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sábado, 3 de junho de 2017

Exposição "Caos & Tradição", de Cezar Altai - Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas - Rio de Janeiro/RJ









"...me vejo muito menos como um artista
e mais como um artesão
que trabalhando na frincha do tempo
entre o caos e a tradição, 
gerencia constructos, ruídos etéreos,
fantasmas geométricos e pinta para estar de frente
com o que estava atrás da parede do pensamento."
Cezar Altai

Fui convidado e estive, com muita honra, no último sábado (27/05/2017) na exposição do amigo Cezar Altai no Parque  das Ruínas, no belo bairro de Santa Teresa, aqui no Rio, e pude conhecer e comprovar toda a qualidade e o talento do artista. Já conversáramos algumas vezes sobre literatura, cinema e muito por alto sobre arte e seu trabalho, mas agora em sua primeira exposição foi extremamente interessante poder ver seus conceitos materializados. "Caos e Tradição", sua exposição, apresenta num primeiro momento apenas quatro conjuntos de quadros, num total de onze telas, mas a mostra é suficiente para evidenciar virtudes técnicas e conceituais de inegável  riqueza. A inspiração em Jackson Pollock salta aos olhos imediatamente e o artista não faz nenhuma questão  de escondê-la, bem como a influência pelo surrealismo de Max Ernst e as relações arte-natureza contidas em sua obra. Mas seu trabalho não se resume a uma mera imitação ou homenagens a grandes mestres e ídolos. Tem a geometria ora aparente, ora escondida , tem o claro e o escuro, o abstrato, a forma, a textura, a ilusão, a ordem e, é claro, o caos.
Conversando com sua esposa Maja, que acompanha com entusiasmo o desenvolvimento de seu trabalho e que mostrava-se indisfarçadamente feliz pela conquista do companheiro, ela revelou-me que esta linha de pintura, embora muito interessante, não é  a única explorada por Cezar e que a mesma não evidencia totalmente sua capacidade formal e habilidades técnicas. Ou seja, vem mais coisa boa por aí.
Grata confirmação o trabalho de Cezar, de quem, pelas ideias, pela energia, pela paixão não poderia-se esperar menos que isso. Parabéns pelo trabalho e obrigado pelo adorável fim de tarde no charmoso e gracioso bairro de Santa Teresa.

***

serviço:
Exposição "Caos e Tradição"
local: Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas
endereço: Rua Murtinho Nobre, 169,
Santa Teresa, Rio de Janeiro
período: de 27/05 a 26/06
visitação: de terça a domingo
horário: das 10h às 18h


abaixo algumas fotos da exposição:
O Parque das Ruínas

O caos de Cezar Altai

Um objeto no espaço

Elementos geométricos alternando visibilidade e profundidade

Mais um conjunto de Altai

O pôr do sol do alto de Santa Teresa


Cly Reis


quarta-feira, 31 de maio de 2017

Leftfield - "Leftism" (1995)



"Queime, Hollywood,
queime!"
de "Open Up"



Eu estava no lendário Bar Ocidente em Porto alegre, numa festa de música eletrônica, quando tocou aquilo... Era a voz de John Lydon esmerilhando sobre uma base eletrônica feroz e alucinante. "Demais!", pensei. Ali, assim, na loucura da noite, com álccol na cabeça, sem a devida concentração para ouvir bem, com atenção, parecia ser uma versão dance de "Under The House" do PIL do disco "Flowers of Romance", e durante muito tempo acreditei que fosse. Fiquei enlouquecido e a partir do dia seguinte já fui, como podia, em busca da tal versão. Na época a internet não era o que é hoje e não havia todas as facilidades de busca, downloads, informação, compras, etc., então recorri a amigos que pudessem ter ouvido a música em questão ou algo a respeito sobre um remix, consultei donos das lojas alternativas que frequentava, procurei alguma menção na revista Bizz, na rádio Ipanema ou qualquer meio que pudesse me dizer o que era aquilo e onde conseguir. Não encontrei. Desisti de procurar, não sem, no entanto, permanecer atento. Eis que anos depois, nem lembro como, a tal música veio pousar nos meus ouvidos de novo e aí descobri o que era. Tratava-se de uma participação de John Lydon com o duo britânico de música eletrônica Leftfield, e o objeto da minha busca chamava-se "Open Up", um petardo dançante no qual a voz do ex-Pistol parece fazer reviver o punk em uma linguagem atualizada, tal a fúria e contundência de sua interpretação.
"Leftism", o disco de estreia da dupla britânica, como pude constatar logo em seguida assim que  minha curiosidade aguçada por "Open Up" não se resume a ela e muito menos se justifica meramente pela participação de um grande nome. O álbum pode ser considerado um dos grandes registros da música eletrônica nos anos 90 e por extensão, naquela época de afirmação do gênero com nomes relevantes se sobressaindo à massa "tush-tunsh", um dos melhores nesta linguagem desde então.
Num meio termo entre a introspecção do Massive Attack e a violência do Prodigy, o Leftfield  impregnava seu som de elementos rítmicos variados evidenciando influências reggae e afro, numa fusão com ambient music, hip-hop, dub, que conferiam toda uma autenticidade à sua música.
Assim é "Afro-Left": capoeira, macumba, energia, numa peça musical contagiante conduzida por um sampler de berimbau e cantada num suposto dialeto africano, constituindo-se num dos momentos mais incríveis do álbum.
"Release the Pressure" como primeira música parece ser o catalisador de todos os elementos propostos no trabalho, a ambient-music, o raggae, o dance e a raiz cultural negra; "Melt" é uma adorável viagem sensorial; "Song of Life" transita entre diversas variações e possibilidades; e "Storm 3000" desconstrói o drum'n bass desacelerando-o em nome  de uma atmosfera mais esparsa.
"Original" é um pop que carrega nas sonoridades reggae; "Black Flute" e "Space Shanty" são daquelas pra se acabar na pista de dança; a excelente "Inspection (Check One)" outra das grandes do disco, traz  mais uma vez bem acentuado o apelo étnico-sonoro com os vocais carregando no sotaque dos guetos; e a viajante "21st. Century Poem" acaba o disco baixando a rotação definitivamente para um clima mais reflexivo em mais um transe sonoro proporcionado pela dupla londrina.
"Leftism" por sua ousadia e incorporação de elementos exóticos e étnicos e inclui-se num seleto grupo de uns 5 ou 10 álbuns que mudaram  e qualificaram a música eletrônica a partir dos anos 90, do qual também fazem parte obras como "Dig Your Own Hole" dos Chemical Brothers, "Homework" do Daft Punk, "Mezzanine" do Massive Attack, "Fat of The Land" do Prodigy, só para citar alguns. Sem dúvida um dos mais importantes álbuns de música eletrônica já feitos e um dos grandes definidores de linguagem, ainda hoje extremamente influente e relevante.
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FAIXAS:
  1. Release The Pressure 7:39
  2. Afro-Left 7:32
  3. Cut For Life 7:09
  4. Melt 5:15
  5. Black Flute 3:56
  6. Original 6:22
  7. Inspection (Check One) 6:29
  8. Space Shanty 7:14
  9. Storm 3000 5:45
  10. Half Past Dub 3:38
  11. Open Up 8:44
  12. 21st Century Poem 4:39
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Leftfield - "Open Up"



Cly Reis

terça-feira, 30 de maio de 2017

cotidianas #512 - Pílula Surrealista #18



Atento feito um gavião faminto, o helicóptero sobrevoava o céu da cidade à noite lançando jorros de luz feito holofotes cinematográficos e soltando o rugido de suas asas, que se desvencilhavam do vento com tamanha violência que o som se espalhava por quilômetros. As operações da polícia, mesmo que já corriqueiras, sempre alarmam a população. Assim, pelo menos, os cidadãos de bem, os beneficiados, se sentem devidamente protegidos. E não haveriam de estar?! Glória à polícia!

A missão era, obviamente, buscar e prender delinquentes, vagabundos, facínoras, meliantes. Aqueles que não são “cidadão de bem”, trocando em miúdos. Os policiais cumpriam a estardalhante e grandioculente missão aérea quando um deles solta a pergunta: “Vem cá: como a gente vai prender esses caras que tão lá embaixo se a gente tá aqui em cima?” Os outros se entreolharam, visivelmente pelo fato de não terem pensado nisso. O óbvio e assertivo questionamento não teve nem tempo de ser debatido, pois, voando alto, o piloto não percebeu que a nave ia na direção da Lua e, como num videogame: bum! Espatifou-se contra a estrela, esta, que nada sentiu. A Lua ganhou apenas mais uma de suas várias crateras – e das pequenas. A operação militar, esta sim, sofreu maiores efeitos: considerada inútil e sem sentido a partir de então, não ganhou mais verba do Secretário de Segurança para ser realizada depois que este passou por aquele vexame todo nos jornais do dia seguinte.

Daniel Rodrigues

segunda-feira, 29 de maio de 2017