sua redescoberta pela nova geração dos últimos 20 anos para cá e a indicação ao Oscar de Melhor Trilha Sonora por "Rio". Tudo feito com um homenageado em vida, participativo e lúcido, outro bom exemplo que podíamos copiar mais dos norte-americanos.

Sergio Mendes e seu sorriso contagiante: 80 anos de amor pela música


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Grant Lee Buffalo – “Fuzzy” (1993)



"O melhor álbum de 1993 folgado".
Michael Stipe



É pura mentira, mas se um dia Elvis Presley refletisse sobre o seu legado para o futuro do rock ‘n’ roll, ele almejaria que se criasse um som de raiz, usando instrumentações e timbres típicos do rock genuíno, porém que se evoluísse naquilo que fizeram precursores como ele, Little RichardJerry Lee LewisJohnny CashChuck Berry e cia.. A música ambicionada pelo Rei haveria de conter, além desses predicados, melodias belas e bem elaboradas, referenciando não apenas a ele e seus companheiros de primeiros anos, mas a outras vertentes que o rock ganharia a partir de então – o country-rock, o punk, o hard-rock, a new wave, o folk-rock, o shoegaze. Ah! E também não abriria mão de ser uma música bem tocada e bem cantada, com um vocal afinado e de timbre apreciável (consciente, dispensaria que fosse necessariamente o vozeirão dele).

Até que, 40 anos depois de inaugurar o estilo mais subversivo, popular e eletrizante da história da música, Elvis, do auge do seu trono em que se senta lá em cima, veria os rapazes da Grant Lee Buffalo lançarem seu primeiro disco: “Fuzzy”. Estava ali o que ele esperava!  Pondo o vinil pra tocar em seu toca-discos celeste, os primeiros sons que Elvis ouviria são de uma introdução ligeira da bateria na caixa com escovinhas, herdada do jazz swing e ao estilo do rock que ele inventara. “Que beleza! É isso aí, rapaziada!”, vibrou. Ele está escutando “The Shining Hour”, um rockabilly matador em que a banda de Los Angeles liderada por Grant Lee Phillips – juntamente com Paul Kimble, baixo, e Joey Peters, nas baquetas – apresenta de cara as qualidades que fazem de “Fuzzy” o disco que é: a influência direta do blues, a prevalência da sonoridade acústica, simplicidade nos arranjos (não há nenhum sopro ou cordas de orquestra) e o espírito desafiador do bom e velho rock ‘n’ roll. Embalada, “The Shining Hour” conta ainda com um piano, como a letra diz, saído de um “salão de bilhar azul de Monterey”, que sola lá pelo meio e ainda a desfecha numa nota grave e impositiva.

Em “Jupiter and Teardrop”, balada lindíssima em que Phillips, se já tinha mostrado suas habilidades vocais na primeira faixa, aqui, ele impressiona. Principalmente nos momentos de maior emotividade, a qual a canção vai ganhando à medida que se desenrola. Esse clima é ampliado pelas guitarras que, rosnantes, aparecem pela primeira vez no disco para comporem junto com a base do violão 12 cordas um clima carregado e melancólico. A letra acompanha a sonoridade, contando a triste história de um casal cujo rapaz, Teardrop, encrencado com a polícia, está prestes a ser preso novamente, forçando a distanciar-se de sua Jupter. ”Apenas uma garota que não pode dizer não/ E seu namorado em liberdade condicional/ Seus pais lhe deram o nome de Jupiter/ Para abençoá-la com uma alma de sorte/ Ele é um garoto que nunca chorou/ Quando eles o prenderam lá dentro/ E ela o apelidou de ‘Lágrima’/ Para fazer uma tatuagem de seu olho.” Ela sonha com filhos e casamento, mas teme que o pior aconteça antes do esperado: “O telefone toca/ É para ela/ ‘Tenho que ver você, Jupiter’/ ‘Estou com problemas com a lei’/ ‘Traga minha calibre 38’.” Uma crônica urbana romântica e de final trágico.

Talvez a melhor da banda, se não, seu maior sucesso – o que para um grupo alternativo como eles é algo considerável –, a faixa-título é outra balada com estrutura semelhante à anterior (base no violão, guitarras intensificando o clima semiacústico, tom tristonho), visto que ganha emotividade conforme avança. “Fuzzy”, no entanto, traz um refrão absolutamente tocante, em que Phillips, mais uma vez explorando suas qualidades de canto, lança falsetes para dizer com sentimento: “I've been lied to/ Now I'm fuzzy” (“Eu tenho mentido/ Agora estou confuso”). Em seguida, “Wish You Well”, com uma base de guitarra bem interessante, é mais pesada mas sem deixar de ser bastante melodiosa. Realce para a interessante linha de bateria, forjada em pequenos rolos no surdo com a caixa.

“The Hook”, totalmente acústica, é uma bela canção em que tudo funciona com perfeição: violão de cordas de aço, baixo acústico, bateria nas escovinhas e a voz ora deslizante ora impregnada de Phillips. Outro destaque do disco é “Soft Wolf Tread”, que inicia só na voz e frases do violão para, em seguida, explodir em peso e fúria. Assim é também “America Snoring”: melodiosa mas permeada pela distorção das guitarras e por uma bateria alta, pericialmente amplificada na produção assinada pelo próprio Kimble.

O piano estilo country volta na excelente “Dixie Drug Store” em que, por óbvio, homenageia o bluesman Willie Dixon mas, igualmente, referencia a ligação intrínseca que o blues tem com a música folk, tal como outro bluesmanMuddy Waters, fizera no clássico “Folk Singer”, de 1959 – disco em que, não coincidentemente, Dixon produz e toca. Aqui, Phillips manda ver mais uma vez nos falsetes, os quais incorpora de forma muito natural ao próprio timbre. Com essa, Elvis deve ter ficado arrepiado. “Stars n' Stripes”, delicada, é talvez a mais fraca do álbum, o que nem de longe tira a graça do trabalho como um todo.

E é justamente essa característica que desfecha “Fuzzy”: graça. Afinal, “Grace”, penúltima faixa, seguindo o mesmo conceito de “The Hook”, que revela a leveza d’”a rocha”, contrariamente, traz agora a densidade da “clemência”. Imagino que para alguém que morava numa mansão chamada Graceland deve ter sido uma feliz surpresa ouvir esse tema. “You Just Have to be Crazy”, baixando novamente os ânimos, finaliza o álbum com a mesma pegada acústica e doce já apresentada em vários momentos. A bela letra que diz: “Você apenas tem que ser louco, não você/ Você apenas tem que estar fora de sua mente/ Você apenas tem que ser louco, não você/ Você apenas tem que ser/ Verdade ou não/ Verdade ou não.”

Com todo respeito que tem a seus súditos Neil YoungBob DylanJohn LennonRaul Seixas, Robbie Robertson, Jimmy PageElton JohnRenato RussoElvis Costello, Johnny Thunders e mais centenas e centenas de roqueiros e não-roqueiros mundo afora, Elvis Presley – na minha invencionice apaixonada –, deu seu troféu para a Grant Lee Buffalo por “Fuzzy”. Foi neste disco que ele identificou aquilo que imaginava que sua música um dia chegaria a ser: sofisticada mas popular e pungente. Dá pra enxergar Elvis tirando dos ouvidos seu fone dourado, recostando-se no trono e dizendo emocionado: “Muito bem, rapazes! Aprenderam direitinho. Obrigado”.
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FAIXAS:
1. The Shining Hour
2. Jupiter and Teardrop
3. Fuzzy
4. Wish You Well
5. The Hook
6. Soft Wolf Tread
7. Stars n' Stripes
8. Dixie Drug Store
9. America Snoring
10. Grace
11. You Just Have to be Crazy
todas as faixas compostas por Grant Lee Phillips

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OUÇA O DISCO:




quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Phil Spector & Vários – “A Christmas Gift for You from Phil Spector” (1963)





"Eu inventei o negócio da música.
Onde está a estátua para mim?"
Phil Spector




Talvez não combine muito com o espírito natalino fumar, beber e se drogar compulsivamente dentro do estúdio de gravação. Muito menos andar armado, a ponto de mirar uma espingarda nos integrantes dos Ramones para que estes o obedecessem. Pior: disparar um tiro a esmo e deixar John Lennon com permanentes problemas auditivos. Mas, sobretudo, não combina com o ato de usar um revólver para matar a atriz Lana Clarkson em sua própria casa. Pois, ironicamente, esta criatura, que bem poderia passar por qualquer delinquente, é nada mais, nada menos que uma das mentes mais geniais que o mundo da música pop já viu. Foi ele que concebeu integralmente este histórico disco.

Claro que estamos falando de Phil Spector. O talentoso produtor que deu forma às obras-primas “Let it Be”, dos Beatles, a “Plastic Ono Band”, do Lennon, e a “All Things Must Pass”, do George Harrison. Que é também o mesmo tirano que se trancafiava no estúdio como fez em “Death of a Ladies’ Man”, de Leonard Cohen, em 1977, para não deixar ninguém entrar (nem mesmo o próprio Cohen). Mas, talvez, por uma missão divina – motivada, quem sabe, por um milagre de Natal – esse judeu pobre nascido no Bronx em 1939 não escolheu o caminho do crime como seus amigos de bairro e encontrou sua salvação na música para, passando por cima de todas as excentricidades, egocentrismos e loucuras, entrar para a história. No final dos anos 50, esse iluminado ajudou a dar forma à música pop, a forjar o que se passou a chamar de enterteinment.

Compositor, arranjador, produtor, instrumentista e até cantor, Spector ostenta ao menos dois títulos de pioneirismo: o de primeiro multimídia da indústria fonográfica e o primeiro grande produtor de discos. Pois, além de todos esses predicados, ele também sabia empresariar astros e encontrar talentos. E aí ele era infalível. Cabeça do selo Philles Records, ele liderava projetos, lançava grupos e cantores, direcionava carreiras. Tina Turner, Ben King, The Righteous Brothers e Dusty Springfield passaram por sua mão. Criador de peças de forte apelo popular, mas com pés firmes no R&B, no country e no folk, Spector inventou as teenage symphonies, quando pôs grupos vocais como Ronettes e Crystals a serviço de seus arranjos elaborados e primorosos.

A Christmas Gift for You from Phil Spector” é o resultado dessa profusão. Primeiro álbum-conceito de Natal do mercado fonográfico, ajudou a impulsionar as hoje tradicionais vendas de música nessa época do ano (o próprio título, inteligentemente sugestivo, já induz ao ato da compra). Dono de um apuro técnico inconfundível das mesas de som, Spector desenvolveu o que até hoje se conhece como “wall of sound”, ou seja, a “parede de som”, técnica própria dele que aproveitava o estúdio como um instrumento, explorando novas combinações de sons que surgem a partir do uso de diversos timbres (elétricos e acústicos) e vozes em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações.

É isso que se ouve em todo o álbum, em maior ou em menor grau e sempre na medida certa. Recriando melodias de standarts natalinos, Spector, junto com o grupo de compositores e sob a batuta de Jack Nietsche, pôs para interpretar em ”A Christmas Gift...”, além dos já citados girl groups Ronettes e Crystals, a cantora Darlene Love e, para equilibrar, o grupo vocal misto Bob B. Soxx & the Blue Jeans, cada um com três faixas (exceto o último, com duas).

Cabe a Darlene Love iniciar o disco com “White Christmas”, clássico de Irving Berlin que, na mão de Spector, ganha uma dimensão apoteótica. O primor do arranjo dá contornos s eruditos à música, como uma minissinfonia. Mas, antes de mais nada, nada rebuscada e saborosamente pop. Exemplo perfeito do seu método de gravação, a música começa com a voz potente de Darlene no mesmo peso dos instrumentos (banda e orquestra), que, por sua vez, soam com amplitude, reverberados. A massa sonora vai se intensificando à medida em que a carga emocional também avança na interpretação da cantora. Ao final, banda, voz e cordas parecem explodir no ambiente, quando atingem o ponto máximo do volume, que Spector modula cirurgicamente. Nota-se um permanente equilíbrio de alturas: percussão grave como tímpanos de orquestra, instrumentos de base assegurando os médios e a voz, juntamente às cordas, com o privilégio diferencial dos agudos, aqueles que fazem arrepiar o ouvinte.

Na sequência, “Frosty The Snowman”, com as Ronettes, traz o marcante timbre agudo de Ronnie Spector – esposa do produtor à época – animando mais o álbum, num R&B típico dos anos 50. O coro das companheiras Estelle Bennett e Nedra Talley ao fundo encorpa a harmonia, mesclando-se as cordas e à percussão permanentemente cintilante dos chocalhos e sinos, como os do trenó do Papai Noel. Os motivos natalinos, também com os característicos sininhos, voltam na outra das Ronettes, o hit “Sleight Ride”, com uma frenética levada de jazz swing.

O gogó romântico de Bobby Sheen, primeira voz da Bob B. Soxx & the Blue Jeans (que tinha a própria Darlene Love mais Fanta James no backing), arrasa na versão para “The Bells of St. Mary's” – que ficou conhecida com Bing Crosby no filme homônimo de 1945, em que, fazendo um padre, o ator a interpreta totalmente diferente, acompanhado de um coro de freiras e órgão. Aqui, Spector redimensiona a beleza litúrgica da canção, aprontando um arranjo vibrante, carregado de emotividade, com toques de balada de baile de anos 50.

Santa Claus Is Coming to Town” traz as Crystals Barbara Alston, Dee Dee Kennibrew e Mary Thomas num R&B embalado e ao seu estilo vocal peculiar. O trio reaparece em “Rudolph the Red-Nosed Reindeer”, de pegada bem infantil, e na divertida “Parade of the Wooden Soldiers” em que, para representar a lúdica “parada dos soldadinhos de madeira”, Spector se vale, na abertura, de cornetas marciais, mas sem perder o astral festivo e descontraído.

As Ronettes, estrelas da Phillies, têm o privilégio de cantar outro standart: “I Saw Mommy Kissing Santa Claus”, original na voz de Jimmy Boyd que atingira, em 1952, o 1º posto da Billboard. Por sua vez, Darlene Love ganha “Winter Wonderland”, um dos mais celebrados cantos natalinos norte-americanos – composta em 1934 por Felix Bernard e Dick Smith –, além da única composta para o disco: “Christmas (Baby Please Come Home)", alçada em 2010 pela revista Rolling Stone à lista de Grandes Canções Rock and roll de Natal, que justificou a escolha: "ninguém poderia combinar tão bem emoção e pura potência vocal como Darlene Love”.

O vozeirão de Bobby Sheen mais uma vez encanta na sacolejante “Here Comes Santa Claus”, outro clássico natalino que, além da gravação do autor – Gene Autry, hit em 1947 –, também recebeu versões ao longo dos tempos de Elvis Presley (no aqui já resenhado "Elvis Christmas Album"), Doris Day, Ray Conniff e Bob Dylan. Sinos de trenó, escala em tom alto, contracantos, percussão reverberada, melodia em crescendo. Um típico “wall of soundspectoriano. Para finalizar, o próprio “cabeça” do projeto declama a letra e “Silent Night” com o suave coro de todos os outros músicos ao fundo, num desfecho se não brilhante como todo o restante, ao menos coerente.

Dessa trajetória iluminada mas altamente conturbada de Phil Spector – a qual ele, encarcerado desde 2009 pelo assassinato da amante, segue infelizmente desperdiçando –, fica a rica contribuição de seu modo de compor e, principalmente, “apresentar” as músicas. Spector foi uma verdadeira máquina de sucessos, criando peças que serviriam de exemplo para toda a geração da Motown e do rock de como fazer uma música pegajosa e inteligente em menos de 4 minutos. Brian WilsonBrian JonesRod Argent, Frank Zappa, Rogério DupratBrian Eno e até George Martin conseguiram pensar como um dia pensaram por causa do caminho aberto por Phil Spector. Sem ele não existiriam os conceitos de hit nem perfect pop. Com Phil Spector a música popular virou negócio – e um negócio muito bom de escutar. Se isso já não vale por um milagre de Natal, ao menos justifica uma estátua.

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FAIXAS:
1. White Christmas (Irving Berlin) - com Darlene Love - 2:52
2. Frosty the Snowman (Steve Nelson/Walter Rollins) – com The Ronettes - 2:16
3. The Bells of St. Mary's (A. Emmett Adams/Douglas Furber) – com Bob B. Soxx & the Blue Jeans - 2:54
4. Santa Claus Is Coming to Town (J. Fred Coots/Haven Gillespie) – com The Crystals - 3:24
5. Sleigh Ride (Leroy Anderson/Mitchell Parish) – com The Ronettes - 3:00
6. Marshmallow World (Carl Sigman/Peter DeRose) - com Darlene Love - 2:23
7. I Saw Mommy Kissing Santa Claus (Tommie Connor) – com The Ronettes - 2:37
8. Rudolph the Red-Nosed Reindeer (Johnny Marks) – com The Crystals - 2:30
9. Winter Wonderland (Felix Bernard/Dick Smith) – com Darlene Love - 2:25
10. Parade of the Wooden Soldiers (Leon Jessel) – com The Crystals - 2:55
11. Christmas (Baby Please Come Home) (Ellie Greenwich/Jeff Barry/Phil Spector) – com Darlene Love - 2:45
12. Here Comes Santa Claus (Gene Autry/Oakley Haldeman) - com Bob B. Soxx  the Blue Jeans - 2:03
13. Silent Night (Josef Mohr/Franz X. Gruber) com Phil Spector & artistas - 2:08

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OUÇA O DISCO: